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Seleção da técnica e instrumentos de recolha de dados

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.5. Seleção da técnica e instrumentos de recolha de dados

Esta investigação é uma investigação qualitativa, onde se pretende recolher dados através dos fenómenos que ocorrem, da história individual e do contexto de cada sujeito, no qual se vai conhecer a perspetiva dos sujeitos, os seus conhecimentos, as suas crenças, valores e a forma como se relacionam e comunicam (Almeida & Freire, 2007), por essa razão a investigação qualitativa foi considerada como a mais adequada para este projeto de intervenção e investigação.

Observação participante. A observação requer atenção, sendo a atenção um dos sentidos mais frequentemente utilizados na observação. Na observação como investigadora colhi as informações importantes a partir de uma larga série de informações possíveis. A minha observação foi um processo guiado para um objetivo com o propósito de observar um fenómeno no maior número de aspetos possíveis, neste caso o comportamento e atitudes dos/as alunos/as ao longo do projeto educativo (De Ketele & Roegiers, 1991). Neste sentido, como investigadora pude compreender o mundo social do interior do sujeito, pois partilhei a condição humana dos indivíduos que observei (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2008) e fui capaz de observar os acontecimentos como ocorreram ou funcionaram (Flick, 2005).

Na observação participante, o investigador tem de tentar envolver-se, tornando-se um participante e ganhando o acesso aos indivíduos e ao terreno em que vai observar, tentando centrar a observação nos aspetos mais concretos e fundamentais para a investigação (Flick, 2005). Uma das limitações da observação é que não é possível que o investigador capte e registe todos os momentos da observação, pois, tal como refere Quivy e Campenhoudt (2008) “(…) a memória é selectiva e eliminaria uma grande variedade de comportamentos (…). Como

nem sempre é possível, nem desejável, tomar notas no próprio momento, a única solução consiste em transcrever os comportamentos observados imediatamente após a observação” (p. 199).

Nesta investigação também foi realizada observação não participante, quando foi feito o diagnóstico de necessidades nos recreios.

Diário de aula reflexivos. Nesta investigação foram utilizados os diários de aula com o objetivo de refletir sobre o processo de ensino e melhorar continuamente as minhas práticas. Como referem Alarcão e Tavares (2003), “Enquanto adultos, as situações por nós vividas constituem-se normalmente como pontos de partida para a reflexão” (p. 104). Os diários seguiram a estrutura proposta por Smyth (1989, cit. por Alarcão & Tavares, 2003) que levam a descrição a distintos níveis de reflexão, são elas a descrição das práticas e dos sentimentos; a interpretação (das práticas ou dos sentimentos envolvidos); o confronto (com outras perspetivas e opções) e a reconstrução (mudança).

Assim, nos diários de aula pretende-se investigar aquilo que o observador nele escreve sobre a observação e a perspetiva que ele tem sobre o que vê, portanto, o facto de escrever o quotidiano permite que se aprenda através daquilo que se escreve sobre as práticas do dia-à-dia levando à reflexão, sendo a reflexão “ (…) condição inerente e necessária à redacção do diário” (Zabalza, 1994, p. 95).

Por fim, o diário como um documento pessoal, onde a sua história pode ser feita num período de atividades continuadas, possibilita observar como é que os acontecimentos vão progredindo, ou através da descrição em cada dia sobre o que se observa (Zabalza, 1994).

A avaliação de cada sessão realizada com os/as alunos/as das quatro turmas do 9º ano onde foi implementado o projeto educativo “Agir para prevenir: diz não à violência no namoro”, também foi feita através de um diário de aula elaborado pelo grupo. Nestas sessões, foi entregue um “Diário das sessões” a cada grupo, onde se pretendeu que os/as alunos/as do grupo respondessem oralmente às três questões seguintes que avaliam a sessão que foi realizada: 1) O que gostaram mais na sessão? Porquê? 2) O que gostaram menos na sessão? Porquê? 3) O que gostariam de mudar na sessão para gostarem mais dela?

Em seguida, pediu-se aos/às alunos/as para escreverem no diário no final de cada aula de SAE as respostas dadas pelo grupo a essas questões, o levarem para casa e o trazerem em todas as aulas de SAE. A grande maioria foi responsável e levava e trazia os diários das sessões, um grupo ou dois pediu para que eu os guardasse. Optou-se por esta metodologia de escrita do

diário para se promover a interação entre os/as alunos/as do grupo e a responsabilização pela organização de mais uma tarefa colaborativa.

Entrevista de grupo focal. Morgan (1997) definiu os grupos focais como uma técnica de pesquisa através da interação entre o grupo sobre um determinado tema proposto pelo investigador permitindo observar a interação dos participantes sobre esse tema, demonstrando as diversas e idênticas opiniões e experiências dos/as participantes permitindo que os/as participantes partilhem e comparem as suas ideias e experiências com os/as outros/as participantes. Segundo o mesmo autor os/as participantes devem-se sentir responsáveis pela discussão e o local onde as entrevistas são realizadas devem ser locais onde os/as participantes e moderador se sintam confortáveis. Segundo Krueger (1994) esta técnica permite que o investigador descubra o que pensam os/as jovens acerca de determinadas questões. Segundo o mesmo autor, os/as participantes nos grupos focais podem influenciar os/as outros/as podendo ser influenciados também, influenciando assim a discussão também pela forma como se relacionam entre eles. Assim, os/as jovens são influenciados/as pelo ambiente e pela pressão que os pares exercem sobre eles podendo originar várias opiniões (Krueger, 1994).

As entrevistas em grupo podem conduzir o entrevistador para o mundo dos/as participantes, ao refletir sobre um tema os sujeitos podem incentivar os outros e adquirir novas ideias (Bogdan & Biklen, 1994).

A entrevista de grupo focal quando comparada com outros métodos, facilitam mais a participação do público no desenvolvimento da investigação porque permite que haja um ambiente cativante à participação do público, uma vez que são reuniões sociais, de tempo limitado e não exigem capacidades técnicas dos participantes (Bloor, Frankland, Thomas, & Robson, 2001). Assim, segundo Bloor et al. (2001):

“(…) os grupos focais são por vezes ambientes ideais para a pesquisa de temas sensíveis. Os participantes podem sentir-se mais relaxados e menos inibidos na copresença de amigos e colegas. E eles podem sentir-se mais capacitados e apoiados na copresença daqueles com situação semelhante a si mesmos”. (p.16)

Os grupos focais são grupos socialmente dinâmicos e o seu tamanho é idealmente entre seis a oito elementos por grupo de discussão, embora a decisão do tamanho dos elementos por grupo seja decidido no contexto em que é aplicado (Bloor et al., 2001).

Também é importante realçar que os participantes devem sentir-se confortáveis com o moderador e que este é a pessoa adequada para colocar as questões e as suas respostas

podem ser abertamente discutidas. O moderador, por outro lado, deve estar concentrado a ouvir atentamente o grupo dando-lhes a máxima atenção (Krueger, 1998) e estimular a participação dos/as entrevistados/as mais reservados para participarem mais e expressarem os seus pontos de vista, de forma a conseguir ter as respostas de todos os elementos do grupo (Flick, 2005).

Nestas entrevistas, geralmente utiliza-se uma entrevista semiestruturada, onde se pretende que o/a entrevistado/a fale abertamente (Quivy & Campenhoudt, 2008), conhecendo assim o seu ponto de vista em relação ao problema em questão. O que se pretende, é que o indivíduo responda livremente às questões da entrevista (Flick, 2005).