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A dissertação de mestrado de Mariana Passos Ramalhete, intitulada O Leitor e a Literatura Juvenil: um diálogo entre os prêmios literários Jabuti e FNLIJ e o Programa Nacional Biblioteca da Escola, foi apresentada ao PPGE da Universidade Federal do Espírito Santo em 2015. Ramalhete (2015) faz inicialmente um recorte de dez anos de livros premiados no Prêmio Jabuti e no Prêmio FNLIJ cotejando-os com os que também são abrangidos pelo PNBE. Chega, assim, aos seus objetos de

análise: O Fazedor de Velhos, de Rodrigo Lacerda (2009) e Lis no peito: o livro que pede perdão, de Jorge Miguel Marinho (2005), por terem sido as obras premiadas tanto no FNLIJ quanto no Jabuti e constarem também no PNBE. A autora busca entender de que maneira as editoras se valem dos prêmios citados e do Programa Nacional Biblioteca na Escola para sua expansão. Analisa, ainda, como a decisão dos jurados em premiar determinadas obras sugere um perfil de leitor em consequência de um perfil de obra literária.

A pesquisa de Ramalhete (2015) é de cunho bibliográfico-documental e busca fazer uma análise quantitativa e qualitativa. A autora utiliza como aporte teórico Antonio Candido – com a noção teórica de Sistema Literário, Pierre Bourdieu – com a noção de Campo Literário e Roger Chartier – com a noção de Comunidades de Leitores.

O ponto principal de contato da pesquisa de Ramalhete (2015) com a nossa é refletir sobre as questões da indústria editorial que movem o comércio de livro, uma vez que nos propusemos a pensar as adaptações literárias. O aporte teórico utilizado também é muito semelhante ao que utilizamos.

A autora ressalta que o agenciamento dos prêmios literários fica por conta de algumas editoras que lucram com isso e que o estado de São Paulo tem maior concentração das editoras beneficiadas. Ramalhete (2015) discorre sobre a indústria cultural sob a perspectiva de Adorno e Horkheimer (1985) esclarecendo que os objetos culturais não estão livres do processo industrial, o que pode ser um negócio lucrativo. “Dessa maneira, a indústria cultural, forma gostos, valores, a partir de um apregoamento de uma ideologia sob a égide do consumo exacerbado”. Reconhece a importância desse conceito uma vez que o livro se insere no contexto de “mercantilização da cultura, vislumbrado, por exemplo, no investimento das editoras prêmios” (RAMALHETE, 2015, p. 125, 126).

A autora faz uma pesquisa das editoras mais contempladas no PNBE e consequentemente das premiações por elas recebidas. É importante ressaltar também que em seu levantamento de dados para chegar ao corpus, Ramalhete (2015) chegou à conclusão de que há uma lacuna no PNBE quanto à existência de livros que debatam questões sociais, em contrapartida, a maioria dos livros possui

em seu eixo temático famílias burguesas, o que – a propósito – deve-se à “influência do mercado editorial e (...) por causa da tentativa de se alcançar um perfil de público: o burguês (p. 126).

Curiosamente, as editoras responsáveis pelas adaptações de nosso estudo – Ática (5º lugar) e LP&M (22º lugar) estão entre as que a autora aponta como “mais premiadas pelo Jabuti”. No ranking do FNLIJ aparece a Ática (2º lugar) que também está presente dentre as editoras mais contempladas pelo PNBE (6º lugar) (RAMALHETE, 2015, p. 44-46).

Na conclusão de sua pesquisa, a autora observou que o mercado editorial tem papel decisivo na escolha do que será publicado e conclui na análise dos livros que não há demonstração de perspectiva econômico-social difícil, mas sim de ambiente burguês com adolescentes abastados, e torna-se hegemônica uma visão “romântica” da Literatura que supostamente teria poder para transformar o mundo. Esse também é um dos motivos pelos quais nos parece importante nossa escolha de trabalhar com O cortiço, que focaliza outra classe social e outra experiência de mundo no processo de leitura dos adolescentes e jovens.

A dissertação de mestrado intitulada Práticas e representações de leitura literária no IFES/Campus de Alegre: uma história com rosto e voz, de autoria de Rosana Carvalho Dias Valtão (2016), produzida no PPGL da UFES, teve como principal objetivo investigar, por meio de estudo de campo, como acontecem as leituras literárias no Campus do IFES na cidade de Alegre. A pesquisadora buscou conhecer as formas de aquisição, as vias de acesso ao livro e quem são os mediadores de leitura literária naquela comunidade.

Assim como em nossa pesquisa, a autora optou por um trabalho inicialmente bibliográfico-documental, com coleta de fortuna crítica e análises em documentos escolares sobre as práticas de leitura desenvolvidas na instituição. Posteriormente, a pesquisa se estendeu ao campo, onde Valtão (2016) observou as práticas de leitura literária dos alunos com registros documentais, fotografias, questionários e entrevistas colhidos em um grupo focal.

O trabalho de Valtão (2016) busca estabelecer diálogo com o historiador Roger Chartier, no que se refere à história do livro, da leitura e da Literatura. Estabelecemos também ponto de contato com a referida pesquisa devido ao aporte teórico utilizado pela pesquisadora. A autora traçou um perfil do leitor de leitura literária do Ifes/Campus Alegre ao conhecer as vias e formas de aquisição do livro de Literatura e os mediadores de leitura literária.

Sendo um estudo de campo com um grupo de alunos, o trabalho da pesquisadora dialoga com o nosso, uma vez que dá voz aos sujeitos leitores e mostra o papel dos estudantes como mediadores de leitura dentro daquela comunidade, ou seja, fala da influência que os colegas exercem nas escolhas das leituras da comunidade em questão. Valtão (2016) mostra a influência da indústria cultural nas escolhas dos alunos ao apresentar os resultados de suas entrevistas. Diferente de nosso trabalho, não há uma obra pesquisada atrelada ao trabalho com os sujeitos, a autora não explora as adaptações literárias.

Compreendemos que, de algum modo, as obras adaptadas tentam com nova roupagem perpetuar a leitura do cânone literário que é referendado pelos canais competentes (PNBE, por exemplo, que adquire e distribui HQ’s como a que estudamos) que por sua vez, julgam o que é bom, o que deve ser lido.

O trabalho de Valtão (2016) nos ajuda a definir nossas próprias questões de estudo na medida em que identifica práticas e representações de leitura literária de uma comunidade leitora, chegando à conclusão de que os sujeitos investigados têm práticas distintas diferentes das representações de leitura que muitos têm acerca dos alunos de Ensino Médio, ou seja, eles são sim leitores, embora leiam os livros que desejam ler e refutem as obras que consideram mais difíceis (VALTÃO, 2016, p. 145-146). Pensamos, assim como Valtão (2016), ser importante delinear as práticas de leitura da comunidade leitora abarcada em nosso estudo.