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3.7 TERRENO DE MARINHA COMO UM BEM DOMINICAL

3.7.1 Aforamento dos terrenos de marinha

Os terrenos de marinha, no que tange a sua localização, situados na orla marítima, ou seja, na faixa de segurança, não estão sujeitos à alienação total, sejam quaisquer uma das formas previstas, tanto na venda, permuta ou doação.

Quando há conveniência para terceiros sobre estes terrenos, há a possibilidade de aforamento. Esta particularidade dos terrenos de marinha foi inserida pela Constituição Federal de 1988, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em seu artigo 49,

64

BRASIL, loc. cit. 65 BRASIL, loc. cit.

parágrafo 3º: “A Enfiteuse continuará sendo aplicada aos terrenos de marinha e seus acrescidos, situados na faixa de segurança, a partir da orla marítima.”67

Anteriormente à vigência da Constituição Federal de 1988, onde foi inserido o artigo acima citado, os bens da União eram regidos somente pelo regime do Decreto-Lei 9.760/46 como cita o artigo 64, sendo que, atualmente é possível a transferência para terceiros do direito de uso real, por meio da enfiteuse: “Art. 64. Os bens imóveis da União não utilizados em serviço público poderão, qualquer que seja a sua natureza, ser alugados, aforados ou cedidos.”68

Com a enfiteuse, a União permanece com o domínio direto, ou seja, a União participa na condição de “nu proprietário”. Entretanto, os terrenos de marinha que não estão situados na faixa de segurança, ou seja, não estão localizados na orla marítima, podem ser alienados plenamente, não se submetendo ao regime enfitêutico, pois não há impedimento constitucional para este ato, conforme demostra o artigo 23 da Lei 9636/98 (BRASIL, 1998) que dispõe sobre a regularização, administração, aforamento e alienação de bens imóveis de domínio da União, alterando dispositivos do Decreto-Lei de n. 9760/46 e 2398/87, regulamentando o artigo 49, § 2º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

Art. 23 - A alienação de bens imóveis da União dependerá de autorização, mediante ato do Presidente da República, e será sempre precedida de parecer da SPU quanto à sua oportunidade e conveniência. § 1º - A alienação ocorrerá quando não houver interesse público, econômico ou social em manter o imóvel no domínio da União, nem inconveniência quanto à preservação ambiental e à defesa nacional, no

desaparecimento do vínculo de propriedade.69

No entanto, a regra se subentende que, se havendo interesse público sobre o terreno de marinha, mantém-se o domínio pleno com a União e se, não havendo o interesse, aliena-se o domínio útil, pela modalidade do aforamento, pertencendo à União o domínio direto, sendo estes requisitos respeitados quando o terreno de marinha localizar-se dentro da faixa de segurança. Quando o terreno apresentado for situado fora da faixa de segurança, proceder-se-á com a alienação plena, como ocorre com os outros bens dominicais.

Far-se-á uma referência à questão da faixa de segurança citada anteriormente, no qual o legislador fez as seguintes distinções:

Note-se que as outras faixas de segurança, quais sejam, 1.320 m ao redor de fortificações, ou a faixa de? 150 km ao longo de fronteiras, mesmo alcançando as marinha, não são motivos impeditivos da sua alienação plena. O impedimento de alienar totalmente, como dissemos, recai apenas sobre as marinhas situadas na faixa

67

BRASIL, loc. cit. 68 BRASIL, loc. cit. 69 BRASIL, loc. cit.

de segurança (100 m) a partir da orla, e, como vimos, as marinhas situam-se também em outras regiões.70

Entretanto, têm-se diplomado no Decreto-Lei 9760/46, fazendo uma ressalva que este decreto foi promulgado antes da Constituição Federal de 1988, bem como do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em seus artigos 103 e 122, que é permitido expressamente o aforamento destes terrenos de marinha:

Art. 103. O aforamento extinguir-se-á: I - por inadimplemento de cláusula contratual; II - por acordo entre as partes; III - pela remissão do foro, nas zonas onde não mais subsistam os motivos determinantes da aplicação do regime enfitêutico; IV - pelo abandono do imóvel, caracterizado pela ocupação, por mais de 5 (cinco) anos, sem contestação, de assentamentos informais de baixa renda, retornando o domínio

útil à União; ou V - por interesse público, mediante prévia indenização.71

Art. 122. Autorizada, na forma do disposto no art. 103, a remissão do aforamento dos terrenos compreendidos em determinada zona, o S.P.U. notificará os foreiros, na forma do parágrafo único do art. 104, da autorização concedida. Parágrafo único. Cabe ao Diretor do S.P.U. decidir sobre os pedidos de remissão, que lhe deverão ser

dirigidos por intermédio do órgão local do mesmo Serviço.72

Conforme artigos citados acima há controvérsias manifestadas pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional sobre o artigo 49 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

O art. 49 do ADCT confere ao legislador ordinário a competência de editar lei que disponha sobre a enfiteuse de imóveis urbanos, facultando até mesmo a sua extinção, exceto no caso dos terrenos de marinha e seus acrescidos, situados na faixa de segurança, a partir da orla marítima. Incumbe à lei definir o conceito de faixa de

segurança previsto no art. 49 do ADCT.73

Não se inclui entre as matérias facultadas à disposição da lei de que trata o art. 49 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias alterar a noção jurídica de terrenos de marinha.74

Então, Menezes assevera que a Lei n. 9.636/98 veio para corroborar com o entendimento da vedação constitucional da alienação plena das marinhas, conforme mostra:

Finalmente, corroborando o entendimento da vedação constitucional da alienação plena das marinhas, a Lei 9.636/98, que veio para implementar a alienação dos imóveis da União não afetados ao serviço público, faz reservas quanto aos bens sujeitos ao regime enfitêutico, implícito aí as marinhas, enquanto únicos bens da União, ora obrigatoriamente sujeitos a tal regime, determinando tão somente a alienação do domínio útil, mantendo-se com a União o domínio direto, procedimento que vem sendo adotado pelo Órgão responsável (SPU), pelo que nos

parece não restar qualquer dúvida sobre o dispositivo constitucional.75

70

MENEZES, loc. cit. 71 BRASIL, loc. cit. 72 BRASIL, loc. cit. 73

MENEZES, loc. cit.

74 MENEZES, loc. cit.

A partir deste entendimento, vê-se o texto legal expresso pela Lei n. 9.636/98: Art. 12 - Observadas as condições previstas no § 1º do art. 23 e resguardadas as situações previstas no inciso I do art. 5º do Decreto-Lei nº 2.398, de 1987, os imóveis dominiais da União, situados em zonas sujeitas ao regime enfitêutico, poderão ser aforados, mediante leilão ou concorrência pública, respeitado, como preço mínimo, o valor de mercado do respectivo domínio útil, estabelecido em avaliação de precisão, realizada, especificamente para esse fim, pela SPU ou, sempre que necessário, pela Caixa Econômica Federal, com validade de seis meses a contar da data de sua publicação. § 3º - Não serão objeto de aforamento os imóveis que, por sua natureza e em razão de norma especial, são ou venham a ser considerados indisponíveis e inalienáveis.76

A seguir, tratar-se-á sobre o direito real da enfiteuse.