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4.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

4.4.2 Responsabilidade do estado por danos ao meio ambiente

Leuzinger, procuradora do Estado do Paraná, comenta sobre a responsabilidade do Estado por danos ao meio ambiente:

[...] a responsabilidade civil, que tem como finalidade e reparação do dano, afeta ao Estado, que deverá promover, no caso de danos ambientais, a recuperação do dano ao meio ambiente degradado ou, não sendo possível, pagar indenização, que será

destinada a um dos fundos de meio ambiente.74

Deste mesmo modo, Gonçalves expressa:

No campo da responsabilidade civil, o diploma básico em nosso país é a „Lei de Política Nacional do Meio Ambiente‟ (Lei n. 6938, de 31-8-1981), cujas principais virtudes estão no fato de ter consagrado a responsabilidade objetiva do causador do dano e a proteção não só aos interesses individuais como também aos supra- individuais (interesses difusos, em razão de agressão ao meio ambiente em prejuízo de toda a comunidade), conferindo legitimidade ao Ministério Público para propor

ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.75

72 GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2007, p. 186.

73 Ibid., p. 799. 74

LEUZINGER, Márcia Dieguez. Responsabilidade civil do estado por danos ao meio ambiente. Revista de Direito Ambiental, 2010, p. 191.

Contudo, visto a argumentação do autor supramencionado, o artigo 14 da Lei n. 6.938/81 afirma o ensinamento, visando à aplicabilidade de um dos princípios ambientais mencionados no primeiro capítulo deste trabalho, o princípio do poluidor-pagador:

Art. 14. [...] § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de

responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.76

No entanto, no âmbito da responsabilidade estatal por danos causados ao meio ambiente por particulares, Leuzinger salienta: “[...] o Estado seria sempre solidariamente responsável por qualquer dano causado ao meio ambiente, mesmo que por particulares, na medida em que teria, no mínimo, descumprido seu dever de fiscalização [...].”77

Contudo, responderá o Estado nas seguintes hipóteses:

[...] A primeira diz respeito à expedição de licença, autorização ou permissão ambientais ilegais, incidindo, assim, responsabilidade por ato ilícito, que caracteriza a culpa na prestação de serviço. A segunda refere-se à falta de fiscalização dentro dos padrões normais de atuação, caracterizando a responsabilidade do Estado por omissão, na modalidade falta de serviço. Em ambos os casos, responderão o Estado e o particular, mas com fundamentos distintos, na medida em que a responsabilidade do particular será objetiva e a responsabilidade do Estado subjetiva, na modalidade falta de serviço – culpa anônima, não individualizada -, que se caracteriza pelo seu

mau funcionamento, não-funcionamento ou funcionamento tardio.78

Entretanto, é importante ressaltar que, caso a responsabilidade do dano for exclusivamente do particular, e este não tiver condições para reparar o dano, o Estado terá que reparar, não considerando a responsabilidade civil deste ao meio ambiente, mas sim a obrigação constitucional do Estado de proteger e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, expressa no artigo 225, caput da atual Constituição Federal.79

No entanto, em análise aos imóveis construídos em terrenos de marinha, são tidos como construções irregulares, visto que não possuem autorização para edificar em sua área. Portanto, o Estado age de maneira comissiva, ou seja, não observa aquela área que está sendo degradada, bastando que haja o nexo causal entre o dano e a conduta estatal para configurar a responsabilidade objetiva do estado, nos termos do artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988.

76

BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

77 LEUZINGER, 2010, p. 192.

78

Ibid., p. 192.

79 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

Do mesmo modo, cabe ao Estado, responsável pelo dano ambiental, recuperar a área degradada e não sendo possível, pagará indenização que será destinada ao fundo monetário do meio ambiente, ressaltando que, a área de dunas, onde estas casas estão localizadas é área de preservação permanente, devendo ser preservada e resguardada, pertencendo a uma legislação especial já citada no capítulo anterior.

Assim, já mostra o art. 14 da Política Nacional do Meio Ambiente, que o “poluidor é obrigado, independente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente [...].”80 É válida a ressalva de que o Ministério Público possui legitimidade ativa para propor ação de danos causados ao meio ambiente.

Contudo, o Estado estará sempre no polo passivo das ações de reparação do meio ambiente, sendo responsabilizado de maneira individual, ou seja, a responsabilidade total e objetiva do Estado, mas também, será responsável solidariamente, descumprindo seu dever de Poder de Polícia sobre obras que é de seu interesse e de impedir que tais danos aconteçam, cabendo ao Estado o dever constitucional de proteger e preservar o meio ambiente de acordo com o artigo 225 da Constituição Federal de 1988.

A medida demolitória das construções irregulares acontecem nos casos em que as construções são erguidas sem a devida autorização da administração municipal por desrespeito às normas municipais e ambientais, assim como, em consonância com a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina se posiciona da seguinte forma:

ADMINISTRATIVO - QUIOSQUE EDIFICADO ÀS MARGENS DA LAGOA DA CONCEIÇÃO - ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) - AUSÊNCIA DE ALVARÁ – OBRA CLANDESTINA - DEMOLIÇÃO PELO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MUNICIPAL - EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA - CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA ASSEGURADOS. A autoridade municipal, no exercício do poder de polícia que lhe é conferido pela legislação, com direito à auto-executoriedade dos atos administrativos, pode embargar e demolir obra clandestina insuscetível de regularização, construída sem licença/alvará e, além disso, localizada às margens da Lagoa da Conceição, área de preservação permanente, sobretudo quando assegurado ao proprietário/possuidor, em processo regular, o contraditório e a ampla defesa.81

Acrescenta o Tribunal de Justiça de Santa Catarina sobre as construções que foram demolidas pelo fato de estarem em desacordo com a legislação ambiental:

ADMINISTRATIVO. CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO

PERMANENTE. PROMONTÓRIO. TERRENO DE MARINHA. OBRA

80 BRASIL, loc. cit. 81

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível n. 2007.016321-7. Disponível em:

<http://tjsc6.tj.sc.gov.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?CDP=010009OCG0000>. Acesso em: 02 jun. 2011.

EMBARGADA PELO IBAMA. FALTA DE LICENÇA DO MUNICÍPIO. AUTORIZAÇÃO DA FATMA. IRRELEVÂNCIA. CLANDESTINIDADE. DEMOLIÇÃO. PODER DE POLÍCIA. Sendo indispensável a prévia licença para a construção em TERRENO de MARINHA (promontório), eventual processo administrativo para a sua obtenção ou eventual regularização da edificação, deve ser deflagrado pelo próprio administrado. Não o tendo feito, desmerece prosperar a nulidade do ato da autoridade coatora que determinou a imediata demolição da obra clandestina. A licença concedida pela FATMA não dispensa a autorização do IBAMA, em se tratando de construção situada em TERRENO de MARINHA, cuja propriedade é da União. No exercício do seu poder de polícia, o Município pode demolir sumariamente obra clandestina, iniciada e concluída sem licenciamento da Prefeitura e do IBAMA, insuscetível de regularização superveniente por conta de

vedações da legislação ambiental.82

A respeito, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região entende:

CONSTITUCIONAL, AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. PRAIA DOS

NAUFRAGADOS. MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS.

ESTABELECIMENTOCOMERCIAL. CONSTRUÇÃO IRREGULAR. JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIA.ÁREA DE MARINHA E DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. CONEXÃO. PROVA TESTEMUNHAL. SENTENÇA ULTRA

PETITA. INOCORRÊNCIA. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.

LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. TERRENO DE MARINHA. PERÍCIA JUDICIAL. ÁREA DE RESTINGA. PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. NECESSIDADE. DEMOLIÇÃO DO LOCAL CONSTRUÍDO. USUCAPIÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Tratando-se de estabelecimento comercial construído irregularmente na Praia dos Naufragados, no Município de Florianópolis, em área de marinha e de preservação permanente, compete à Justiça Federal o julgamento da ação visando à recuperação dos danos causados ao meio ambiente. 2. Não há que se falar em conexão quando diversas as partes, a causa de pedir e o objeto das ações. 3. A prova testemunhal não é o meio idôneo para demonstrar se o imóvel construído situa-se dentro de área de preservação permanente e em terreno de marinha. Alegação de cerceamento de defesa afastada. 4. A sentença não é ultra petita, uma vez que a lide foi julgada dentro dos limites em que foi proposta. 5. O Ministério Público Federal é parte legítima para propor ações civis públicas visando à proteção do meio ambiente (art. 129, inc. III, da CF). 6. A ação civil pública é via processual adequada para apurar as responsabilidades por danos causados ao meio ambiente (art. 1º, inc. I, da Lei nº 7.347/85). 7. A perícia judicial é meio de prova apto para definir se um imóvel está situado em terreno de marinha, eis que o julgador pode valer-se de conhecimentos técnicos para firmar a sua convicção. 8. É necessária a preservação ambiental das áreas de restinga. 9. Restando comprovado que o estabelecimento comercial causou danos ao meio ambiente, face à destruição de área de preservação permanente (restinga), mostram-se adequadas as determinações de demolição do imóvel e de recuperação da área. 10. Os terrenos de marinha não podem ser objeto de usucapião.83

O Tribunal Regional Federal da 4º Região regulamenta:

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. BAR CONSTRUÍDO EM PRAIA MARÍTIMA. BEM DA UNIÃO. DUNAS. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. LICENCIAMENTO.

82

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação cível n. 2000.51215-5. Disponível em:

<http://tjsc6.tj.sc.gov.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?CDP=01000FYQE0000>. Acesso em: 02 jun. 2011.

83 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação cível n. 2000.72.00.009596-

0/SC. Disponível em:

<http://tjsc6.tj.sc.gov.br/cposg/pcpoQuestConvPDFframeset.jsp?cdProcesso=01000FYQE0000&nuSeqProces soMv=65&tipoDocumento=D&nuDocumento=2713039>. Acesso em: 02 jun. 2011.

AUTORIZAÇÃO. DEMOLIÇÃO. RESPONSABILIDADE. As praias marítimas, elencadas dentre os bens da União, são bens públicos de uso comum, enquanto a área de restinga, fixadora de dunas, é de preservação permanente (Código Florestal, Lei 4.771/65, art. 2º, f). Estando o empreendimento localizado em praia marítima, de propriedade da União, é necessária a autorização da Secretaria de Patrimônio da União - SPU. Reconhecida a ilegalidade e irregularidade da construção e operação de bar/quiosque em área da União, constituída por dunas, em local detentor de formas de vegetação de preservação permanente, sendo correta sua desocupação, demolição e remoção. A Administração Municipal, no que se refere à autorização para construir, tem o dever de observar e cumprir as normas relativas à proteção do meio ambiente. Não pode descuidar de exigir do permissionário ou autorizado o cumprimento das medidas relativas à proteção do meio ambiente e à preservação dos recursos naturais.84

Também:

OCUPAÇÃO ILEGAL DE ÁREA PÚBLICA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO EM TERRENO DE MARINHA. DANO AO MEIO AMBIENTE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. - Ainda que regular o contrato de permuta que embasou o empreendimento imobiliário objeto da lide, comprovada a repercussão danosa ao meio-ambiente e a impossibilidade de manutenção do projeto sem a ocorrência de novos danos, é de ser demolida a edificação e procedida à recuperação ambiental necessária a restabelecer o equilíbrio natural. - Tratando-se de dano ambiental a lei define como sendo objetiva a responsabilidade (Lei nº 6.938/81, art. 14, § 1º).85

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMEDIATA DEMOLIÇÃO DE CONSTRUÇÃO ERIGIDA EM TERRENO DE MARINHA SITUADO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, DENTRO DO PARQUE MUNICIPAL DA LAGOA DO PERI. RECUPERAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA. - Acima de quaisquer outras considerações que se possam tecer sobre o 'thema decidendum', há que lembrar o primado do interesse comum sobre o particular, particularmente invocável em se tratando de direito ambiental. Ainda que essa supremacia não se possa encarar como absoluta, deve prevalecer no caso vertente, pelas peculiaridades deste, em especial pela irregularidade da ocupação.86

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, acerca das construções irregulares no Farol de Santa Marta- SC, que decorre sobre a edificação numa área de preservação permanente, realizada pelo réu em um feriado para que houvesse impedimento de fiscalização. Entretanto, conforme pesquisa do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, pela Ação Civil Pública de n. 2006.72.16.004555-9 e 2006.72.16.002385-0, já arquivados pela Justiça Federal da Comarca de Laguna, sendo as respectivas ações do mesmo réu, constatou- se que esta residência foi demolida por ordem judicial.

84 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação cível n. 2002.71.00.052091-

4/RS. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8915768/apelacao-civel-ac-52091-rs- 20027100052091-4-trf4/inteiro-teor>. Acesso em: 02 jun. 2011.

85

Id. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação cível n. 2003.04.01.029745-6. Disponível em:

<http://gedpro.trf4.gov.br/visualizarDocumentosInternet.asp?codigoDocumento=3049131&termosPesquisado s=2003.04.01.029745-6>. Acesso em: 02 jun. 2011.

86

Id. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação cível n. 2003.04.01.057085-9. Disponível em:

<http://gedpro.trf4.gov.br/visualizarDocumentosInternet.asp?codigoDocumento=3049131&termosPesquisado s=2003.04.01.029745-6>. Acesso em: 02 jun. 2011.

PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 63 DA LEI Nº 9.605/98. CONSTRUÇÃO DE CASA DE PRAIA NO FAROL DE SANTA MARTA SEM AUTORIZAÇÃO

LEGAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. EDIFICAÇÃO

OCORRIDA EM FERIADO PARA BURLAR A FISCALIZAÇÃO. REITERADOS AVISOS DA COMUNIDADE E DO PRÓPRIO PROCURADOR DA REPÚBLICA QUE ATUA NA REGIÃO. DESCABIMENTO DA TESE DEFENSIVA DE AFASTAMENTO DO DOLO OU DE ERRO DE TIPO. I. A construção de casa na beira de precipício junto à praia do Farol de Santa Marta/SC, em área de reconhecida preservação permanente, constitui-se no ilícito previsto no art. 63 da Lei nº 9.605/98. II. Correta a incidente da agravante prevista no art. 15, II, "h: pois a construção foi feita às pressas, em meio a um feriadão, para dificultar a ação dos fiscais. III. Descabida a tese defensiva de ocorrência de erro de tipo porquanto o réu foi reiteradamente avisado de que era vedada a obra pretendida pelo mesmo naquela

região. IV. Apelação não provida. 87

Outrossim, o Jornal da Manhã, de circulação regional do sul de Santa Catarina, na data de 22 de outubro de 2010, pública a notícia de que haverá a demolição de um quiosque localizado na praia de Balneário Rincão, pois não houve assinatura do proprietário na proposta de acordo promovida pela Procuradoria da República no Município:

O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pela Procuradoria da República no Município de Criciúma não foi assinado. O TAC permitia que, após demolidos, os quiosques fossem substituídos por estruturas removíveis. As tendas poderiam ser utilizadas no período de 15 de dezembro de 2010 a 8 de março de 2011, e deveriam ser montados a partir das 7 horas e retirados, diariamente, até às 21 horas. 88

A seguir, comentar-se-á sobre a responsabilidade objetiva e subjetiva do Estado.

4.4.3 Responsabilidade objetiva do estado - atos comissivos praticados pelos agentes da