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O artigo 225, caput da Constituição Federal, reconheceu o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana:

4 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 814.

5 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do direito processual ambiental. 3. ed. São Paulo: Saraiva,

2009, p. 36. 6

MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 59.

7 SANTA CATARINA. Lei n. 5.793, de 16 de outubro de 1980. Dispõe sobre a proteção e melhoria da

qualidade ambiental e dá outras providências. Disponível em:

<http://200.192.66.20/ALESC/oop/qfullhit.htw?CiWebHitsFile=%2Falesc%2Fdocs%2F1980%2F5793_1980_ lei%2Edoc&CiRestriction=%28%28%40DocTitle+5793%29+OR+%28%40DocKeywords+5793%29%29+A ND+%28%40DocTitle+1980%29+AND+%28%28%28%40DocTitle+5793%29+OR++%28%40DocKeyword s+5793%29+OR++%28%40DocCategory+5793%29+OR++%28%40DocSubject+5793%29+OR++%28%40 DocComments+5793%29+OR++%285793%29%29%29&CiBeginHilite=%3Cstrong+class%3DHit%3E&CiE ndHilite=%3C%2Fstrong%3E&CiUserParam3=/ALESC/PesquisaDocumentos.asp&CiHiliteType=Full>. Acesso em: 04 mar. 2011.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.8 (grifo do autor).

Contudo, Cappeli, Marchesan e Stingleder9, exaltam em sua obra que o Brasil honrou o seu compromisso por ocasião da Convenção de Estocolmo de 1972, que resultou uma Declaração de Princípios, sendo que o Princípio 1º estabelece:

Princípio 1: O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de

proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras.10

E então, este princípio foi reafirmado na Declaração do Rio de Janeiro em 1992: “Princípio 1: Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.”11

Entretanto, Canotilho e Leite afirmam que a proteção ambiental não suporta mais o interesse menor ou acidental no ordenamento jurídico, como previsto em Constituições precedentes, mas obteve espaço na Constituição Federal de 1988, para que a proteção do meio ambiente fosse o ponto máximo do ordenamento:

Assim posta, a proteção ambiental deixa, definitivamente, de ser um interesse menor ou acidental no ordenamento, afastando-se dos tempos em que, quando muito, era objeto de acaloradas, mas juridicamente estéreis, discussões no terreno não jurígeno das ciências naturais ou da literatura. Pela via da norma constitucional, o meio ambiente é alçado ao ponto máximo do ordenamento, privilégio que outros valores

sociais relevantes só depois de décadas, ou mesmo séculos, lograram conquistar.12

Merecem destaque e reconhecimento as duas decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal, relatadas pelo Ministro Celso de Mello.

Conquanto, o julgamento do RE 134297-8/SP, afirma constitucionalmente sobre o direito fundamental ao meio ambiente, tendo seu desenvolvimento no julgamento do MS 22.164/DF, no qual o STF, pela primeira vez, tomou reconhecimento pela característica do

8 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 20 jan. 2011.

9 MARCHESAN, Ana Maria Moreira; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPPELI, Silvia. Direito

ambiental. 6. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010, p. 56. 10

BRASIL. Declaração de Estocolmo. Disponível em:

<www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc>. Acesso em: 03 abr. 2011.

11 Id. Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso

em: 02 abr. 2011.

12 CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito constitucional ambiental

bem ambiental, proposta pela Constituição Federativa do Brasil, quais sejam: a) a repartição de responsabilidades no exercício desses deveres; b) a relação estabelecida entre a sua concretização e os deveres atribuídos aos Poderes Públicos e à coletividade; e c) a titularidade compartilhada de interesses sobre o que alcançam inclusive as futuras gerações.

Entretanto, o Ministro supracitado, definiu constitucionalmente que o direito fundamental ao meio ambiente constitui a representação objetiva da necessidade de se proteger valores e objetivos, associados a um princípio de solidariedade, argumentos que foram muito bem sintetizados no seguinte destaque de suas razões de voto:

Trata-se [...] de um típico direito de terceira geração, que assiste de modo subjetivamente indeterminado a todo gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à própria coletividade - de defendê-lo e preservá-lo em benefício das presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo, que irrompam, no seio da comunhão social, os graves conflitos intergeracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade na proteção desse bem essencial de uso comum de todos quantos

compõem o grupo social.13

Cappeli, Marchesan e Steigleder discorrem sobre a terceira geração dos direitos fundamentais:

[...] a terceira geração dos direitos fundamentais, ao lado do direito a paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, à conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural e do direito de comunicação, a qual pressupõe “o dever de colaboração de todos os estados e não apenas o atuar ativo de cada um e transporta uma dimensão coletiva justificadora de um outro nome de direitos em causa: os direitos dos povos.14

Os mesmos autores fazem um breve relato sobre os direitos de primeira, segunda e finalmente de terceira geração.15

Segundo a classificação dos direitos fundamentais em gerações, são direitos de primeira geração o direito à vida, à liberdade e à igualdade perante a lei, os quais surgiram no contexto histórico do pensamento liberal-burguês do séc. XVIII como direitos do indivíduo frente ao Estado, mais especificadamente como direitos de defesa, demarcando uma zona de não intervenção do Estado e uma esfera de autonomia individual em face de seu poder.

Os direitos de segunda geração, oriundos do impacto da industrialização e dos graves problemas sociais e econômicos que a acompanharam, já no decorrer do séc. XIX, das doutrinas socialistas e da constatação de que a consagração formal da liberdade e igualdade não gerava a garantia do seu efetivo gozo, têm dimensão positiva e objetivam propiciar o bem-estar social. São eles: direitos a prestações sociais e estatais (assistência social, saúde, educação, trabalho), as liberdades sociais (liberdade de sindicalização e o direito de greve); e os direitos fundamentais dos trabalhadores (direito a férias, repouso semanal remunerado, garantia do salário- mínimo, limitação de jornada de trabalho). Finalmente, os direitos fundamentais de terceira geração, também denominados direitos de fraternidade ou de solidariedade, trazem como nota distintiva o fato de se desprenderem, em princípio da figura do

13

CANOTILHO; LEITE apud MELLO, Celso de, 2008, p. 381.

14 MARCHESAN; STEIGLEDER; CAPPELI, 2010, p. 38.

homem-indivíduo como seu titular destinando-se à proteção de grupos humanos (família, povo, nação), e caracterizando-se, consequentemente, como direitos de titularidade difusa ou coletiva.

No entanto, após descrever os conceitos de direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira geração Cappeli, Marchesan e Steigleder, declara-se que o direito fundamental de terceira geração, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito- dever erga omnes:

A nota distintiva destes direitos de terceira geração reside basicamente na sua titularidade coletiva, muitas vezes indefinida e indeterminável, o que se revela, a título de exemplo, especialmente no direito ao meio ambiente e qualidade de vida, o qual, em que pese ficar preservada sua dimensão individual, reclama novas técnicas de garantia e proteção. Roxana Borges refere que o direito ao meio ambiente equilibrado não pleiteia exclusivamente ao Estado, ou especialmente a outras pessoas, como se esses devessem alguma prestação àqueles. Sendo um direito-dever erga omnes, existe uma situação de solidariedade jurídica e de solidariedade ética em que os sujeitos encontram-se em pólos difusos. Diz ela que “definitivamente, o direito ao meio ambiente está fundado na solidariedade, pois só será efetivo com a colaboração de todos. A demanda que se faz neste momento não é que se proteja a propriedade do outro, ou sua liberdade, ou seu direito de assistência frente ao Estado, mas o respeito ao outro, à pessoa e à vida em geral, que não se circunscreve ao espaço delimitado pelos direitos civis, políticos ou sociais, mas abrange todo o seu relacionamento com o meio ambiente e com o futuro, uma vez que o outro não é mais apenas aquele que se conhece agora, mas também aquele que está por vir, ou

seja, são também futuras gerações.16

Logo, o artigo 225 relaciona-se com outros princípios fundamentais garantidos na Constituição Federal, como: a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a igualdade e a justiça, bem como com os objetivos de construir uma sociedade livre, justa e solidária e ainda, com os direitos individuais e coletivos, tais como o direito à vida, à função social da propriedade e ação popular.

Entretanto, Cappeli, Marchesan e Steigleder comentam que o meio ambiente sadio e o direito à paz são extensivos ao direito à vida:

[...] em sua dimensão ampla própria, o direito fundamental à vida compreende o direito de todo ser humano de não ser privado de sua vida (direito à vida) e o direito de todo ser humano de dispor dos meios apropriados de subsistência e de um padrão de vida decente (preservação da vida, direito de viver)‟. Nessa perspectiva, “o direito a um meio ambiente sadio e o direito a paz configuram-se como extensões ou corolários do direito à vida. O caráter fundamental do direito à vida torna inadequados enfoques restritos do mesmo em nossos dias; sob o direito à vida, em seu sentido próprio e moderno, não só se mantém a proteção contra qualquer privação arbitrária da vida; mas, além disso, encontram-se os Estados no dever de buscar diretrizes destinadas a assegurar o acesso aos meios de sobrevivência a todos os indivíduos e todos os povos. Neste propósito, têm os Estados a obrigação de evitar riscos ambientais sérios à vida, e de pôr em funcionamento sistemas de monitoramento e alerta imediato para detectar riscos ambientais sérios e sistemas de

ação urgente para lidar com tais ameaças.17

16 MARCHESAN; STEIGLEDER; CAPPELI, 2010, p. 40.

Todavia, Cappeli, Marchesan e Steigleder reconhecem o artigo 225 da Constituição da República o direito-dever do meio ambiente ecologicamente equilibrado e a responsabilidade do Poder Público e da coletividade de preservá-lo e defendê-lo:

Como norma de caráter teleológico, o art. 225 impõe uma orientação de todo o ornamento infraconstitucional, ficando patenteado o reconhecimento do direito- dever ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a obrigação dos poderes públicos e da coletividade de defendê-lo e de preservá-lo e a previsão de sanções para as condutas ou atividades lesivas.18

Outrossim, Cappeli, Marchesan e Steigleder, citando Gavião Filho, ressaltam que em determinadas situações que ocasionam determinados riscos para a saúde humana ou para o meio ambiente, o Poder Judiciário poderá ser acionado, para que, com o uso de princípios, garanta o direito fundamental lesado:

Anizio Pires Gavião Filho, ao tratar do direito fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado, enfatiza seu caráter prestacional, ressaltando que, em determinadas situações concretas, caracterizadas por elevados riscos para o ambiente ou para a vida e saúde humanas, o Poder Judiciário poderá ser acionado para que efetue, a partir da ponderação de princípios, o controle judicial das políticas públicas

devidas como forma de assegurar o direito fundamental lesado.19

Portanto, Canotilho e Leite constatam que a lei constitucional protege não apenas um direito assegurado a todos, mas também insere direitos e deveres para o Poder Público:

Sendo assim, é possível constatar o reconhecimento de que a norma constitucional protege não apenas um direito atribuído a todos, mas também fixa a todos os titulares deveres e, principalmente, assegura a proteção de poderes de titularidade coletiva atribuídos à coletividade, não os limitando ao exercício exclusivo por iniciativa dos Poderes Públicos.20

Assim sendo, os autores supracitados asseguram perante a ordem constitucional e a orientação do Supremo Tribunal Federal, a respeito do meio ambiente:

Desse modo pode-se observar que, no contexto da ordem constitucional brasileira, e nos termos da orientação definida pelo STF, o meio ambiente é patrimônio público, não porque pertence ao Poder Público, mas porque a sua proteção (objetivo que é expressamente considerado pelo texto constitucional, na condição de dever de todos, compartilhado entre os Poderes Públicos e toda a sociedade) interessa a coletividade, e se faz em benefício das presentes e futuras gerações, sendo essa a qualidade do

bem ambiental protegida pela Constituição.21

Contudo, é notório o dever do Poder Público assegurar a preservação, assim como defender o meio ambiente, não só porque é um patrimônio público que interessa para a

18 MARCHESAN; STEIGLEDER; CAPPELI, 2010, p. 41.

19

Ibid., p. 42.

20 CANOTILHO; LEITE, 2008, p. 381.

coletividade, ou seja, para as presentes e futuras gerações, mas por integrar o direito à vida, declarada como um direito fundamental da pessoa humana pela Constituição Federal.

3.3 O MEIO AMBIENTE COMO INTERESSE DIFUSO

Primeiramente, antes de abordar estritamente este tópico, dá-se uma breve noção sobre os interesses coletivos, individuais homogêneos e difusos no âmbito de direito constitucional.

O interesse coletivo está previsto no Código de Defesa do Consumidor, artigo 81, parágrafo único, inciso II, observando-se que a relação jurídica deve ser resolvida de maneira uniforme para todos.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: [...] II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; [...].22

Entretanto, é tido como de natureza indivisível, a qual seus titulares são determináveis ou determinados, compondo um grupo, categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária em uma relação jurídica, ou seja, uma situação de direito.

A co-relação entre os titulares é existente, tendo como exemplo o condomínio, ou ainda, com a inserção da parte contrária, a adesão de um consórcio (os consorciados). No entanto, em ambos os casos há uma relação entre si, sendo que os titulares do direito interagem, se relacionam por um mesmo interesse.

Já os interesses individuais e homogêneos estão expressos no artigo 81, parágrafo único, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor: “Art. 81. [...] Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: [...] III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”23

Estes interesses têm a mesma origem, a mesma causa, decorrendo da mesma situação, ainda que sejam individuais. Por serem homogêneos, a lei acolhe proteção coletiva,

22 BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 05 mar. 2011.

uma única ação e uma única sentença para resolver um problema individual que possui uma tutela coletiva.

Um exemplo que se pode citar é a adesão de pessoas a um contrato de financiamento da casa própria, pois se torna o interesse de todos os integrantes daquele grupo ou mutuários idênticos. Se houver alguma modificação nas prestações, a solução deverá ser a mesma para todos, pois envolve um interesse coletivo. Porém, se houver a exigência de devolução de parcelas já pagas necessitará da divisão do objeto em partes que não sejam iguais, ou seja, o interesse na repetição do indébito já não será coletivo, mas individual homogêneo.

No entanto, os interesses difusos são aqueles que são indivisíveis, cujos mentores são pessoas indeterminadas. Então, a respeito do meio ambiente ecologicamente equilibrado, é dever de todas as pessoas, sem distinção de grupos, ou seja, indeterminadamente, de mantê- lo e preservá-lo saudável, assim como podem ser citados os seguintes exemplos: o direito à paz pública e à segurança pública.24

Portanto, dando continuidade ao raciocínio sobre o direito do meio ambiente equilibrado como interesse difuso, Cappeli, Marchesan e Steigleder discorrem:

O direito ao meio ambiente equilibrado, como bem jurídico autônomo, traduz verdadeiros interesses difusos, os quais são aqueles que, não tendo atingido o grau de agregação e organização necessária à sua afetação institucional junto a certas entidades ou órgãos representativos dos interesses já socialmente definidos, restam em estado fluido, dispersos pela sociedade civil como um todo (verbi gratia, o interesse à pureza do ar atmosférico), podendo, por vezes, concernir a certas coletividades de conteúdo numérico indefinido (verbi gratia, consumidores). Caracterizam-se: pela indeterminação dos sujeitos, pela indivisibilidade do objeto, por sua intensa litigiosidade interna e por sua tendência à transição ou mutação no tempo e espaço.25

Assim sendo, Cappeli, Marchesan e Steigleder transcorrem acerca do tema:

[...] o interesse difuso estrutura-se como um interesse pertencente a todos e a cada um dos componentes da pluralidade indeterminada de que se trate. Não é um simples interesse individual, reconhecedor de uma esfera pessoal e própria, exclusiva do domínio. O interesse difuso é o interesse que cada indivíduo possui pelo fato de pertencer à pluralidade de sujeitos a que se refere a norma em questão. Tampouco, é o interesse próprio de uma comunidade organizada, constituída pela soma de interesses (ou de algum deles) dos indivíduos concretos que a compõem e, portanto, exclusivo.26

Assim sendo, Machado discorre sobre o meio ambiente como interesse difuso:

24 FACULDADE MARECHAL RONDON. Tutela dos direitos difusos e coletivos. Disponível em:

<http://www.fmr.edu.br/npi/D.%20Difusos%20e%20Coletivos/APOTILA%20DE%20INTERESSES%20DIF USOS.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2011.

25 CAPPELI; MARCHESAN; STEIGLEDER, 2010, p. 43.

O meio ambiente é um bem coletivo de desfrute individual e geral ao mesmo tempo.‟ O direito ao meio ambiente é de cada pessoa, mas não só dela, sendo ao mesmo tempo transindividual. Por isso, o direito a meio ambiente na categoria de interesse difuso, não se esgotando numa só pessoa, mas se espraiando para uma coletividade indeterminada. Enquadra-se o direito ao meio ambiente na „problemática dos novos direitos, sobretudo a sua característica de direito de maior dimensão, que contém seja uma dimensão subjetiva como coletiva, que tem relação

com um conjunto de utilidades – assevera o Prof. Domenico Amirante.27

Então, deve-se destacar que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é considerado como interesse difuso, pois não há como dividi-lo em partes, colaborando as pessoas, independente do grupo o qual pertençam. Têm o dever de mantê-lo protegido e saudável, e com o passar dos anos o compromisso de defendê-lo e cuidá-lo para as futuras gerações.

3.4 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

As Constituições precedentes a de 1988, não se preocupavam com a proteção ao meio ambiente, sendo que, não havia nenhum capítulo específico para a cautela do mesmo. Portanto, com a promulgação da atual Constituição, há um capítulo dedicado apenas para a prudência do meio ambiente, sendo a primeira Constituição em que a expressão “meio ambiente” é mencionada.

Logo, Moraes relata:

Essa previsão é um marco histórico de inegável valor, dado que as Constituições que precederam a de 1988 jamais se preocupavam da proteção do meio ambiente de forma especifica e global. Nelas sequer uma vez foi empregada a expressão „meio

ambiente‟, a revelar total despreocupação com o próprio espaço em que vivemos.28

Com as Conferências das Nações Unidas realizada em Estocolmo, Suécia em junho de 1972, começou haver preocupação com os interesses difusos, especialmente com o meio ambiente, em que consagra:

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação

27 MACHADO, 2011, p. 133.

estrangeira permanecem condenadas e devem ser eliminadas. Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ou administração adequados. Deve ser mantida e, sempre que possível, restaurada ou melhorada a capacidade da Terra de produzir recursos renováveis vitais. O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio representado pela flora e fauna silvestres, bem assim o seu „habitat‟, que se encontram atualmente em grave perigo, por uma combinação de fatores adversos. Em conseqüência, ao planificar o desenvolvimento econômico, deve ser atribuída

importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres.29