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7 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO (PE)

7.3 Análise do arcabouço legal legislação ambiental local e outros arcabouços relacionados

7.3.4 A Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho

Quanto à Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho, a situação de não conformidade é enorme. Primeiro porque o Plano de Ação da Agenda 21 carece de fortes dispositivos legais que o impulsione como um importante indutor de políticas de desenvolvimento e meio ambiente com base nos princípios da sustentabilidade. O que de fato se tem de base legal é um Decreto Municipal que institui o Fórum da Agenda 21 do município estabelecendo as organizações que o compõem e suas atribuições dentro do processo de efetivação da Agenda (Decreto 100/2003). O “documento” Agenda 21 em si mesmo não tem nenhuma propositura legal perante o Poder Local, servindo apenas como um conjunto de diretrizes facultativas disponibilizadas para o município no que se diz respeito ao desenvolvimento sustentável17. No entanto, a Agenda 21 Local foi considerada como um processo dinâmico de mobilização social instalado, capaz de garantir orientação voltada para uma visão compartilhada de futuro entre os atores locais, e de estabelecer um constante diálogo entre os diversos setores da sociedade visando uma melhor governança no âmbito municipal (BARROS e GADELHA, 2007).

A Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho foi elaborada entre os anos de 2002 e 2003 de forma participativa, envolvendo os diversos segmentos sociais, cujo processo de construção contou com apoio do Ministério do Meio Ambiente via Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) e Instituto Internacional para Educação no Brasil – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (IIEB/PADIS) financiado pela Embaixada do Reino Unido dos Países Baixos (AGENDA 21 DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2004).

O projeto de construção da Agenda 21 teve como proponente institucional a Prefeitura Municipal através da Secretaria Executiva de Meio Ambiente e Saneamento (SEMAS) com parceria do Centro das Mulheres do Cabo (CMC), Centro de Saúde Popular Raízes da Terra (CESPRATE), Movimento de Moradores de Vila Claudete e Colônia de Pescadores Z-8, onde a aprovação da proposta no FNMA e no IIEB/PADIS oportunizou apoio logístico e contratação de assessoria que conduziu processos de desenvolvimento institucional com as organizações locais

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Em 2001, por iniciativa do vereador João Sávio Sampaio Saraiva (PMDB), tramitou na Câmara Municipal de Vereadores o Projeto de Lei 019/2001 visando instituir no município o Programa Agenda 21 Local e o seu respectivo Fórum. O projeto chegou a ser aprovado pela Câmara, mas foi vetado pelo Prefeito Elias Gomes (PPS) por não ter sido um processo trabalhado e discutido com ampla participação da sociedade e seu setores representativos.

para construção coletiva da Agenda 21 do município (AGENDA 21 DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2004; BARROS e GADELHA, 2007).

Ao contar com uma metodologia participativa e um processo compartilhado de mobilização social, a construção da Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho serviu para oportunizar uma discussão ampla dos principais temas de interesses da população relacionados às suas principais necessidades, desenvolvimento e qualidade de vida. Também serviu para criação de um espaço de articulação institucional com proposta de propiciar a interação dos diversos segmentos sociais – O Fórum da Agenda 21 Local (BARROS, 2007).

A Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho possui duas estruturas de efetivação. A primeira é uma estrutura diretiva caracterizada pelo conjunto de diretrizes, objetivos e ações que, se efetivadas, podem potencializar ou consolidar o desenvolvimento sustentável no município. Essa estrutura tem como fundamento cinco dimensões temáticas e é explanada especificamente no capítulo “Consolidação da Consulta Popular” do documento. A segunda é uma estrutura propositiva, caracterizada pelo Plano de Ação que é composto por 40 projetos distribuídos entre as dimensões temáticas da Agenda (BARROS e GADELHA, 2007).

Gráfico 3: Distribuição quantitativa dos projetos do Plano de Ação da Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho por dimensão temática. Fonte: Barros, 2007.

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10

4 2

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Dimensão 01: Conservação e Gerenciamento dos Recursos Naturais Dimensão 02: Desenvolvimento Social, Econômico e Cultural Dimensão 03: Ambiente Urbano Sustentável

Dimensão 04: Conservação e Gerenciamento do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental Dimensão 05: Fortalecimento das Instituições Locais

O Plano de Ação foi resultado do consenso estabelecido em diversos eventos promovidos para construção da Agenda 21 pelas instituições parceiras, nos quais foram levantadas demandas em nível local, de forma a orientar a municipalidade, na elaboração de políticas públicas condizentes com as necessidades da comunidade, pautadas no bem-estar social e na sustentabilidade dos recursos naturais (BARROS e GADELHA, 2007).

A implementação da Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho depende da mobilização, do compromisso e do compartilhamento de responsabilidade entre o Governo Municipal, Poder Legislativo, Sociedade Civil e Setor Produtivo, onde o espaço público socioambiental (EPSA) onde tais fatores devem se desenvolver encontra-se no Fórum da Agenda 21 Local (AGENDA 21 DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2004; BARROS e GADELHA, 2007).

Nesse sentido, competiria ao Fórum da Agenda 21 Local definir procedimentos que garantam a operacionalização do Plano de Ação (CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2003). Isso não significa que o Fórum deverá ter capacidade executiva, no entanto, deverá ter o papel de estabelecer influência política e social entre os atores locais com capacidade de execução dos projetos propostos. Para isso, o Fórum deverá apresentar um sistema de gerenciamento próprio dirigido por uma Coordenação Colegiada com apoio administrativo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, visando articular parceiros para implementação da Agenda 21 Municipal e garantir mobilização social permanente no processo (AGENDA 21 DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2004).

Para que os projetos do Plano de Ação sejam efetivados, torna-se necessário a incorporação de suas propostas, de forma especial, no Plano Plurianual do Governo Municipal. Entretanto, alguns mecanismos que foram propostos como facilitadores da implementação da Agenda 21 Local, foram levantados. Esses mecanismos foram verificados na análise das “conformidades legais” relacionadas à efetivação da Agenda 21 Local pelo Poder Local. A análise demonstra que o Poder Local não vem cumprindo seu papel de fortalecer a Agenda 21. Isso não significa que o processo esteja suspenso ou cancelado. Na verdade, algumas propostas da Agenda 21 Local têm sido adotadas por parte de organizações da sociedade civil e do setor produtivo, mesmo com o Fórum da Agenda 21 “desativado”. Acredita-se que um dos principais motivos para a desarticulação e arrefecimento do processo foi a mudança de governo ocorrida em 2005.

Com a nova gestão (2005-2008) a articulação institucional interna para efetivação da Agenda 21 Local foi desmontada dando lugar a outras prioridades. Assim, num momento oportuno em que o processo “Agenda 21” poderia se firmar como um importante indutor de políticas de desenvolvimento sustentável, a descontinuidade de gestão e a falta de compromisso institucional do Poder Local provocaram ruptura nas articulações institucionais formadas anteriormente nos anos de 2003 e 2004 no período de construção da Agenda 21. O quadro 19 e o gráfico 4 apresentam os resultados obtidos da análise da conformidade legal do Poder Local quanto à Agenda 21 Local.

Objetivos previstos na Agenda 21 Local para efetivação de seu Plano de Ação

(Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho, 2004) Conformidade

1 Identificação de fontes de apoio técnico e financeiro para execução de ações prioritárias. Não atende

2 Viabilização de convênios, acordos, parcerias e consórcios com órgãos do Governo Federal e Estadual. Não atende

3 Elaboração de um Plano de Atividades integrado com a Rede de Defesa Ambiental. Não atende

4 Viabilização de convênios, acordos, parcerias e consórcios com órgãos do Governo Federal e Estadual. Atende parcialmente

5 Elaboração de um Plano de Atividades integrado com as Secretarias Municipais. Não atende

6 Viabilização do processo de gerenciamento com formação de equipe técnica para elaborar projetos e trabalhar na captação de recursos. Não atende

7 Incorporação de projetos da Agenda 21 no Plano Plurianual (2005-2008) Atende parcialmente

8 Garantir o funcionamento o Fórum da Agenda 21 Local. Atende

parcialmente Quadro 19: Matriz para verificação das conformidades legais do Poder Local quanto à Agenda 21 Local. Dados verificados e sistematizados pelo autor (2005-2008).

Níveis atuais de conformidade legal em

percentual quanto aos meios de implementação

da Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho

62% 0%

38%

Não atende Atende Atende parcialmente

Gráfico 4: Níveis atuais de conformidade legal em percentual quanto à Agenda 21do Cabo de Santo Agostinho (período 2005-2008). Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

Por meio das análises realizadas até o momento é possível apresentar algumas conclusões. A primeira é que o município do Cabo de Santo Agostinho é dotado de uma base legal consistente para a efetivação de políticas ambientais fundamentadas nos pressupostos da sustentabilidade. Essa base legal garante para o Poder Local a munição de todos os instrumentos de políticas públicas essenciais para a gestão ambiental (Quadro 20). No entanto, o Poder Local precisa melhorar bastante na efetivação dos pressupostos legais como demonstrou as análises das conformidades, especialmente no aspecto “Agenda 21 local” que norteia de forma intersetorial pressupostos da sustentabilidade na formulação e implementação de políticas públicas (Gráfico 5). A efetivação dos marcos legais e conseqüentemente o aumento dos níveis de conformidade se darão na medida em que o Poder Local do Município do Cabo de Santo Agostinho passar a investir no fortalecimento do seu aparato institucional, no planejamento e na gestão, e no controle social, que são itens essenciais para a consolidação de políticas públicas. Esses fatores serão tratados nas secções subseqüentes deste trabalho.

Instrumentos de Políticas Públicas Previstos

Ordenamento Territorial Comando e Controle Tomada de Decisão

Principais Marcos Legais

Plano Diretor Zoneamento Am biental Áreas Legalmen te Protegidas Licenciamento Ambiental Fiscaliza ção Am biental Compensa ção Ambiental

Monitoramento Ambiental Sistema de Informaçõe

s Ambientais Educação Ambi ental Instância s de De cisão Colegiada Lei Orgânica Lei da Política Ambiental

Municipal Lei do Plano Diretor.

Agenda 21 Local

Quadro 20: Instrumentos de políticas ambientais previstos nos principais marcos legais do município do Cabo de Santo Agostinho. Fonte: Dados verificados e sistematizados pelo autor (2005-2008).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Lei Orgânica Política Ambiental Agenda 21

Comparativo das análises de conformidade legal

do Poder Local quanto à Lei Orgânica, Lei da

Política Ambiental e Agenda 21

Não atende Atende Atende parcialmente

Gráfico 5: Comparativo das análises de conformidade legal do Poder Local do Município do Cabo de Santo Agostinho quanto aos principais marcos legais relacionados à ação ambiental. Fonte: Elaborado pelo autor (2008).

7.4 Aspectos do funcionamento do aparato institucional de implementação