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Diante dos arcabouços legais e institucionais que sustentam juridicamente a ação do poder local na gestão do meio ambiente é importante neste momento identificar os seus principais instrumentos de políticas públicas ordenando-os dentro de tipologias específicas de acordo com os seus princípios preponderantes de utilização.

Os instrumentos de políticas públicas para gestão ambiental na esfera municipal são diversos, assim como os desafios de garantir para o município um ambiente saudável e propício para uma boa qualidade de vida e pleno desenvolvimento de seus habitantes.

Esses desafios, de certa forma, justificam a necessidade da Gestão Ambiental, que consiste num processo político-administrativo que encarrega ao poder público local (executivo e legislativo), com participação da sociedade civil organizada, o dever de formular, implementar e avaliar políticas ambientais (expressas em planos, programas e projetos), no sentido de ordenar as ações do município, em sua condição de ente federativo, a fim de assegurar a qualidade ambiental como fundamento da qualidade de vida dos cidadãos, em consonância com os postulados do desenvolvimento sustentável, e a partir da realidade e das potencialidades locais (COIMBRA, 2004, p. 561).

Diante das profundas transformações políticas, econômicas, sociais, e geográficas que rebatem sobre a questão ambiental em nível global e local, especialmente no contexto da urbanização, é possível pelo menos identificar sete grandes desafios para a gestão ambiental municipal: 1) a expansão urbana; 2) o saneamento ambiental: água, esgoto e resíduos sólidos; 3) a poluição industrial; 4) ruídos e conflitos urbanos de vizinhança; 5) criação e manutenção áreas verdes; 6) comércio e prestação de serviços impactantes; e 7) cidadania ambiental (FRANCO, 1999).

Para o enfrentamento desses desafios torna-se uma necessidade cada vez maior a formulação de uma agenda ambiental para o município, mediante o estabelecimento de políticas locais de meio ambiente e de desenvolvimento que reflitam modelos de gestão voltados para o controle e mitigação de impactos ambientais sobre os ambientes urbano e natural de entorno (MAGLIO, 1999).

Tais modelos de gestão deverão ser atrelados aos instrumentos de políticas públicas disponíveis, numa perspectiva de melhoria contínua, tendo em vista a dinamicidade dos processos sócio-ambientais que ocorrem no âmbito local, especialmente no âmbito da gestão do espaço urbano.

Assim, para obtenção em nível local de um meio ambiente sustentável, torna- se cada vez mais imprescindível a incorporação das questões ambientais nas políticas setoriais urbanas (habitação, abastecimento, saneamento e ordenação do espaço), através da observação de critérios ambientais que visem preservar recursos naturais, como água, solo, ar, cobertura vegetal e biodiversidade, para proteção da saúde humana. Nessa incorporação surge a necessidade de especializar a gestão ambiental do município, especialmente para os aspectos do ambiente urbano, surgindo assim, a gestão ambiental urbana, ou gestão do ambiente urbano (BARROS, SILVEIRA e GEHLEN, 2007).

No reconhecimento da incorporação das questões ambientais na gestão da cidade, fica evidente que a gestão do ambiente urbano não poderá ser praticada de forma desconexa de um processo mais amplo de gestão ambiental municipal e desenvolvimento, como também, não poderá deixar de se apropriar e utilizar instrumentos de políticas públicas13 consagrados legalmente na gestão ambiental brasileira.

Assim, na compreensão dessa necessidade, torna-se importante o ordenamento dos instrumentos de políticas ambientais em tipologias básicas capazes de orientar sua aplicação dentro de uma agenda socioambiental local, seja ela urbana ou amplamente municipal, considerando todas as particularidades territoriais do município. O quadro 11 em seguida apresenta uma proposta tipológica de instrumento de políticas ambientais em três categorias básicas, conforme sua utilização preponderante na gestão ambiental pública. São eles: 1) os instrumentos de ordenamento territorial; 2) os instrumentos de comando e controle; 3) e os instrumentos de tomada de decisão. Nessas três categorias são destacados dez instrumentos consagrados na legislação ambiental brasileira totalmente aplicáveis ao contexto local de políticas ambientais.

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Instrumentos de políticas públicas são mecanismos legais e institucionais postos à disposição da Administração Pública para a implementação dos objetivos de uma dada política (ANTUNES, 2005).

Tipologia Instrumentos de políticas ambientais

De Ordenamento Territorial

Plano Diretor

Zoneamento Ambiental Áreas Legalmente Protegidas

De Comando e Controle Licenciamento ambiental Fiscalização Ambiental Compensação ambiental De Tomada de Decisão Monitoramento ambiental Sistema de informações Educação ambiental

Instâncias de Decisão Colegiada

Quadro 4: Tipos de instrumentos de políticas ambientais. Quadro elaborado pelo autor (2008) com base em Braga (2006).

Não é objetivo aqui descrever detalhadamente cada instrumento, mas é importante destacar que o poder local deverá desenvolver competências políticas e técnicas para a aplicação desses instrumentos de forma integrada aos desafios da gestão ambiental municipal, mesmos que eles se encontrem dispersos em variados marcos legais.

Na tentativa de colaborar com a concepção de integração desses instrumentos com os desafios da gestão ambiental municipal é apresentada em seguida uma matriz que inter-relaciona esses elementos de forma didática e sintética, demonstrando os níveis de impactos que os instrumentos de políticas ambientais apresentam diante de cada desafio a ser enfrentado na gestão ambiental municipal (Quadro 12).

Instrumentos de Políticas Públicas Ordenamento

Territorial Comando e Controle Tomada de Decisão

Desafios para gestão ambiental municipal

Plano Diretor

Zoneamento Ambiental Áreas Legalm

ente Protegidas Licenc iamento Ambiental Fiscalização Ambiental

Compensação Ambiental Monitoramento Ambiental Sistema de

Informações Ambientais Educação Am

biental Instâncias de Decisão Colegiada Expansão Urbana AI AI AI MI AI BI MI MI BI BI Saneamento Ambiental AI MI MI AI AI BI AI AI MI BI Poluição Ambiental MI AI MI AI AI AI AI MI BI MI Ruídos e Conflitos Urbanos de Vizinhança BI AI BI AI AI BI BI BI AI BI Áreas Verdes: Criação

e Manutenção AI AI AI BI AI AI AI BI AI AI Comércio e Prestação

de Serviços

Impactantes AI AI BI AI AI BI MI BI BI BI Cidadania Ambiental14 AI BI MI BI BI BI MI AI AI AI

Legenda: AI (verde): Alto Impacto; MI (amarelo): Médio Impacto; BI (vermelho): Baixo Impacto.

Quadro 12: Matriz de interação entre os desafios da gestão ambiental municipal e os instrumentos de políticas ambientais e seus respectivos níveis de impactos. Elaborado pelo autor (2008) com base em Barros, Silveira e Gehlen (2007).

Como demonstrado na matriz, os instrumentos de políticas ambientais podem apresentar variação de impactos sobre os diversos desafios da gestão ambiental municipal. Nesse sentido, um instrumento que possui alto impacto seria aquele com

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Nota do Autor: O desafio da cidadania ambiental consiste em estabelecer um conjunto de condições legais e institucionais que garantam e favoreçam o exercício da cidadania ativa e participativa nas políticas e questões ambientais de interesse da coletividade.

capacidade potencial de interferir na dinâmica dos desafios ambientais de forma mais direta e contundente mediante processos de gestão ambiental. Por sua vez, os instrumentos que apresentam impacto médio diante de dado desafio seriam aqueles que possuem uma capacidade intermediária ou indireta de intervenção, enquanto os de baixo impacto, possuem pouca interferência, sendo sua aplicabilidade bastante limitada ou nula diante do desafio proposto. Essa matriz é importante, pois auxilia na identificação dos instrumentos mais adequados para o enfrentamento dos principais desafios no âmbito da gestão ambiental.

No entanto, é importante ressaltar que não é suficiente estabelecer ou reconhecer os instrumentos de políticas ambientais e suas fundamentações legais. Torna-se necessário o desenvolvimento institucional dos agentes políticos interessados e envolvidos com as políticas e as atividades de gestão ambiental, tanto da parte do governo como da sociedade. Fica evidente a necessidade de trilhar um caminho de maturação das políticas ambientais locais, e essa maturação dependeria da capacidade e da maturidade do governo e da sociedade em se apropriar, integrar e utilizar os instrumentos políticos e técnicos disponíveis e fundamentados em base legal (BARROS, SILVEIRA e GEHLEN, 2007).