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O estudo analisou a pauta das sessões legislativas no Senado Federal e Câmara dos Deputados no período de 1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2016 a fim de verificar as temáticas relacionadas ao PMM. Foram monitoradas as sessões com conteúdo voltado à produção legislativa, envolvendo Convocações para Esclarecimentos, Projetos de Lei, Projetos de Medidas Provisórias, Projetos de Decretos Legislativos e Requerimentos gerais.

Como já ressaltado no capítulo anterior, a primeira discussão relevante registrada na Câmara de Deputados é datada de 14 de maio de 2013. O Requerimento de Audiência Pública66 para a discussão da entrada de médicos brasileiros sem a

necessidade da prestação do exame de revalidação de diplomas foi a pauta da

66 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao

convocação. A medida, trazida a público pelas revistas Isto É e Veja, em matérias67

de 10 e 11 de maio do mesmo ano, causou repercussão imediata na sociedade. A abordagem dos periódicos induziu grande desconforto em alguns grupos de interesse, dentre eles a comunidade médica e o meio acadêmico. Como consequência, as matérias motivaram a solicitação de audiência pública três dias depois de publicadas e foram um dos marcos de discussão do PMM na Câmara dos Deputados.

Cabe destacar que as mesmas matérias ainda ensejaram o Requerimento 288/2013 CE, proposto em 11 de junho, para a convocação dos Ministros da Saúde, da Educação e das Relações Exteriores a fim de prestarem esclarecimentos sobre a “possível entrada de médicos estrangeiros no Brasil, sem prestarem a o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Instituições de Educação Estrangeiras (Revalida)”.

As matérias citadas embasaram a motivação para os Deputados Izalci (PSDB- DF), Mandetta (DEM-MS), Celso Jacob (PMDB-RJ) e Eleuses Paiva (PSD-SP) a convocarem os ministros relacionados a prestarem esclarecimentos junto à Câmara de Deputados e debaterem “a preocupação com a insegurança na formação e os riscos à saúde pública que tal situação poderia provocar”:

Na mídia nacional, várias reportagens apontam a preocupação com a insegurança na formação e os riscos à saúde pública que tal situação poderia provocar: Conforme veiculado na Revista Veja, em 11 de maio de 2013: “Cubanos para quê?’’ Nathalia Watkins

[...] Conforme veiculado na Revista Isto É, em 10 de Maio de 2013: “O Brasil precisa importar médicos?” Governo decide trazer seis mil profissionais de saúde cubanos para as áreas mais remotas do País, onde, apesar dos salários mais altos, brasileiros não querem se estabelecer. As associações médicas reclamam que isso não é a solução. Nathalia Ziemkiewicz [...] (CÂMARA DE DEPUTADOS, 2013)

Posteriormente, a discussão midiática acerca da dispensa de revalidação dos diplomas aos médicos intercambistas ganhou vulto e constou de uma série de matérias exibidas pela Folha de São Paulo em setembro e outubro de 2013, originando uma indicação68 ao Ministério da Saúde para que aumente a frequência do

67 Disponíveis em: <https://acervo.veja.abril.com.br/index.html#/edition/2321?page=60&section=1&

word=cubanos%20para> e <http://istoe.com.br/297678_O+BRASIL+PRECISA+IMPORTAR+ MEDICOS +/> Acesso em 05 ago. 2017.

68 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao

Exame de Revalidação dos cursos de anual para trimestral, a fim de viabilizar a submissão aos médicos intercambistas.

Ainda em sede de discussões plenárias, o então deputado Ronaldo Caiado interpôs, em 29 de agosto de 2013, Requerimento69 de Constituição de Comissão

Externa para debater junto à Organização Mundial do Trabalho (OMT) e à Organização Mundial da Saúde (OMS) a admissão em massa de médicos estrangeiros e as condições de implementação do PMM. O pedido embasou-se na edição da Medida Provisória 621/2013 e nas notícias veiculadas pela mídia com relação à remuneração dos profissionais:

[...] Informações obtidas por intermédio da imprensa noticiam que esse acordo remunerará esses profissionais com uma remuneração muito aquém da paga aos demais profissionais médicos, algo em torno de R$ 2.500 por profissional/mês, em que pese o repasse feito pelo Brasil a Cuba continue na ordem de R$ 10 mil por profissional/mês [...] (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2013)

O contrato dos médicos intercambistas, suas remunerações e direitos sociais também eram tema em ebulição no Senado Federal no mesmo período. A pauta da Casa Legislativa foi preenchida com cinco Requerimentos de Audiência Pública70 a

fim de debater os termos do contrato celebrado entre o governo brasileiro e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS-OMS).

Não por acaso, o segundo semestre de 2013 foi o período que mais registrou discussões parlamentares sobre o PMM em ambas as casas, sendo 11 no Senado Federal e 30 na Câmara de Deputados. Foi precisamente nesse lapso temporal que também verificou-se o maior número de publicações de matérias nos periódicos cotejados: 80 matérias na Folha de São Paulo, 4 matérias no Jornal O Globo, 37 matérias na Revista Isto É e 2 matérias na Revista Veja.

Outro tema que mereceu destaque pela mídia e figurou no debate da Casa Legislativa foi a corresponsabilidade dos médicos tutores nacionais perante erros médicos bem como a representação jurídica destes pela Advocacia Geral da União como se servidores públicos fossem. O deputado Izalci, do PSDB/DF impetrou, em

69 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=

589803> Acesso em 02 mar. 2017.

70 Disponíveis em: <http://www6g.senado.gov.br/busca/?colecao=Projetos+e+Mat%C3%A9rias+-

+Proposi%C3%A7%C3%B5es&ano=2013&q=programa+MAIS+M%C3%89DICOS&ordem=data&p=> Acesso em 02 mar. 2017.

agosto de 2013, um projeto de decreto legislativo71 a fim de sustar dispositivos do

Decreto nº 8081/2013, que institui o Comitê Gestor e o Grupo Executivo do PMM. Essa legislação traz, ainda, um dispositivo de corresponsabilidade administrativa e judicial de médicos brasileiros sobre possíveis erros de profissionais intercambistas. A medida, como as demais elencadas anteriormente, foi motivada por informações72 apresentadas pela imprensa jornalística, neste caso o site UOL

notícias, como se observa:

O intuito de mencionada inclusão é explicitado pela notícia abaixo transcrita, veiculada pelo “portal de notícias UOL”: “Supervisor brasileiro também responderá por erro de médicos estrangeiros. Vitor Abdala, da Agência Brasil - 26/08/2013 - 14h52.

A responsabilidade pelos erros médicos cometidos por estrangeiros será compartilhada com o brasileiro encarregado da supervisão de seu trabalho, de acordo com o Ministério da Saúde. A pasta esclareceu que os gestores municipais terão o dever de acompanhar a atuação dos profissionais de outros países.

Dentre todas as pautas debatidas previamente à edição da Lei 12.871/13, tem- se aqui o primeiro dispositivo legal efetivamente proposto a fim de alterar a implantação da política pública em questão. Apresenta-se, assim, notória mudança na política regulatória relativa à prática da medicina no âmbito do PMM.

Ainda sobre a contribuição midiática na implementação do PMM, destaca-se a questão dos direitos trabalhistas e obrigações sociais. No dia 27 de agosto de 2013 o deputado Antônio Imbassahy - PSDB/BA convocou o Ministro do Trabalho, à época o senhor Manoel Dias, para discutir os termos dos contratos de prestação de serviços a serem celebrados pelos médicos estrangeiros e o Poder Público nacional.

O deputado Imbassahy destaca, na motivação73 da convocação, matéria

publicada pela Folha de São Paulo:

A atuação fiscalizadora do Legislativo, no entanto, é dependente de informações que, a princípio, estão em poder dos órgãos e entes do Governo Federal. Conforme veiculado no Jornal a Folha de São Paulo, em 21/08/2013: “Brasil vai receber 4.000 médicos cubanos ainda em 2013 [...] Segundo informou o Ministério da Saúde nesta quarta-feira (21), eles não poderão escolher as cidades em que vão atuar: os primeiros 400 serão direcionados

71 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=

589456> Acesso em 02 mar. 2017.

72 Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/saude/ultimasnoticias/redacao/2013/08/26/supervisor-

brasileiros-tambem-respondera-por-errode-medicos-estrangeiros.htm> Acesso em 02 mar. 2017.

73 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=

para 701 municípios que não foram escolhidos por nenhum profissional na primeira etapa do programa, 84% deles no Norte e no Nordeste do país.[...] [...] O agenciamento internacional de profissionais de saúde tomou-se tão rentável que o regime cubano passou a formar médicos em série — quatro em cada dez atuam no exterior. A exportação de médicos rende quatro vezes mais que os ingressos obtidos com o turismo, por exemplo. "O que Cuba faz com seus médicos é muito parecido com o tráfico de humanos", diz o americano Marc Wachtenheim, que trabalhou em agências humanitárias e de desenvolvimento econômico em Cuba. Envolver-se nesse esquema é uma péssima maneira de resolver a falta de profissionais de saúde no interior do Brasil.”[...]

Observa-se que a apresentação da matéria se desenvolve sob tons dramáticos e juízos de valor que ganham matizes subjetivos de acordo com o perfil ideológico com o qual o veículo se alinha. Assim como a orientação política dos parlamentares os direciona para determinado instrumento da mídia, os diversos segmentos da sociedade igualmente o fazem. Os trechos acima selecionados têm por intuito apresentar uma amostragem do tom dos debates que ganharam espaço na Câmara de Deputados, órgão que constitucionalmente representa os interesses do povo.

5.4 Características do Programa Mais Médicos afetadas pela repercussão