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O Programa Mais Médicos para o Brasil pode ser descrito como uma política social de natureza distributiva (LOWI, 1972) na área da saúde pública. Sua implementação se desenvolve sob três eixos de atuação: provimento emergencial, educação e infraestrutura25.

O primeiro eixo visa atender, de maneira imediata, à demanda existente de médicos para atuar na área de atenção básica26 junto às comunidades mais carentes

do interior do país. A expectativa do programa, segundo o Ministério da Saúde, é alterar o percentual de 1,8 médico por mil habitantes, observado em 2013, para 2,7 médicos por mil habitantes até 2026.

Por sua vez, o eixo da educação é voltado para a formação e capacitação dos profissionais da área da saúde, visando prover, a médio e longo prazo, a carência desses agentes junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Finalmente, no tocante à infraestrutura, o PMM propõe-se a adquirir, remanejar e recuperar toda a gama de material e equipamentos voltados para a atividade de saúde pública, com o fim de

25 Programa Mais Médicos – Ministério da Saúde: Disponível em: <http://maismedicos.gov.br/conheca-

programa> Acesso em 10 mar. 2016.

26 “A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo,

que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações” (Anexo I da Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011).

proporcionar sua modernização e de modo a atender as necessidades atuais e futuras do SUS.

Como já visto, o programa possui o escopo de reestruturar todo o sistema de saúde pública, realocando e incrementando a mão de obra profissional deficitária, bem como adquirindo equipamentos necessários para suprir a crescente demanda do setor. Diversas são as medidas implementadas voltadas a esses objetivos. Uma das linhas de ação previstas pelo PMM é a criação de novos cursos de medicina e a oferta de novas bolsas de especialização – residência médica – na área de atenção básica. A medida de ofertar bolsas de residência em municípios carentes de médicos tem por finalidade realocar profissionais em início de carreira, a fim de fomentar a fixação desses médicos no interior do país, pois, “conforme o Observatório de Recursos Humanos de São Paulo demonstra, 82% dos médicos permanecem no mesmo local em que cursaram a graduação e a residência médica” (Programa Mais Médicos – 2 anos, 2015, p. 30).

Com o fim de atender às demandas emergenciais da saúde pública, a Lei 12.871/13 traz como objetivos do PMM:

I - diminuir a carência de médicos nas regiões prioritárias para o SUS, a fim de reduzir as desigualdades regionais na área da saúde;

II - fortalecer a prestação de serviços de atenção básica em saúde no País; III - aprimorar a formação médica no País e proporcionar maior experiência no campo de prática médica durante o processo de formação;

IV - ampliar a inserção do médico em formação nas unidades de atendimento do SUS, desenvolvendo seu conhecimento sobre a realidade da saúde da população brasileira;

V - fortalecer a política de educação permanente com a integração ensino- serviço, por meio da atuação das instituições de educação superior na supervisão acadêmica das atividades desempenhadas pelos médicos; VI - promover a troca de conhecimentos e experiências entre profissionais da saúde brasileiros e médicos formados em instituições estrangeiras;

VII - aperfeiçoar médicos para atuação nas políticas públicas de saúde do País e na organização e no funcionamento do SUS; e

VIII - estimular a realização de pesquisas aplicadas ao SUS. . (Art. 1º, Lei 12.871/13)

Evidencia-se, do exposto, o caráter assistencial e social da legislação, principalmente no que tange ao combate às desigualdades regionais e econômicas do país, em consonância com a necessidade de fomento às atividades da área de atenção básica. Trata-se de uma política pública de caráter distributivo, que visa alocar recursos humanos e econômicos nas regiões mais carentes, bem como reestruturar os recursos já existentes de maneira mais eficaz.

Neste sentido, contrariamente ao conceito difundido pelo senso comum – em grande parte influenciado pela mídia –, o PMM não se restringe à contratação de médicos estrangeiros. A política pública em questão delineia-se através de um tripé que envolve as seguintes medidas:

I - reordenação da oferta de cursos de Medicina e de vagas para residência médica, priorizando regiões de saúde com menor relação de vagas e médicos por habitante e com estrutura de serviços de saúde em condições de ofertar campo de prática suficiente e de qualidade para os alunos;

II - estabelecimento de novos parâmetros para a formação médica no País; e III - promoção, nas regiões prioritárias do SUS, de aperfeiçoamento de médicos na área de atenção básica em saúde, mediante integração ensino- serviço, inclusive por meio de intercâmbio internacional. (Art. 2º, Lei 12.871/13)

Nessa esteira, o programa visa atingir objetivos a curto, médio e longo prazo. Inicialmente, a busca por profissionais estrangeiros tem por finalidade alcançar uma demanda emergencial, trazendo médicos intercambistas para atuarem em regiões pouco atraentes para os médicos nacionais. Em um segundo momento, a oferta de bolsas de residência na área de atenção básica visa fixar profissionais recém egressos nos locais de maior demanda. Por fim, com a criação de novos cursos de medicina em municípios afastados dos grandes centros urbanos pretende-se propiciar um ambiente favorável para a estabilização do quadro atual.

O programa também se caracteriza por superar índices de investimentos na área da saúde. Nunca foi registrada uma destinação de recursos de tal vulto no setor. De acordo com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em entrevista concedida ao Jornal O Globo, o investimento destinado pelo governo federal ao PMM alcançaria 511 milhões de reais até fevereiro de 201427, ou seja, no primeiro semestre de sua

implementação.