2.2 Teorias de internacionalização
2.2.4 Conceitos-chave das teorias de internacionalização
2.2.4.5 Agente externo
Muitas vezes, a internacionalização não é uma escolha voluntária, mas pode ser a única alternativa para firmas que competem de forma globalizada e enfrentam transformações no âmbito tecnológico e produtivo (RICUPERO; BARRETO, 2007). No Brasil, um significativo grupo de empresas se limita a atuar no mercado internacional quando um comprador internacional os procura, ou seja, ao invés de vender, são “compradas” (CINTRA; MOURÃO, 2007). Apesar de empresas com comportamento pró-ativo tenderem a obter mais sucesso nas exportações do que as reativas (WOOD; ROBERTSON, 1997), o recebimento inesperado de pedidos de exportação é um importante fator que estimula as decisões de exportação, apesar de geralmente resultar um comportamento passivo e oportunista (KATSIKEAS, 1996).
Em países em desenvolvimento, as ações governamentais de fomento à exportação, tais como instituições de promoção e incentivos fiscais são elementos motivadores importantes no processo de internacionalização (KUADA; SORENSEN, 2000). No Modelo Diamante, o governo exerce influência nos quatro determinantes, por meio da criação de fatores especializados, encorajamento das mudanças na indústria, promoção da rivalidade interna, aplicação de normas sobre produtos, segurança e meio ambiente, além da regulamentação da concorrência e da promoção de objetivos que conduzam a investimentos sustentáveis (PORTER, 1989b; 1996; 1999).
Porter (1989b, p.733) argumenta que “a política governamental tem muitas influências sobre as maneiras pelas quais as empresas são criadas, organizadas e administradas, sobre suas metas e amaneira pela qual competem”. Entre os papéis mais tradicionais do governo estão a criação e aperfeiçoamento de fatores, sejam eles recursos humanos habilitados, conhecimentos científicos básicos, informações econômicas ou infra-estrutura, que são proporcionados por meio de investimento em educação e treinamento, ciência e tecnologia,
infra-estrutura, subsídio direto e disponibilidade de capital. O autor também argumenta que os países em desenvolvimento sofrem mais com as políticas protecionistas do mundo desenvolvido.
No Ciclo de Vida do Produto (VERNON, 1966; 1979), ao invés de ações governamentais, os agentes externos (concorrência) se fazem presente na fase de crescimento, quando novos competidores começam a surgir, assim como na maturidade, visto que os países importadores começam a erguer tarifas e outras barreiras para encorajar as empresas locais a iniciarem a produção dos itens concorrentes.
Percebe-se, em alguns estudos sobre casos de países em desenvolvimento, a influência de agente externo como impulsionador da internacionalização das empresas de países emergentes, o posicionamento reativo de Piercy (1981) e a presença da estratégia reativa de Miles et al. (1978). Em estudo realizado por Carlos e Forte (2004, p.1), no Nordeste brasileiro, mais especificamente, com as maiores empresas exportadoras cearenses, observou- se “uma atitude reativa ante o futuro na maioria das empresas e setores, que ignorando sinais de alerta do ambiente interno e externo somente se predispõem a superar a inércia na ameaça de uma crise”. Empiricamente, observa-se a influência: 1) do Governo por meio de projetos setoriais ou agências de promoção à exportação; 2) da concorrência, que ao se internacionalizar desperta este novo mercado para os demais competidores da indústria; e 3) de amigos com redes de relacionamento estabelecidas no exterior, que incentivam e ajudam no processo de internacionalização, dentre outros (eg. KUADA; SORENSEN, 2000; KOVACS; OLIVEIRA; MORAES, 2006; KOVACS; MATOS; OLIVEIRA; LUCIAN, 2007; FREITAS; BLUNDI; CASOTTI, 2002; FRANTZ; TEIXEIRA; LAMPERT, 2002).
Com relação ao ambiente, ao analisarem a internacionalização de uma empresa brasileira nordestina à luz da teoria Contingencial, Kovacs et al. (2007) perceberam que a empresa pesquisada realizou diversos ajustes na sua estrutura como conseqüência da
influência de fatores externos a partir do momento em que a empresa pesquisada se expôs ao mercado internacional. Os principais resultados podem ser observados neste quadro 9 (2).
Fatores do ambiente internacional Ajustes Controles
- necessidade de velocidade das respostas - ambiente legal
- exigência do cliente internacional - concorrência internacional
- estabelecimento de controles em áreas técnicas, tais como produção e qualidade - maior flexibilidade na área comercial
internacional
Tomadas de decisão
- necessidade de velocidade das respostas necessidade de conhecimento em comércio exterior
- ambiente cultural internacional
- descentralização das decisões - participação de agentes externos
Comportamento do Executivo - ambiente econômico - ambiente social - ambiente cultural - ambiente político - ambiente legal.
- Participação em feiras e missões internacionais
- aprendizagem
- perspectiva/ visão local para internacional
Estratégia de Produto
- ambiente legal
- ambiente cultural (preferências) - Brasil na moda
- pouco conhecimento da cachaça na França
- embalagem (rótulo, idioma, garrafa, tampa) - teor de álcool e açúcar do produto
- redução do portfólio de produtos - diferentes posicionamentos de produto
Estratégia de Distribuição
- distribuição diferente do mercado interno - dependência do distribuidor
- ambiente cultural - ambiente legal
- exportação indireta
- estabelecimento de parceria com a Agribéria
- envolvimento / relacionamento com o importador / ganha-ganha
Tecnologia
- ambiente legal - ambiente cultural
- aquisição de novas rotuladoras
- implementação de controles de rastreabilidade - informatização Organograma - velocidade de respostas - ambiente econômico - ambiente social - ambiente cultural - ambiente político - ambiente legal
- criação de assessoria de comércio exterior - fortalecimento do departamento de
qualidade - descentralização
- envolvimento direto de outros familiares na exportação - presença de consultores Preço - ambiente legal - ambiente econômico - ambiente político
- preços diferentes para o mercado externo - análise de variáveis, tais como flutuações
da moeda, taxas de câmbio, inflação, controles e subsídios governamentais - liderança de custo em ambos os mercados
Padrões de Comunicação
- desconhecimento da cachaça no mercado europeu
- ambiente cultural
- investimento em ferramentas promocionais - informatização
Quadro 9 (2) - Adaptações às novas pressões do mercado internacional Fonte: Kovacs, Matos, Oliveira, Lucian (2007)
O significado da incerteza da tarefa deriva da percepção de que quanto mais incerta a tarefa, mais informações têm que ser processadas e isto, por sua vez, molda as estruturas de comunicação e de controle. Quanto maior a incerteza, menos suscetíveis de programação são
as atividades de trabalho, que tendem a se apoiar em arranjos ad hoc. As organizações cujas estruturas se adaptam a seu ambiente tendem a obter melhores desempenhos (LAWRENCE; LORSH, 1973). Ademais, Chandler (1962) advoga que a estrutura é contingente à estratégia, o que vai de encontro aos pressupostos de Child (1972). À medida que as organizações procuram inovar, inclusive em mercados, as tarefas se tornam mais incertas. Tais tarefas não podem ser especificadas previamente por meio de procedimentos pré-definidos, pois requerem um conhecimento que a organização não possui. Sendo assim, há o recurso do aprendizado por tentativa e erro, assim como a contratação de funcionários qualificados (DONALDSON, 1985). O que os autores trazem em comum é o conceito da dinâmica da causalidade, por meio da qual a inadequação causa mudança organizacional.
Kuada e Sorensen (2000), por sua vez, identificaram que, nos países africanos, a internacionalização de empresas foi motivada principalmente pelo câmbio favorável e políticas governamentais, que afetam diretamente o desempenho, a estratégia e a estrutura das empresas.