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3. Procedimentos metodológicos

3.8 Utilização do software ATLAS/ti

A utilização de softwares categorizados como CAQDAS (Computer-Assisted

Qualitative Data Analysis Software, ou análise assistida de dados qualitativos pelo

computador), como apoio à análise de material empírico em pesquisas qualitativas é crescente (BANDEIRA-DE-MELLO, 2006), apesar da aceitação de análises baseadas em softwares ainda não ser universal (ATHERTON; ELSMORE, 2007). Cabe ressaltar, que:

Uma precaução terminológica deve ser tomada aqui: “análise de dados qualitativos com auxílio de computador (ou com a assistência do computador)” estará, com certeza, sendo entendida erroneamente se alguém considerar os pacotes de software como THE ETHNOGRAPH, ATLAS/ti, ou NUD*IST como sendo capazes de desempenhar “análise qualitativa” do mesmo sentido que o SPSS pode fazer uma análise de variância. Estes pacotes de software são instrumentos para mecanizar tarefas de organização e arquivamento de textos, e se constituem em um software para tratamento e arquivamento de dados, mas não são instrumentos para “análises de dados”. Deste modo, a expressão “análise de dados qualitativos com auxílio de computador” refere-se à análise interpretativa de dados textuais onde o software é usado para a organização e tratamento dos dados (KELLE, 2002, p.396).

O processo de pesquisa qualitativa gera grandes quantidades de transcrições de entrevista, protocolos, notas de campo e documentos pessoais que, se não forem trabalhados de maneira correta, podem resultar em uma sobrecarga de dados. Apesar da utilização de

software, há, contudo, uma grande quantidade ainda de tarefas mecânicas, implicadas na

análise de dados textuais (KELLE, 2002). No nível pragmático, a utilização de softwares permite transparência da análise dos dados, de forma que o processo se torna mais visível dentro de um conjunto de protocolos conhecidos, disponíveis para crítica, que contrastam com

a lacuna identificada na análise de dados qualitativos convencionais (ATHERTON; ELSMORE, 2007). Nesta pesquisa, utilizou-se o software ATLAS/ti versão 5.5, que foi desenvolvido pela Universidade Técnica de Berlim no contexto de um projeto multidisciplinar entre 1989 e 1992. A sigla ATLAS, em alemão, Archiv fuer Technik, Lebenswelt und

Alltagssprache, pode ser traduzida em português por “arquivo para tecnologia, o mundo e a

linguagem cotidiana”. A sigla ti significa interpretação de texto (BANDEIRA-DE-MELLO, 2006). No ATLAS/ti, as tarefas criativas e intelectuais são de responsabilidade do pesquisador (MÜHR, 1991).

A unidade hermenêutica do ATLAS/ti foi criada no dia 12 de fevereiro de 2008 e nele foram inseridas todas as entrevistas transcritas, assim como documentos relacionados às empresas. A aplicação do ATLAS/ti envolve a criação e o gerenciamento de elementos constitutivos (objects) básicos que serviram de apoio à construção da teoria. Eles são apresentados no quadro 11 (3), a seguir.

Elementos Descrição

Unidade hermenêutica

(Hermeneutic unit) Reúne todos os dados e demais elementos.

Documentos primários (Primary documents)

Dados primários coletados, denominados de Px, sendo x o número de ordem. Em geral, transcrições, reportagens, figuras etc. Sua referência é formada pelo número do documento primário onde está localizada, seguido do seu número de ordem dentro do documento. Também constam da referência as linhas inicial e final, no caso de texto.

Citações (Quotes) Segmentos de dados, como trechos relevantes das entrevistas, que indicam a ocorrência de código.

Códigos (Codes)

São conceitos ou categorias gerados pelas interpretações do pesquisador. Podem estar associados a uma citação ou a outros códigos para formar uma teoria ou ordenação conceitual. Sua referência é formada por dois números: o primeiro refere-se ao número de citações ligadas ao código; e o segundo, ao número de códigos associados. Os dois números representam, respectivamente, seu grau de fundamentação empírica (groundedness) e de densidade teórica (density). Notas de análise (Memos) Descrevem o histórico da pesquisa. Registram as interpretações do pesquisador,

seus insights ao longo do processo de análise. Esquemas gráficos

(Netviews)

Auxiliam a visualização do desenvolvimento da teoria e atenuam o problema de gerenciamento da complexidade do processo de análise. São representações gráficas das associações entre os códigos.

Comentário (Commnet)

Os elementos constitutivos podem ter comentários, que são utilizados pelos pesquisadores para registrar informações sobre os seus significados, bem como registrar o histórico da importância do elemento para a teoria em

desenvolvimento.

Quadro 13 (3) - Principais elementos constitutivos do ATLAS/ti Fonte: Adaptado de Bandeira-de-Mello (2002)

A abordagem exploratória para a construção de teorias é uma das competências do ATLAS/ti. Com a utilização de dados de texto lineares como ponto de partida, tais como entrevistas transcritas, o processo de segmentação e codificação alterna-se com a construção de esquemas gráficos (netwoks) e estruturas textuais. O pesquisador pode desenhar “mapas” que visam apresentar os relacionamentos entre os conceitos (MÜHR, 1991). No ATLAS/ti, quatro princípios norteiam os procedimentos de análise pelo pesquisador: visualização, integração, casualidade e exploração (BANDEIRA-DE-MELLO, 2006).

Conforme sugerido por Bandeira-de-Mello (2006), o processo de codificação iniciou- se com a eleição de uma entrevista, considerada a mais completa para servir de fonte inicial de exploração de dados. Os códigos foram criados no software, referindo-se então ao tema das citações. Para cada código, designou-se uma lista de propriedades à luz do marco teórico. As citações contidas na entrevista foram comparadas ao que Strauss e Corbin (1994) denominam de análise comparativa incidente-incidente para a criação de tipos de categorias, detalhadas na seção anterior.

Com os tipos já definidos, as entrevistas foram codificadas de acordo com as categorias criadas para a elaboração do framework com conceitos abstratos. As categorias, propriedades e manifestações são apresentadas no capítulo de análise dos dados, assim como os esquemas gráficos que relacionam algumas variáveis à luz dos dados coletados.

O histórico de todas as relações, das codificações e categorias criadas no software ATLAS/ti encontra-se no apêndice E. Durante o processo de análise dos dados, foram criadas conexões entre os códigos, citações, notas de análise e entre os documentos primários, tendo em vista os insights que deles emergiram, servindo de apoio à construção do framework. Os conectores utilizados nesta pesquisa encontram-se no quadro 14 (3), a seguir.

Símbolos Descrição das relações

== O código-origem é associado ao código-destino [ ] O código-origem é parte do código-destino

=> O código-origem (condição causal) causa a ocorrência do código-destino <> O código-origem contradiz o código-destino

*} O código-origem é propriedade do código-destino Isa O código-origem é um tipo, ou forma, do código-destino.

AV O código-origem evita a ocorrência do código-destino (obs.: relação criada pela autora)

Quadro 14 (3) - Conectores de códigos e seus símbolos Fonte: adaptado de ATLAS/ti 2008, p.213

Para uma melhor visualização e identificação dos códigos, os nomes das categorias inseridas no software iniciam com “C:”, as propriedades com “P:” e as manifestações com “M:”. Os códigos seguem-se de dois números entre parênteses (X, Y), onde o X representa a sua fundamentação empírica ou groundedness (quantidade de trechos ou citações que estão vinculadas ao código) e Y a densidade teórica ou density (quantidade de outros códigos a que está vinculado). Como exemplo, apresenta-se a figura 12 (3) a seguir, que indica que o código “foco no mercado interno” possuie 19 citações (ou trechos) relacionadas a ele (fundamentação empírica ou groundedness) e outros três códigos associados (densidade teórica ou density) com alguns conectores do quadro 14 (3). Por sua vez, “foco no mercado interno” apresenta uma relação causal por “câmbio desfavorável”, que se relaciona com outros oito códigos e fundamenta-se empiricamente em 31 citações.

is cause of Câmbio

desfavorável

{31-8}~ Foco no mercado

interno {19-3}~

Figura 12 (3) – Exemplo de códigos, fundamentação empírica (groundedness), densidade teórica (density) e relações no ATLAS/ti

Para melhor ilustração e entendimento, as provas no capítulo 4, a seguir, são apresentadas em forma de expressões e citações, geradas a partir das próprias falas dos entrevistados (BOGDAN; BIKLEN, 1994). No ATLAS/ti, os trechos são acompanhados de números para identificação, conforme exemplo abaixo, extraído da análise dos dados:

Mas assim, o que acontecia... o que aconteceu muito foi o seguinte: camarão dava tanto dinheiro, eu vou dizer como os empresários me contam - “dá tanto dinheiro, dá tanto dinheiro, que não se sabia quanto perdia” - se você era eficiente ou não na produção, você não conseguia mensurar, porque eu digo por conhecimento de causa, eu vi empresas darem 70, 80% de rentabilidade. Charles Mendonça 9:31 (100:100) O número 9:31 indica que se trata da 31ª codificação do documento nove do ATLAS/ ti (no caso, entrevista do Sr. Charles Mendonça) e que o trecho tem início e fim no parágrafo de número 100.

Por meio da utilização dos procedimentos metodológicos apresentados, o próximo capítulo apresenta os resultados da pesquisa por empresa, assim como abrange também a comparação dos dois casos, ressaltando as principais contribuições da tese.

Figura 13 (3) - Estrutura da organização da tese – análise dos dados Capítulo 1 Introdução Capítulo 2 Referencial teórico Capítulo 3 Procedimentos metodológicos Referências Apêndices Capítulo 4

Análise dos resultados

Capítulo 5

Conclusões e implicações

Análise descritiva individual dos casos

Análise descritiva da Queiroz Galvão Alimentos

Análise descritiva da Netuno Alimentos S.A.

Codificação analítica dos casos Características da localização

Características dos recursos intangíveis Características dos recursos tangíveis Escolhas gerenciais

Tipos de aprendizagem Tipos de agentes externos

Tipos de processo de formação de estratégias internacionais

Características do contexto externo Elaboração do framework

Framework da Queiroz Galvão

Alimentos S.A.

Framework da Netuno Alimentos S.A. Framework comparativo dos casos

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