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2.2 Teorias de internacionalização

2.2.4 Conceitos-chave das teorias de internacionalização

2.2.4.2 Recursos tangíveis e intangíveis

Percebe-se, mesmo que de forma indireta, a presença dos recursos tangíveis e intangíveis em algumas das teorias de internacionalização. Os recursos tangíveis se fazem presentes no modelo diamante, no ciclo de vida do produto, na RBV e no paradigma eclético da produção, enquanto os intangíveis são encontrados em Uppsala, paradigma eclético, modelo diamante, escolha adaptativa e RBV. Os quadros 4 (2) e 5 (2), a seguir, apresentam

os recursos tangíveis e intangíveis destacados por Hitt, Ireland e Hoskisson (2002). Os autores ainda apregoam que as equipes de alta administração são mais eficientes quando possuem habilidades diversas e complementares, o que corrobora as afirmações de Gunz e Jalland (1996), que consideram que os recursos organizacionais complementares são importantes para formular e implementar eficientemente as estratégias.

Recursos financeiros • Capacidade de levantar capital

• Habilidade da empresa em gerar fundos internamente

Recursos organizacionais • Estrutura formal de comunicação da empresa e seus sistemas formais de planejamento, controle e coordenação

Recursos físicos • Grau de sofisticação e ponto de localização da fábrica e dos equipamentos da empresa

• Acesso a matérias-primas

Recursos tecnológicos • Estoque de tecnologia, como patentes, marcas registradas, direitos autorais e segredos comerciais.

Quadro 4 (2) - Recursos tangíveis Fonte: Hitt, Ireland e Hoskisson (2002)

Recursos humanos • Conhecimentos • Confiança

• Capacidade gerencial • Rotinas de organização Recursos de inovação • Idéias

• Capacidade científica • Capacidade de inovar

Recursos de reputação • Reputação junto aos clientes (nome da marca, percepções de qualidade, durabilidade e confiabilidade do produto)

• Reputação junto aos fornecedores (interações e relações de eficiência, eficácia, suporte e benefício recíproco)

Quadro 5 (2) - Recursos intangíveis Fonte: Hitt, Ireland e Hoskisson (2002)

Na opinião de Rutashobya e Jaensson (2004), as teorias tradicionais de internacionalização têm sido criticadas por não enfatizarem o papel das redes de relacionamento na internacionalização das empresas, contradizendo o pensamento de Ford (2002), que argumenta que as teorias de internacionalização têm envolvido o processo de evolução da rede de relacionamentos de uma empresa, podendo, assim, cooperar para o aumento do número de alternativas possíveis, além da aprendizagem que ocorre entre as empresas por meio de tais relacionamentos. A literatura existente sobre a internacionalização,

contudo, apenas analisa a relação na perspectiva de uma das empresas envolvidas (FORD, 2002). Por sua vez, Barney (1991) considera que, para gerarem vantagem competitiva, os recursos devem ser valiosos, raros e difíceis de imitar, o que permite a obtenção de retornos acima da média se explorados pela empresa. O framework VRIO (value, rarity, imitability,

organization) é apresentado no quadro 6 (2), abaixo.

É um recurso ou capacidade ... Valioso? Raro? Imperfeitamente

Imitável? Explorado pela Empresa? Implicações Competitivas Performance Econômica

Não – – Não Desvantagem

competitiva

Abaixo do normal

Sim Não – Paridade

competitiva

Normal

Sim Sim Não Vantagem

competitiva temporária

Acima do normal

Sim Sim Sim Sim Vantagem

competitiva sustentável

Acima do normal

Quadro 6 (2) - O Framework VRIO. Fonte: Barney (2002, p. 173)

A partir da década de 70, na Universidade de Uppsala, na Suécia, começaram a surgir importantes estudos sobre o processo de internacionalização das empresas suecas, realizados pela Escola Nórdica de Negócios Internacionais (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977; JOHANSON; VAHLNE, 1990; HOLM; ERIKSSON; JOHANSON, 1996; ANDERSSON; JOHANSON; VAHLNE, 1997; JOHANSON; VAHLNE, 2006).

O impacto mais importante trazido por Uppsala foi fazer com que os estudos de Negócios Internacionais deixassem de ser examinados puramente como fenômeno econômico, para serem também analisados sob a perspectiva da Teoria do Comportamento Organizacional. Segundo a Teoria de Uppsala, a firma internacional é definida como uma organização caracterizada por processos cumulativos de aprendizagem e apresenta uma complexa estrutura de recursos, competências e influências (HILAL; HEMAIS, 2003).

As redes de relacionamento para a internacionalização, preconizadas pelos teóricos de Uppsala, podem ser consideradas como recursos intangíveis. O conceito dos negócios tem base em relacionamentos específicos com outros atores, externos às organizações, cujos laços cognitivos e sociais entre si coordenam e proporcionam a eficácia dos processos de internacionalização. Esta não é vista apenas como uma expansão e transferência de atividades de produção e comercialização para o exterior, pois incorpora também a exploração de redes de relacionamento potenciais por entre fronteiras (HOLM; ERIKSSON; JOHANSON, 1996). Em conseqüência, o desenvolvimento de oportunidades em um país estrangeiro é positivamente relacionado à relação de comprometimento mútuo entre as empresas e à fixação das redes de relacionamento do parceiro no mercado (JOHANSON; VAHLNE, 2006).

A entrada em mercados internacionais pode envolver um complexo jogo de relacionamentos, fazendo com que a empresa reveja continuamente suas ações à luz de condições de mudança, o que torna uma estratégia pré-definida extremamente difícil. Uma rede de relacionamento pode ser identificada como um relacionamento entre duas ou mais organizações e pode ser horizontal ou vertical. De acordo com Ghauri, Lutz e Tesfom (2003): a) as redes verticais podem ser consideradas “relacionamentos cooperativos entre fornecedores, produtores e compradores, objetivando uma solução para problemas de mercado, melhoria na eficiência produtiva ou a exploração de oportunidades de mercado” e; b) as redes de relacionamento horizontais são “relacionamentos de rede cooperativos entre produtores que querem resolver um problema de marketing comum, melhorar a eficiência de produção ou explorar uma oportunidade de mercado por meio da mobilização de recursos e compartilhamento”. As redes horizontais, onde há a participação efetiva de concorrentes, são consideradas determinantes para a formação de recursos durante o processo de internacionalização e auxiliam na superação de carência de alguns recursos (CHETTY; WILSON, 2003).

As experiências em países desenvolvidos com redes de relacionamento de pequenas e médias empresas, que objetivam facilitar o acesso a novos mercados para se exportar, provêem insights úteis. Espera-se, por meio das redes de relacionamento, que haja um aumento na capacidade restrita das empresas de investirem individualmente na conquista de novos mercados de exportação. De acordo com Ghauri, Lutz e Tesfom (2003), o desenvolvimento da rede de relacionamentos de empresas em países em desenvolvimento deve ser orientado pela demanda. Os autores também enfatizam a importância de uma oportunidade ou problema de mercado, o que significa que uma rede de relacionamento deve ser baseada numa análise contínua destes problemas e/ou oportunidades, enfatizando também a importância de instigadores externos. Para atingirem mercados globais, a empresas de países emergentes devem criar capacidades difíceis de imitar, que desafiem o ambiente local e que, posteriormente, possam ser transferidas para outros novos países (SINHA, 2005).

O modelo Diamante (PORTER, 1989b; 1996; 1999), ao contemplar as condições de fatores, inclui os básicos (território, recursos naturais, capital e infra-estrutura, etc.), dentre eles diversos tangíveis, e os fatores avançados, que não são herdados pelo país e sim criados, tais como recursos humanos qualificados ou base tecnológica científica, que podem ser classificados como recursos intangíveis. Entretanto, os recursos intangíveis, avançados, são os que possibilitam às empresas localizarem a fonte de vantagem competitiva.

A RBV (resource-based view) analisa as vantagens competitivas da firma por meio dos recursos que a própria empresa detém (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991; 2002; GRANT, 1991; PETERAF, 1993). As firmas possuem recursos idiossincráticos que as tornam únicas devido à heterogeneidade e imobilidade que levam à vantagem competitiva sustentável se forem raros, valiosos, insubstituíveis e difíceis de imitar (BARNEY, 1991). As empresas devem elaborar suas estratégias baseadas na exploração das capacidades geradas pelos seus recursos que melhor respondam às oportunidades externas (GRANT, 2001). O conhecimento

dos funcionários e a reputação da empresa são considerados os recursos que mais contribuem para o sucesso da empresa (HALL, 1992). Os recursos intangíveis são representados pela estrutura formal, pelo modelo de gestão, pelos sistemas explícitos de controle, pelas políticas de compensação e pelo papel da liderança (BARNEY, 2002).

Diante do crescimento acadêmico de estudos acerca da importância dos recursos da firma, têm sido elaboradas novas propostas para a internacionalização baseadas neste pilar ontológico da estratégia. Sharma e Erramilli (2004) propõem um arcabouço teórico baseado no RBV capaz de explicar modos de entrada no mercado externo e Dhanaraj e Beamish (2003) apresentam o relacionamento entre recursos, estratégias e desempenho no âmbito internacional. Outro estudo, apresentado por Fahy (2002), engloba os recursos-chave, que, aliados às escolhas estratégicas, permitem o desempenho superior na competição internacional.

Para o modelo eclético, os custos de transação e de informação, o oportunismo dos agentes e as especificidades dos ativos são as bases determinantes do investimento externo de uma firma. Os fatores que influenciam a escolha do modo de entrada no mercado internacional são as vantagens de propriedade, as vantagens locacionais e as vantagens de internalização (DUNNING 1980; 1988), que podem ser observadas no quadro 7 (2), a seguir. Trata-se de um modelo multi-teórico para estudar as escolhas de modos de entrada e se baseia em três teorias: a de negócios internacionais, a RBV e a de custos de transação. As vantagens de propriedade (pode-se considerar os recursos da empresa) englobam a propriedade tecnológica, as economias de escala, diferenciação do produto, dotações específicas, acesso aos mercados, fatores e produtos e multinacionalização anterior.

Vantagens de

Propriedade Localização Internalização

1. Propriedade tecnológica; 2. Dimensão, economias de escala; 3. Diferenciação do produto; 4. Dotações especificas, como o trabalho, capital e organização; 5. Acesso aos mercados, fatores e produtos;

6. Multinacionalização anterior.

1. Diferenças de preços nos produtos e matérias-primas; 2. Qualidade dos insumos e matérias-primas;

3. Custos de transporte e de comunicação;

4. Distância física, língua, cultura; 5. Distribuição espacial dos insumos e matérias-primas.

1. Redução do custo das transações; 2. Proteção do direito de propriedade; 3. Redução da incerteza; 4. Controle da oferta; 5. Ganhos estratégicos; 6. Controle de vendas; 7. Compensação da inexistência de mercados; 8.Aproveitamento de externalidades.

Quadro 7 (2) - Vantagens inerentes ao investimento internacional (Paradigma OLI) Fonte: Adaptado de Dunning (2000)

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