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2.2 Teorias de internacionalização

2.2.1 Conceito e história da internacionalização

Internacionalização pode ser definida amplamente como um processo crescente e continuado de envolvimento de uma empresa nas operações com outros países fora de sua base de origem. Apesar de definir-se como processo, não deve necessariamente ter características evolutivas (BRASIL; GOULART; ARRUDA, 1994). A internacionalização é considerada como um processo seqüencial e ordenado de aumento do envolvimento internacional associado a mudanças nas formas organizacionais (eg. JOHANSON; VAHLNE, 1977; JOHANSON; VAHLNE, 1990; REID, 1981).

Por sua vez, Welch e Luostarinen (1988, p.36) consideram-na como “o processo de aumento de envolvimento nas operações internacionais”, cuja ampla definição deve-se ao elo estabelecido entre os dois lados do processo, interno e externo, devido à dinâmica do comércio internacional. De forma menos abrangente, a definição de internacionalização como “processo de adaptar a modalidade de transação de troca aos mercados internacionais” (ANDERSEN, 1997, p.29) engloba tanto a estratégia de modo de entrada quanto a seleção de mercado.

Apesar de não existir um acordo geral sobre o conceito de internacionalização (ANDERSEN, 1997), as definições apresentam em comum a palavra “processo”, que pode se referir às ações, reações e interações das várias partes envolvidas ao moverem-se de um estágio para o outro (PETTIGREW, 1987), preocupando-se em termos de questionamentos,

com o “como”, “quem” e “quando” (DE WIT; MEYER, 2004) da passagem de uma empresa local para internacional, multidoméstica, transnacional ou global.

De forma histórica, a internacionalização dos negócios e da própria sociedade nasceu nas mais antigas civilizações, na troca de matérias-primas, produtos acabados ou semi- acabados, serviços, dinheiro, idéias e pessoas. A partir do século XVI, este padrão foi definido pelas trocas internacionais entre os países europeus e as suas ramificações, principalmente no envio de recursos explorados, como, por exemplo, pela Companhia das Índias Orientais (SCHWARTZ, 2000). No final do século XIX e início do século XX, surgiu a atividade transnacional significante, envolvendo a criação de plantas industriais de uma empresa em outros países por meio de subsidiárias diretas, aquisições ou formas de cooperação (CLEGG, 2003).

A arena internacional apresenta oportunidades e ameaças para as empresas que procuram inserção em mercados globais. Apesar de as empresas passarem a defrontar-se com problemas novos, diferentes do seu próprio mercado (PALÁCIOS; SOUZA, 2004), tendem a se beneficiar substancialmente da expansão global (CZINKOTA; RONKAINEN; DONATH, 2004). Diante dessas tendências, os administradores, em empresas específicas, tomam decisões que resultam em maiores fluxos internacionais de capital, bens e/ou conhecimento (GOVINDARAJAN; GUPTA, 2001), envolvendo a decisão sobre produtos, mercados, modo de entrada e velocidade da expansão (GUPTA; GOVINDARAJAN, 2001). Tudo isso devido à imperiosa adoção de uma estratégia global em oposição à estratégia puramente doméstica (PORTER, 1999), visando ao benefício da expansão internacional e evitando as ameaças de focar apenas no mercado local, que vem sendo também ocupado por concorrentes internacionais.

O tamanho do mercado nacional levou as empresas brasileiras a terem de enfrentar uma “tendência inercial muito forte” e a não se preocuparem com uma “atuação internacional

sustentada”, e, sobretudo, planejada (CINTRA; MOURÃO, 2007). As poucas multinacionais brasileiras são ainda a exceção. Grande parte das empresas encontra-se nos estágios iniciais de internacionalização e vem adotando uma abordagem gradualista, investindo inicialmente em soluções de menor risco, que exigem menor investimento de recursos por meio da utilização da exportação direta ou indireta. Este tímido grau de internacionalização deve-se aos seguintes fatores: ( i ) o modelo de desenvolvimento econômico brasileiro fundamentando na substituição das importações em vigor até os anos 90; ( ii ) o grande mercado interno; ( iii ) as dificuldades provenientes da excessiva carga tributária, o custo Brasil e a política cambial.

A internacionalização da empresa pode ocorrer de forma acelerada ou gradual, e a velocidade depende dos seguintes fatores: atitude pró-ativa do corpo gerencial; estratégia baseada em diferenciação; influência significativa nas redes de relacionamento com clientes e fornecedores; e setor em que está inserida, independentemente da sua natureza tecnológica (PLA-BARBER; ESCRIBÁ-ESTEVE, 2006).

Goulart, Arruda e Brasil (1996) elaboraram o quadro 2 (2) a seguir, que expressa a evolução do envolvimento internacional das empresas brasileiras até meados da década de 90.

Décadas precedentes Transição (a partir de meados de 80) Situação atual (a partir do início de 90) Exportações derivadas de excedentes resultantes de vantagens comparativas

Exportações condicionadas por vantagens competitivas

Expansão internacionalização como estratégia de crescimento Improvisação Ação estrategicamente planejada Internacionalização como diretriz

estratégica Oportunismo: válvula de escape

para adversidades conjunturais internas

Forte preocupação com a conformidade dos produtos

Visão de longo prazo e diversificação das estratégias de internacionalização Produtos de baixa conformidade

com as exigências dos mercados externos

Criação de gerências, departamentos, diretorias de

comércio exterior

Adaptação do produto às especificações de cada mercado onde atua, muitas

vezes com produção local Pouca estruturação interna para

gerenciar as exportações

Criação de serviços pós-vendas para atender mercado externo, a

partir de base doméstica

Criação de diretoria internacional com responsabilidade de administrar

relações com subsidiárias Exportações diretas ou via

agentes, sem preocupações maiores com serviço pós-venda

Estratégias mais complexas de ação internacional, através de

implantação de unidades de produção e/ ou aquisição de plantas em outros países,

formação de alianças

Instalações de subsidiárias que se encarregam de marketing e da assistência pós-venda no mercado local

Estratégia internacional exclusivamente centrada em

exportações

Número crescente de empresas exportadoras de bens e serviços

em vários segmentos

Aquisição de plantas no exterior por empresas não exportadoras (no

tradeable goods) em estratégia de

internacionalização multidoméstica Presença no mercado internacional

de um número restrito de grandes empresas exportadoras de bens

Expansão internacional como estratégia de crescimento

Ampliação da presença internacional com a participação de empresas de

diferentes portes e setores

Quadro 2 (2) - Perfil das empresas exportadoras brasileiras Fonte: adaptado de Arruda, Goulart e Brasil (1996)

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