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DOS AGENTES DA ATIVIDADE DA CORRETAGEM DE IMÓVEIS: DO GRUPO DE INTERESSES E SUAS AÇÕES COLETIVAS

3 A CORRETAGEM DE IMÓVEIS COMO MANIFESTAÇÃO DA INTEREMEDIAÇÃO MERCANTIL

3.5 DOS AGENTES DA ATIVIDADE DA CORRETAGEM DE IMÓVEIS: DO GRUPO DE INTERESSES E SUAS AÇÕES COLETIVAS

Na esteira do processo de maturação das condições econômicas, sociais e políticas da atividade da corretagem de imóveis, nasce, na cidade do Rio de Janeiro,

em 1936, a Junta dos Corretores de Imóveis, que em 1937 é transformada no primeiro Sindicato dos Corretores de Imóveis do Brasil.

No ano seguinte, 1938, surge, no Largo do Café, no centro de São Paulo, a Associação dos Corretores de Imóveis de São Paulo, que passa a representar os interesses de seus associados no Estado de São Paulo, passando no mesmo ano à situação de sindicato (Texto Ilustrativo-6).

A partir desse momento, uma série de medidas vão ser tomadas nas esferas de regulamentação das ações dos agentes no processo de prestação de serviço, na tentativa de reconhecimento enquanto categoria profissional, na construção de um conjunto de normas éticas e em processos de admissão de novos agentes corretores.

A partir da década de 1940, a atividade da corretagem de imóveis já estava relativamente articulada nos principais centros urbanos Rio e São Paulo. No mesmo

ano, foi assegurada à categoria, a participação dos associados no instituto de pensões dos comerciários, através do decreto Lei 5.493, de 09 de abril de 1940.

O sindicato passa a publicar nos jornais seu papel de representante dos corretores e defensor de seus direitos recém conquistados, conforme a edição, do dia 25 de agosto de 1940 (Texto Ilustrativo 7).

Tendo surgido a instituição sindical dos corretores de imóveis, tem-se início as ações na defesa dos interesses associativos. Segundo dados do COFECI, em 30 de novembro de 1940, surge, em São Paulo, devido á proximidade dos escritórios imobiliários localizados no Largo do Café, o “Pregão Imobiliário”, espécie de bolsa

de negócios com o intuito de viabilizar uma maior fluxo de negócios e informações sobre o mercado imobiliário entre os associados.

Em 1941, o sindicato fecha um acordo com os grandes jornais da época, O Estado de São Paulo, O Diário de São Paulo e a Folha da Manhã, reduzindo em 20% os custos para aqueles que fossem associados. Para isso em todos os anúncios, deveriam constar a frase: “Do Sindicato dos Corretores de Imóvel”. A assinatura de um convênio com os principais periódicos da época pode ter sido o responsável pelo aumento no número de escritórios e corretores de imóveis que passaram a anunciar no jornal Folha da Manhã depois de 1942, passando de anúncios esporádicos à páginas inteiras.

Em 1942, um grande número de ações coletivas são realizadas com intuito de regulamentar as práticas e constituir os primeiros dispositivos, criando barreiras à entrada de novos agentes corretores e empresas no mercado.

Ainda em 1942, é expedida a Carta Sindical reconhecendo o Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo - Sciesp. No mesmo ano é fechado um acordo entre o Sciesp e o sindicato do Rio de Janeiro, e algumas medidas são tomadas, dentre elas a publicação do “Decálogo do Corretor” 13 (Texto Ilustrativo-8),

uma espécie de gênese de código de ética e procedimentos a serem seguidos pelo agentes corretores.

13 Decálogo do Corretor, documento emitido pelos Sindicados dos Corretores de Imóveis em conjunto com o Sindicato dos Corretores de imóveis do Rio de Janeiro, com os procedimentos éticos e morais, cabíveis a um membro do sindicato

Além do Decálogo do corretor de imóveis, seria estipulada a Opção de venda14, como forma contratual de prestação de serviço e as tabelas de honorários a

serem seguidos pelos agentes da corretagem. São criados ainda critérios para admissão dos novos indivíduos na profissão, como tempo mínimo de atuação no mercado de dois anos. Todos os dispositivos normativos e estatutários criados nesse período levam a entender que não passavam de tentativas de evitar traços de

14 Autorização de Venda, é o documento pelo qual o proprietário autoriza ao profissional, a intermediar a venda de seu imóvel, se comprometendo a pagar os honorários no caso da venda ser efetuada. Existem dois tipos de opções de venda, com e sem exclusividade.

anomia no interior da categoria em decorrência do rápido crescimento do número de agentes e, consequentemente da concorrência de forma não regulamentada.

Ainda no ano de 1942, conforme coluna da edição de 30 de agosto, da Folha da Manhã (Texto Ilustrativo 9), a atividade tenta estreitar os laços com o Estado, ao anunciar a doação de um avião de treinamento para o Brasil, a partir de coletas de doações entre os associados do sindicato. Se levado em consideração que, mesmo que associados a empresários de outras categorias como Salim Maluf15, a quantia alcançada para a aquisição de uma aeronave de treinamento, podemos supor que a taxa de acumulação no setor na época era bastante elevada. A informação não é muito, mas presume-se que, em decorrência da Segunda Grande Guerra, a doação fosse direcionada as forças armadas.

15 Salim Farah Maluf, foi um dos imigrantes Libaneses que fizeram fortuna no Brasil no começo do século passado, fundaram uma das maiores empresas de laminação e produção de compensados de madeira a Eucatex.

Em 10 de janeiro de 1946, o antigo “Pregão Imobiliário” passa a se chamar “Câmara de Valores Imobiliários”, com 46 associados sendo 34 pessoas jurídicas e 12 pessoas físicas. Percebe-se que o nível associativo do capital passa a, cada vez mais, deixar nas sombras e às margens dos processos os agentes pessoas físicas. Na edição de 20 janeiro de 1946, na sessão de anúncios da Folha da Manhã, foi publicado o Estatuto da “Câmara de valores Imobiliários”, com a definição de sua estrutura e suas finalidades. Dentre os artigos que compõem o estatuto, os que mais nos interessam são: o item 3ª, fixar as normas de ética profissional de seus associados; o item 4ª, criar órgãos de investigação e estudos de assuntos imobiliários; o item 5ª, fiscalizar os acordos firmados entre seus associados e zelar pela sua fidelidade; e o item 7ª, colaborar com os poderes públicos e instituições para melhor e mais eficiente consecução dos interesses comuns. Esses itens chamam a atenção por tratarem de procedimentos normativos à constituição de um padrão de atuação dos agentes, diz respeito às práticas concretas, inclusive constituindo órgão de fiscalização, assim como também do intuito de atuar junto às esferas públicas naquilo que fosse necessário aos interesses comuns.

Essa estrutura vai ser muito semelhante à estrutura dos conselhos que seriam criados no começo da década de 1960, com a promulgação da lei 4.116/62. No mesmo ano, surge uma outra associação que, em 1950, chegaria ao status de entidade sindical, e que no decorrer dos anos constituiria a cisão definitiva entre o capital e o trabalho no interior da atividade de corretagem de imóveis.

Em meados de 1946, é fundada a Associação Profissional das Empresas de Compra e Venda de Imóveis de São Paulo, que mais tarde iria se tornar o Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis, embrião do Secovi-SP, constituído inicialmente por loteadores, então chamados de terrenistas. A associação se constituiu como sendo uma esfera da ação patronal e tinha à frente dos seus quadros os representantes das maiores empresas de loteamentos. Já em sua manifestação sindical, a primeira diretoria do Secovi-SP, foi eleita em 30 de julho de 1951, tendo como presidente Altino de Castro Lima , diretor-superintendente da Companhia City, uma das primeiras empresas que atuaram no processo de expansão imobiliária e que ,naquele momento configurava-se como uma das líderes do mercado de incorporação.

No decorrer do processo de maturação e identificação das diversas atividades do segmento imobiliário e sua divisão capital/trabalho, o Secovi passa a aglutinar, no decorrer do tempo, os interesses da empresas de corretagem de imóveis, que se desvencilham gradativamente dos sindicatos de corretores de imóveis.

Nos anos seguintes, vários sindicatos de corretores de imóveis iriam surgir nas principais cidades do Sul e Sudeste. Ainda na década de 1940, surgem sindicatos nos Estados do Rio Grande do Sul (1944), Goiás (1948). Nas décadas de 1950, surgem os sindicatos do Paraná (1950), Minas Gerais (1953), Bahia (1958), e na década de 1960, o sindicato de Curitiba (1962).

Entre os dias 20,21 e 22 de setembro de 1957, na cidade do Rio de Janeiro, foi realizado o I Congresso Nacional de Corretores de Imóveis. Esse registro mostra que, na década de 1950, as praticas históricas da atividade se desenvolvia de formas diacrônica e boa parte do país, na medida em que também se expandiam as relações capitalistas em decorrência do processo de industrialização e da consequente superação da sociedade rural pela urbana. Os mercados de terras e de imóveis urbanos começavam a surgir nas cidades economicamente mais dinâmicas, e com isso o surgiam também dos agentes da corretagem de imóveis. Esse movimento dinâmico do mercado passou a exercer uma pressão política à regulamentação profissional, que não tinha mais apenas o Rio de Janeiro e São Paulo como foco, mais outras cidades.

No início da década de 1960, a atividade da corretagem de imóveis já poderia ser encontrada em escala nacional, mas com intensidades diferenciadas e momentos distintos quanto ao grau de maturação de suas práticas. Durkheim (1999), já havia refletido quanto à dinâmica desse processo de expansão das modernas categorias profissionais de escala local à escala nacional, quando observava que:

[...] já que o mercado, de municipal que era, tornou-se nacional e internacional, a corporação deve adquirir a mesma extensão. Em vez de se limitar apenas aos artesãos de uma cidade, ela deve ampliar-se de maneira a compreender todos os membros da profissão dispersos em toda a extensão do território (DURKHEIM, 1999, p. XX).

Em 1956, o Sciesp apresenta a proposta de criação de um curso de formação profissional para aqueles que viessem a ser corretores de imóveis. Em 1957, foi apresentado o projeto de lei nº 1.185, de autoria do então Deputado Federal Ulisses Guimarães, para a regulamentação da profissão, mas foi apenas em 1962, com a lei 4.116, que a atividade econômica da corretagem de imóveis iria se tornar uma categoria sócio-profissional.

3. 6 O PRIMEIRO MARCO REGULATÓRIO DA PROFISSÃO DE CORRETOR DE IMÓVEIS

Em 27 de agosto de 1962, tem início as práticas políticas

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