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A Fundação do Conselho Regional de Corretores de Imóveis e a lenta e progressiva efetivação da lei 6.530/78 no Estado

Em 27 de agosto de 1962, tem início as práticas políticas institucionalizadas, com a promulgação da Lei 4.116/62 Nesse momento, são

4 A CORRETAGEM DE IMÓVEIS NO RN: ELEMENTOS SEMELHANTES PROCESSOS DIFERENTES

4.3 DAS PRÁTICAS POLÍTICO INSTITUCIONALIZADAS AOS “EFEITOS PERTINENTES” DOS AGENTES DO SEGMENTO DA CORRETAGEM DE

4.3.2 A Fundação do Conselho Regional de Corretores de Imóveis e a lenta e progressiva efetivação da lei 6.530/78 no Estado

Em 10 de janeiro de 1979, ou seja, menos de três meses após a criação da ACIRN, foi fundado o Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio Grande do Norte, CRECI/17ª Região. O Conselho do RN, foi o quinto Conselho de corretores de imóveis do Nordeste atrás de Pernambuco 7ª região, Bahia 9ª região, Ceará 15ª região e Sergipe 16ª região.

A constituição da associação e da fundação do Conselho resultou mais da imposição da Lei Federal 6.530, e, conseqüentemente, da regulamentação dos agentes da corretagem, já que a lei teria como fim instituir os agentes e seus instrumentos de regulamentação e fiscalização, do que da demanda de uma possível consciência coletiva da categoria econômica dos corretores de imóveis, no processo de diferenciação profissional.

Com a obrigatoriedade por parte do Estado da aplicação da lei através de seu aparelho de fiscalização e seus agentes constituídos, tem início no RN, o processo de identificação dos agentes das práticas mercantis, sua classificação em pessoas jurídicas e físicas, aplicação de procedimentos contratuais e normativos, os quais de certa forma, teria que romper com as práticas já estabelecidas no mercado local.

A atividade que antes era desenvolvida sem marcos reguladores ou normativos passaria agora a ser, por força da Lei, aplicados, a todos os agentes. Com a fundação do Conselho se torna possível ter uma melhor percepção da real dimensão da atividade da corretagem de imóveis no RN, no que diz respeito ao número de seus agentes, assim como os procedimentos tomados pelo primeiros gestores quanto ao ingresso dos novos integrantes. Porém, as práticas mercantis, a realidade e os interesses locais, foram mitigando as ações de fiscalização do Conselho Regional.

O artigo 5º da Lei 6.530 define as funções, a estrutura e a personalidade jurídica do Conselho da seguinte forma:

Art. 5º - O Conselho Federal e os Conselhos Regionais são órgãos de disciplina e fiscalização do exercício da profissão de Corretor de Imóveis,

constituídos em autarquia, dotada de personalidade jurídica de direito público, vinculada ao Ministério do Trabalho, com autonomia administrativa, operacional e financeira (LEI. 6530/78).

Sendo assim, a função do Conselho Regional seria, além da fiscalização e disciplina das práticas concretas dos agentes da corretagem de imóveis, corretores e empresas de corretagem de imóveis, fiscalizar se a mão-de-obra utilizada nas imobiliárias seria realmente de corretores de imóveis. Tal fiscalização se devia ao fato de que o decreto 81.871/78, que regulamentou a lei 6.530/78, em seu artigo 3º, parágrafo único que determinara que “O atendimento ao público interessado na compra, venda, permuta ou locação de imóvel, cuja transação esteja sendo patrocinada por pessoa jurídica, somente poderá ser feito por Corretor de Imóveis inscrito no Conselho Regional da jurisdição”. A Lei, ao criar a pessoa jurídica, tenta manter o equilíbrio entre o capital e o trabalho no interior da atividade. Em suma, o Conselho seria o agente jurídico de regulamentação da atividade da corretagem de imóveis, mas também, das relações entre as pessoas físicas e jurídicas por ela constituída, assim como, espaço institucional de articulação dos interesses entre os agentes do capital e do trabalho.

É importante entender a forma objetiva de transição das práticas mercantis às práticas político-institucionais, quanto ao papel desempenhado pelo Conselho desde sua fundação. Como agente de disciplina e fiscalização, em suma, uma instituição de regulação da atividade, não exerceu plenamente suas atividades. O que aconteceu foi um trabalho de contenção da aplicação gradativa da lei, no que se referia aos interesses do grupo dominante. De certa forma, as práticas do Conselho refletiram o legado dos agentes das práticas mercantis e seus interesses. Entre os anos de 1979 e 2007, o Conselho Regional teve 3, presidentes a saber: Francisco Ribeiro Alves, Creci 001, que se manteve na presidência da entidade entre 1979 e 1991, sendo substituído posteriormente por José Ramos dos Santos23, Creci 121,

inscrito em 1979, ex-vendedor de carros, juiz classista e responsável pela Imobiliária Patrimônio. José Ramos dos Santos ocupou a presidência do conselho entre os anos de 1991 a 2000, quando foi sucedido por Waldemir Bezerra de Figueiredo, Creci 27, médico de formação e responsável pela Bezerra Imóveis, e com mandato junto ao Conselho até 2012. Outros membros como Manuel Macedo de Brito, João

23 José Ramos dos Santos, após ocupar por uma década a presidência do Conselho Regional, ainda ocupou a presidência do Sindicato dos Corretores de Imóveis do RN.

Batista Coutinho, João Galdino de Macedo, Max Eufrásio de Santana, Roberto Dias de Oliveira, Francisco Marcos Ribeiro Alves, Abinio Arruda, Humberto Pignataro foram agentes da corretagem que ocuparam seguidamente posições no Conselho desde sua fundação.

Os primeiros indícios da política que seria desenvolvida para a implementação da regulamentação da atividade do Estado já seria apresentada nos dois primeiros anos de atividade, através do processo de admissão dos corretores, contrariando a Lei 6.530.

Com a promulgação da Lei 6.530/78, o corretor de imóveis seria aquele que, possuindo o diploma de Técnico em Transações Imobiliárias-TTI, e registrando este junto ao Conselho de sua jurisdição estaria apto a exercer a atividade. Conforme o Decreto 81.871/78, que regulamentou a Lei 6.530, a atividade seria também permitida àqueles que já haviam se tornado corretores de imóveis nos trâmites da lei 4.116/62. Em outras palavras, somente àqueles já registrados anteriormente seria permitida a atuação sem a formação de Técnico em Transações Imobiliárias.

Com a nova regulamentação, seria necessário o surgimento dos cursos de formação profissional. Esses cursos já eram alvo de propostas desde o fim dos anos de 1940, tendo sido criados efetivamente pelo Sindicato do Corretores de Imóveis de São Paulo, no final dos anos de 1950. Ou seja, nos Estado do Sudeste essa estrutura de formação dos agentes da corretagem, já havia sido criada anteriormente, antes da promulgação da Lei.

No Rio Grande do Norte, o processo de obtenção do título de Técnico em Transações Imobiliárias-TTI passaria a ser fornecido somente em 1982 pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Norte, através de uma prova com base no material didático formulado pelo Conselho Federal e cedido para Secretaria de Educação do Estado.

Dessa forma, o grande número de inscrições entre 1979 e 1981, está relacionado ao fato do Conselho não respeitar a lei no processo de admissão. Conforme informações da própria secretaria do Conselho, até 1981 não era solicitado o diploma obrigatório à admissão de novos agentes pessoas físicas (Gráfico 01).

Isso nos leva a deduzir que, a apesar da imposição da lei, as práticas mercantis ainda resistiam e demorariam a ser superadas.

Com base em dados fornecidos pelo Conselho Regional, das 2.183 pessoas físicas inscritas no Conselho entre 1973 e 2007, um total de 569 inscrições foram feitas entre os anos de 1979 e 1981, correspondendo a 26,07%, com uma média de 189 inscrições por ano. No ano de 1982, com a obrigatoriedade da apresentação do diploma, o número de inscritos caiu consideravelmente, sendo 5 novas inscrições em 1982.

De maneira geral, entre os anos de 1973 e 2007, dos 100% de agentes inscritos no Conselho, 12,06% foram inscritos na década de 1970; 24,74% inscritos na década de 1980; 20,84% inscritos na década de 1990 e 41,82% entre os anos de 2000 a 2007.

Quanto às pessoas jurídicas, foram constituídas no mesmo período 462 empresas, sendo que 6,49% delas foram constituídas na década de 1970, 38,96% constituídas na década de 1980, 26,62% constituídas na década de 1990, e, 27,92% constituídas entre os anos de 2000 a 2007 (Gráfico 2).

Esses dados revelam que, nos anos de 1980, houve um processo de abertura de empresa bastante acentuado, propiciando o início do processo concorrencial entre os agentes pessoas jurídicas. Ao mesmo tempo, após 1982, o número de pessoas físicas que entraram no mercado foi relativamente pequeno. Isso confirma nossa hipótese de que grande número de inscrições até 1981, terem de dado, em decorrência do procedimento para inscrição adotado pelo Conselho local, ao não exigir o diploma de TTI, o qual somente seria obrigatório de 1982 em diante.

Com o maior número de empresas, seria de se esperar que um maior volume de mão de obra fosse demandado, e isso foi o que aconteceu. Mas, como a lei 6.530/78 não foi levada a cabo em toda sua plenitude pelo conselho local, as empresas passaram a atuar com agentes não regulamentados.

A lei 6.530/78 no RN existia de direito, mas, não de fato. Um grande número de indivíduos passou a atuar no mercado, de forma a partir de então, ilegal, já que não se enquadravam nos ditames da profissão regulamentada, e as imobiliárias eram os maiores emissores desses agentes não regulamentados no mercado.

A partir da década de 1980, os registros do Conselho nos dão elementos com os quais podermos fazer co-relações da atividade da corretagem de imóveis no processo de desenvolvimento de suas práticas históricas, ou seja, do movimento de entrada e saída dos seus agentes pessoas físicas e jurídicas do mercado de intermediação na venda locação e administração de imóveis.

As principais críticas ao conselho dizem respeito à fragilidade do processo de fiscalização que de certa forma privilegiaria os interesses do grupo dominante à frente da instituição, que seria composto em sua grande maioria por empresários donos de imobiliárias. Tais críticas fazem parte do discurso de corretores autônomos, corretores que atuam em empresas imobiliárias, empresários donos de imobiliárias, e, até mesmo, de indivíduos não credenciados que atuam no mercado de forma clandestina.

O discurso dominante dos agentes quando comparados às práticas concretas, mostram que a percepção crítica de sua atividade, especialmente dos agentes corretores de imóveis autônomos, é “gelatinosa”, não possui consistência que a sustente quando comparada aos fatos históricos e destituída da compreensão do lugar dos agentes e das instituições no processo de articulação política dos interesses de cada um dos agentes.

Do ponto de vista do grupo dominante estabelecido nas diretorias das associações, do Conselho e dos sindicatos, as críticas tendem a ser menos incisivas, mas ao mesmo tempo mais estruturadas. Como grupo dominante, seus agentes detêm as ferramentas de gestão dos aparelhos de fiscalização e também de representação, podendo então graduar as medidas de fiscalização de forma que não comprometam o fornecimento da mão-de-obra não regulamentada necessária ao processo concorrencial e ao mesmo tempo, não deixando de executar minimamente as atividades obrigatórias do Conselho e do sindicato dos corretores de imóveis, evitando por exemplo, a contestação do processo de gestão dos aparelhos e com isso uma crise de legitimidade.

4.3.3 Da Associação do Corretores de Imóveis à sua transformação a entidade

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