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Agricultura Biodinâmica

No documento PROJETO VIDA NO CAMPO (páginas 118-122)

Agenda 21 Brasileira em ação

25. Agricultura Biodinâmica

Foi Rudolf Steiner (1861-1925), fundador da antroposofia, quem estabeleceu as bases do movimento biodinâmico. Considera-se como a pedra fundamental do movimento, com os princípios enunciados em um ciclo de oito palestras para agricultores durante o Congresso de Pentecostes, realizado em 1924 no castelo Koberwitz, perto de Wroclaw-Breslau, onde se acha instalada a prefeitura de Kobierzyce, na Polônia.

O impulso da agricultura biodinâmica, em sua unidade com a antroposofia, tem como conseqüência natural a renovação do manejo agrícola, o saneamento do meio ambiente e a produção de alimentos realmente condignos ao ser humano.

Esse impulso pretende devolver à agricultura sua força original criadora e de fomento cultural e social. Na perspectiva do movimento, essa força criadora a agricultura a perdeu no caminho de sua industrialização, dirigida para a monocultura e criação de animais fora de seu ambiente natural.

A agricultura biodinâmica quer ajudar aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista na concepção da natureza, para que eles possam, por si mesmos, achar uma relação ética e espiritual com o solo, as plantas, os animais e os coirmãos humanos.

A biodinâmica quer lembrar a todos os homens que “a agricultura é o fundamento de toda a cultura e que ela tem algo a ver com todos”. O ponto central da agricultura biodinâmica é o ser humano, que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais, baseadas em uma verdadeira cognição da natureza.

Ela quer transformar a fazenda ou o sítio em um organismo, completo e maximamente diversificado, que, a partir de si mesmo, seja capaz de renovar-se. O sítio natural deve ser elevado a uma “espécie de individualidade agrícola”.

O fundamento para tanto é a integração de todos os elementos ambientais agrícolas, como as culturas do campo e da horta, os pastos, a fruticultura e outras culturas permanentes, as florestas, sebes e capões arbustivos, os mananciais hídricos, as várzeas, etc. Caso o organismo agrícola se ordene em volta desses elementos nascem uma fertilidade permanente e a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos.

A partida e a continuidade desse desenvolvimento ascendente da totalidade do organismo são asseguradas pelo manejo biodinâmico dos tratos culturais agrícolas e do uso de preparados apresentados pela primeira vez por Rudolf Steiner, durante o Congresso de Pentecostes. São preparados que incrementam e dinamizam a capacidade intrínseca da planta para ser produtora de nutrientes, seja por absorção destes adequadamente balanceados e de acordo com a necessidade da planta ou por harmonização e adequação na reciclagem das

sobras da biomassa produzida. São preparados que simultaneamente apóiam a planta para ser transmissora, receptora e acumuladora do intercâmbio da Terra com o Cosmo (onde o sol tem grande importância).

Adubar na biodinâmica significa, portanto, vivificar o solo e não simplesmente fornecer nutrientes para as plantas.

A única preocupação que devemos ter é o que fazer para que tal aconteça. Nesse caso, deve compreender que é possível abster-se de tudo o que hoje em dia parece ser imprescindível. Na agricultura biodinâmica não se usa adubos nitrogenados minerais, pesticidas sintéticos, herbicidas, hormônios de crescimento, etc. A concepção do melhoramento biodinâmico dos cultivares ou das raças está em inconciliável oposição à tecnologia transgênica. A ração dos animais é produzida no próprio sítio ou fazenda e sua quantidade está em relação com a capacidade natural da área ocupada. Caso seja necessário aumentar a produção, a importação de nutrientes se dará de lugares selecionados e será proporcionalmente menor aos insumos locais próprios.

O agricultor biodinâmico empenha-se em fazer somente aquilo pelo qual ele mesmo pode responsabilizar-se, a saber, o que serve ao desenvolvimento duradouro da “individualidade agrícola”. Isso inclui o cultivo e a seleção de suas próprias sementes como também a adaptação e seleção de raças próprias de animais. Além disso, significa uma orientação renovada na pesquisa, consultoria e formação profissional.

O agricultor biodinâmico, dentro do processo de trabalho, aprende a ser ele mesmo um pesquisador, a participar e transmitir sua experiência a outros e formar dentro do seu estabelecimento um local de formação profissionalizante para as gerações vindouras.

Uma renovação dessa natureza desperta o interesse das pessoas que vivem na cidade. Elas se ligam a esta ou aquela fazenda ou sítio, apóiam e ajudam como podem, tornando-se seus fiéis fregueses. Passam a colaborar na formação de mercados regionais, tornando-se associativa e mutuamente solidários. Desse modo, verifica-se haver em todas as partes novas iniciativas de importância fundamental para que a agricultura possa enfrentar com autonomia regional a globalização do mercado mundial. Na óptica do movimento biodinâmico, a agricultura não é somente uma profissão com que se ganha a vida, mas é principalmente um encargo, uma vocação.

Em mais de cinqüenta países a agricultura biodinâmica é praticada a serviço do cultivo do meio ambiente e da alimentação saudável do ser humano. Em todo o mundo os produtos biodinâmicos são uniformemente comercializados sob a marca “Deméter”. Essa marca garante uma agricultura baseada em práticas consistentes e harmoniosas nos campos cultural, espiritual, político, econômico e ecológico.

O manejo biodinâmico na Fazenda Alegre

Dentre os vários projetos biodinâmicos desenvolvidos no Brasil destaca-se o trabalho da Fazenda Alegre, de São João da Boa Vista, SP. A cafeicultura e o reflorestamento com árvores nativas são suas atividades principais. Elizabeth e Heinz Gruber, seus proprietários, optaram pelo manejo orgânico do café, logo que adquiriram a fazenda e, mais tarde, iniciaram a conversão para o manejo biodinâmico.

Como em todo projeto biodinâmico a formação do organismo agrícola foi a base do desenvolvimento do trabalho e este foi concebido segundo um modelo bem tropical, adaptado às condições de clima, vegetação e produção do Brasil. De pronto, ficou provado que apenas a atividade animal na propriedade não era suficiente para a demanda nutricional dos cafeeiros. Para a sustentabilidade econômica e ecológica do projeto, era preciso desenvolver um modelo novo, produzindo adubo no local das lavouras, de modo a minimizar o custo com a compra e distribuição de insumos.

Desenvolveu-se então, um manejo agroflorestal, com plantio de árvores leguminosas tropicais nas linhas dos cafeeiros – leucenas, cássias, eritrinas, gliricídias – e culturas intercaladas de guandu, crotalária, mamona, milheto e nabo forrageiro, entre outras. As árvores são podadas durante o período chuvoso e as culturas intercalares, roçadas em momentos diferentes, de acordo com a maturação, concorrência com a cultura principal e quantidade de massa verde fornecida.

Essa massa vegetal sobre o solo, cobrindo inclusive as ruas de café, forma um composto laminar, que beneficia a lavoura em vários aspectos:

• Torna disponíveis diferentes nutrientes para a cultura principal;

• Aumenta a biodiversidade do sistema, quebrando o quadro de monocultura;

• Estrutura o solo física e biologicamente, vivificando-o;

• Altera o microclima, diminuindo as altas temperaturas e deixando os cafeeiros em ambiente mais adequado a seu desenvolvimento.

Algumas árvores são deixadas permanentemente no sistema, com poucas podas para arborização da área. Elas contribuem com o aumento de pássaros e insetos nas áreas e aumentam a atmosfera astral da propriedade, que, pelo fato de trabalhar com muita vegetação e poucos animais desenvolve uma atmosfera muito rica em forças etéricas. Há dessa maneira melhor equilíbrio entre as forças etéricas e astrais na propriedade.

Além do manejo agroflorestal, as lavouras recebem adubação de solo através de composto de casca de café e esterco bovino, esterco sólido de suínos compostado com bactérias decompositoras e biofertilizante líquido, produzido na propriedade. Toda forma de adubo, sólido ou líquido, recebe os seis preparados biodinâmicos de composto – mil-folhas,

camomila, urtiga dióica, dente de leão, casca de carvalho e valeriana. Assim são trabalhados os nutrientes dos adubos que melhor se tornam disponíveis no solo e intensificadas as forças cósmicas dentro da propriedade, interagindo assim o organismo agrícola com o universo.

Em cima da compostagem laminar e da biomassa formada nas áreas, por meio do sistema agroflorestal, aplica-se o preparado biodinâmico fladem, um catalisador de decomposição e outro meio de trabalhar melhor as forças cósmicas. No final do outono faz-se o preparado chifre-esterco na propriedade e, no final da primavera, o chifre-sílica, que serão usados nas seguintes épocas:

• No início do período chuvoso aplica-se em toda a propriedade o preparado chifre-esterco no solo para trabalhar a polaridade solo-raiz dos cafeeiros, vivificando o solo e melhorando o sistema radicular das árvores. Intensifica-se, assim, a atuação das forças terrestres na propriedade.

• Logo após a floração, quando os frutos estão no estágio de chumbinho, aplica-se o preparado chifre-sílica pulverizado sobre a vegetação dos cafeeiros, melhorando a parte aérea das plantas e intensificando sua ligação com o sol e sua capacidade fotossintética.

Todo esse trabalho, interligando manejo agroflorestal, adubação de solo com adubos animais, biofertilizante líquido, uso dos preparados biodinâmicos e áreas de reflorestamento com árvores nativas, modificou a paisagem da propriedade e melhorou consideravelmente as condições de desenvolvimento e sanidade das lavouras, que não apresentam deficiências nutricionais e ataques severos de pragas e doenças. Com certeza, o equilíbrio do sistema que vem sendo construído, dia a dia, já dá respostas positivas, com uma economia de adubos em torno de 50%.

Com esse manejo estão sendo dadas condições às plantas para que cumpram seu papel de órgãos dos sentidos do planeta Terra, pois elas são as captadoras da energia solar. Através delas, o sol pode reconhecer-se em nossa Terra e torná-la um planeta vivo.

No documento PROJETO VIDA NO CAMPO (páginas 118-122)