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CONTEXTUALIZAÇÃO RURAL BRASILEIRA E A AGRICULTURA FAMILIAR

2.2 AGRICULTURA EMPRESARIAL E A BUSCA DE INFORMAÇÕES

Uma amostragem com quatro representantes de grandes produtores apresenta uma realidade comum, iniciada na época de implantação das lavouras mecanizadas. Todos os entrevistados dizem que não é possível trabalhar na atividade rural sem estar constantemente em busca de informação. Não é objetivo deste trabalho propor ou sugerir que o modelo empresarial capitalista seria a saída para a agricultura familiar. O que se pretende é apenas mostrar que o "outro lado"

4 Entrevista concedida ao autor em 21 de outubro de 2006. 5 Entrevista concedida ao autor em 08 de dezembro de 2006.

do setor agropecuário, a agricultura patronal, usa a informação como ferramenta. O número de quatro produtores foi considerado suficiente, uma vez que todos fazem parte do mesmo grupo, que produz grãos em escala comercial (soja, milho, trigo, aveia, entre outros) e pertencem a entidades de classe ruralistas. Assim, de acordo com Gil (1989), se obtém uma amostragem estratificada, desde que a mesma esteja situada dentro do universo de indivíduos que se pretende estudar.

Os produtores rurais entrevistados podem ser considerados grandes, de acordo com a Lei 8.629 de 1993, a chamada "Lei Agrária" (CASA CIVIL, 1993), uma vez que o menor deles produz em 700 hectares. De acordo com a lei, todas as áreas com mais de 15 módulos fiscais são grandes propriedades. Como o módulo fiscal de Ponta Grossa corresponde a 12 hectares, significa dizer que, no município, todos os empreendimentos com mais de 180 hectares são classificados no referido grupo.

O modelo utilizado para obtenção das respostas foi da entrevista face a face, ou oral. De acordo com Richardson (1989), a técnica possibilita obter informações de fatos que o entrevistado conhece ou de seu comportamento, saber qual é sua opinião e motivações. Segundo o autor, se deve destacar o que é considerado relevante em determinado problema. O modelo utilizado foi o que Meihy (1996) chama de entrevista fechada, onde o entrevistador elabora um roteiro, e a modalidade temática, uma vez que o objetivo foi levantar o que pensa o agricultor empresarial sobre a comunicação. Para a montagem do texto, foram usados fragmentos que dessem sentido à construção do pensamento, conforme propõe Meihy (1996).

Um dos entrevistados é o agricultor Manoel Henrique Pereira6, que cultiva 1,5 mil hectares de grãos na região, além de trabalhar com pecuária de corte. Junto com outro grande produtor, Franke Djikstra, de Carambeí, foi um dos pioneiros nos Campos Gerais no uso da informação como forma de avançar na atividade rural. O produtor explica que, com o início da mecanização, na década de 1960, dentro do sistema convencional de plantio, mexeu-se muito na terra. Passaram a ser usados tratores, arados, grades pesadas, safra após safra, desgastando o solo. Os resultados negativos dessa forma descontrolada de cultivo da terra não tardaram a aparecer. Pereira7 diz que, "naquela época, para todo lado que a gente olhava havia

6 Entrevista concedida ao autor em 31 de janeiro de 2007. 7 Idem.

erosão. Milhões de toneladas de terras estavam indo parar nos leitos dos rios. O meio ambiente começou a pedir socorro".

A partir daí, a busca por maiores informações e disseminação de conhecimentos começou a ganhar maior importância. Com leituras de jornais, revistas, livros e documentos, os grandes produtores desenvolveram formas de evitar a perda de solos, inicialmente com a curva de nível (prática pela qual não se planta morro abaixo, mas sim acompanhando as curvas do terreno) e terraceamento (ondulações que funcionam como barreira para reter a enxurrada) e depois com o “plantio direto na palha” (que consiste em plantar uma lavoura sobre a palhada do plantio anterior, sem revolver a terra, não deixando o solo descoberto em nenhuma etapa, mesmo quando está em preparo). O modelo foi buscado nos Estados Unidos, no início dos anos 1970 e desenvolvido no Brasil, com início na região dos Campos Gerais, a partir de 1976.

Desde então, Manoel Henrique Pereira8 mantém toda uma estrutura centrada em informação. O agricultor conta com dois agrônomos, um de campo e outro que trabalha com projetos e planejamento. "Eles nos abastecem com informações, mas estamos sempre atentos também a novidades que são repassadas pela Fundação ABC (instituto de pesquisa que atende as cooperativas Castrolanda, Capal e Batavo), já que sou associado da Cooperativa Batavo", conta. Em seu escritório, instalado no centro de Ponta Grossa, a ligação com a informação acontece durante o dia todo. Um computador conectado à internet passa a ser uma ferramenta, conforme explica, “tão importante quanto uma colheitadeira”. Embora obedeça às necessidades de rotatividade, Manoel Henrique Pereira também decide quanto e quando plantar, de acordo com as tendências de mercado. Revistas especializadas e jornais econômicos também são ferramentas que ele costuma lançar mão. Para o agricultor, "informação é fundamental, sem ela não chegaremos em lugar nenhum". Por outro lado, o produtor diz que a mídia que trata de assuntos rurais deixa a desejar, uma vez que se mostra ineficiente para dar resposta aos interesses do momento do grande agricultor, uma vez que trabalha sobre fatos já de conhecimento dos produtores, na sua avaliação. A exceção, na sua opinião, são os informativos específicos de determinados segmentos, como revistas e jornais de institutos tecnológicos e associações de determinados segmentos, como da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha.

Fábio Schmidt9 cultiva, junto com seu pai, atualmente, em torno de 1.000 hectares na região. Produz soja, milho, feijão, cevada, aveia e trigo, além de criar gado de corte e suínos. O entrevistado também defende a idéia de que o agricultor moderno deve estar antenado a tudo o que ocorre na atividade, destacando que hoje 50% de seu trabalho é campo e 50% informação. "O produtor bem informado é que vai aproveitar as oportunidades", diz Schmidt10. Todas as fases da sua atividade são estudadas de acordo com o que o mercado está apresentando, mais as possibilidades tecnológicas. Internet, jornal diário, corretores e informações técnicas são as principais ferramentas que utiliza para trabalhar. Já o rádio e a televisão são descartados. O produtor acha que são veículos mais voltados para o pequeno produtor, portanto, não atendem aos seus interesses.

Douglas Taques Fonseca11 cultiva anualmente 2.500 hectares na safra de verão e 1.500 hectares no inverno. Na sua opinião, estar informado, com conhecimento do que ocorre, é uma das coisas mais importantes de toda atividade. As formas de acompanhar o mercado, estar atento ao que ocorre, não diferem de outros grandes agricultores. Seus corretores passam informações diárias sobre como estão as cotações presentes e futuras. Também busca informações tecnológicas, especialmente de institutos de pesquisa, como Embrapa e Iapar. Além disso, Douglas Taques Fonseca12 acompanha os noticiários de agronegócios pelos jornais diários, televisão e revistas especializadas em agricultura. Todas as informações, segundo ele, são usadas para as tomadas de decisão.

Luiz Eduardo Pilatti Rosas13 produz grãos em 700 hectares de área desde 1976. Formado em Administração Rural, diz que desde a faculdade já tinha noções de informação e, como agricultor, usa o máximo possível no dia-a-dia. Suas ferramentas, nesse setor, são a internet, informativos de cooperativas e empresas de agronegócios, além de jornais diários e revistas especializadas em agricultura. Na sua opinião, o agricultor até pode trabalhar sem estar informado, mas o ganho final será muito menor.

O resultado das entrevistas mostra que é necessário ter a informação como uma ferramenta, no que diz respeito ao trabalho dentro de uma

9 Entrevista concedida ao autor em 18 de outubro de 2006. 10 Idem.

11 Entrevista concedida ao autor em 05 de dezembro de 2006. 12 Idem.

propriedade rural. Neste trabalho, entende-se que, independente do tamanho da área, a comunicação tem igual importância para todos. No caso do agricultor familiar, deve ser voltada para todos os aspectos cotidianos, uma vez que ele não apenas trabalha, mas vive e se relaciona socialmente no meio rural.