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Agricultura familiar em destaque

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CAPÍTULO III – A ASBRAER NA REDE SOCIAL FACEBOOK

4.2 Ater e agricultura de base ecológica

4.2.1 Agricultura familiar em destaque

Diferentemente das demais categorias desta etapa de nossa análise, que receberam relativamente poucas publicações diretas na Linha do Tempo da Asbraer no Facebook, as atividades agrícolas obtiveram grande atenção nesse espaço virtual entre os meses de março e maio de 2012. Das 153 postagens feitas pela Asbraer em seu perfil, pelo menos 36 se relacionavam diretamente à promoção de iniciativas de fortalecimento da agricultura, ao fomento das atividades agrícolas e à valorização das mesmas como elemento fundamental das ações de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em todo o país. As publicações feitas pela Asbraer que tiveram a agricultura como ênfase maior apresentaram uma grande diversidade de iniciativas de diversas partes do Brasil, desde intercâmbio entre agricultores à realização de pesquisas científicas, ou mesmo encontros de formação, atividades de campo, feiras e eventos

de fomento, ações de combate a pragas nas plantações, propostas de diversificação da produção, fortalecimento da comercialização e cessão de crédito agrícola para a agricultura familiar.

Entre as publicações feitas pela Asbraer no Facebook no dia 9 de maio de 2012, chamou nossa atenção o caso de uma família de agricultores familiares apontada como bem-sucedida pela Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT). Intitulada “Agricultor familiar é exemplo de sucesso em Colíder”, a postagem relata a experiência vivida por uma família rural assistida por técnicos da Empaer-MT em Colíder, município do Mato Grosso. Definido como “pequeno produtor bem sucedido”, o agricultor familiar em questão há 22 anos produz melancias em sua propriedade. A partir da assistência prestada pela Empaer e contando com o apoio da Associação dos Pequenos Agricultores Familiares Vale do Rio do Meio, da Comunidade Branca de Neve, em Colíder, passou a diversificar sua produção, a fazer o beneficiamento de diversos produtos e a inseri-los em programas de programas de compra direta de alimentos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O “sucesso” do agricultor, como se percebe no texto analisado, está relacionado não só a seu próprio interesse e esforço, mas, sobretudo, à Ater realizada pela entidade estadual do Mato Grosso e à sua participação na referida associação. Essa publicação apresentou grande diversidade de temas ligados ao debate da Ater e agricultura de base ecológica, como a diversificação e beneficiamento de produção, comercialização da produção por meio do PAA, importância das associações e projetos coletivos, entre outras questões, tendo como pano de fundo a importância da ação da Ater oficial para o "sucesso" da agricultura familiar (EMPAER-MT, 2012a).

Nessa mesma direção, a Asbraer publicou, também no dia 9 de maio de 2012, um relato sobre uma agricultora familiar que, por meio de assessoria técnica da Emater-PA (2012a), passou a beneficiar mandioca para a produção de farinha a ser exportada para a Portugal, Europa. A publicação “Agricultora Familiar do Pará exporta farinha para Portugal” será melhor destacada na seção Ater, relações de gênero, geração e etnia desta pesquisa, mas já adiantamos que se tratava de mais um exemplo de experiência aparentemente bem-sucedida de Ater, em que, por meio da Assistência Técnica e Extensão Rural prestada pela entidade estadual, uma agricultora familiar conseguiu se destacar e exportar sua produção. No entanto, essa publicação deu ênfase a questões relacionadas ao aumento da produtividade – “O manejo adequado do plantio garante o aumento de 50% da produtividade” - ou ligadas a procedimentos de higiene utilizados durante a produção da farinha pela agricultora.

Dias de campo, intercâmbios e encontros de formação voltados a agricultores familiares também ganharam destaque na Linha do Tempo da Asbraer no Facebook. Em geral, as

publicações relatavam experiências realizadas por diferentes equipes de Ater no país no sentido de diversificar a produção agrícola, promover a utilização de novos métodos de cultivo ou o uso de tecnologias diferenciadas para a agricultura familiar. No dia 11 de maio de 2012, a Asbraer divulga o “Dia de campo mostra viabilidade do maracujá”, publicação sobre uma iniciativa da Emater-RO (2012b) em que foi apresentado a agricultores familiares do município de Guajará Mirim, em Rondônia, um estudo que apontava os benefícios desse tipo de cultura na região. O uso de tecnologias alternativas e a produção de hortaliças orgânicas foi o tema central do dia de campo promovido pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA-PE, 2012a), divulgado pela Asbraer em seu perfil no Facebook no dia 17 de maio de 2012, com o título “IPA realiza Dia Especial de incentivo a produção de hortaliças”. De acordo com o texto disponível no site da Asbraer, 200 agricultores participaram da iniciativa. Nessa ocasião, foi destacada a fala de um dos agricultores participantes, que revelou a seguinte afirmação: "Antes eu produzia, mas não consumia porque não considerava meus próprios alimentos saudáveis. Hoje, me sinto realizado em consumi-los e comercializá-los" (IPA-PE, 2012a).

Essas iniciativas são alguns exemplos positivos quanto à divulgação de iniciativas de agricultura de base ecológica na Linha do Tempo da Asbraer no Facebook, colaborando na promoção de propostas da Política Nacional de Ater (PNATER). No entanto em algumas oportunidades percebemos incoerências e propostas contraditórias de Ater. Um exemplo disso pôde ser observado na postagem feita pela Asbraer em 19 de maio de 2012, cujo título era “Paraíba promove eventos para conscientizar agricultor familiar sobre produção orgânica”, de autoria da assessoria de comunicação da Emater-PB, que tratava de uma parceria desta Instituição e a Agência Estadual de Vigilância Sanitária da Paraíba (Agevisa). O texto destacava que o objetivo desses encontros de formação - realizados com agricultores de 10 municípios paraibanos - era o de alertar "sobre a importância de evitar o uso de defensivos químicos na produção agrícola em suas propriedades" e que, por meio desse processo de conscientização os agricultores eram chamados para que “se posicionem em uma transição agroecológica” (EMATER-PB, 2012a). No entanto, o profissional de Ater responsável pelas palestras com os agricultores, uma nutricionista da Agevisa, “ressaltou a importância de levar o conhecimento aos agricultores para que trabalhem com produto de boa qualidade”, afirmação que, ao que parece, sugere a realização de uma Assistência Técnica e Extensão Rural de caráter difusionista, o que não condiz com as propostas da Política Nacional de Ater e, sobretudo, com a perspectiva da Agroecologia para o mundo rural.

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