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Ater e Desenvolvimento Rural Sustentável

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CAPÍTULO I – EXTENSÃO RURAL E CIBERCULTURA

1.3 Princípios da Política Nacional de Ater

1.3.1 Ater e Desenvolvimento Rural Sustentável

A extensão rural contemporânea deve estar atenda às questões ligadas à sustentabilidade do mundo rural, em todas as suas dimensões. Na realidade, a sustentabilidade é um dos maiores

fundamentos não só da extensão rural contemporânea, mas de diversos campos do conhecimento e da atividade humana.

Milanez (2003) questiona a visão economicista do desenvolvimento, ressaltando a necessidade de se pensar o desenvolvimento a partir de novos olhares, especialmente comprometidos com a sustentabilidade do planeta e a qualidade de vida das futuras gerações. O autor define o desenvolvimento sustentável como uma forma alternativa de construção do desenvolvimento de toda a sociedade. Nesse sentido, o autor lembra que o meio ambiente está sujeito às ações antrópicas, tendo sofrido diversas agressões nas últimas décadas.

Nessa perspectiva, Milanez (2003) critica a perspectiva neoliberal do desenvolvimento, segundo a qual o desenvolvimento econômico e industrial levaria toda a sociedade a progredir. Nessa visão, a ciência e a tecnologia conseguiriam por si só contornar os problemas e agressões que o meio ambiente vem sofrendo crescentemente. O autor faz ainda uma crítica à sociedade consumista em que vivemos, marcada pelo individualismo, pelo egoísmo, pela solidão, pela centralidade na economia e no ter.

Milanez (2003) também ressalta a necessidade de superar certa visão ingênua que alguns têm a respeito do desenvolvimento sustentável, que se baseia apenas em aparências e não questiona os verdadeiros pilares da devastação ambiental. O autor também afirma a necessidade de quebra de paradigmas, de superação da visão parcial do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, o primeiro passo a ser dado é uma reformulação e discussão profunda nos valores e costumes da sociedade atual.

Jara (1996) argumenta que o desenvolvimento sustentável apresenta as dimensões ambientais, econômicas, sociais, políticas e culturais. Essa multidimensionalidade apresenta preocupações de várias naturezas, especialmente quanto ao futuro da humanidade; às necessidades básicas de subsistência; à produção e consumo de bens e serviços; ao equilíbrio ecossistêmico e os recursos naturais; às estruturas e práticas decisórias e a distribuição do poder; e à cultura e os valores pessoais.

Para Moreira (2000), o desenvolvimento rural sustentável – compatível com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente – nasce do questionamento ao modelo de desenvolvimento imposto ao mundo rural ao longo do século XX, e que ainda nos dias de hoje exerce bastante influência. Os pacotes da Revolução Verde foram responsáveis por grande degradação socioambiental, em todos os níveis. Segundo Moreira (2000), a atuação de movimentos ambientalistas e o aprofundamento das teorias sobre a compreensão mundo rural colaboraram para a compreensão das questões da biodiversidade no campo, especialmente quanto ao questionamento da Revolução Verde.

Esse questionamento leva em conta a poluição e envenenamento dos recursos naturais e dos alimentos, a perda da biodiversidade, a destruição dos solos e o assoreamento de nossos rios, e advoga um novo requisito à noção de desenvolvimento herdada: o de prudência ambiental. Desta crítica emergem tanto os movimentos de agricultura alternativa, como aqueles centrados nas noções de agricultura orgânica e agroecológica, e sugerem as discussões dos impactos da engenharia genética e da utilização de matrizes transgênicas em práticas agropecuárias e alimentares. (MOREIRA, 2000. p. 44).

Caporal e Costabeber (2002) definem a sustentabilidade como a capacidade de um agroecossistema permanecer socioambientalmente produtivo ao longo do tempo, de modo que a recuperação e manutenção dos recursos naturais e da biodiversidade são premissas do desenvolvimento sustentável. Para os autores, independente das estratégias de intervenção a serem utilizadas, é necessário assegurar uma abordagem sistêmica e holística a todos os elementos do agrossistema a serem impactados pela ação do homem.

As preocupações com o meio ambiente ganharam espaço de destaque na 1ª Cnater (MDA, 2012a). O relatório preliminar das propostas aprovadas pela plenária final destaca em diversos momentos a preocupação com a preservação ambiental e o compromisso com as gerações futuras, com o objetivo de fomentar o florescimento de novas formas de lidar com os ecossistemas.

Nesse sentido, a Ater busca articular as diversas políticas voltadas ao desenvolvimento rural sustentável, “considerando as abordagens territoriais, as especificidade étnicas, o acesso a terra e água” (MDA, 2012a, p. 1). A Ater também se preocupa em “promover, orientar, qualificar, capacitar e garantir o fomento da produção, o beneficiamento, a comercialização e o consumo de alimentos agroecológicos e saudáveis” (MDA, 2012a, p.1), que não utilizem insumos químicos, agrotóxicos, transgênicos, hormônios.

A 1ª Conferência Nacional de Ater (Cnater) também destacou a necessidade de assegurar a realização e divulgação de pesquisas e “ferramentas de reconhecimento e pagamento por serviços ambientais, como incentivo para um modelo de convivência com as riquezas naturais e fomento a iniciativas agroecológicas, agroflorestais e agropastoris”, (MDA, 2012, pp. 3-4).

O relatório final da Cnater – versão preliminar – (MDA, 2012a) também propõe a articulação entre instituições de ensino, pesquisa e extensão junto à agricultura familiar, no sentido da construção e disseminação do conhecimento e de inovações tecnológicas e organizacionais voltados à sustentabilidade. A promoção da agricultura de base ecológica e a orientação quanto à transição agroecológica, bem como a sensibilização para a baixa emissão

de carbono em estabelecimentos da agricultura familiar também devem corresponder a preocupações permanente da Ater contemporânea (MDA, 2012a).

Ainda na direção do desenvolvimento sustentável, é indicada a necessidade de construção de projetos políticos-pedagógicos que tratem da temática ambiental para as instituições de ensino fundamental, médio e técnico e superior. Nessa mesma perspectiva, as instituições de ensino superior voltadas às ciências agrárias, sociais, de saúde e humanas também devem levar em conta, em suas grades curriculares, a diversidade do meio rural e a perspectiva do desenvolvimento sustentável (MDA, 2012a).

Por fim, o destacamos a importância do fortalecimento, fomento e ampliação dos “quintais produtivos em bases agroecológicas”, com a “utilização de alternativas como cisternas calçadão, poços aluvionais, microssistemas de abastecimento de água, barragens superficiais e subterrâneas e outras práticas de convivência com o semiárido" (MDA, 2012a, p. 8).

1.3.2 Ater para a construção da cidadania e democratização da gestão da política

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