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9.2 AIA no Brasil

No documento Curso Eia-Rima Cemae (páginas 69-72)

No Brasil, a avaliação de impacto ambiental e o licenciamento ambiental foram definidos como instrumentos distintos da Política Nacional de Meio Ambiente - Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981. Historicamente, os dois instrumentos desenvolveram-se vinculados um ao outro, sendo a avaliação de impactos objeto da Resolução do CONAMA Nº 001/86.

O conceito legal de impacto ambiental foi estabelecido por esta Resolução enfatizando, desde a origem, o impacto ambiental em seu sentido mais amplo, ou seja, impactos ecológicos e socioeconômicos decorrentes de uma atividade/empreendimento:

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.

“Por sua vez, a Avaliação de Impacto Ambiental é materializada, além de outros estudos ambientais, por meio do Estudo de Impacto Ambiental – EIA e seu correspondente Relatório de Impacto Ambiental – RIMA”

De acordo com Rohde (1995:20), citado por BURSZTYN e OLIVEIRA:

“... os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) servem para estabelecer a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). Esse autor define EIA como sendo: “(...) um conjunto de atividades científicas e técnicas que incluem o diagnóstico ambiental, a identificação, previsão e medição dos impactos, a interpretação e a valoração dos impactos, a definição de medidas mitigadoras e programas de monitorização dos impactos ambientais necessários para a avaliação dos impactos ambientais”.

No entanto, a evolução dos debates em torno da questão levou a que Avaliação de Impacto Ambiental fosse entendida quase como um sinônimo de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental e esta ferramenta e aquele instrumento passaram a se confundir por trás da utilização de uma única e equivocada denominação – EIA/RIMA.” (MMA, 2006).

9.3 O Processo de AIA

A avaliação de impacto ambiental toma a forma de um processo. Este processo se traduz num conjunto de procedimentos, alguns de natureza técnica, outros de natureza político-administrativa que têm por finalidade, primeiramente, assegurar com que os impactos ambientais do projeto sejam sistematicamente previstos e analisados. Em segundo lugar, tais procedimentos precisam garantir que os resultados dessa análise subsidiem a decisão quanto a se realizar ou não o projeto. No caso de se concluir pela sua realização, os procedimentos devem ainda fazer com que sejam concretizadas as medidas destinadas ao controle dos efeitos ambientais que foram previstos.

O processo de avaliação de impacto ambiental objetiva tanto o planejamento de uma atividade como o respectivo processo decisório, de modo a viabilizar o uso dos recursos naturais e econômicos e promover o desenvolvimento sustentável.

Uma das razões da ampla divulgação da avaliação de impacto ambiental e do apoio que recebeu da sociedade é o fato de promover a participação organizada. Entretanto, o envolvimento dos grupos sociais afetados pela proposta, das associações civis e do público em geral depende do grau de conscientização da sociedade quanto aos problemas e questões ambientais, do seu estágio de organização e da existência de canais de comunicação entre a comunidade e a administração pública.

9.3.1 - Arcabouço Legal para a Participação Social no Processo de AIA

Quanto às indicações das normas legais, o envolvimento dos grupos sociais afetados e do público em geral, começou a ser introduzido nos sistemas de licenciamento por determinação da Lei 6.938, de 31.08.81, que diz em seu artigo 10, parágrafo primeiro: "Os pedidos de licenciamento,

sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação". Este dispositivo foi regulamentado

pela Resolução nº 006, de 24.01.1986, do CONAMA, que aprovou os modelos de publicação dos pedidos de licença ambiental.

Por sua vez, o Decreto nº 88.351, de 01.06.83, no parágrafo 3.º do artigo 18, estabelece que "Respeitada a matéria de sigilo industrial, assim expressamente caracterizada a pedido do interessado, o RIMA, devidamente fundamentado, será acessível ao público". Já a Resolução nº 001/86 orienta para que cópias do RIMA sejam remetidas aos órgãos governamentais que manifestarem interesse ou tiverem relação direta com o projeto, para conhecimento e comentários. Indica ainda que outras cópias estarão disponíveis aos interessados nos centros de documentação e bibliotecas do IBAMA e do órgão ambiental do Estado e no município, durante o período de análise técnica do EIA, e prevê que se determine prazo para o recebimento de comentários dos órgãos públicos e dos demais interessados. Abriu também a possibilidade de serem organizadas audiências públicas, sempre que se julgar necessário, para informações sobre o projeto e seus impactos ambientais, discussão do RIMA e recolhimento de críticas e sugestões, o que foi regulamentado pela Resolução nº 09, de 3.12.87 (publicada somente em 05.07.90), do mesmo conselho. A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da divulgação do EIA, reiterado pelas Constituições da maioria dos Estados.

9.3.2 - Participação - Objetivos, Mecanismos e Possibilidades

A participação da sociedade é fundamental, em todas as etapas do processo de avaliação de impacto ambiental, tendo sido gradativamente ampliada, principalmente nos países industrializados. Isto significa a contínua comunicação entre os órgãos governamentais encarregados de decidir sobre a realização de um projeto e as medidas de proteção ambiental a serem exigidas, os empresários e o público. Os mecanismos de participação devem propiciar: a divulgação das informações sobre o projeto; o acesso ao processo de licenciamento e ao estágio do licenciamento; a apresentação e a incorporação dos anseios e opiniões dos interessados; a livre discussão do projeto e de seus impactos ambientais; a informação sobre a decisão tomada; e o acompanhamento das conseqüências ambientais da efetiva implantação do projeto.

Os grupos sociais podem trazer informações bastante úteis ao órgão ambiental e aos demais participantes do processo, tanto sobre a situação da área a ser afetada pelo projeto, quanto a respeito de seus interesses ligados à proteção dos recursos naturais ou ao desenvolvimento da região, especialmente quando há incertezas ou dificuldades de avaliação de natureza subjetiva. A participação aumenta a confiança do cidadão nas decisões que serão tomadas, ao ver que as questões que formulou foram devidamente consideradas. Além disso, o processo de avaliação de impacto ambiental compromete os empresários e as autoridades governamentais que dele participam com as medidas de proteção ambiental.

Os procedimentos para organização da participação do público, devem levar em conta alguns fatores, de modo a promover o efetivo envolvimento dos grupos interessados. A primeira questão é a identificação de afetados e interessados, considerando as características e peculiaridades da área de influência dos projetos propostos, tem-se:

− Pessoas, associações de moradores, lideranças locais (igrejas, clubes de serviço), diretamente afetados pelo projeto, seja porque serão perturbados ou beneficiados com sua implantação;

− Associações comerciais, empresários ou comerciantes, cujas atividades possam tirar proveito da implantação do projeto;

− Associações ambientalistas de caráter geral ou dedicadas à defesa dos recursos ambientais da área a ser afetada;

− Associações científicas ou corporações profissionais interessadas nas questões técnicas suscitadas pelo EIA;

− Parlamentares ou políticos que representam a sociedade local (membros da Assembléia Legislativa ou das câmaras municipais);

− Representantes dos meios de comunicação de massa, importantes agentes de divulgação de informações sobre o projeto;

Outro aspecto importante refere-se às diferentes formas ou técnicas de participação, passíveis de utilização nas diferentes fases do processo de avaliação de impacto ambiental:

− Questionários, aplicados aos moradores das vizinhanças da área de implantação do projeto;

− Pesquisas de opinião ou de vizinhança;

− Formação de grupos de representantes para acompanhamento do processo ou do EIA; − Reuniões com pessoas ou grupos sociais para esclarecimentos sobre questões ou

pontos de seu interesse específico;

− Seminários técnicos para discussões de temas relevantes tratados no EIA; e − Audiências públicas.

9.4 - O Estudo de Impacto Ambiental - EIA como instrumento de Avaliação

No documento Curso Eia-Rima Cemae (páginas 69-72)