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FORMAÇÃO(ÕES) DISCURSIVA(S) DOS/NOS POEMAS DE IFÁ.

E, ainda, em E12.R45 ( “[ ] não haverá doenças, não haverá fome.”/ “o céu é a

nossa casa, [...] coisas maravilhosas não estão disponíveis na terra ainda”), configura-se

uma promessa do divino/ do sagrado, no sentido de despertara fé, atravessada pelas formações discursivas Cristã e Espírita, articuladas pelo interdiscurso, com efeito de desejo do sujeito, para instauração de uma promessa, fazendo remissão a uma idade mítica.

Excerto 13

Finalmente, no excerto 13, em E13.R46. (-“ele vai mudar seu destino. Ele já está mudando seu destino.”/-“Ifá é tão poderoso, porque ele faz isso com a gente.”), ocorre uma asseveração do Poder de Ifá, no sentido de sagrado, marcado por uma vontade de verdade, com efeito de regulação, para asseverar pela vontade de verdade e pelo caráter de sagrado o poder de Ifá.

Já em E13.R47. (-“Ifá diz que você terá varanda”/- “você vai envelhece bem, você

vai ter coisas boas”), denomina-se uma predição, no sentido de desejo (de felicidade, de

coisas boas), atravessada pela memória discursiva que evoca uma contradição com o conceito de abiku (aquele que nasce para morrer), com efeito de identificação, para remeter à possibilidade de realização de desejos e asseverar o poder do oráculo.

E, por fim, em E13.R48. (-“Não se esqueça que você tem que ter um filho homem na sua família, pode adotar, pode ter uma outra criança.”), há uma prescrição no sentido de medida preventiva/regulação, atravessada pelo discurso do mito e por um discurso machista, pelo funcionamento do interdiscurso, com efeito de regulação, para instaurar uma vontade de verdade.

Uma vez realizada a descrição da conjuntura sentidural, passaremos à interpretação dos movimentos da IES.

3.2.2.2- Micro-análise interpretativa dos movimentos da IES

Para a realização da micro-análise da movimentação sujeitudinal, foi necessário que estabelecêssemos, primeiramente, as relações sentidurais e foi o que fizemos acima. De tal maneira que a conjuntura sentidural nos permitisse interpretar os movimentos da IES, na trama e pelo crivo dos sentidos. Tomamos cada uma das colunas das matrizes das quais

nos servimos para realizar a leitura dos sentidos - a saber: Denominação (significação); Designação (sentido); Articulação (atravessamento); Encaixe (efeito); Potencial (devir)- e fizemos uma interpretação dos movimentos da IES e suas relações, excerto por excerto, em matrizes de mesma natureza, que estão disponíveis no anexo 4. Assim, a coluna da Denominação remete a um significado mais pontual da regularidade analisada, diante da universalidade de efeitos do sentido produzido, que vem expresso na coluna da Designação. Já a coluna da Articulação aponta para os atravessamentos sofridos pelos efeitos de sentido no jogo das significações, reportando-nos para a emersão de efeitos singulares, expressos na coluna do Encaixe, denotadores de um devir, notadona coluna do Potencial. Dessa forma, analisar uma regularidade em tal matriz nos permite perceber a dinâmica das significações, em sua expressão sentidural, em seus atravessamentos constitutivos, em seus efeitos e devir. Para esta análise, portanto, as regularidades são, conforme mencionamos acima, cada uma das colunas, que denotam esse funcionamento nas conjunturas sentidurais, que analisadas em sua (des)continuidade nos permitem, excerto por excerto, interpretar as movimentações da IES, em sua constituição sujeitudinal, ao enunciar no acontecimento discursivo.

Passamos agora, a apresentar o nosso gesto de leitura das movimentações da IES, pelos trilhos dos sentidos encontrados em função das recorrências de cada excerto que - mesmo sob pena de uma repetição desnecessária, mas, visando facilitar a compreensão - reproduzimos antes de cada interpretação.

Excerto 1

OCORRÊNCIAS – EXCERTO 1 RECORRÊNCIA(S)

Então se... o babalaô vai decorando 256, mas cada um desses odu, esse aqui é o primeiro odu [signo oracular/gênero textual], né?! Chamado Eji-Ogbe, ele

tem várias informações morais, éticas, sociais e farmacológicas e herbárias e e fitoterápicas e mágicas, também. E isso é oral. Isso não tem nada

escrito. Um babalaô ele passa pro seu devoto, tá, com, com o estudo. Geralmente, uma pessoa que vai ser

babalaô, ele é levado pra viver com babalaô com quatro anos de idade. Aí o babalaô joga obi [noz de

cola], faz os primeiros ebós, chama isefa ou asefa[ritos iniciáticos]. Não é iniciação, é uma pré- iniciação. Aonde, ele vai tomar esse isoye [magias], uma

medicina para ele memorizar os itan, pra ele memorizar os itan [narrativas/odu -poemas]. Se nós

tivéssemos que enumerar os itan, dava essa parede

aqui ó (mostra a parede), de tantos itan que são.

Um babalaô é mais poderoso, o quanto ele decora

E1.R1.

- “ele tem várias informações morais, éticas, sociais e farmacológicas e herbárias e e fitoterápicas e mágicas, também.”

- “enumerar os itan, dava essa parede aqui ó (mostra a parede), de tantos itan que são.”

“babalaô é mais poderoso, o quanto ele decora mais

itan”

- “uma pessoa que vai ser babalaô, ele é levado pra viver com babalaô com quatro anos de idade” E1.R2.

-“isoye, uma medicina para ele memorizar os itan, pra ele memorizar os itan.”

E1.R3.

-“aquele odu que saiu é a vida da pessoa.”

mais itan, entendeu?

P- Compreendo.

Pra você ver [incomp.], quando o babalaô está se formando babalaô tem vinte e cinco babalaôs. Aí o babalaôs, sai o odu dele, o odu dele é tal, aí esse babalaô fala, esse fala, esse fala, esse fala. E, aquele que falar mais ganha mais dinheiro na hora. E o, a pessoa vai absorvendo tudo aquilo, que aquele odu

que saiu é a vida da pessoa. Cê entendeu? E, e só sai

a sua vida quando você toma Itefa[rito inciático]. Os

odu do dia a dia não é o seu odu, é ah, não é a sua

vida. Eh, não é ah, a sua vida espiritual. É, é odu atemporal o outro é placentário. Cê tá entendendo?

Dessa vida e de outras que você teve. Cê sempre vai

tê ele nessa vida e em outras, quando você toma Itefa. Os odu que sai todo dia ou no Isefa[rito menor], são

odu temporários, que e muda de acordo com magia,

bruxaria, entendimento, felicidade, amor, entendeu? Mas você tem um odu que é fixo. Quando você foi

criado no universo Orunmilá te deu aquele odu e só

um babalaô iniciado e (com ênfase) treinado, porque muitos são só iniciados, e treinado, que vão poder ter os odu e mesmo assim precisa de ter muitos pra ajudar.

aquele odu” E1.R4.

-“Dessa vida e de outras que você teve.”

No excerto 1, as ocorrências sentidurais {amplitude/ ilusão de completude; poder mágico; formação imaginária; discurso transcendental/metafísico (reencarnacionista); interdiscurso.} denominam a interpelação da IES, marcada pelo esquecimento n.1, atravessada por uma outricidade, com efeito de identificação, determinando uma inscrição ideológica.

Já as ocorrências {saber; conhecimento; vontade de verdade; sagrado} correspondem à clivagem da IES, em movimento de identificação, atravessada pela sua heterogeneidade, com efeito de lugar discursivo (de dominação), para identificar com um posição de dominação.

No deslocamento pelas ocorrências {vontade de verdade; discurso místico; interdiscurso; mito; memória discursiva}, há a denominação da clivagem, no sentido de identificação, atravessada pela heterogeneidade, sob o esquecimento n.1, para instauração de uma ilusão de completude.

Em {poder; distanciamento; real; dominação} reconhecemos a posição sujeito (sua inscrição ideológica), no sentido de identificação, articulando uma alteridade, com efeito de lugar discursivo (de dominação), numa identificação com a posição de dominação.

E, por fim, no excerto 1, as ocorrências {desejo de legitimação; asseveração da