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MATRIZ GERAL DAS POTENCIALIDADES DA MATERIALIDADE LINGUÍSTICA

B- Fecha os olhos (Ele põe o gim na boca e espargi no entorno)

Eles ficam em volta! (sugerindo que a o procedimento aliviaria)

E10. R34.

- “Cê pega o dinheiro que você vai dar pra Ifá”

-“(Ele põe o gim na boca e esparge no entorno) Eles ficam em volta! (sugerindo que a o procedimento aliviaria)”

E10. R35.

-“Meu Deus! (com preocupação) Ifá fala que você é abiku.”

- “eles ficam perturbando a vida da pessoa.”

E10.R36.

- “aqueles que nascem marcados para morrer. Mas o que que significa isso, se você tá vivo?”

- “livrar dessa energia abiku, para suas coisas amorosas, materiais, espirituais irem pra frente.”

E10. R37.

-“Aí o povo pega e usa o dinheiro do Ifá.”

Em, E10.R34, encontraremos a presença de um ritual, primeiro na solicitação do dinheiro que paga a consulta, que deve ser entregue antes – o que nos remete a um princípio de regulação da condição do discurso oracular – este caso ainda atravessado por um discurso capitalista, denegado pelo ver “dar” ao invés do “pagar”. Depois, no procedimento de espargir o gim com a boca, para espantar os “espíritos infantis” - no sentido de crianças que estariam perturbando naquele momento - e outros malévolos. Novamente, aqui, a realização de gestos estabelecidos, objetivando um dado fim de caráter litúrgico. Já em E10.R35, há uma manifestação da IES de desidentificação com o conteúdo do odu , ou seja, com a formação discursiva da morte, e ainda, com a da doença, miséria, dificuldades das quais o signo oracular se fazia portador. Em se tratando de E10.R36., vemos a reafirmação de uma formação discursiva de relativização, motivada pela questão: “como aquele que nasceu

principalmente às ocorridas na infância)? Ainda aqui, vemos que os

odu têm um caráter de maleabilidade,

podendo se ajustar às pessoas e às situações. Assim, é possível livrar-se do mal. Lembremo-nos, do enunciado que diz “Ifá é o senhor que adia a morte”, para justificar essa possibilidade. Por isso, o oráculo tem, na brecha da relativização, a possibilidade de trazer uma solução para o problema por ele apresentado. Ou seja, é possível refutar uma predição má; aliás, é esta uma das funções das predições em geral, principalmente entre os ioruba. O que só assevera o caráter de relativização do teor dos odu. Em E10.R37, podemos verificar a afirmação de que há pessoas que não agem conforme os preceitos do culto.E isso remonta a um caráter de confiabilidade e honestidade que deve ser esperado das pessoas no culto, atravessado por uma marca capitalista. Balanço das Formações Discursivas (FD) observadas: - FD de Regulação; - FD Capitalista; - FD da Morte; - FD da Relativização; - FD Hedonista; - FD da Moral Excerto 11 B – Esse OduIwori, ele fala que a pessoa é de Ifá. Se cair Iwori-Meji,

fala que a pessoa é sacerdote. Quando Orunmilá se cansou da terra, to te explicando, o q., é um odu que fala que a pessoa é sacerdote. E ele cai aqui pra você. E, e, é, e, ele deixou o ikin, aquela semente que

E11.R38.

-“para o cristão a hóstia sagrada, nós temos o ikin, se fosse comparar”

Conforme pudemos observar acima a interpelação pelo cristianismo é marcante, e o E11.R38. vem, uma vez mais, confirmar isso, através da

eu te mostrei como seu corpo na terra. Então, para o cristão a hóstia sagrada, nós temos o ikin, se fosse comparar. Entendeu? E na

iniciação de isefa/itefa[ritos], você recebe o seu de Ifá e ikin. Então invés de eu jogar isso aqui [opele], eu vou jogar o seu ikin, que é seu fax mais direto com seu Orixá. Então todo iniciado tem o seu próprio

ikin. Cê traz ele aqui e fala: Babá, joga pra mim e vê que que tá

acontecendo. Eu por exemplo, um exemplo, eu tenho um filho que é

abiku e me dá trabalho demais (...) eu levei pro meu baba, meu baba

jogou o Ifá, meu, pra ver a vida do meu filho, e fez um ebó, ele é policial civil e tava mudando pra uma outra cidade. Essa outra cidade tinha bandidos, se ele chegasse lá, eles matavam ele, porque eu tinha visto. Cê tá entendendo? O Baba fez o ebó, ele mudou pra uma outra cidade. O dia que ele chegou na cidade, a Federal prendeu todos os bandidos. Entendeu? (risos) Isso é Ifá, eu gosto é disso, de ver essas coisas funcionando. Ele falou: Baba, senhor não

acredita. Eu falei: eu acredito, nós fomos lá em SãoPaulo, fez o

etutu [oferenda/ritual] com meu pai, que é seu avó. Num vai acontecer? E eu fico muito feliz, porque você tem a marca de Ifá e você vai ser um Baba ainda. Mas, vai pelos caminhos certos. Toma

isefa, depois itefa, depois ... Cê ta entendendo. Monta suas coisas e

vai trabalha pras pessoas. E vai dar aula na universidade. To vendo aqui, sua vida é acadêmica. Entendeu? Pode procurar fazer seus concursos e trabalhar com as pessoas, você vai por esse lado. É o

lado que Ifá tá determinando pra você. Você vai ser muito bem,

porque Ifá põe você lá sim. E você vai bem. Você vai ganhar dinheiro assim, não vai fazer outras coisas não. Não vai dar.

E11.R39.

-“meu baba jogou o Ifá, meu, pra ver a vida do meu filho, e fez um ebó, ele [...] Essa outra cidade tinha bandidos, se ele chegasse lá, eles matavam ele, [...]O dia que ele chegou na cidade, a Federal prendeu todos os bandidos.” E11.R40.

-“Isso é Ifá, eu gosto é disso, de ver essas coisas funcionando.”

-“eu acredito, nós fomos lá em

SãoPaulo, fez o etutu com meu pai, que é seu avó. Num vai acontecer?”

E11.R41.

-“porque você tem a marca de Ifá” -“É o lado que Ifá tá determinando pra você”

E11.R42.

-“Mas, vai pelos caminhos certos.”

comparação denegada que o configura. Já que existe uma parte mais ou menos aberta dos odu, na qual ao sacerdote seria/é permitido acrescentar, em E11.R39, podemos verificar uma atualização do corpus literário de Ifá que passa a incorporar uma narrativa típica da experiência da própria IES, em seu lugar social. Em E11.R40., vemos um atestado de fé, no qual a crença é tomada como verdadeira e inquestionável. No que toca a E11.R41., a formação discursiva do determinismo, acrescida da reafirmação da autoridade de Ifá. Por fim, em E11.R42, marca-se a possibilidade de caminhos errados no culto a Ifá, ou seja, a reafirmação de há um padrão, uma tradição, um discurso autorizado que determina o que é certo ou errado em Ifá. E isso nos conduz a uma vontade de verdade.

Balanço das Formações Discursivas (FD) observadas:

- FD Cristã

- FD do Poder pelo saber; - FD da Verdade; - FD do Determinismo. Excerto 12

B- E o Kardec fala, ah!. Ifá diz: a nossa casa é o céu, como é que é, o mercado é onde viemos, é a terra, o shopping, é a terra. O

mercado é a terra, nossa casa é céu, mas chegamos em casa e queremos fazer compras.É aqui que a gente realiza. E fica bem, que

tem filhos, namora, cresce... todo mundo que vai pro orun vem pro

aye. Ifá diz: o céu é a nossa casa, e as coisas da nossa casa não

estão disponíveis na terra ainda, coisas maravilhosas não estão disponíveis na terra ainda. Isso é do OduIwori, Iwori-Otura, é um

itan. Que as coisas maravilhosas do céu, não estão disponíveis, os

E12.R43. - “Kardec fala”; -“Nossa casa é o céu”;

-“Aí, eu fico lembrando do Chico Xavier [...]”;

- “o mercado é onde viemos, é a terra, o

shopping, é a terra.”

E12.R44.

Fica notória a interpelação espírita, da IES, no E12.R43.,, já que isso é verbalizado, ao serem nominados dois sujeitos que figuram como ícones de tal formação discursiva. Ainda, o movimento imputado ao homem, nessas idas e voltas do céu à terra, remete a uma formação discursiva reencarnacionista - que apesar de

haverá animais peçonhentos, não haverá obsessão, não haverá desgraças, não haverá doenças, não haverá fome. Há, há coisa que não conhecemos na terra que já estão disponíveis no céu. Aí, eu fico

lembrando do Chico Xavier, que em 45, 43 [reporta-se a 1943/1945], (falou de) computador naqueles livros, ele já falava disso e hoje ta aí, disponível.

bem,” E12.R45.

- “[...] não haverá doenças, não haverá fome.”.

- “o céu é a nossa casa, [...] coisas

maravilhosas não estão disponíveis na terra ainda”

reafirmação pela autoridade espírita.Dessa forma, observamos um movimento de identificação com a formação discursiva espírita e uma tentativa de asseverar um lugar de verdade, por essa identificação.

Em E12.R44, manifesta-se uma voz hedonista, que remete a um aspecto de valorização da vida na terra e aos benefícios que dessa vida se pode usufruir. Isso apresenta-se como uma marca patente a motivar a relação com o divino.

Por fim, referendando a necessidade humana de bem estar acima mencionada e sua valorização no culto à Orunmilá/Ifá, a E12.R45. vem marcar o atravessamento do sujeito, e de tal discurso, pelo desejo de uma vida melhor, idealizado como algo passível de vir-a-ser pela intervenção do divino, do sagrado, de deus(es). Além de fazer uma remissão direta às eras míticas, onde vigora uma felicidade inalterável. Balanço das Formações Discursivas (FD) observadas:

- FD Espírita; - FD Hedonista; - FD Metafísica; - FD Mítica. Excerto 13 B- Vamos fechar seu jogo então: Okaran-Fun. Okaran-Fun pede pra

você usar a sabedoria dele de Orunmilá, os itan de Ifá, cuidar muito do seu Ori, do seu Eleda, da sua energia pessoal, Ode[refere-se a um orixá], cultuar muito, segurança nas palavras de Ifá, porque ele vai

mudar seu destino. Ele já está mudando seu destino. Só de você

E13.R46.

-“ele vai mudar seu destino. Ele já está mudando seu destino.”

-“ Ifá é tão poderoso, porque ele faz isso com a gente.”

Tomando, então, o último excerto, podemos perceber em E13.R46. uma exortação ao poder de Ifá, pelo qual ele é capaz de intervir na vida das pessoas e mudá-la. O seu poder é tanto que é