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5.3 Resultados

5.3.1 Ajustamento dos modelos de regress˜ ao

Com base no modelo de regress˜ao proposto por Fine e Gray (1999) avali´amos o efeito das vari´aveis explicativas, o que permitiu identificar os v´arios factores que tˆem influˆencia na evolu¸c˜ao para o estadio de SIDA, tendo em conta que cada caso est´a simultaneamente em risco para dois acontecimentos, e que a ocorrˆencia de um deles impede que o outro se verifique.

Os resultados do ajustamento do modelo de regress˜ao para o tempo de evolu¸c˜ao para SIDA foram os seguintes:

Tabela 5.1: Resultados do modelo de regress˜ao (evolu¸c˜ao para SIDA).

ˆ

β exp( ˆβ) se( ˆβ) valor-p Ano diagnostico ≥ 1997 -0,781 0,458 0,057 < 0,0001 Sexo masculino 0,003 1,003 0,072 9,7×10−1 Grupo et´ario 30 - 39 anos 0,442 1,556 0,068 7,7×10−11 Grupo et´ario 40 - 49 anos 0,621 1,861 0,087 1,1×10−12 Grupo et´ario ≥ 49 anos 0,559 1,749 0,121 4,1×10−6 Naturalidade africana 0,183 1,201 0,106 8,6×10−2 Outra naturalidade -0,397 0,672 0,257 1,2×10−1 Cat. trans. toxicodependente 0,696 2,006 0,079 < 0,0001 Cat. trans. homo/bissexual 0,119 1,126 0,115 3,0×10−1 No linf´ocitos 200 - 499 µL -1,428 0,239 0,065 < 0,0001

No linf´ocitos > 499 µL -2,087 0,124 0,089 < 0,0001

Assim, com base nas estimativas obtidas, para cada vari´avel, para os casos com iguais valores nas restantes vari´aveis podemos verificar:

• Os casos diagnosticados desde 1997 tˆem uma diminui¸c˜ao de 54% do risco de evolu¸c˜ao para SIDA, relativamente aos casos diagnosticados antes de 1997;

• Os casos do sexo masculino e do sexo feminino apresentam um igual risco (exp( ˆβ) = 1, 003) de evolu¸c˜ao para SIDA. Este efeito n˜ao se mostrou estatis- ticamente significativo (valor-p=0,97);

• Os casos diagnosticados no grupo et´ario dos 30 aos 39 anos, dos 40 aos 49 anos, ou dos 50 ou mais anos apresentam um aumento de 55,6%, 86,1% e 74,9%, respectivamente, do risco de evolu¸c˜ao para SIDA, relativamente aos casos diagnosticados no grupo et´ario dos 13 aos 29 anos;

• Os casos de naturalidade africana tˆem um aumento de 20,1% do risco de desenvolver uma doen¸ca indicadora de SIDA, relativamente aos casos de natu- ralidade portuguesa. J´a para os casos de outras naturalidades se estima que tenham uma diminui¸c˜ao de 32,8% do risco de desenvolver SIDA. No entanto, a naturalidade africana n˜ao se mostrou associada (valor-p=0,086) com o au- mento do risco de desenvolver SIDA, bem como a outra naturalidade n˜ao se mostrou associada `a diminui¸c˜ao desse risco (valor-p=0,12);

• Os casos na categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” apresentam um risco estimado de evolu¸c˜ao para SIDA que ´e o dobro do risco dos casos dia- gnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (heterossexual). Os casos dia- gnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (homossexual masculina) tˆem um aumento do risco de desenvolver SIDA de 12,6%, embora n˜ao tenha si- gnificado estat´ıstico (valor-p=0,3);

• Em rela¸c˜ao ao n´umero de linf´ocitos T CD4+, verifica-se que os casos com um

n´umero de linf´ocitos T CD4+ de 200/µL a 499/µL e com mais de 499/µL

est˜ao associados a uma diminui¸c˜ao no risco de desenvolver SIDA de 76,1% e 87,6%, respectivamente, quando comparado com os casos com um n´umero de linf´ocitos T CD4+ inferior a 200/µL.

Os resultados do ajustamento do modelo de regress˜ao para o tempo at´e `a morte como PA ou CRS s˜ao:

Tabela 5.2: Resultados do modelo de regress˜ao (morte como PA ou CRS).

ˆ

β exp( ˆβ) se( ˆβ) valor-p Ano diagnostico ≥ 1997 -0,456 0,634 0,098 3,6×10−6 Sexo masculino 0,428 1,534 0,129 9,7×10−4 Grupo et´ario 30 - 39 anos 0,095 1,100 0,113 4,0×10−1 Grupo et´ario 40 - 49 anos 0,342 1,408 0,158 3,1×10−2 Grupo et´ario ≥ 49 anos 1,145 3,142 0,163 2,1×10−12 Naturalidade africana -0,188 0,829 0,216 3,8×10−1 Outra naturalidade -0,953 0,386 0,583 1,0×10−1 Cat. trans. toxicodependente 0,501 1,650 0,131 1,3×10−4 Cat. trans. homo/bissexual -0,206 0,814 0,201 3,0×10−1 No linf´ocitos 200 - 499 µL -0,265 0,767 0,111 1,7×10−2

No linf´ocitos > 499 µL -0,572 0,563 0,129 8,5×10−6

Assim, com base nas estimativas obtidas, para cada vari´avel, para os casos com iguais valores nas restantes vari´aveis podemos verificar:

• Os casos diagnosticados desde 1997 tˆem uma diminui¸c˜ao de 37% do risco de morte como PA ou CRS, relativamente aos casos diagnosticados antes de 1997; • Os indiv´ıduos do sexo masculino apresentam pior progn´ostico do que os in- div´ıduos do sexo feminino, uma vez que tˆem 53% mais risco de falecer como PA ou CRS, relativamente aos casos do sexo feminino;

• Os casos diagnosticados no grupo et´ario dos 30 aos 39 anos apresentam um acr´escimo do risco de falecer como PA ou CRS igual a 10%, relativamente aos casos diagnosticados no grupo et´ario dos 13 aos 29 anos. No entanto, n˜ao se mostrou significativo (valor-p=0,40);

• J´a os casos diagnosticados nos grupos et´arios dos 40 aos 49 anos e dos 50 ou mais anos apresentam um risco igual a 1,408 e 3,142 vezes o risco de falecer como PA ou CRS dos casos diagnosticado no grupo et´ario dos 13 aos 29 anos, respectivamente;

• Os casos na categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” apresentam um pior progn´ostico, na medida em que tˆem 65% mais risco de falecer como PA ou CRS, relativamente aos casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (heterossexual). Em rela¸c˜ao `a categoria de trasmiss˜ao sexual (homos- sexual masculina) verifica-se que os casos apresentam 18,6% menos risco de falecer como PA ou CRS, do que os casos “heterossexuais”, embora tal facto n˜ao tenha significˆancia estat´ıstica;

• Em rela¸c˜ao ao n´umero de linf´ocitos T CD4+, verifica-se que os casos com um

n´umero de linf´ocitos T CD4+ entre 200/µL e 499/µL, bem como com mais 499/µL est˜ao associados a uma diminui¸c˜ao no risco de falecer como PA ou CRS de 23,3% e 43,7%, respectivamente, quando comparado com os casos com um n´umero de linf´ocitos T CD4+ inferior a 200/µL.

Discuss˜ao e Conclus˜oes

6.1

Discuss˜ao

Neste trabalho analisaram-se os dados provenientes do sistema de vigilˆancia nacional de notifica¸c˜ao dos casos de infec¸c˜ao VIH/SIDA, registados desde Janeiro de 1993 a Mar¸co de 2008.

No primeiro estudo analisou-se a sobrevivˆencia dos indiv´ıduos diagnosticados como PA ou CRS (VIH-1) at´e ao momento que desenvolvem SIDA. Este estudo, composto por 17825 casos diagnosticados at´e Mar¸co de 2008, verificou que a idade mediana dos casos ´e de 32 anos. A evolu¸c˜ao para SIDA verificou-se em mais casos do sexo masculino e no grupo et´ario dos 30 aos 39 anos. A categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” ´e respons´avel por 68,4% dos casos que evolu´ıram para SIDA.

Na nossa primeira an´alise dos dados, verificou-se que dos 17825 casos diagnos- ticados, houve evolu¸c˜ao para SIDA em 2103 casos. Os restantes 15722 casos per- maneceram no estadio PA ou CRS, tendo sido considerados censurados.

Sabe-se que a estimativa da mediana de sobrevivˆencia para os pa´ıses da Europa Ocidental, antes da introdu¸c˜ao da terapˆeutica “HAART” ´e aproximadamente 10 anos (CASCADE, 2000), embora alguns indiv´ıduos desenvolvam SIDA em 2 anos e outros n˜ao apresentem qualquer ind´ıcio de progress˜ao para SIDA ao longo de 15 a 20 anos (Buchbinder et al., 1994). Pelo nosso estudo, estimou-se que 60% dos casos n˜ao evoluem para SIDA at´e 16,2 anos ap´os o diagn´ostico, e que 70% dos casos n˜ao desenvolvem SIDA at´e 15,3 anos ap´os o diagn´ostico.

Um estudo elaborado em Espanha mostra uma redu¸c˜ao (66%) no risco de evolu¸c˜ao para SIDA, para os casos diagnosticados entre 1997 e 1999, comparativamente com os casos diagnosticados entre 1992 e 1996 (Amo et al., 2002). No nosso estudo, verific´amos que os casos diagnosticados desde 1997 tˆem uma diminui¸c˜ao, aproxi- madamente, de 54% de risco de desenvolver SIDA, relativamente aos casos diagnos- ticados antes de 1997.

Alguns estudos mostram que a progress˜ao para SIDA n˜ao difere segundo o g´enero, embora outros mostrem diferen¸cas (Suligoi, 1997; Melnick et al., 1994; Hubert et al., 2002). P´erez-Hoyos et al. (2003) demonstram um menor risco de progress˜ao para SIDA para os casos femininos, relativamente aos casos masculinos. No estudo que elabor´amos, a estimativa da progress˜ao da infec¸c˜ao para SIDA apresenta diferen¸cas

de acordo com o g´enero, atrav´es do estimador de Kaplan-Meier. De um modo geral, n˜ao se estabeleceu se essas diferen¸cas est˜ao relacionadas com factores biol´ogicos ou comportamentais, mas sabe-se que nas mulheres a carga viral parece ser mais reduzida do que nos homens, em ambas as categorias de transmiss˜ao (Farzadegan et al., 1998). Contudo, n˜ao existe certezas sobre a associa¸c˜ao da carga viral com as diferen¸cas encontradas na progress˜ao para SIDA de acordo com o g´enero.

Os resultados obtidos no nosso estudo mostram que os casos do sexo masculino tˆem praticamente o mesmo risco de desenvolver SIDA do que os casos do sexo feminino. O facto do g´enero n˜ao ser significativo na progress˜ao para SIDA poder´a estar relacionado com a diferen¸ca no n´umero de casos diagnosticados em cada uma das categorias, ou seja, os casos do sexo feminino s˜ao apenas 5185 do total de 17825 casos diagnosticados. Uma outra raz˜ao poder´a ser pelo facto de na an´alise n˜ao terem sido consideradas as trˆes formas de transmiss˜ao separadamente. Um estudo realizado em Espanha mostrou que para os “toxicodependentes” a progress˜ao para SIDA era mais lenta para o sexo feminino do que para o sexo masculino (Garcia de la Hera et al., 2004).

Pelos resultados obtidos no nosso estudo apenas as vari´aveis sexo, naturalidade e categoria de transmiss˜ao “homossexual” n˜ao revelaram significˆancia a 5% no de- senvolvimento de SIDA.

Neste estudo sobre a progress˜ao dos casos diagnosticados como PA ou CRS at´e ao desenvolvimento de SIDA, verificou-se que 2103 casos desenvolveram SIDA. Con- tudo, nos restantes 15722 casos observ´amos que a morte como PA ou CRS tinha ocorrido em 890 casos. Assim, optou-se por realizar uma nova an´alise, tendo em aten¸c˜ao este aspecto, o que levou a uma an´alise baseada em riscos competitivos. Considerou-se ent˜ao um acontecimento de interesse (desenvolver SIDA) e um acon- tecimento competitivo (morte como PA ou CRS).

Nesta nova an´alise obteve-se que as estimativas de probabilidade de desenvolver SIDA at´e aos 5, 10, 15 e 20 anos s˜ao de 0,08; 0,15; 0,20 e 0,37, respectivamente. Pelo m´etodo de Kaplan-Meier, as estimativas de probabilidade de desenvolver SIDA aos 5, 10, 15 e 20 anos s˜ao de 0,09; 0,16; 0,21 e 0,40, respectivamente. Tal como descrito na literatura, os resultados obtidos das estimativas pelo m´etodo de Kaplan- Meier s˜ao superiores `as obtidas quando estamos na presen¸ca de riscos competitivos, utilizando a estima¸c˜ao da fun¸c˜ao de incidˆencia cumulativa (Satagopan et al., 2004). Isto acontece dado que na estima¸c˜ao pelo m´etodo de Kaplan-Meier, um caso que verifique um acontecimento competitivo ´e considerado um caso censurado, sendo retirado do conjunto de indiv´ıduos em risco.

De acordo com os resultados obtidos nos dois estudos elaborados (sem considerar a existˆencia de um evento competitivo e na presen¸ca de riscos competitivos), pode- mos observar que o facto de n˜ao considerar a existˆencia de um evento competitivo leva a uma sobrestima¸c˜ao das estimativas da probabilidade de desenvolver SIDA. De facto, as estimativas da probabilidade de evoluir para SIDA at´e aos 5, 10, 15 e 20 anos s˜ao mais pequenas quando consider´amos a existˆencia de um aconteci- mento competitivo, do que aquelas que se obteve quando se utilizou o estimador de

Kaplan-Meier, que apenas tem por base um acontecimento.

O ano de diagn´ostico ´e um factor com influˆencia no tempo at´e ao desenvolvi- mento de SIDA, bem como no tempo at´e `a morte como PA ou CRS, tendo em conta os restantes factores. Os factores que est˜ao associados `a evolu¸c˜ao para SIDA s˜ao o ano de diagn´ostico, o grupo et´ario, a categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” e o n´umero de linf´ocitos T CD4+. Para a morte como PA ou CRS, os factores de risco associados s˜ao o ano de diagn´ostico, o sexo, o grupo et´ario, a categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” e o n´umero de linf´ocitos T CD4+.

No segundo estudo analisou-se a sobrevivˆencia dos indiv´ıduos diagnosticados com SIDA (VIH-1) at´e ao momento em que ocorre o ´obito. Foram diagnosticados 12101 casos, sendo a idade mediana dos casos de 34 anos. A mesma idade mediana foi tamb´em observada num estudo em It´alia (Pezzotti et al., 1999). A morte por SIDA ocorreu em 5409 casos, sendo 84,7% do sexo masculino, estando de acordo com o que acontece em v´arios pa´ıses da Uni˜ao Europeia, onde se verificam mais casos de SIDA, bem como mortes associadas ao sexo masculino. A patologia mais notificada e associada ao falecimento por SIDA ´e a tuberculose, seguida da pneu- mocystis jiroveci, com relevˆancia na categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” uma vez que mais de 60% dos casos nesta categoria tˆem diagnosticada tuberculose, como doen¸ca indicadora do estadio de SIDA.

A estimativa do tempo mediano de sobrevivˆencia ´e de 4738 dias (13 anos), ou seja, pelo menos metade dos casos com SIDA permanecem vivos, aproximadamente at´e aos 13 anos ap´os o diagn´ostico.

Um factor que poder´a influenciar a sobrevivˆencia dos casos diagnosticados com SIDA ´e a terapˆeutica anti-retrov´ırica utilizada. Dada a exclus˜ao da vari´avel “AZT” do registo indiv´ıdual dos casos a partir de 2005, n˜ao ´e poss´ıvel comprovar, em termos estat´ısticos, o efeito directo da terapˆeutica. Tomou-se ent˜ao a decis˜ao de utilizar o “ano de diagn´ostico” associado `a disponibilidade de f´armacos anti-retrov´ıricos como um marco de delimita¸c˜ao de dois per´ıodos: anterior `a institui¸c˜ao da terapˆeutica “HAART” (1992-1996) e ap´os o uso generalizado desta terapˆeutica (1997-2008). Esta associa¸c˜ao permitiu constatar uma maior sobrevivˆencia dos casos diagnosti- cados desde 1997, sugerindo que a combina¸c˜ao dos tratamentos anti-retrov´ıricos contribuem para prolongar a vida dos indiv´ıduos. V´arios estudos demonstram que a introdu¸c˜ao da terapˆeutica “HAART” contribui para um aumento da sobrevivˆencia dos indiv´ıduos (Palella et al., 1998; Sterne et al., 2005; Schneider et al., 2005).

No nosso estudo verifica-se que a estimativa da mediana de sobrevivˆencia dos casos diagnosticados antes de 1997 ´e de 1,79 anos, ao passo que para os casos dia- gnosticados desde 1997, n˜ao foi poss´ıvel calcular esta estimativa, dado que mais de metade dos casos se encontram vivos ou se desconhece terem falecido. Pode- mos tamb´em constatar que at´e 5 anos ap´os o diagn´ostico de SIDA, 63% dos casos diagnosticados antes de 1997 faleceram, enquanto que apenas 37,6% dos casos dia- gnosticados desde 1997 verificou-se o ´obito. De acordo com um estudo efectuado na Austr´alia, a mediana de sobrevivˆencia aumentou de 1,63 anos de sobrevivˆencia, para os casos diagnosticados entre 1993 e 1995, para 3,3 anos de sobrevivˆencia, para

os casos diagnosticados entre 1996 e 2000 (Dore et al., 2002).

Um estudo francˆes mostra que a estimativa de sobrevivˆencia pelo menos at´e 2 anos ´e de 54,8% para casos diagnosticados antes de 1997, e de 82,9% para os casos diagnosticados desde 1997 (Couzigou et al., 2007). De acordo com o nosso estudo, a estimativa de sobrevivˆencia para al´em de 2 anos ´e de 47,3% para os casos com diagn´ostico antes de 1997 e de 69% para os casos diagnosticados desde 1997. V´arios estudos mostraram que o risco de morte ´e menor para os casos diagnosticados desde 1997 (Schneider et al., 2005; Sterne et al., 2005). Na nossa an´alise, aplicando o modelo de Cox, obtivemos um risco de morte 48,6% inferior para os casos diagnosti- cados desde 1997, relativamente aos casos diagnosticados antes de 1997. A melhoria das profilaxias para as infec¸c˜oes oportunistas, os melhores acessos aos cuidados de sa´ude, bem como a existˆencia de mais e melhores op¸c˜oes de tratamento est˜ao na base da diminui¸c˜ao deste risco de morte (Hogg et al., 1997).

No presente estudo, a categoria de transmiss˜ao com maior n´umero de casos ´e a “toxicodependentes”, correspondendo a 60,2% dos casos que faleceram por SIDA. Esta categoria de transmiss˜ao ´e a que apresenta um menor per´ıodo de sobrevivˆencia, com uma estimativa da mediana de sobrevivˆencia de 5,19 anos. Isto poder´a ser explicado pelo facto de o contacto atrav´es do consumo de drogas por via endovenosa ser a via mais directa e mais r´apida de transmiss˜ao da infec¸c˜ao. Al´em disso, pelo tipo de patologia associada a esta categoria de transmiss˜ao, percebe-se tamb´em a raz˜ao de apresentar uma sobrevivˆencia inferior `as outras categorias. De facto, verificamos que perto de metade dos casos est˜ao associados `a tuberculose e `a pneumocystis jiroveci, doen¸cas que n˜ao apresentam per´ıodos de sobrevivˆencia muito grandes, ou seja, com um elevado risco de morte.

Em rela¸c˜ao `a categoria de transmiss˜ao sexual (homossexual masculina) a esti- mativa para a mediana ´e de 14,35 anos, revelando ter um menor per´ıodo de sobre- vivˆencia do que a categoria de transmiss˜ao sexual (heterossexual), uma vez que de acordo com estudos cient´ıficos, sabe-se que a forma de transmiss˜ao do v´ırus pelo contacto “homossexual” ´e mais eficaz do que pelo contacto “heterossexual”.

No nosso estudo, os casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao “toxicode- pendentes” apresentam, aproximadamente, 56,6% mais risco de ocorrˆencia do ´obito, do que os casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao “heterossexual”. J´a os casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (homossexual masculina) tˆem apenas 10% mais risco de ocorrˆencia do ´obito, relativamente aos casos dia- gnosticados na categoria de transmiss˜ao “heterossexual” embora este aumento no risco de morte n˜ao se tenha mostrado com significˆancia estat´ıstica. Foi realizado em S˜ao Paulo um estudo que mostra resultados idˆenticos (Kilsztajn et al., 2007). Apesar de terem como referˆencia apenas os casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (heterossexual feminina), o que se verifica ´e que os casos dia- gnosticados na categoria de transmiss˜ao “toxicodependentes” apresentam 27% mais risco de ´obito, do que os casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (heterossexual feminina); os casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao “ho- mossexual” tˆem 11% mais risco de ´obito, relativamente ao casos diagnosticados na categoria de transmiss˜ao sexual (heterossexual feminina). Ainda neste estudo, os casos com idade superior a 40 anos apresentam 31% mais risco de falecer, relati-

vamente aos casos com idade entre os 13 e os 24 anos. Os resultados obtidos no nosso estudo s˜ao semelhantes aos do estudo elaborado por Kilsztajn et al. (2007), uma vez que os casos com idade entre os 40 - 49 anos e 50 ou mais anos, tˆem um aumento de 19,6% e 59,5%, respectivamente, do risco de ´obito, relativamente aos casos diagnosticados no grupo et´ario dos 13 aos 29 anos.

Um estudo efectuado no Brasil com casos diagnosticados entre 1995 e 1996, refere que os indiv´ıduos do sexo masculino apresentam 15% mais risco de falecer, relativamente aos casos do sexo feminino (Marins et al., 2003). Um outro estudo elaborado na Calif´ornia est´a de acordo com os resultados obtidos no estudo do Brasil. Assim, refere que a sobrevivˆencia nas mulheres ´e superior `a dos homens, sendo que as mulheres tˆem 21% menos risco de morte, relativamenente aos homens (Schwarcz et al., 2000). Os resultados da nossa an´alise s˜ao concordantes com ambos os estudos. Assim, obteve-se que os casos do sexo masculino apresentam 12,6% mais risco de morte, relativamente aos casos do sexo feminino, sendo o g´enero um factor com influˆencia significativa no tempo de sobrevivˆencia dos casos de SIDA. Pelas curvas obtidas pelo m´etodo de Kaplan-Meier, tamb´em se verificam essas diferen¸cas, uma vez que 75% dos casos do sexo feminino sobrevivem pelo menos 1,1 anos ap´os o diagn´ostico de SIDA, enquanto que 75% dos casos do sexo masculino sobrevivem pelo menos 0,7 anos ap´os o diagn´ostico de SIDA.

Ao analisar a vari´avel “naturalidade” dos casos, verifica-se n˜ao existir evidˆencia de diferen¸cas significativas para o per´ıodo de sobrevivˆencia entre a naturalidade portuguesa, a naturalidade africana e as outras naturalidades. Isto poder´a estar associado ao facto de os casos que s˜ao notificados e apresentam naturalidade africana, ou outra naturalidade, na verdade corresponderem a casos que j´a est˜ao a residir em Portugal h´a muitos anos e, portanto apresentarem as mesmas caracter´ısticas comportamentais que os de naturalidade portuguesa.

Pelos crit´erios descritos na literatura sabe-se que um caso com um n´umero de linf´ocitos T CD4+ inferior a 200/µL apresenta um maior risco de desenvolver SIDA,

e consequentemente falecer, do que um caso com um n´umero de linf´ocitos T CD4+

superior ou igual a 499/µL (Hanson et al., 1995; Phillips et al., 1991). No presente estudo, sabendo das limita¸c˜oes ao n´umero de casos em que a vari´avel ´e conhecida, podemos observar que os resultados obtidos v˜ao nesse sentido, ou seja, os casos dia- gnosticados com um n´umero de linf´ocitos T CD4+ superior ou igual a 499/µL tˆem 36,8% menos risco de falecer, relativamente aos casos com um n´umero de linf´ocitos