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4.3 Método de Análise

4.3.5 Ajuste de acelerogramas

Têm sido propostos vários métodos para compatibilizar acelerogramas (normalmente correspondentes a sismos reais) utilizando os espectros de resposta propostos nos regulamentos [3]. Na bibliografia consultada são apresentadas duas propostas para a geração e ajuste de acelerogramas:

1. Geração de acelerogramas artificiais a partir do espectro de potência [25]

2. Geração de acelerogramas adaptados a partir de registos reais usando o software

WavGen(wavlet-based aproach) [39, 40]

O primeiro método, descrito em [25], consiste em admitir que é possível, através da sobreposição de séries harmónicas, representar um acelerograma. Demonstra-se que, para gerar um sinal artificial, estacionário, basta dividir o espectro de potência num número elevado de bandas. A cada uma destas bandas é associado o valor do espectro de potência da frequência central da banda. Assim, calcula-se a amplitude associada a cada harmónica com a frequência central de cada banda. A série final corresponde à sobreposição de todas as harmónicas, associando a cada uma um ângulo de fase φK, gerado aleatoriamente com

distribuição uniforme entre 0 e 2π.

Este procedimento é bastante prático e pode ser sistematizado gerando vários acelerogramas com relativa eficiência. A principal dificuldade assenta na determinação do espectro de potência.

Por outro lado, o segundo método permite compatibilizar acelerogramas reais, correspondentes a um qualquer sismo (por exemplo, os sismos que constituem a base de dados do PEER), utilizando um espectro de resposta, que se designa por espectro de resposta objectivo. Recorre-se ao programa WavGen [39]. Neste caso utiliza-se o espectro de resposta elástico do EC8 para a zona de Lisboa como espectro objectivo, transformando os acelerogramas originais em acelerogramas com características em termos de frequência e amplitude compatíveis com o prescrito no espectro de resposta regulamentar.

Tendo como base um sismo real, pode afirmar-se que este segundo método é mais realista do que o primeiro, uma vez que na geração de acelerogramas através do espectro de potência o acelerograma era uma combinação de funções harmónicas. Desta forma, consideram-se características intrínsecas aos próprios acelerogramas reais que dificilmente se conseguiria obter na simulação com base na combinação de funções harmónicas.

O programa WavGen, usado para gerar acelerogramas compatíveis, baseia-se na transformada "wavelet". A ideia-chave é criar um processo iterativo de forma a modificar um determinado acelerograma de modo a que as variações temporais na frequência se mantenham do original para o compatibilizado [40].

O processo iterativo pode ser descrito como:

1. Decompor o acelerograma original num conjunto de "time-histories"com frequências diferentes utilizando a transformada "wavelet"

2. Cada "time-history"é ajustado, de forma iterativa, ao espectro de resposta objectivo definido, de modo a que o acelerograma conjunto seja compatível com o espectro de resposta

3. Obtenção do acelerograma final

Existem vários métodos para gerar acelerogramas compatíveis com determinado espectro de resposta. No entanto, a maior parte deles não contabiliza as variações, ao longo do tempo, da frequência do sismo (devidas aos diferentes tipos de ondas que chegam ao local de registo e à dispersão dessas mesmas ondas).

Foi também demonstrado que sistemas com resposta não-linear têm um comportamento bastante sensível às variações da frequência do sismo.

De seguida apresenta-se a formulação que está na base do programa WavGen e que pode também ser consultada em [40].

Se f(t) for uma função que pertença ao espaço ℜ, espaço de todas as funções de energia finitas, satisfaz a condição:

Z

|f(t)|2dt < ∞ (4.12)

então pode ser decomposta em coeficientes "wavelet" e ser reescrita usando a transformada

"wavelet", tal como descrito em [40].

Segundo [4], f(t) pode ser decomposta em N "time-histories": f (t) =

N

X

j=1

fj(t) (4.13)

Tal que fj(t) tenha determinada frequência (que não se repete em nenhuma outra), de

forma a que as N "time-histories"cubram todas as frequências de ωmina ωmax. fj(t) pode

ser escrita como:

fj(t) = K∆b aj × X i Wψf (aj; bi)ψ t − bi aj  (4.14) onde: ψ(t) = 1 π√σ − 1 × sen(σπt) − sen(πt) t (4.15)

4.3. MÉTODO DE ANÁLISE 103

com σ = 21/4 é a "wavelet" principal ou função base; a

j = 2j/4e bi = (i − 1)∆b são

parâmetros de escala e variação e: Wψ(aj; bi) = 1 √aj Z T 0 f (t)ψ t − bi aj  dt (4.16)

é o coeficiente "wavelet" para os parâmetros (aj; bi). Além disso:

K = 1 4πCψ  σ −σ1  (4.17) e: Cψ = Z ∞ −∞ ψ(ω)ˆ 2 |ω| dω (4.18) onde: ˆ ψ(ω) = √1 2π Z ∞ −∞ ψ(t)e−iωtdt (4.19)

é a transformada de Fourier da função base ψ(t). O valor de ∆b é 0,02s. Na Equação 4.13, no j-ésimo ponto, fj(t) tem energia no período

2a j

σ ; 2aj

 .

Ao modificar um dos "time-history", de forma a atingir o valor espectral objectivo para a frequência respectiva, está-se também a afectar os valores espectrais para outras frequências [40]. Como tal, os autores desenvolveram um esquema iterativo no qual cada registo é escalado de forma a atingir o valor médio do espectro de resposta para a frequência/período respectivo. Assim, na i-ésima iteração tem-se:

fj(i+1)(t) = fj(i)(t) × R2aj 2aj/σ[P SA(T )]objectivodT R2aj 2aj/σ[P SA (i)(T )] calculadodT (4.20) onde [P SA(T )]objectivo é o valor espectral objectivo no período T e [P SA(i)(T )]calculado

é a aceleração espectral calculada por: fi(t) =

N

X

j=1

fj(i)(t) (4.21)

através da integração da equação do movimento de um oscilador de período T.

O programa WavGen [39] requer os seguintes ficheiros para poder processar a compatibilização do acelerograma:

• Acelerograma

• Ficheiro com valores dos períodos onde se vai especificar a aceleração espectral • Espectro de resposta objectivo em acelerações

Depois de processar, o programa produz um ficheiro que contém o acelerograma compatibilizado à zona pretendida. O ajuste é feito com o espectro de resposta em acelerações. O ideal talvez fosse aproximar ao mesmo tempo o espectro de deslocamentos e de velocidades. No entanto, este software produz resultados razoáveis no ajuste destes a partir do espectro de acelerações.

Na Figura 4.6 apresenta-se o sismo de Northridge real e o mesmo sismo mas agora compatibilizado para a região de Lisboa, usando o programa WavGen com: aceleração do solo de 2m/s2e sismo tipo 1.

Na Figura 4.8 apresenta-se o conteúdo de frequências, obtidos através da FFT, desse mesmo sismo antes e depois de ser compatibilizado. Pode observar-se que as bandas de frequências elevadas passaram a ter maior relevância, nomeadamente, a partir de 10Hz. No entanto, as frequências preponderantes mantiveram-se inalteradas.

Na Figura 4.7 apresenta-se a comparação dos espectros de resposta em acelerações e deslocamentos do acelerograma do sismo de Northridge após a sua compatibilização ao sismo regulamentar do EC8 para uma aceleração do solo de 2m/s2e sismo tipo 1.

0 5 10 15 20 25 −0.6 −0.4 −0.2 0 0.2 0.4 Aceleração (x g) Sismo de Northridge 0 5 10 15 20 25 −0.4 −0.2 0 0.2 0.4 Aceleração (x g) Tempo (s)

Sismo de Northridge compatibilizado a Lisboa

Figura 4.6: Comparação entre o sismo de Northridge (acelerograma real) e o acelerograma compatibilizado à zona de Lisboa para uma aceleração do terreno de 2m/s2e sismo tipo 1

0 2 4 6 8 10 12 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 Ajustado Objectivo − EC8 0 2 4 6 8 10 12 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Ajustado Objectivo − EC8

Figura 4.7: Espectros de resposta, em deslocamentos (esquerda) e em acelerações (direita), do acelerograma do sismo de Northridge depois de ser compatibilizado ao espectro de resposta regulamentar para uma aceleração do terreno de 2m/s2e sismo tipo 1

4.4. CONCLUSÕES 105 0 5 10 15 20 25 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 Frequência (Hz) |Y(f)| Sismo de Northridge 0 5 10 15 20 25 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 Frequência (Hz) |Y(f)|

Sismo de Northridge compatibilizado a Lisboa

0 5 10 15 20 25 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Frequência (Hz) |Y(f)final/|Y(f)inicial|

Figura 4.8: Comparação do conteúdo de frequências do sismo de Northridge (acelerograma real) e o acelerograma compatibilizado à zona de Lisboa para uma aceleração do terreno de 2m/s2e sismo tipo 1

4.4 Conclusões

Neste capítulo foi apresentada uma formulação para a análise da segurança estrutural em cenários pós-sismo. Começou por se fazer uma breve introdução sobre os eventos que geralmente sucedem a um sismo de elevada magnitude, nomeadamente a importância da réplicas.

As réplicas, ainda que usualmente menos intensas que o sismo principal têm, não poucas vezes consequências mais graves que o próprio sismo. Este facto deve-se ao estado debilitado das estruturas após a ocorrência do abalo principal. Desta forma, é fundamental desenvolver métodos de análise estrutural que consigam prever o estado das estruturas após o sismo principal, com as alterações que daí resultaram no comportamento das mesmas, e que sejam capazes de aferir da sua segurança nesse período considerando os eventos secundários que se seguem ao sismo principal (e.g., incêndios, explosões e/ou réplicas).

Apresenta-se em primeiro lugar a abordagem do PEER [57] que tem resultado no desenvolvimento de uma metodologia designada de Aftershock Perfomance-Based

Earthquake Engineering. De seguida apresenta-se a formulação desenvolvida neste trabalho. Esta formulação engloba a ocorrência de três eventos. O primeiro é a ocorrência de um sismo principal com determinada aceleração máxima do terreno, o segundo a

ocorrência de um dano localizado na estrutura como consequência de um incêndio ou explosão e, por último, a ocorrência de uma réplica com determinada aceleração do terreno. Desenvolve-se uma equação que permite o cálculo da probabilidade de rotura total considerando estes cenários. Esta equação permite que o colapso, a acontecer, ocorra em três etapas distintas. Pode, por um lado, ocorrer durante o sismo principal, por outro lado, pode ocorrer após o sismo principal, como resultado do colapso parcial de um dos seus elementos. Ou, por último, pode ocorrer num cenário pós-sismo, devido à ocorrência de uma réplica.

Define-se os valores da aceleração do sismo principal recorrendo a amostragem estratificada. Os valores da aceleração da réplica que provoca o colapso são calculados recorrendo ao método da bissecção e considera-se que o dano localizado pode ser simulado através da remoção de um dos elementos estruturais. Além disso, considera-se que o sismo principal e a réplica são acontecimentos independentes, que a variabilidade nas propriedades da estrutura são desprezáveis quando comparadas com as acções, neste caso a acção sísmica e que os cenários de dano são numeráveis e independentes do sismo.

Assim a simulação é executada de duas formas distintas, primeiro considera-se a possibilidade de após o sismo principal poder ocorrer uma réplica ou, por outro lado, depois do sismo principal pode ocorrer um incêndio que danifique elementos estruturais e subsequentemente ocorrer uma réplica.

Com as considerações deste trabalho, desenvolve-se uma equação que permite o cálculo da probabilidade de rotura total nos diferentes cenários.

Procede-se à definição probabilística da aceleração sísmica. A aceleração máxima à superfície do terreno é tomada como variável aleatória. Utilizam-se acelerogramas reais descritos na base de dados do PEER [43] devidamente compatibilizados à região onde se encontra a estrutura. É descrito o método de compatibilização de acelerogramas usado neste trabalho.

A implementação é feita em MATLAB. Apresenta-se a descrição do programa e alguns fluxogramas explicativos.

Capítulo 5

Exemplo de Aplicação

5.1 Introdução

Neste capítulo aplica-se a metodologia desenvolvida a um caso de estudo que consiste numa estrutura metálica porticada dimensionada de acordo com o EC3 [28] e EC8 [29] para a região de Lisboa.

Procede-se a uma definição probabilística da acção sísmica principal e da réplica. São realizadas no OpenSees um número suficiente de análises física e geometricamente não lineares que permitam a obtenção de resultados com relevância estatística e consequente informação sobre a robustez estrutural.

Tal como referido, os valores da aceleração do sismo principal a considerar são definidos recorrendo a amostragem estratificada.

É gerado um vector com valores da probabilidade acumulada, sendo posteriormente convertidos em valores das acelerações do terreno do sismo principal. Assim para os sismos tipo 1 e 2 os valores da probabilidade acumulada e respectivos valores de aceleração são apresentados na Tabela 5.1.

Os valores das acelerações foram obtidos através das funções de probabilidade calculadas anteriormente com distribuição log-Normal.

Uma vez definida a amostragem dos valores da aceleração do sismo principal, a soma das probabilidades de ocorrência de todos os valores considerados na amostragem das acelerações do sismo principal, para cada tipo de sismo, deve ser igual à unidade. Atente-se à Figura 5.1 onde se representam as probabilidades de ocorrência de cada uma das acelerações. As acelerações estão assinaldas a traço interrompido e as diferentes cores pretendem representar as áreas de influência de cada aceleração, ou seja, a sua probabilidade de ocorrência.