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Além disso, o item 8.3.8 (letra c) da mencionada Decisão recomendou à

conservação dos livros do PNBE

6. Infra-estrutura das escolas para a utilização dos acervos

6.4. Além disso, o item 8.3.8 (letra c) da mencionada Decisão recomendou à

SEB e ao FNDE a criação de um Gru- po de Coordenação para integrar ações do PNBE com as de outros programas afins que poderiam contribuir para melhorar a infra-estrutura das escolas:

8.3.8. criem um Grupo de Coordena- ção que vise a estabelecer a integração das ações do PNBE com as de outros programas afins [...], com o objetivo de implementar as seguintes medidas, en- tre outras [...]:

[...] c) melhoria das condições de fun- cionamento das bibliotecas, por meio, por exemplo, do Projeto de Adequação dos Prédios Escolares, dos Padrões Mínimos de Funcionamento das Escolas, do Pro- grama Dinheiro Direto na Escola e do Escola Ativa; [...]

6.5. O segundo monitoramento conside- rou em implementação a recomen- dação da letra a do item 8.3.2 da Decisão n. 660/2002-P. Entendeu-se que a ação Casa da Leitura atende- ria, ao menos em parte, essa recomen- dação. No tocante à letra b, esta não teria sido implementada.

6.6. Segundo os gestores federais, o PNBE que será executado em 2005 está sendo concebido dentro de uma nova polí- tica para o livro, leitura e bibliotecas, no qual, além da distribuição dos acer- vos, haja o desenvolvimento de ações que promovam a mediação peda- gógica e incentivem a implantação e dinamização de bibliotecas escolares.

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6.7. O MEC, por meio da SEB e FNDE, juntamente com o Ministério da Cul- tura, vem discutindo a criação de uma Política Nacional do Livro, Lei- tura e Biblioteca, que, por meio da instituição de um Conselho Nacio- nal do Livro, Leitura e Bibliotecas, estabelecerá ações de iniciativa do governo federal para essa área. Essas propostas, dentre outras, serão obje- to de Decreto Presidencial que pre- tende regulamentar a Lei n. 10.753/ 2003, que instituiu a Política Nacio- nal do Livro e é o instrumento legal que está embasando essas discussões. 6.8. A recomendação do item 8.3.8, letra c, foi considerada em imple- mentação, visto que houve institui- ção de Grupo de Coordenação (Por- taria do Ministério da Educação n. 2.069/2003) para estabelecer a

integração das ações do PNBE com programas afins, contando com repre- sentante do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), do Mi- nistério da Cultura. Restou penden- te, entretanto, a efetiva atuação do Grupo de Coordenação, assim como a realização das atividades que vies- sem a ser propostas por ele. O Plano de Ação apresentado pelos gestores ao TCU estabeleceu o mês de de- zembro de 2004 como prazo para a implementação da recomendação. 6.9. Ao verificar a situação atual quanto

ao ambiente no qual os alunos podem ter acesso aos livros, a tabulação dos dados dos questionários respondidos pelas escolas mostrou que o principal é a biblioteca (70,8%), seguido pela sala de aula (26,4%) e sala de leitura (17,5%), conforme gráfico 7.

Gráfico 7 – Local de disposição dos livros na escola para consulta dos alunos

Fonte: pesquisa com escolas da rede pública de ensino fundamental (out./nov. 2004)

6.10. Em relação à existência de bibliotecas, os dados do Saeb/2003 mostram que prati- camente não houve alteração da situação de 1999 para 2003: dos estudantes de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, 44,1% estavam matriculados em estabelecimen- tos de ensino com biblioteca em 1999, enquanto em 2003 o índice foi de 45,9%. Ao serem questionadas sobre o período durante o qual a biblioteca permanece aberta (Gráfico 8), os períodos da manhã e tarde foram os mais indicados pelas escolas, com 77,2% e 76,4%, respectivamente. A pesquisa mostrou, também, que 16,5% das escolas não possuíam biblioteca ou, caso esta existisse, encontrava-se desativada.

6.11. Além disso, 26% dessas escolas afirmaram possuir algum tipo de biblioteca mó- vel, o que pode suprir limitações com relação à inexistência de espaço físico para biblioteca. Para enfrentar tais dificuldades, foram identificadas pela equipe de auditoria algumas boas práticas que merecem registro. A biblioteca itinerante da Secretaria Municipal de Educação de Luziânia/GO, por exemplo, intitulada “Cai- xa do Livro”, que funciona especialmente na zona rural, permanece por aproxi- madamente dois meses em cada escola. Projeto semelhante é a “Mala do Livro”, desenvolvido pelo Governo do Distrito Federal (Figura 2), que atende também municípios do entorno.

Gráfico 8 – Período em que a biblioteca da escola permanece aberta

Fonte: pesquisa com escolas da rede pública de ensino fundamental (out./ nov. 2004)

Figura 2 – Mala do Livro – Governo do Distrito Federal

Foto: ACE Paulo Henrique Medeiros. Em escola de Luziânia.

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6.12. A Secretaria da Educação e Cultura do Tocantins, por sua vez, determinou2

que cada biblioteca deve ter uma área mínima de 37 m² para 25 alunos, com responsável em tempo integral. 6.13. Os dados do Saeb 2003 mostram que a

existência e a utilização efetiva da bi- blioteca influencia o desempenho dos alunos em leitura. Para a 4ª série, quan- do não existe esse tipo de recurso para os estudantes, o resultado do teste de leitura é em média de 153 pontos. Quan- do até 25% dos alunos da escola fazem uso da biblioteca, a média de proficiên- cia em leitura é de 168 pontos. Quan- do mais de 75% dos alunos utilizam a biblioteca regularmente, a média sobe para 181 pontos. Logo, a limitação quan- to à inexistência de local apropriado para leitura traz impactos negativos so- bre a efetividade do PNBE.

6.14. Quanto aos dados do Censo Escolar 2003 para a 4ª e 8ª séries do ensino fun- damental (público-alvo da ação “Li- teratura em Minha Casa”), as tabelas 3 e 4 auxiliam a entender a dimensão do problema de falta de bibliotecas nas

escolas públicas, o que pode afetar ne- gativamente o desempenho em leitu- ra dos alunos.

6.15. Com base nas informações da tabela 3, verifica-se um baixo percentual de escolas municipais que possuíam bi- blioteca em 2003 (18,7%). As maio- res deficiências estão nas escolas ru- rais, onde 4,8% das que oferecem a 4ª série e 29,2% das que oferecem a 8ª série possuem biblioteca. No pri- meiro caso, por exemplo, significa uma limitação imposta a cerca de 777 mil alunos matriculados na 4ª série em 2003 nesses estabelecimentos. 6.16. Mesmo na rede estadual, que possui

melhor infra-estrutura de atendimen- to quando o assunto é biblioteca, alu- nos de escolas rurais levam enorme desvantagem em relação àqueles que estudam em escolas urbanas. Das es- colas estaduais rurais que ministra- vam a 4ª série em 2003, 22,2% dispu- nham de biblioteca, situação bem aquém das 63% de escolas urbanas. No caso da 8ª série também há desi- gualdade, visto que 57,7% das esco-

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2 Art. 6º da Instrução Normativa n. 2, de 15 de fevereiro de 2002, da Secretaria da Educação e Cultura do Tocantins.

Tabela 3 – Escolas, escolas com biblioteca e matrículas no ensino fundamental de 4a e 8a série em 2003, por dependência administra- tiva e localização

Fonte: Censo Escolar 2003 (Inep/MEC)

las rurais possuíam biblioteca, em contraposição a 77,8% das escolas urbanas com essa infra-estrutura. 6.17. Do ponto de vista da esfera de go-

verno à qual a escola pertence, a aná- lise da tabela 4 permite afirmar que a situação é mais crítica para a 4ª série da rede municipal, pois apenas 14,3% das escolas que oferecem essa série possuem biblioteca. Na rede es- tadual, esse percentual sobe para 51,6%. Considerando o total de es- colas estaduais e municipais que ofe- recem a 4ª série (124.351 escolas), apenas 20,8% destas possuem biblio- teca, período no qual o incentivo à leitura é mais necessário, enquanto esse percentual sobe a 63,2% para aquelas que oferecem a 8ª série. 6.18. Cabe observar ainda que a rede mu-

nicipal concentrava, em 2003, 65,7% do total de alunos matriculados de 1ª a 4ª séries do ensino fundamen- tal, em todo o país, consideradas as esferas federal, estadual, municipal e a rede privada (Inep, Censo Esco- lar, 2003).

6.19. A partir dos dados apresentados nas tabelas 3 e 4, nota-se que o progra- ma pode ter uma efetividade menor em escolas da esfera municipal e em áreas rurais onde o percentual de bi- bliotecas é baixo, trazendo impacto negativo no desempenho dos alunos em leitura, conforme se constata pe-

las informações do Saeb 2003. Essa constatação acaba se traduzindo em baixas pontuações de competências em Língua Portuguesa nas escolas que se encontram nesse universo, especialmente para a 4ª série. 6.20. Verifica-se que um dos grandes em-

pecilhos à utilização mais efetiva do material distribuído pelo PNBE é a falta de infra-estrutura adequada na maior parte das escolas brasileiras. A escassez de recursos para dotar as escolas com bibliotecas de boa qua- lidade acaba restringindo os ganhos em competência de leitura, que os alunos poderiam ter caso tivessem à sua disposição um local apropriado para essa prática. O acesso facilita- do e um ambiente agradável para a prá- tica da leitura possibilitariam maior interesse por essa atividade no am- biente escolar.

6.21. Como a maior parte dos alunos de 1ª a 4ª séries estão matriculados em es- colas da rede municipal, exatamen- te onde a ausência de bibliotecas é maior, percebe-se o grande desafio em incremento de infra-estrutura para que o PNBE passe a ter maiores ganhos em efetividade, o que traria reflexos positivos para as habilidades em Língua Portuguesa dos alunos beneficiários do programa.

6.22. O questionário respondido pelos alu- nos das escolas visitadas mostrou que

Tabela 4 – Escolas e escolas com biblioteca no ensino fundamental de 4a e 8a série em 2003,

por dependência administrativa

Fonte: Censo Escolar 2003 (Inep/MEC)

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a própria casa é o local mais utilizado para leitura por aqueles que estão tanto na 4ª como na 8ª série. Como segunda opção, a sala de aula foi o local informado pela 4ª série, enquanto a biblioteca é o segundo local mais utilizado pelos alunos da 8ª série, conforme a tabela 5. Metade dos professores dessas mesmas escolas afirmou que utiliza com freqüência a biblioteca ou sala de leitura de suas escolas para atividade pedagógicas.

6.23. Ante o exposto, observa-se o seguinte quadro em relação às recomendações do TCU relacionadas a este capítulo:

6.23.1. Considera-se parcialmente implementada a recomendação 8.3.2, item a, da Decisão n. 660/2002 – Plenário. Nota-se que a resolução da falta de estrutura física de biblioteca perpassa todas as esferas de governo e mesmo instituições da sociedade civil, como o terceiro setor e a iniciativa privada, sendo reduzidas as possibilidades de atuação dos estabelecimentos de ensino sem que sejam destina- dos recursos para suprir essa deficiência.

6.23.2. De igual modo, espera-se atuação mais efetiva do Grupo de Coordenação estabe- lecido pelo Ministério da Educação para integrar as ações do PNBE a outros pro- gramas desse mesmo ministério, e mesmo com outros programas governamentais, entre os quais o melhor exemplo é o Proler, do Ministério da Cultura. Sendo assim, considera-se a recomendação 8.3.8, item c, como parcialmente implementada. 6.23.3. Como forma de minimizar o problema, ganham importância as ações preconizadas

no Plano Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas – Fome de Livro3, do Ministério

da Cultura, que visam à implantação de bibliotecas públicas, que poderiam com- plementar a disponibilidade de espaços de leitura em áreas nas quais as escolas não dispõem de bibliotecas.

6.23.4. Considera-se que restaram não implementadas, no entanto, medidas para dar cumprimento à recomendação da letra b do item 8.3.2 da Decisão n. 660/2002–P.

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3 Programa do governo federal coordenado pelo Ministério da Cultura, que tem a participação de ministérios, governos estaduais, prefeituras e organizações não-governamentais, com o objetivo, entre outros, de implantar bibliotecas públicas nos municípios brasileiros que não dispõem dessas instalações.

Tabela 5 – Local de utilização dos livros de literatura pelos alunos – 4a e 8a séries do ensino

fundamental

Fonte: entrevista com alunos da rede pública de ensino fundamental (nov. 2004).