Além do Mapa

O webdocumentário Além do Mapa207 (Google Arts & Culture, 2016) traz o georreferenciamento de locais e vídeos com histórias de moradores de comunidades das favelas do Rio de Janeiro, uma produção que marca o mapeamento das favelas que foi realizado para o Google Street View, como resultado de parceria integrada pela empresa para levar ao Google Maps as ruas, as residências e os comércios dessas comunidades do município.

O mapeamento das favelas foi realizado pelo grupo AfroReggae, também organizador do site que divulga o projeto de mesmo nome, Tá no Mapa208. O objetivo

207 _{Disponível em: https://beyondthemap.withgoogle.com/pt-br/beyond-the-map. Acesso em: 17 jan. 2017.} 208 O projeto Tá no Mapa, de acordo com o site de mesmo nome, “tem como objetivo mapear e dar visibilidade

às favelas que não aparecem nos mapas da Internet. Mais do que inserir as comunidades no mundo digital e nos mapas oficiais da cidade, queremos promover a cidadania, o crescimento do mercado local e o acesso a serviços públicos”. Disponível em: http://www.tanomapa.org/#content-home. Acesso em: 17 jan. 2017.

específico do AfroReggae com a iniciativa é de, ao mapear as favelas da cidade, dar visibilidade às suas comunidades no mundo digital. Os mapas do Rio de Janeiro no Google Maps, até então, se interrompiam nos limites das favelas e as apresentava em blocos cinzas, impedindo sua navegação de forma precisa.

A navegação em Além do Mapa pode ser realizada por meio de recursos como: vídeo 360 graus, realidade virtual (Google Street View), intervenções gráficas com fotos e textos para navegação adicional, além de um mapa georreferenciado que vem a ser uma opção de percurso para se conhecer as histórias, projetos e grupos de música e dança, como o da comunidade do Vidigal.

Ao acessar o site, um vídeo introdutório apresenta imagens do dia a dia e discorre sobre a cidade do Rio de Janeiro, destacando os dois lados que a dividem: o turístico, com bairros e praias famosos e conhecidos, e o das favelas. É informado que 1,4 milhão de pessoas residem nas comunidades, sendo o usuário incentivado a conhecê-las e às histórias dos moradores, buscando desmistificar a ideia de que nas favelas só existe violência, tema recorrentemente divulgado nas notícias sobre a cidade.

Outro vídeo conseguinte traz um apresentador na rua, incentivando o usuário a entrar no “Morro de São Carlos” acompanhando mototáxis - e como se estivesse em um deles (figura 81).

Figura 81 – Interface inicial de navegação é imersiva, em Além do Mapa

Fonte: https://beyondthemap.withgoogle.com/pt-br/beyond-the-map.

Nessa interface, o usuário pode prosseguir pelas ruas da comunidade de moto ou selecionar outras opções em um menu de navegação, entre elas: explorar a rua com uma visão

360 graus em “Clique e arraste para explorar”; selecionar “Próxima parada”, para chegar ao topo do Morro e obter novas informações e histórias sobre a comunidade; clicar no marcador (pin) de geolocalização para abrir o mapa georreferenciado e, a partir deste ponto, navegar pelos 8 episódios que compõem o projeto (figura 82).

Figura 82 –Navegação por meio de mapa georreferenciado, em Além do Mapa

Fonte: https://beyondthemap.withgoogle.com/pt-br/beyond-the-map.

Figura 83 – Navegação por meio de hiperlinks com episódios, em Além do Mapa

Fonte: https://beyondthemap.withgoogle.com/pt-br/beyond-the-map.

O usuário, a partir dessa outra interface, pode clicar em um ícone branco (figura 82) no canto inferior esquerdo da tela e acessar diretamente um mosaico com hiperlinks para todos os vídeos dos episódios (figura 83). Alguns vídeos tratam sobre moradores, cujos

marcadores, ao serem apontados com o cursor do mouse, trazem os títulos “A história do Luís”, “A história de Paloma” e “A história do Ricardo”. Outros marcadores levam à navegação sobre atividades de grupos artísticos e culturais, intitulados “Hip-hop”, “Percussão” e “Vidigal”. Um dos episódios apresenta um vídeo com um depoimento sobre a importância do projeto “Tá no mapa”, uma parceria entre o Google e o AfroReggae dedicada ao mapeamento das favelas para mudar a realidade de quase 1,5 milhão de pessoas que ali residem e não possuem endereço. Todos os 8 episódios podem ser explorados por meio de hiperlinks nas imagens de vídeos, por meio de setas direcionais exibidas na lateral da interface sempre identificadas como “Próxima parada” ou por meio do marcador de geolocalização no canto inferior esquerdo, o qual identifica a comunidade na qual se está navegando e dá acesso ao mapa georreferenciado da cidade do Rio de Janeiro.

Figura 84 – Navegação traz opções para o Street View e vídeo com depoimento, em Além do Mapa

Em alguns episódios, além da exploração física dos locais por meio do Google Street View (figura 84), é possível assistir a vídeos com depoimentos de diversos moradores acerca da vida e do comércio nas comunidades ou narrativas sobre a história do Rio de Janeiro, que tratam sobre suas características sociais, como o papel que o futebol representou na convivência entre pessoas de raças e condições sociais diferenciadas.

O webdocumentário Além do Mapa, ao explorar a vida das comunidades nas favelas do Rio de Janeiro, apresenta abordagem centrada em relação ao tema decorrente da delimitação do espaço e tempo, levando a um tipo de navegação disseminada, ou seja, ela implica que o usuário faça um conjunto de escolhas por entre os conteúdos disponibilizados em menus e submenus. Um exemplo de obra que, segundo Penafria (2013), pode estimular a criação de outras, com novos pontos de vista ou com nova estrutura relacionada à organização de seus conteúdos e, assim, outro conjunto de escolhas que se tornam possíveis.

O projeto apresenta uma lógica de interatividade a partir de uma armazenagem limitada e uma computação fechada em camadas estabelecidas pelo autor, definindo para o usuário um comportamento pré-definido em uma única função - a exploratória. A navegação através de hiperlinks entre os segmentos, a partir de cada impulso, resulta em um único resultado. Características que fazem dessa produção um outro exemplo de documentário interativo no modo de interação hipertextual, com uma lógica de ligação reativa na interface. Ainda que o mapamento seja um processo em curso, com a perspectiva de aumento da base de dados, não há indicação clara do projeto quanto à perspectiva de se tornar aberto à alteração pelos usuários, sejam eles novos ou antigos residentes nas comunidades das favelas do Rio de Janeiro.