• Nenhum resultado encontrado

UM DIA NA ALDEIA KAKANÉ PORÃ

No dia 29 de abril de 2015 foi realizada uma visita à aldeia Kakané Porã (ilustração 24), situada no município Fazenda Rio Grande. Tal visita teve como objetivo o enriquecimento do trabalho, de forma a explorar um olhar mais fresco e atualizado sobre a cultura e a sociedade Kaingang vividas atualmente, além de buscar novas referências visuais da tribo no cenário em questão. Nessa aldeia

residem 35 famílias indígenas, sendo elas de diferentes tribos: Kaingang, Guarani e Xetá.

Ilustração 24 - Aldeia Kakané Porã. Fonte - As autoras (2015).

Durante a visita à aldeia e conversa informal com o índio Kaingang Carlos Alberto Luiz dos Santos (ilustração 25), que identificou-se como sendo do clã Kamé, pode-se perceber como os antigos costumes têm sido cada vez menos praticados, devido às novas necessidades e diferentes estilos de vida dos indígenas, que atualmente vivem mais próximos dos centros urbanos.

Carlos enfatiza que os direitos dos indígenas Kaingang têm sido tensionados pelo governo, enfraquecendo gradativamente o poder da sua cultura e as suas tradições com o passar dos anos. Reflexo disso é a tendência dos índios da mata migrarem para as cidades grandes a fim de encontrar emprego, absorvendo assim, cada vez mais aspectos da cultura urbana.

Ilustração 25 - Carlos Alberto Luiz dos Santos. Fonte - As autoras (2015).

Para Carlos, uma das maiores perdas que vêm ocorrendo diz respeito à língua Kaingang, a qual, por falta de verba destinada à disseminação da cultura indígena dentro da própria tribo, não tem sido lecionada dentro das escolas. Um dos costumes antigos mais conhecidos e que ainda é ensinado de pai para filho é o artesanato. A fonte de sustento vinda do artesanato é essencial para todas as famílias da aldeia, porém, por não gerar lucros suficientes, há a necessidade de se buscar um segundo trabalho nos centros urbanos.

Atualmente, as pinturas corporais são feitas com tinta guache, utilizando-se de diversas cores, sendo realizadas apenas em festas dentro da aldeia como no “Dia do índio”. O artesanato tem utilizado diversas fibras sintéticas e coloridas artificialmente (Ilustração 26).

Ilustração 26 - Arcos feitos artesanalmente. Fonte - As autoras (2015).

Ao contar sobre as lendas e crenças Kaingang, Carlos enfatiza o quão verdadeiro são aquelas palavras para ele, apesar da sua crença no catolicismo. Segundo Carlos, ainda hoje a tribo pratica a tradição de que um índio Kamé só pode se casar com uma índia Kainru e vice-versa. Entretanto, caso um homem Kaingang queira se casar com uma mulher não pertencente à tribo, essa passa automaticamente a pertencer à metade complementar a de seu marido; porém, caso uma mulher Kaingang queira se casar com um homem não pertencente à tribo, essa é expulsa do meio.

Pode-se perceber, através dos relatos de Carlos, a revolta da comunidade indígena com relação à perda de seus direitos sobre a sua terra de origem assim como a falta de incentivo social pelo governo direcionado à cultura. Ao fim da visita, Carlos falou em sua língua nativa a frase “Olhem para nós”, a fim de chamar a atenção social para os problemas que os índios estão enfrentando atualmente e assim ganhar força em defesa de suas causas.

3 DESIGN DE ESTAMPARIA

Os objetos e seus respectivos tratamentos superficiais estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas: fórmicas, painéis e tapetes de carros, azulejos, papéis de presente, couros ecológicos, porcelanas, roupas, calçadas e etc. Segundo Rüthschilling (2008), as superfícies são elementos delimitadores das formas, objetos ou parte de objetos em que o comprimento e a largura são medidas significantemente superiores à espessura, sendo assim, elas estão presentes em nosso dia-a-dia sendo um forte recurso para a expressão humana.

O design de superfície, termo introduzido no Brasil pela designer Renata Rubim nos anos 80, é uma área ainda pouco explorada no país. Ele diz respeito ao tratamento de toda e qualquer superfície, sendo esta concreta ou virtual (RÜTHSCHILLING, 2008). Através da exploração de técnicas e criatividade, a atividade do design de superfície desenvolve tratamentos bi e tridimensionais idealizados especialmente para superfícies, sendo estas texturas visuais e táteis, a trazer resultados adequados aos diferentes materiais e processos de fabricação.

Além dos atributos práticos (acabamento, resistência, praticidade na limpeza, proteção, aderência e etc.) que pode conferir ao produto, também é capaz de atribuir à superfície uma carga comunicativa capaz de evocar significados que podem ser percebidos culturalmente pelos usuários através da linguagem das cores, texturas e grafismos (FREITAS, 2011).

Segundo Rüthschilling (2008), a área de design de superfície com maior aplicação e maior variedade de técnicas é a têxtil, que engloba tecidos e não- tecidos. O design têxtil subdivide-se em outras áreas mais específicas: tecelagem, malharia, estamparia, tinturaria, assim como a aplicação de bordados e aviamentos (Ilustração 27).

Ilustração 27 - Exemplos de métodos de design têxtil. Fonte – As autoras, baseado em imagens da internet (2015).

Para Pompas (1994), uma superfície do tipo têxtil é composta pela peculiaridade da matéria, que influencia na composição do tecido, especificando-o do ponto de vista da estrutura técnico-construtiva. Ela também pode ser composta por aspectos estilísticos e cromáticos, que aliados à sua estrutura, determinam a qualidade estético-expressiva do tecido a partir dos sentidos da visão e do tato.

O design de estamparia, que é uma subárea do design têxtil, tem como objetivo o projeto de estampas que serão impressas sobre tecidos. Nas palavras de Chataiginier (2006, p. 82), um dos propósitos da estampa é a de tornar o tecido mais atrativo e "chamar a atenção de um possível usuário e, claro, a de renovar a moda permanentemente e conquistar novas posições no mercado consumidor”. E especialmente, trata-se de um veículo de comunicação, expressando mensagens capazes de influenciar os modos de pensar e de agir da sociedade.

Documentos relacionados