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2.3 A gestão ambiental em Forças Armadas de outros países

2.3.2 Alemanha

Campos (2003) mostra que no velho continente, dois fatores agem favoravelmente à preservação ambiental: o elevado nível cultural e a falta de espaço físico. Afirma que na Alemanha isso é muito evidente, as preocupações ambientais são enormes e que o Ministério da Defesa Alemão expediu, em 1996, um caderno de instrução - Umweltschutz, válido até hoje, que trata do assunto com riqueza de detalhes.

Também, segundo o mesmo autor, lá o adestramento é realizado em campos de instrução e em áreas particulares ou públicas, chamadas de terrenos abertos. Mesmo nos campos de instrução, há a idéia de preservá-los do uso sempre que possível. Para isso, utiliza-

se ao máximo simuladores, reduzindo-se assim o tempo de permanência em campos de instrução.

Ressalta ainda que, ao tratar da associação da tecnologia à proteção ambiental, revela que essa Força dispõe de estações de medição móveis, sendo que três medem poluentes sólidos e duas medem os sonoros. Desde 1992, está em curso o projeto Proteção ao Meio Ambiente no Ramo de Armamento Militar, que estabelece o comprometimento da produção de todo armamento e a sua compatibilização com a proteção ambiental.

Em resumo, o autor destaca as ações daquelas Forças na rigorosa observância no controle das águas, sendo que toda água servida deve ser tratada em estações próprias. O controle dos combustíveis segue regras rígidas. Por segurança, a maioria dos transportes é realizada por oleodutos militares e nenhum combustível deve ser lançado ao solo, sendo proibido abastecer viaturas no campo e para os abastecimentos fora dos postos específicos devem ser utilizados equipamentos especiais para a proteção ambiental que se encontram em cada viatura. Desenvolveram rigorosas regras próprias para manterem as suas emissões de poluição sonora abaixo do 1% tolerado para o restante do país. Os campos de instrução são submetidos ao rodízio periódico de áreas (manejo), havendo um plano especifico, desde 1991, para cada área de instrução.

2.3.3 Portugal

De acordo com Campos (2003), em 2001, o Gabinete do Ministro do Ministério da Defesa Nacional, entendendo que os requisitos operacionais adequados ao cumprimento das missões atribuídas às forças armadas, por implicarem uma estreita interação com o ambiente, expediu as diretrizes - A Proteção Ambiental nas Forças Armadas Portuguesas. Essas

diretrizes definiram que, em tempo de paz, a missão dessas forças deverá ser cumprida de acordo com a legislação ambiental, devendo, para tanto, buscar o seguinte:

- considerar o meio ambiente em todos os planejamentos e atividades;

- incorporar considerações ambientais nos projetos de desenvolvimento de novos sistemas de armas, bem como, no processo de aquisição de novos equipamentos;

- prevenir a poluição, minimizando o uso de substâncias prejudiciais à natureza e à produção de resíduos;

- prevenir a poluição, introduzindo melhorias que evitem a sua dispersão

acidental;

- poupar energia e os recursos não-renováveis; - reduzir a emissão de ruídos;

- promover a biodiversidade;

- promover a consciência ambiental de todo o pessoal militar e civil das Forças Armadas;

- promover a formação e o treinamento ambiental nas forças armadas; - esforçar-se por introduzir melhorias contínuas na área ambiental; e - apoiar a sociedade civil em caso de desastre ambiental.

Campos (2003) observa que o Comando de Instrução do Exército português reconheceu explicitamente, a sua missão, incorporando nos seus programas de ação a necessidade e o valor da instrução e também a prontidão dos quadros e tropas no contexto da proteção ambiental. Para isso, ele previu um programa de instrução em todos os níveis, desde o de formação até ao de altos estudos. Na sua Academia Militar se estabeleceu uma matéria durante todo o primeiro ano e no curso de altos estudos houve a previsão de palestras e de trabalhos em grupo sobre proteção do meio ambiente.

2.3.4 Espanha

Segundo Campos (2003) o Exército Espanhol tem procurado respeitar e conservar as regiões onde se desenvolvem as suas atividades de adestramento. Além disso, ele sempre esteve atuante quando a nação espanhola teve que atacar problemas derivados de inúmeros acidentes ecológicos como incêndios florestais, inundações e vazamentos de petróleo.

Acrescente-se a isso, segundo o mesmo autor, que a Chefia do Estado-Maior do Exército, visando a que o respeito ao meio ambiente seja sempre uma realidade tangível, em todo instante e em qualquer atividade militar, estabeleceu como princípios de atuação: o respeito à legislação vigente, a compatibilização do desenvolvimento sustentável com a missão do Exército; o incremento da prevenção da contaminação, conservação, proteção e, se necessário, a recuperação das condições do meio ambiente em todas as áreas onde o exército está instalado ou utiliza para adestramento; o desenvolvimento das normas ambientais regulamentares; o estimulo da conscientização ambiental em todos os integrantes da Força; a consideração dos aspectos ambientais nas tomadas de decisões que suponha o seu emprego.

Ainda, segundo o mesmo autor, quanto à formação e conscientização, há anualmente diversos cursos e seminários sobre gestão ambiental para oficiais e praças e que para avaliação das ações em curso, esse Exército adotou procedimento aplicado pela norma internacional ISO 14.001.

2.3.5 França

Segundo Campos (2003) o Exército Francês é um dos maiores proprietários de terras daquele país. Possui cerca de 180.000 hectares, sendo a sua maior parte destinada a campos de instrução militar. Como norma, desenvolve uma intensa campanha de preservação ambiental, obrigando inclusive o estabelecimento de unidades específicas para verificar, considerando os riscos tecnológicos e naturais, o pessoal e o meio ambiente.

O mesmo autor afirma ainda que, para o Exército, as ações ambientais correspondem às preocupações de três ordens: ética, jurídica e social. A ética é decorrente do respeito ao meio ambiente. A jurídica observa o cumprimento às leis do direito comum e que se aplicam ao Ministério da Defesa. A social enfatiza a proteção do meio como um tema fundamental de ligação Exército-Nação, pois esse é um dos assuntos de principal interesse da sociedade.

No dizer de Campos (2003), para aquele Exército, a proteção ambiental não é considerada um constrangimento, em razão de custos ou da obrigatoriedade na modificação de práticas e de equipamentos. O seu engajamento se traduz na busca da melhoria em termos de eficácia, credibilidade e transparência. Qualquer que seja a orientação dada ao Exército ficam assinalados, sempre, três objetivos: a manutenção da sua capacidade de atuação; o incremento de uma cultura ambiental no pessoal, e a melhoria da sua imagem perante o público.

2.3.6 OTAN

Para Campos (2003) a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (OTAN) dispôs para os seus dezenove Estados membros um acordo, denominado STANAG 7141 –

Doutrina Comum da OTAN para a Proteção Ambiental durante as Operações e Exercícios conduzidos pela Organização. O objetivo desse acordo é o de indicar a doutrina ambiental para as operações e exercícios conduzidos por ela e fornecer as orientações no planejamento ambiental para todas as atividades militares.

O autor destaca que, quanto à prevenção da poluição e à preservação de recursos, o grande objetivo está no impedimento da poluição futura. Isso pode ocorrer na conservação dos recursos, na redução do uso de materiais perigosos e na minimização da liberação de poluentes para o ambiente. Para tal, há cinco providências que um comandante da OTAN poderá adotar para fazê-lo: reduzir a fonte, reutilizar, tratar e, como último recurso, destruir.

Completa, enfatizando que a organização vem estimulando a conscientização das suas Forças através de um efetivo programa de educação ambiental. Para tanto, tem estimulado cada país a fazer a sua própria preparação e coloca à disposição dos mesmos a sua Escola em Oberammergau, na Alemanha, especializada nos aspectos ambientais, para a preparação mais adequada.

2.3.7 Argentina

No trabalho de Campos (2003), verifica-se que nas ações ambientais realizadas pelo exército Argentino, a política ambiental tem sido considerada para a redefinição das missões militares. A preservação da biodiversidade em relação às atividades de defesa e do adestramento militar; do meio marinho pela eventual contaminação proveniente de navios de guerra; da atmosfera pelo ruído e das emissões das aeronaves militares; do solo pelas operações terrestres são alguns exemplos claros que ajudam a definir a relação entre defesa e meio ambiente.

O autor destaca que a política ambiental, desenvolvida pela Comissão do Meio Ambiente do Ministério da Defesa, com a participação das forças armadas e outros organismos, está orientada em dois sentidos: no sentido interno, orientando a condução ambientalmente responsável das atividades militares e, no sentido externo (fora das instituições militares), onde considera a cooperação nacional e internacional. Para tal, são apreciadas as capacidades, a logística e o atual desdobramento das organizações militares por todo o país para cooperar com as autoridades civis tanto em situações de catástrofes naturais como na prevenção e na recuperação do meio ambiente.

Ressalta ainda, que um aspecto muito interessante é a obrigatoriedade de designação em todas as organizações militares de um Oficial de Meio Ambiente que, sob a supervisão do Oficial de Operações, tem a responsabilidade de estudar e assessorar em todos os aspectos relativos ao meio ambiente da Unidade a que pertence e de exercer atividades como: contribuir para a preservação do meio ambiente no âmbito onde a sua unidade desenvolve as atividades de guarnição e de adestramento; desenvolver as atividades na guarnição com o mínimo impacto negativo ao meio ambiente e o máximo de impacto positivo, conscientizar e difundir ao público interno o respeito às leis; disposições e regulamentos estabelecidos pelas forças e pelas esferas da administração pública; confeccionar as Normas de preservação do meio ambiente da Organização Militar, estabelecendo uma avaliação da incidência dos fatores contaminantes da atmosfera, do solo e da água, os efeitos da degradação ambiental e quais são as atividades a desenvolver na unidade para evitá-los.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Aspectos Gerais

Nesta dissertação, adotou-se a metodologia utilizada por Bonnet (2003) em seu estudo de caso da Base Aérea de Anápolis, porém adaptada ao caso do CIF, justificando as opções adotadas quando estas divergiram do modelo adotado no Comando da Aeronáutica, bem como as etapas previstas nas Normas da série ISO 14001.

O desenvolvimento do trabalho proposto baseou-se em dados primários, a partir de um levantamento de dados qualitativos, de cunho exploratório. Fontes de dados primários ou diretos, segundo Mattar (1997 apud Hacker, 2003) se caracterizam por nunca terem sido coletados, tabulados ou analisados.

A seguir, serão apresentados alguns conceitos básicos sobre a classificação da pesquisa como forma de facilitar a compreensão sobre a metodologia utilizada. Para Gil (1996), a pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade como o problema, com intuito de torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses, possuindo um planejamento bastante flexível, possibilitando a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Para Akker et all (1998 apud Hacker, 2003), na maioria dos casos, assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso.

Para Stake (1994 apud Roesch, 1995), o estudo de caso não é um método, mas a escolha de um objeto a ser estudado. Para Roesch (1995), permite o estudo de fenômenos em profundidade dentro de seu contexto; é especialmente adequado ao estudo de processos e explora fenômenos com base em vários ângulos. A autora menciona o estudo de caso como

útil na proposta de relatar práticas de organizações ou recomendar alternativas de políticas. Representam, segundo Stablein (1996 apud Roesch, 1995), casos-exemplos, segundo ele, o tipo mais utilizado em pesquisa organizacional. O ambiente organizacional do pesquisador seria constituído de problemas, processos ou soluções quase universais e relevantes à maioria das organizações. Segundo Roesch (1995), o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa para desenvolver conhecimento teórico na área de administração.

A área definida para o estudo foi o CIF, em toda a sua extensão, 104 mil hectares, levantando-se os aspectos ambientais tanto na área construída quanto naquelas que estão preservadas. Também foram levadas em consideração as áreas circunvizinhas ao Centro, com a finalidade de determinar níveis de influências em relação aos impactos levantados.

O plano de coleta de dados baseou-se em um estudo preliminar da área utilizando-se como fonte o estudo realizado pela Empresa DBO Engenharia (DBO Engenharia, 2003) que realizou um levantamento da área com a finalidade de determinar o impacto ambiental que haveria naquele centro, caso fosse instalada uma companhia de engenharia, transferida de IPAMERI-GO. O estudo foi realizado, com conclusões indicando a necessidade da adoção, pelo Centro, de um Sistema de Gestão Ambiental, com base na ISO 14000, porém a transferência não se efetivou.

Após o prévio conhecimento da área e aspectos ambientais gerais, o levantamento teve continuidade com visitas às instalações do CIF, pesquisas conduzidas junto aos oficiais e praças que detinham melhores conhecimentos da área em estudo, preenchimento dos formulários utilizados no trabalho de Bonnet (2003), adaptados às condições do CIF e

consultas à carta do CIF, na escala de 1:100.000, fornecida pelo Centro de Cartografia Automatizada do Exército (CCAuEx, 1999).

Para atingir o primeiro e o segundo objetivo especifico deste trabalho, foram considerados os estudos realizados por Bonnet (2003), onde são mostrados os modelos de gestão ambiental utilizados por Forças Armadas de outros países e complementados com os estudos realizados por Campos (2003), destacando-se somente aqueles países que poderiam contribuir para um modelo de gestão ambiental a ser proposto para o EB. A revisão da literatura aprofunda o levantamento da gestão ambiental empreendida por outras Forças Armadas estrangeiras, trazendo subsídios ao benchmarking que poderá ser adotado pelo EB ao utilizar este trabalho como fonte para a metodologia de gestão ambiental a ser implantada em suas Organizações Militares.

Para o terceiro objetivo, que é o de descrever as etapas de implantação da GA proposta para o CIF, o roteiro para a coleta e análise dos dados obtidos na pesquisa seguiu as etapas definidas na ISO 14001 (NBR ISO 14001, 1996) e nas Interpretações da NBR ISO 14001 (NBR ISO 14001, 2001) para o desenvolvimento, implementação e manutenção de um sistema de gestão ambiental, onde são contextualizadas as fases previstas para um Sistema de Gestão Ambiental, conforme etapas a seguir:

a) Requisitos gerais (não referido no trabalho da BAAN e neste por conterem recomendações óbvias de que a organização que pretende implantar um Sistema de Gestão Ambiental deverá seguir os requisitos adotados na seção 4 das ISO 14001);

b) Política Ambiental; c) Planejamento;

e) Verificação e Ação Corretiva; e f) Análise critica pela Administração.

Segundo Barbieri (2004), qualquer SGA requer um conjunto de elementos comuns que independem da estrutura organizacional, do tamanho e do setor de atuação da empresa. Portanto, aplicáveis ao EB, assim como a qualquer organização pública ou privada.