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ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE COMPLEXOS GABRO-ANORTOSÍTICOS EM ÁREAS PRÓXIMAS À REGIÃO DE FAGUNDES-ITATUBA

2.1 DOMÍNIO DA ZONA TRANSVERSAL

2.1.3 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE COMPLEXOS GABRO-ANORTOSÍTICOS EM ÁREAS PRÓXIMAS À REGIÃO DE FAGUNDES-ITATUBA

Metamorfismo em condições de alta pressão é verificado no Domínio da Zona Transversal, na Faixa de Dobramentos Pajeú-Paraíba (Terrenos Alto Pajeú e Alto Moxotó). Rochas máficas com remanescentes de metamorfismo eclogítico associados a ocorrências de Fe-Ti (Quadro 2.3), estendem-se ao longo de uma faixa que passa por Floresta, Custódia, Queimadas, Fagundes-Itatuba, Campina Grande até Itabaiana, coincidente com uma anomalia gravimétrica positiva (Rand & Manso, 1990), a qual foi interpretada como uma zona de sutura continental Proterozóica (Beurlen et al., 1992).

Existe um trend descontínuo de rochas máfico-ultramáficas, com relíquias do fácies granulito e eclogito de alta pressão ao longo do limite dos terrenos Alto Moxotó-Alto Pajeú, que foi atribuído à faixa Cariris Velhos (Santos, 1999. In: Cordani et al., 2000). A maior área preservada está exposta na Suíte Serrote das Pedras Pretas como camadas intercaladas dentro do ortognaisse Cariris Velhos no Complexo Lagoa das Pedras, ao N de Floresta, PE. Estas rochas exibem padrões geoquímicos de uma série basalto-tholeiítica com afinidades de MORB (Santos, 1995). Esta suíte também inclui pods de rochas com granada dentro do Bloco de Icaiçara na parte mais ocidental do Terreno Alto Moxotó, apresentando semelhanças de eclogito associada com zonas de subducção (Beurlen et al., 1992). Outras características geofísicas e tectônicas são associadas com o limite dos terrenos Alto Moxotó- Alto Pajeú na direção E, onde existem ocorrências espalhadas de rochas que se formaram em ambientes de alta-pressão, interpretadas como uma sutura ofiolítica interrompida. É importante ressaltar que vários autores têm detectado a presença de intrusões anorogênicas pré-Cariris Velhos no domínio da Zona Transversal, principalmente nos terrenos Alto Moxotó e Rio Capibaribe, cortando os terrenos gnáissicos Paleoproterozóicos (Santos & Medeiros, 1999). Pelo menos um anortosito

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Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE associado a gabros, diques de Fe-dioritos e granitos alcalinos de 1,7 Ga (Accioly, 2001) e um granito tipo A com 1,5 Ga (Sá et al., 2002) já foram caracterizados, mas são conhecidas outras ocorrências de diques máficos pré-Cariris Velhos (e.g. Santos, 1977) e outra intrusão anortosítica (Boqueirão) nesses dois terrenos (Santos et al., 2002). Isso faz supor que o intervalo entre os eventos Transamazônico e Cariris Velhos foi caracterizado por um período de grande estabilidade tectônica, sujeito apenas a um ou mais episódios extensionais (Santos & Medeiros, 1999).

Estes mesmos autores, Santos & Medeiros (1999), identificaram no domínio da Zona Transversal (região entre os lineamentos Patos e Pernambuco) os terrenos Piancó-Alto Brígida, Alto Pajeú, Alto Moxotó contra a suíte toleiítica Malhada Vermelha (Floresta-PE), o Complexo Gabro- anortosítico de Barro Vermelho (Custódia-PE) e as metamáficas de Itatuba-PB, ocorrendo o minério de Fe-Ti associado a alguns litotipos de cada unidade.

Inserido no Complexo Floresta, Santos (1995) identificou a suíte Malhada Vermelha intrusão essencialmente metamáfica e formada por quartzo dioritos, biotita tonalitos, anortositos gabróicos ou dioríticos, que englobam lentes de corpos máficos, mais restritamente ultramáficos, especialmente anfibolitos com ou sem granada, metabasitos e hornblenditos. Dispersos irregularmente no interior das rochas máficas ocorrem fragmentos de minério maciço constituído principalmente de titano- magnetita. São comuns ainda rochas metabásicas, com mineralogia dos metagabros ou metagabro- anortositos, ocorrendo tipos com granada como mineral essencial e tipos com pouca ou sem granada, e tipos com simplectitas de granada-plagioclásio e anfibólio-plagioclásio-minerais opacos resultantes da desestabilização do piroxênio e da granada. Também ocorrem rochas cálcio-silicáticas, possivelmente produtos metassomáticos de metabasitos e metanortositos, actinolititos e xistos actinolíticos.

Ainda segundo Santos (1995), a suíte Malhada Vermelha teria se originado durante um magmatismo orogênico precoce associado a episódio contracional importante. Sugerindo que esses corpos tabulares, às vezes dobrados e cortando principalmente o Complexo Floresta e as supracrustais, tenham se colocado na crosta como intrusões intraplaca (talvez na forma de dique) ou como fatias tectônicas ligadas à tectônica contracional.

Santos (1995) considerou o Complexo Gabro-anortosítico de Barro Vermelho, como extensão da suíte toleiítica Malhada Vermelha. Por outro lado, a ocorrência de Fe-Ti de Barro Vermelho, situada a 12 km a este de Custódia-PE, a de Riacho da Posse em Floresta, 120 km a sudoeste de Barro Vermelho, e as de Itatuba-PB, a 200 km a noroeste de Barro Vermelho, estão alinhadas ao longo do mesmo trend estrutural regional.

Segundo Melo (1998) e Melo et al. (2002), a área de Barro Vermelho está localizada na

divisa entre os municípios de Custódia e Sertânia, na faixa de dobramentos Pajeú-Paraíba, é constituída principalmente de augen gnaisses variavelmente migmatizados, de composição granítica, monzogranítica, granodiorítica, tonalítica e quartzo diorítica, contendo enclaves metamáficos de leucogabro, gabronorito, gabro/diorito, anortosito e anfibolito bandado, com pequena ocorrência de minério de Fe-Ti. Além disso, os ortognaisses comportam outros enclaves e intrusões constituídos de metadiorito/anfibolito, metapelito, rochas cálcio-silicáticas de protólito máfico-ultramáfico, diorito e granito fracamente deformados, além de dois corpos hectométricos de olivina diabásio a troctolito.

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE Diagramas concórdia U/Pb com regressão colinear de três frações de zircão de ortognaisse tonalítico e granítico, respectivamente, forneceram idades de cristalização dos protólitos destes litotipos de 2,44 Ga e 2,01 Ga. Também foram determinadas idades modelo Sm/Nd (TDM) de 2,30 e 2,73 Ga. Estes dados sugerem que material crustal Arqueano foi incorporado durante a gênese do ortognaisse tonalítico, e que os enclaves máficos comagmáticos parecem ter derivado de fonte Paleoproterozóica (Melo et al., 2002).

As rochas metamáfico-ultramáfica (composição geral basáltica) localizadas nos municípios de

Fagundes-Itatuba-PB, são intrusivas em um complexo gnáissico-migmatítico (ortognaisses

bandados laminados, ortognaisses granodioríticos e gnaisses aluminosos migmatizados), com intercalações de mármores, anfibolitos, granada piroxenitos e minérios de Fe e Ti a elas associadas. Estas rochas apresentam uma evolução metamórfica complexa, onde seriam registrados três estágios: um evento no fácies eclogito, outro no fácies granulito e outro no fácies anfibolito (Almeida, 1995). Os corpos mineralizados são formados por lentes concordantes de textura maciça e/ou bandada, constituídos predominantemente por magnetita e ilmenita.

As mineralizações de Fe-Ti de Queimadas-Itatuba estão encaixadas em rochas metamáfico- ultramáficas, às quais associam-se intercalações de mármores, de origem ainda mal definida (alvo da presente pesquisa).

Segundo Accioly (2000) e Accioly et al. (2003) o Complexo Metanortosítico de Passira-(PE) situa-se no Terreno Rio Capibaribe, na Subprovíncia/Zona Transversal da Província Borborema, numa área limitada por falhamentos complexos (Zonas de Cisalhamento Paudalho e Limoeiro), a norte do Lineamento Pernambuco.

Este complexo é constituído por Granitóides Indiferenciados/ Complexo Vertentes; Série de Ortognaisses graníticos; e rochas encaixantes Gnáissico-Migmatíticas.

O Complexo do tipo Maciço de Passira é constituído por um batólito de composição principalmente anortosítica. Subordinamente às rochas metanortosíticas ocorrem metagabros, metagabronoritos, e lentes ultramáficas enriquecidas em óxidos de Fe-Ti. Também inclui um complexo de diques de composição Fe-diorítica enriquecidos em P (apatita-metadioritos), Zr, Ba e elementos terras raras leves.

Este complexo de Passira é cortado por vários corpos de ortognaisses graníticos que se comportam como uma unidade tectonicamente associada às rochas metabásicas, interpretados geoquimicamente como anorogênicos. O metamorfismo regional foi determinado como sendo de fácies anfibolito alto-granulito. O Complexo Gnáissico-Migmatítico encaixante do Complexo

Metanortosítico de Passira apresenta uma idade modelo (TDM) de 2,4 Ga, enquanto a idade

isocrônica Rb-Sr em rocha total compilada da literatura aponta consolidação Tranzamazônica.

Os metanortositos foram datados através do método U-Pb em zircão multicristal, sendo a idade obtida de 1,7±0,02 Ga é interpretada como a idade de cristalização do Complexo. Uma isócrona mista granada e rocha total em metagabros indica uma idade de 612±150 Ma, interpretada como de pico metamórfico na área deste complexo, representando um metamorfismo do fácies granulito com temperaturas da ordem de 750 °C e pressões da ordem de 13 Kb durante o Ciclo orogenético Brasiliano. A transcorrência tardia associada a este Ciclo encontra-se representada através da idade isocrônica U-Pb em zircão (597±131 Ma) foi obtida em diques dioríticos

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE posicionados em áreas associadas ao mega-cisalhamento Limoeiro que é uma ramificação do Lineamento Pernambuco. O método K-Ar em anfibólios de granada-metagabros indicam idades de 1,0 e 1,2 Ga, interpretadas como idade mista.

Quadro 2.3: Mostrando as principais características de Complexos Gabro-anortosíticos em áreas

próximas à zona pesquisada Fagundes-Itatuba.

Segundo Accioly (op. cit.) o Complexo Metanortosítico de Passira e os ortognaisses graníticos representam manifestações de um episódio extensional (por afinamento crustal, “underplating” ou como um rift incipiente) como comumente é atribuído para o ambiente de posicionamento deste tipo de Complexo no mundo. Este episódio é conhecido por Grande Tafrogênese Estateriana, de amplitude mundial, tendo apenas recentemente sido identificado no Nordeste brasileiro (Província Borborema) (vide Figura 2.4).

Localidade Idade G.A. Fácies Metamórfico Forma Rocha Máfico- Ultramáfica Tipo de Anortosito Referências Bibliográ- ficas Floresta-PE Idade Paleoproterozóica do Complexo Floresta, segundo Santos et al. (1994), U-Pb em zircão (intercepto superior) de 2.115±30 Ma e determinações TDM de 2,3Ga. Granulito Lentes paralelas Óxidos de Fe, Ti e V Beurlen (1988); Santos et al. (1994); Santos (1995). Barro Vermelho- Custódia (PE) Diagramas concórdia U-Pb em zircão de ortognaisse tonalítico e granítico, respectivamente, forneceram idades de cristalização dos protólitos destes litotipos de 2,44 Ga e 2,01 Ga. Também foram determinadas idades modelo Sm/Nd (TDM ) de 2,30 e 2,73 Ga.

Granulito Enclaves Óxidos de Fe, Ti e V Enclaves Melo (1998) Passira-PE Idade modelo (TDM) de 2,4 Ga das encaixantes; segundo o método U-Pb em zircão multicristal a idade de cristalização do Complexo obtida é de 1,7 Ga. Anfibolito Batólito Ocorrências de Fe e Ti Maciço Farina et al. (1981); Silva Filho & Guimarães, (1981); Accioly (2000). Fagundes- Itatuba (PB) Granulito- anfibolito Ocorrências de Fe e Ti Maciço Alencar (1993); Almeida (1995).

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE As rochas metamáfico-ultramáficas associadas a mármores e skarns da região de Itatuba- Fagundes, intrusivas em ortognaisses e migmatitos do embasamento Paleoproterozóico e por sua vez intrudidas por granitóides supostamente Neoproterozóicos, podem pertencer a este cenário visualizado no Quadro 2.3 (acima) para complexos gabro-anortosíticos da Zona Transversal, ou podem também não ter relação com este cenário, e constituírem remanescentes da colisão Transamazônica que justapôs os terrenos TAM e TRC, que ficaram preservadas até o Brasiliano, quando sofreram soerguimento e retrometamorfismo em decorrência da fase extensional pós-colisão. Neste caso, estariam mais provavelmente relacionados com litologias de ambiente de sutura oceânica (Beurlen et al., 1991; Almeida et al., 1997). Alternativamente poderiam também representar diques máficos intrudidos no embasamento durante eventos extensionais.

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE

CAPÍTULO III - GEOLOGIA LOCAL

3.1 ASPECTOS ESTRUTURAIS DAS UNIDADES LITOLÓGICAS CONSTITUINTES DA REGIÃO