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ASPECTOS ESTRUTURAIS DAS UNIDADES LITOLÓGICAS CONSTITUINTES DA REGIÃO DE FAGUNDES-ITATUBA

2.1 DOMÍNIO DA ZONA TRANSVERSAL

3.1 ASPECTOS ESTRUTURAIS DAS UNIDADES LITOLÓGICAS CONSTITUINTES DA REGIÃO DE FAGUNDES-ITATUBA

O Terreno Alto Moxotó é caracterizado por uma configuração estrutural complexa, ainda insuficientemente estudada do ponto de vista de sua evolução estrutural e metamórfica. Por se tratar de um terreno antigo inserido nas faixas Cariris Velhos e Brasilianas, possui uma trama antiga, Paleoproterozóica, intrusões anorogênicas, tardi-Orosirianas e Estaterianas, cujo arcabouço foi retrabalhado pelas deformações Neoproterozóicas (Santos et al., 2002; Santos et al., 2004; Santos & Accioly, 2005). Como descrito anteriormente, a região estudada (Fagundes-Itatuba), inserida no Terreno Alto Moxotó, é dominada por rochas gnáissico-migmatíticas equivalentes do Complexo Floresta, as quais incluem subordinadamente lentes de rochas supracrustais metapelíticas, provavelmente equivalentes ao Complexo Sertânia. Este conjunto encaixa corpos tabulares, lenticulares e sub-elípticos, de uma suíte granítica e metamáfico-ultramáfica e rochas metacarbonáticas, cujas relações com o complexo gnáissico-migmatítico nem sempre são muito claras, em função da forte intensidade da deformação imposta pelos últimos eventos deformacionais. Estas rochas ocorrem dispostas em um trend geral NE-SW, onde se destaca uma mega-estrutura ovalada central e vários “domos” graníticos adjacentes, além de zonas de cisalhamento verticais. No detalhe, porém, esta aparente simplicidade esconde uma trama estrutural de regime dúctil bastante complexa, como será descrito a seguir.

A principal feição da área é uma mega-estrutura de forma aproximadamente elipsoidal em planta, com eixo maior na direção N70°E, delineada por uma foliação dominante Sn presente nos ortognaisses bandados da unidade equivalente ao Complexo Floresta. Esta estrutura possui um diâmetro maior com extensão de aproximadamente 12 km e uma largura máxima de 5 km, e sua forma é acentuada pelo alinhamento dos corpos da suíte granítica e metamáfico-ultramáfica e pelos corpos de rochas metacarbonáticas. Grosso modo, distinguem-se dois grandes anéis dessas rochas, sendo o núcleo central da estrutura ocupado por rochas graníticas finas equigranulares. Outras estruturas subarredondadas a elipsoidais em planta são os domos graníticos adjacentes de Salvador e domos menores na parte sul da área, os quais diferem da estrutura central por serem formados exclusivamente por ortognaisses granitóides intrusivos.

Estruturas primárias, do tipo S0 sedimentar ou ígneo, não são preservadas entre as rochas das unidades equivalentes aos complexos Floresta e Sertânia, embora um bandamento mili a centimétrico observado nos xistos e paragnaisses da unidade equivalente ao Complexo Sertânia possa representar uma estrutura sedimentar reliquiar. Em geral, o protólito dessas unidades é deduzido da paragênese metamórfica presente. Remanescentes de texturas ígneas, porém, são frequentemente vistas nas rochas máficas intrusivas a nível macroscópico (texturas porfiríticas) e, principalmente, a nível microscópico, representadas por texturas porfiríticas, cumuláticas,

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE intercumuláticas, quando não obliteradas por texturas granoblásticas e por crescimento blástico de minerais metamórficos.

Neste contexto foram identificadas, por meio de dados de campo (foliações, cristais rotacionados ou assimétricos, lineações de estiramento, eixos de dobras e vergências de dobras) e de gabinete (fotografias aéreas e imagens de radar), duas fases de deformação dúctil. A primeira está correlacionada a uma tectônica contracional, Dn e a segunda à fase transcorrente Dn+1. Esta última fase (Dn+1) gerou antiformes e sinformes com planos axiais verticalizados, bem como expressivas zonas de cisalhamento.

A foliação dominante Sn configura às rochas aspecto gnáissico regular, que aparece como bandas composicionalmente distintas, desde a escala centimétrica a métrica, em escala de afloramento. As bandas são alternadamente félsicas e máficas, respectivamente granitóides e anfibolíticas. As feições mais comuns da deformação contracional são os augens de feldspato nos metagranitos e as bandas miloníticas nos gnaisses bandados e rochas metamáficas.

Há uma tendência geral de mergulho da foliação para S e SSE, com algumas variações, nas zonas de fechamento ou em complicações locais. Os mergulhos da foliação Sn variam de baixo a médio ângulo, acentuando-se até próximo da vertical, próximo das zonas de cisalhamento transcorrentes. A gênese dessa foliação Sn é complexa. O bandamento original está em grande parte transposto, encontrando-se vestígios do mesmo a nível microscópico (foliação transposta reliquiar) e onde ainda se observam evidências de truncamentos da mesma pelas suítes metaígneas, o que evidencia a existência de um Sn-1 incompletamente transposto. A geração da foliação Sn está relacionada a uma tectônica contracional em regime dúctil, representada por frentes de cavalgamento, dobras isoclinais deitadas e recumbentes, Em vários locais, observam-se empilhamentos escalonados de thrusts, estruturas de tipo horse e, comumente do tipo rampa e piso, as quais indicam que há uma dominância de transporte para o norte e noroeste.

A foliação principal está melhor demarcada na parte norte e oeste do mapa, onde os gnaisses ocorrem melhor preservados, não migmatizados. Uma foliação secundária Sn+1 foi observada nas fotografias aéreas e localmente identificada, em escala de afloramento, como milonitos de espessura centimétrica. Esta foliação caracteriza as principais estruturas da área, que são dobras fechadas, prováveis padrões de interferência megascópicos, do tipo domo e bacia, os quais resultaram da re- deformação das estruturas contracionais pela tectônica transcorrente subseqüente. A foliação Sn afeta todas as unidades da área, com exceção do granito da Serra Velha, das rochas metacarbonáticas, granitos e pegmatitos tardios, o que significa dizer que a tectônica contracional pode ser correlacionada ao evento Cariris Velhos ou Brasiliano precoce.

Ocorrem algumas intercalações de rochas máficas, anfibolíticas maiores, as quais se distinguem das intercalações normais pelo aspecto maciço, pela foliação pobre e, às vezes, ligeiramente discordante da foliação dominante, o que indica tratar-se de corpos intrusivos cortando uma trama estrutural mais antiga, na verdade uma Sn-1. Ao sul da Zona de Cisalhamento de Cinco Passagens e próximo da Fazenda Oliveira (vide Mapa Geológico em anexo), situam-se vários corpos metamáfico-ultramáficos (PPβ), com formas de corpos ou lentes alongados a sigmoidais, com orientação NE-SW, com mergulhos para NW variando de 52°-56º. Os corpos metamáfico-ultramáficos ocorrem também como lentes com padrão concêntrico circundando o núcleo granodiorítico central

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE (Granodiorito Quati) ou próximos às zonas de cisalhamento: três estão diretamente adjacentes ao granito central, sendo duas nas bordas do granito mergulhando uma delas de 46° a 57° para SE e outra mergulhando de 45° para NE, e a terceira próxima ao centro do granito, como um megaenclave. Uma lente ocorre com forma alongada e redobrada, a NW da ZC Cinco Passagens e a S do granito central, mergulhando para SE. Outra lente está diretamente encaixada na ZC Cinco Passagens, com direção NE-SW e mergulhando de 50° a 66° para S-SE. Estas duas últimas lentes estão espacialmente associadas aos corpos metacarbonáticos do sul da área, adjacentes a estes.

Ocorre ainda um corpo elíptico a NE de Oliveira, mergulhando para SE e associado a várias ocorrências de minério de Ferro; três corpos com formas de lentes alongadas a sigmoidais, associados espacialmente ao segmento NE da ZC Cinco Passagens (sendo um a leste de Fazenda Paulino, com mergulhos predominantemente de 40° a 60° para NW, um a norte da localidade de Cinco Passagens e um a norte da cidade de Itatuba) e por fim um corpo dobrado e redobrado ao redor e a sul de Coelhos, também alojado em padrão concêntrico com relação ao núcleo granodiorítico central, com uma ocorrência de Ferro registrada. Este corpo dobrado e redobrado de Coelhos na região ao redor da localidade de Coelhos mostra mergulhos de 21° a 60° dirigidos para o centro do corpo, formando uma depressão central e em seu prolongamento a sul de Coelhos mostra mergulhos variando de 15° a 55° dirigidos para NW e SW.

Este granitóide intrusivo central da área de Fagundes-Itatuba tem composição biotita granodiorítica e ocorre deformado e metamorfizado, sendo já descrito como um biotita ortognaisse milonitizado, protomilonito. Foi denominado neste trabalho de Granodiorito Quati. Em observações em microescala, aparentemente sofreu três fases de deformação, marcadas em lâmina pelos porfiroblastos: 1º foram alongados ao máximo (extensão); 2º sofreram individualização de subgrãos internos, por continuação do stress deformativo; 3º os subgrãos se tornaram grãos individuais, com textura poligonal entre si. Há uma possível 4º fase, com individualização incipiente de subgrãos (grãos menores), individualizados a partir dos subgrãos de quartzo primordial.

Feições de transposição são muito claras nas rochas metamáficas, caracterizando diques transpostos, truncados pelos granitóides alojados posteriormente. Em vários locais, ocorrem massas irregulares de rochas metamáficas, que ora exibem truncamento com esta foliação Sn-1, ora são paralelizadas com a foliação Sn. As rochas metagraníticas (ortognaisses) raramente exibem feições de diques discordantes, sendo melhor caracterizadas pelo contraste textural e composicional, com relação às bandas félsicas dos gnaisses bandados. Tratam-se, em geral, de diques transpostos ou

sheets, cujas dimensões variam desde submétricas a até centenas de metros de espessura. A colocação desses corpos é ainda uma questão em aberto e demanda uma investigação específica, que foge ao escopo da presente Tese. Duas possibilidades são possíveis: a da colocação desses corpos como intrusões anorogênicas, isto é, pós-2,0 Ga, e sua deformação posterior pela tectônica contracional; a colocação dos mesmos simultaneamente à tectônica contracional, como intrusões tabulares, diques ou sheets sintectônicos à tectônica contracional. Os dados aqui obtidos são insuficientes para definir tal questão.

A tectônica transcorrente Dn+1 é representada por duas grandes zonas de cisalhamento (ZC): a ZC de Cinco Passagens, com cinemática sinistral e orientação WNE-ESE e a ZC de Bonsucesso, com direção NE-SW e cinemática dextral, esta última bordejando e/ou limitando o corpo

Estudo Geológico, Geoquímico e Isotópico da Região Compreendida entre Fagundes e Itatuba (PB)... Carmona, L.C.M. 2006. PPG/UFPE do metagranito porfirítico (augen gnaisse) Salvador, orientado na mesma direção NE/SW. Ocorrem ainda outros falhamentos e /ou fraturas menores na direção NE-SW e na direção NW-SE, os quais ocorrem truncando a foliação principal. Essas zonas de cisalhamento e uma rede de ZC’s menores na escala do afloramento são as feições mais conspícuas da área, sendo facilmente reconhecidas em fotografias aéreas e imagens de radar. Estão relacionadas a uma tectônica maior, que caracteriza o arcabouço principal do Domínio da Zona Transversal, uma rede anastomosada de ZC’s transcorrentes, que modela este grande domínio da Província Borborema (Santos, 1971; Jardim de Sá, 1994).

Estas ZC’s são marcadas por expressivas faixas de milonitos, com espessuras que variam desde centimétricas até métricas. Na escala de afloramento, são caracterizados por feixes de maior ou menor strain, desenvolvendo-se comumente pods, zonas de strain mais baixo onde se desenvolvem espaços não deformados ou com baixa taxa de deformação. Em geral, a trama textural das rochas anteriormente afetadas pela tectônica contracional é redeformada, ocorrendo a rotação e o estiramento dos minerais, a destruição dos augens de feldspatos e a formação de uma matriz cominuída, com fluxo sub-sólido associado. As ZC’s de Cinco Passagens e de Bomsucesso tangenciam a estrutura dômica de Salvador e, provavelmente, determinem a feição em bacia da estrutura principal da área. Este fato, aliado à existência de padrões de interferência do tipo domo e bacia em escala de afloramento, fazem com que a estrutura geral da área tenha sido produzida pela combinação desses dois episódios tectônicos.

Na região norte do mapa encontra-se o granito porfirítico da Serra Velha, o qual se apresenta como um plúton de forma alongada E-W, com indícios de deformação apenas nas bordas do corpo. A textura porfirítica está geralmente preservada, de modo que a colocação do corpo deve estar relacionada à geração de campos extensionais associados à transcorrência, como é descrito em outras porções da Província Borborema (Jardim de Sá, 1994). Este plúton parece fazer parte de um conjunto de granitos intrusivos colocados na parte sul do Terreno Alto Moxotó, dos quais o mais expressivo é o granito de Aroeiras (Santos et al., 2002). Esta relação confirma que o episódio transcorrente é de idade Brasiliana.

3.2 ASPECTOS DE CAMPO E PETROGRAFIA DAS UNIDADES LITOLÓGICAS CONSTITUINTES