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FINANCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Embora o estudo da política de assistência social no âmbito estadual não seja nosso foco de análise, consideramos de extrema relevância tecer algumas considerações acerca do financiamento da assistência social no estado do Rio Grande do Norte, destacando o aspecto do co-financiamento dos serviços e destino dos recursos desta política no Estado em questão.

47 É importante lembrar que esses dados são oriundos das Leis Orçamentárias Anuais, portanto, são previsões de arrecadação das receitas. Assim, se compararmos esses dados com os comparativos da execução orçamentária, pode ser que não haja compatibilidade, já que geralmente existe uma diferença nos valores previstos para os valores executados.

O Estado do Rio Grande do Norte situa-se na região Nordeste, possui 167 municípios e uma população de aproximadamente 3.121.451 habitantes, segundo o Censo/IBGE 2010. Assim como os demais estados do Nordeste tem uma cultura política fortemente marcada pelas relações clientelistas e paternalistas.

Para se ter uma noção do formato do financiamento desta política no Estado do Rio Grande do Norte, tomou-se como referência a análise dos gastos do governo estadual no ano de 2010, bem como a transferência de recursos para municípios, entidades filantrópicas e outras instituições. Procurou-se verificar ainda se o Estado está em consonância com as orientações da PNAS/2004 e da NOB/2005 relacionadas ao comando único da política de assistência social e a diretriz da primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo.

No ano de 2009, foi aprovada pelo governo federal, a Lei Complementar nº. 131, com o intuito de conferir maior transparência às contas públicas em todos os níveis. A Lei enfatiza que todos os gestores públicos do país são obrigados a disponibilizar na internet (“em meios eletrônicos de acesso publico”) informações detalhadas e atualizadas para os cidadãos e cidadãs, sobre a execução orçamentária (receitas e despesas) de todos os órgãos dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo da União, Estados, Municípios e do Distrito Federal. Nesse sentido, a referida Lei estabeleceu os seguintes prazos para sua consolidação: à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios com mais de cem mil habitantes foi dado um prazo de uma ano para se adequar à Lei, isto é, todas as suas contas deveriam estar publicadas na Internet, em tempo real, desde o dia 27 de maio de 2010. Já as cidades com população entre 50 mil e 100 mil pessoas tiveram dois anos para se adequar às modificações, ou seja: até 27 de maio do corrente ano (2011). Enquanto os municípios com até 50 mil habitantes tiveram o prazo de quatro anos, ou seja, até 27 de maio de 2013, para se adequarem à Lei.

A Lei supracitada estabelece ainda que a transparência das contas públicas deve apresentar um padrão “mínimo de qualidade”, de modo que não se suprima informações e que estas sejam inteligíveis ao público. Nessa perspectiva, destaca- se que os dados obtidos no Portal da Transparência do governo do RN, permitem apenas a classificação dos recursos por tipo de despesa, unidade gestora, ação ou favorecido, e só admite a pesquisa dos dados no ano corrente e no ano anterior à

gestão, dificultando uma análise mais aprofundada dos dados em um determinado recorte temporal.

Cabe registrar, ainda, que no sítio acima citado, responsável pela transparência dos recursos no Estado do RN, não estão disponibilizados as peças orçamentárias (LOA, PPA, LDO) na íntegra, com todas as especificações, bem como não divulgam o Quadro de Detalhamento das Despesas (QDD). Nesse sentido, diante das poucas possibilidades de análises disponíveis nos meios de fiscalização dos recursos, optou-se por apontar alguns elementos, ainda que aproximativos, sobre o ano de 2010 já que o ano de 2011 ainda não foi finalizado.

A Tabela 23 revela o investimento do governo do RN na função assistência social, no ano de 2010. Neste ano, o total de receitas do Estado do RN foi em torno de R$ 5.203.485.590 (exceto gastos com os poderes Legislativo e Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas Estadual). Desse montante, 2,85% está destinado à assistência social, conforme dados do Portal da Transparência do RN, demonstrando que o Estado do RN também investe poucos recursos na política de assistência social.

Apenas o Programa do Leite é responsável por 41% dos recursos da assistência social, no ano de 2010 enquanto a Capacitação de Conselheiros, Membros do Fórum e Técnicos da Assistência Social não teve seus recursos pagos até 31 de dezembro, deixando-os uma quantia de R$ 59.990 como “restos a pagar”48 Alguns gastos do Estado do RN com esta política, classificados como “Concessão de Auxílios Diversos” e “Concessão de Benefícios para Famílias Vulnerabilizadas” representam um montante considerável no total dos recursos da assistência, além de permitir “maior liberdade” ao gestor para classificar e executar os recursos da assistência social como bem entender. Tais classificações vagas e imprecisas também dificultam a fiscalização e controle dos recursos públicos.

48

Consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de dezembro distinguindo-se as processadas das não processadas.”

TABELA 23: Investimento do governo do Rio Grande do Norte na Função Assistência Social (Recursos pagos de Janeiro a Dezembro de 2010).

TOTAL DE RECURSOS DO GOVERNO DO RN: 5.203.485.590 bilhões

FUNÇÃO ASSISTÊNCIA SOCIAL

Ação Exercício Corrente

(R$) Restos a pagar (R$)

Ampliação e Fortalecimento do Apoio

Institucional 457.041 108.882

Aparelhamento e Reaparelhamento de

Unidade de Atendimento 51.763 735.518

Apoio à Implantação, Consolidação e Desenvolvimento de Atividades de Economia Solidária

100.000 0,00

Aquisição e Distribuição de Leite 57.016.039 3.578.535 Campanha de Conscientização do Controle

da Assistência Social 0,00 18.810

Capacitação de Conselheiros, Membros do

Fórum e Técnicos da Assistência Social 0,00 59.990

Concessão de Auxílios Diversos 677.617 123.810

- Alguns favorecidos: - Agência Aerotur Ltda

- B&F Locação de Veículos e Turismo - Centro Funerário Morada da Paz - Harabello Passagens e Turismo - INSS

-CAERN - COSERN

- Prefeitura Municipal do Natal

- Prefeitura Municipal de Serra do Mel - Ocidental Serviços Póstumos - Roberto Victor Barros Leite – ME

Concessão de Benefícios para Famílias

Vulnerabilizadas 87.676 25.918

Favorecidos:

- DNA Center LTDA

- E.C. Medeiros Comércio e Representações LTDA - ORTO-RIO Leonardo Vasconcelo Germano - ORTOTEC Ortopedia Técnica

Defesa e Prevenção de Direitos Sociais 0,00 6.306

Desenvolvimento – Monitoramento e

Administração 1.524.448 16.936

Desenvolvimento do Artesanato 268.000 58.900

Desenvolvimento Institucional -

Elaboração de Planos para a Política

Estadual de Assistência Social 5.000 0,00

Manutenção do Programa de Encaminhamento do Adolescente ao Mercado de Trabalho 5.899 0,00 Manutenção e Funcionamento 11.978.368 905.828 Manutenção e Funcionamento 36.216.237 1.546.602 Operacionalização de Unidades de Atendimento 317.264 0,00

Operacionalização dos Conselhos da

Política de Assistência Social 150.145 19.998

Programa de Proteção Especial à Criança e

ao Adolescente 6.381 0,00

Programa de Proteção Jurídico-Social 54.087 0,00

Qualificação Social e Profissional 1.846.785 278.966

Realização de Eventos 15.000 0,00

Realização de Eventos da Política de

Assistência Social 895.100 401.492

Recuperação, Reforma e Ampliação de

Unidade de Atendimento 1.124.529 120.789

Reordenamento Institucional da SETHAS 1.433 0,00

Suplementação Alimentar 19.363.349 815.611

Viabilização de Programas e Projetos

Especiais 3.038.816 1.686.309

TOTAL FUNÇÃO ASSISTÊNCIA SOCIAL

A+B = (C) 148.336.570 (A) 137.787.096 (B) 10.549.474

Percentual da A.S em relação ao total = 2,85%

Fonte: Elaboração própria, (2011).

No que se refere aos recursos transferidos do governo do Estado para outras instituições, prefeituras ou órgão públicos, podemos verificar, no ano de 2010, que os recursos para o “Co-Financiamento dos Níveis de Proteção Social Básica e Especial da Assistência Social” somaram R$ 98.750 (pago até dezembro), e R$ 216.970, restos a pagar. Esse valor representa apenas 0,5% dos recursos da política de assistência social transferidos no ano de 2010. Por outro lado, as ações “Transferência de Recursos a Entidades Privadas de Caráter Assistencial” e “Apoio Financeiro a Instituições Privadas”, cujo principal beneficiário é o Movimento de

Integração e Orientação Social (MEIOS) arremataram cerca de R$ 14.367.226, ou seja: 22,5% dos recursos transferidos da assistência social. Essas observações dão margens a alguns questionamentos sobre as prioridades do governo estadual na condução da política de assistência social, sobre a grande participação das entidades filantrópicas na gestão e financiamento da assistência social e sobre o papel do Estado no co-financiamento da política de assistência social.

Na direção de alcançar a gestão compartilhada dos serviços, a NOB/2005 estabelece algumas responsabilidades para os Estados, a saber: co-financiar a proteção social básica, mediante aporte de recursos para o sistema de informação, monitoramento, avaliação, capacitação, apoio técnico e outras ações pactuadas progressivamente; gerir recursos federais e estaduais destinados ao co- financiamento das ações continuadas da assistência social dos municípios não habilitados; instalar e coordenar o sistema estadual de monitoramento e avaliação das ações da assistência social; coordenar, gerenciar, executar e co-financiaar programas de capacitação de gestores, profissionais, conselheiros e prestadores de serviços, entre outros.

Ao consultar os recursos do Rio Grande do Norte no ano de 2010, organizados por Unidade Gestora, verificou-se alguns sinais das prioridades alocativas do governo do Rio Grande do Norte, bem como a distribuição da política de assistência social no interior dos órgãos.

O órgão gestor da política de assistência no Estado é a Secretaria Estadual de Trabalho e Assistência Social (SETHAS), no entanto grande parte dos recursos do Estado são destinados à Fundação Estadual da Criança e do Adolescente (FUNDAC/RN), que, segundo informações do próprio governo, é a entidade

Responsável por formular e executar, em todo o Estado, uma política

uniforme de proteção dos direitos da criança e do adolescente, competindo-

lhe o estudo do problema e o encaminhamento das soluções. A FUNDAC foi criada em 1994, substituindo a FEBEM, com o objetivo de executar e humanizar as políticas do Governo do Estado de proteção e atenção às crianças e adolescentes49.

Sob a gestão da SETHAS são desenvolvidos os seguintes programas e projetos:

49 Informação recuperada em site de Internet. Disponível em:<http://www.fundac.rn.gov.br>. Acesso em: 02 de setembro de 2011.

a) Programa Projovem, cujo objetivo, segundo o governo, é “preparar o jovem para o mercado de trabalho e ocupações alternativas geradoras de renda, por meio da qualificação social e profissional e do estímulo à sua inserção no mundo do trabalho”;

b) Desenvolvimento Solidário, que busca “atender as áreas rurais mais carentes do Estado com subprojetos sociais, produtivos e de infra-estrutura”;

c) Programa Artesanato, que tem o objetivo de “desenvolver atividades do artesanato potiguar, buscando estimular e aperfeiçoar a qualidade dos produtos”; d) Programa Jovem Empreendedor, que estimula os “jovens concluintes do ensino médio a montar o seu próprio negócio, para que se tornem empreendedores”;

e) Programa Casa da Gente consiste em um programa de construção e melhorias habitacionais, que “visa o combate ao déficit quantitativo e qualitativo das moradias dos mais excluídos”;

f) PETI, que tem o objetivo de “retirar as crianças e adolescentes de 7 a 15 anos de idade do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante”;

g) Projeto Agente Jovem, constitui-se em um conjunto de “ações que busca assegurar a participação ativa e efetiva de jovens entre 15 e 17 anos”;

h) Programa Sentinela, destinado ao “atendimento de crianças e adolescentes vitimadas pela violência, com ênfase no abuso e exploração sexual”.

É importante esclarecer que as definições e atribuições destacadas nos parágrafos anteriores são a reprodução, em certa medida, da concepção do governo do Rio Grande do Norte acerca da política de assistência social, que nos parece ser permeada pela a lógica do mercado, do empreendedorismo e com traços tradicionalistas da assistência social.

No ano de 2010, à SETHAS foi destinado um total de recursos de R$90.168.593, ficando R$7.443.699 como restos a pagar. Já a Fundação Estadual da Criança e do Adolescente foi destinado um montante de R$ 38.027.586 (pago até dezembro) e R$ 2.486.84, restos a pagar. Tal situação merece ser refletida à luz do princípio do comando único na gestão das políticas de assistência social.

Outro fato curioso, observado nos dados do governo do Rio Grande do Norte é que os recursos do Fundo Estadual de Assistência Social (FEAS) estão diluídos em duas unidades gestoras: na SETHAS e na FUNDAC. No interior da FUNDAC estão alocados a grande maioria dos recursos do FEAS, que totalizam R$ 322.552

(R$138.568, pago até dezembro e 183.984, restos a pagar) enquanto na SETHAS estão alocados apenas R$ 84.726.661( R$78.188.791, pago até dezembro e R$6.537.870, restos a pagar).

Estas breves considerações acerca do financiamento da política de assistência social no Rio Grande do Norte revelam a necessidades de estudos aprofundados nesse âmbito, que sejam capazes de compreender e desvelar as complexas relações que o cercam.

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