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Algumas Considerações sobre os Tipos de Avaliação Externa

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CAPÍTULO 2 PERSPECTIVAS PARA A AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NO

2.1 Algumas Considerações sobre os Tipos de Avaliação Externa

O sistema avaliativo da educação brasileira abarca um conjunto de órgãos que realizam um trabalho articulado na universalização do ensino. Ao Ministério de Educação (MEC), em colaboração com o Conselho Nacional de Educação (CNE) e as câmaras de educação básica e superior, está incumbida a função de zelar pela qualidade do ensino, atendo-se para as leis que regem a educação. A Câmara de Educação Básica é responsável pelo Saeb, que avalia o desempenho dos alunos e da instituição escolar de ensino básico.

Nessa conjuntura, e merge a seguinte questão: que tipo de cidadão se quer formar, a partir dos princípios avaliativos? A sugestiva resposta a ela é que a fundamental análise se pauta na busca da efetivação desse direito à educação emancipatória. A avaliação educacional interna ou externa deve ter como princípio a formação de cidadãos emancipados, que sejam capazes de exercer a cidadania e desfrutar dos bens culturais produzidos coletivamente.

De acordo com o Inep, a Diretoria da Avaliação da Educação Básica (Daeb) tem a função de definir e propor parâmetros, critérios e mecanismos de realização das avaliações da educação básica; promover articulação entre os sistemas de

ensino; realizar as avaliações comparadas, em articulação com instituições nacionais e organismos internacionais. Nessas definições, o Saeb inspira estados, municípios e escolas, em particular, a desenvolver esse tipo de avaliação, para interlocução com a proposta nacional.

O sistema de avaliação brasileiro, criado da década de 1990, é composto por um conjunto de avaliação externa em larga escala. Nessa época, o MEC designou ao Inep a responsabilidade de conduzir todo processo das avaliações externas no País. Para a operacionalização das políticas de avaliação, o Censo Escolar torna-se o principal instrumento de coleta de dados os quais subsidiarão a articulação de todo o sistema avaliativo.

Dentre as ações do Inep, no período compreendido dos anos 1960 até os anos 2000, destacam-se a coordenação das seguintes avaliações: Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) (1967), Saeb (1990), Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub) (1993), Exame Nacional dos Cursos (ENC) Provão (1996-2003), Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) (1998), Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Enceja) (2002), Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) (Enade) (2004), Prova Brasil (Anresc) (2005), Provinha Brasil (2007) e Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) (2013).

No conjunto de avaliações, encontram-se inseridas as três da educação básica, que integram o único sistema do Saeb: Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), que é amostral, Anresc, denominada por Prova Brasil, que é censitária, e a ANA. Com essas, a perspectiva é compreender a ação estatal na intensificação das políticas públicas para atender as demandas globais, que condicionam o homem a enquadrar-se às leis de mercado.

A educação e seus processos não ficam imunes a tais transformações. A avaliação tende a perder a sua dimensão pedagógica, para se adequar mais às expectativas do capital. Segundo Afonso (2000), Estado Avaliador

[...] significa em sentido amplo, que o Estado vem adaptando a um ethos competitivo, neodarwinista, passando a admitir a lógica do mercado, através da importação para o domínio público de modelos de gestão privada, com ênfase nos resultados ou produtos dos sistemas educativos (AFONSO, 2000, p. 49).

A avaliação em larga escala, como foi proposta pelo Estado brasileiro, é focada no ensino para resultados, indo na contramão do processo de aprendizagem e a formação ampla dos estudantes. O Censo Escolar tornou-se, ao longo do período de sua implantação, importante fonte de informações referentes à educação, as quais vêm subsidiando as políticas públicas em diferentes setores. Como exemplo, notam-se a política de financiamento da educação, os programas suplementares para a educação básica: Programa do Dinheiro Direto na Escola, Programa Nacional do Transporte Escolar, Programa Nacional de Alimentação do Estudante, entre outros.

Em relação à avaliação, o Censo Escolar desempenha um papel fundamental, ao apresentar dados que servem para interpretações e análises dos aspectos inerentes à qualidade da educação. São possíveis observar informações sobre evasão e abandono escolar, aprovação e retenção, distorção idade/série, formação do quadro docente na escola, dependência administrativa, para tratar de suas dimensões. O Saeb e o Censo Escolar são utilizados para obtenção de dados e índices da educação brasileira.

Conforme apresentado no primeiro capítulo deste trabalho, a lógica neoliberal consolidou-se, frente à política educacional do País, ao longo dos anos. A avaliação é assumida pelo Estado como um recurso para justificar suas ações e prestar contas para sociedade, da forma como administra os recursos públicos, bem como mantém o controle dos processos inerentes ao contexto escolar.

O contexto pode ser entendido com as transformações no cenário político, econômico e social, diante do governo de FHC, quando o Estado passou por ampla reforma com a redefinição do seu papel na logística das políticas públicas em todos os setores, especificamente o educacional. O País experimentou profundas mudanças sociais, políticas e educacionais que se estendeu a gestão dos governos posteriores - Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2016). Conforme Bresser e Grau (1999), nesse período, as propostas foram conduzidas por meio de ideais modernos e racionais da administração pública, que se concentra no setor produtivo.

A justificativa dada para realização da reforma foi a de retirar o País da crise econômica e prepará-lo para enfrentar os desafios da globalização. Afonso (2000, p. 80) alerta que “[...] as reformas apropriam-se de ideias inovadoras”, que parecem uma “moda” ou “necessidade/obrigação política” que não levam em conta os obstáculos a serem superados. As avaliações de sistema ganharam centralidade

nas políticas de avaliação educacional, para administrar o fluxo de acesso à educação básica e suas relações com planejamentos de organismos internacionais.

Reafirma-se aqui a lógica das avaliações externas em larga escala recomendadas pelos organismos internacionais, que enfatiza produtividade e qualidade do serviço público, com foco no controle dos resultados. O modelo compromete a implementação de políticas públicas que beneficiam a grande parcela da população que depende exclusivamente delas: os menos favorecidos da sociedade. Observa-se que o modelo gerencial com imediatas modificações para a educação pública brasileira, com grandes repercussões, foi mais voltado para atender as demandas internacionais do capital do que para sanar as questões educacionais em si.

Para Ball (2011), as políticas educacionais são pautadas em mecanismos provenientes do neoliberalismo, que traz a lógica do mercado para o setor público. A adoção de parâmetros da gestão empresarial para a educação tem em sua origem o chamado modelo da Nova Gestão Pública. O ato de avaliar torna-se condição indispensável para melhoria dos processos institucionais de mercado, requerendo de instrumentos técnicos próprios para alcançar seus intentos. O contexto histórico das avaliações em larga escala no Brasil permite entender seus desdobramentos, como se percebe na atualidade.

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