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Características da Prova Brasil

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CAPÍTULO 2 PERSPECTIVAS PARA A AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NO

2.3 Características da Prova Brasil

A Prova Brasil postula seus detalhes fundamentados nos relatórios disponibilizados na plataforma do Inep. Esse modelo avaliativo, criado em 2005, por intermédio da Portaria MEC 931/2005, pelas reestruturações do Saeb ao longo dos anos, desde sua instituição na década de 1990, é aplicado a cada dois anos para gerar resultado do desempenho dos estudantes, escolas e munícipios da federação (zonas urbana e rural) que tenham o mínimo de 10 alunos matriculados nas séries avaliadas, quinto e nono ano do ensino fundamental e a terceira série do ensino médio.

A PB fornece dados objetivos que possibilitam verificar e melhorar o desempenho dos estudantes para que haja melhor preparação no mercado de trabalho. Percebe-se, por esses descritos, que a preocupação central da educação é apenas o preparatório para o trabalho e não a formação plena do indivíduo, que inclui outras perspectivas para viver em sociedade. Tal objetivação coaduna com os pressupostos da teoria neoliberal, que compreende a educação não como direito social, mas sim mercadoria.

De acordo com o Inep, também é objetivo de a PB aferir a qualidade do ensino ofertado e fornecer subsídios para a (re)formulação e o monitoramento das políticas públicas a nível nacional. Serve de incentivo para os entes federativos direcionarem seu planejamento educacional, o que é visto como insuficiente por alguns estudiosos da avaliação.

Os instrumentos utilizados na PB são compostos testes de Língua Portuguesa e Matemática, com focos respectivos em leitura e em resolução de problemas. Além desses testes específicos para alunos, diretores, professores e alunos das escolas avaliadas respondem a um questionário que levanta informações do contexto social, econômico e cultural. Os diversos instrumentos de coletas de dados cognitivos e contextuais permitem aferir a qualidade do ensino nas áreas e séries avaliadas.

Quanto à logística da PB, o Inep terceiriza grande parte do processo que antecede e procede a sua realização, desde a formulação dos testes, diagnósticos, cursos de alinhamentos, entre outros. Empresas são contratadas para cuidar dos detalhes que garantem toda a segurança e sigilo do processo, inclusive da contratação de pessoal para a aplicação das avaliações. A correção da PB é feita pelo consórcio.

Observa-se que esse procedimento de terceirização impossibilita as escolas de realizar a devolutiva imediata do desempenho dos alunos nos testes, conforme suas necessidades de aprendizagens. Denota-se que é um meio de inibir a autonomia do professor, diante da realidade escolar. É necessário enfatizar que as matrizes de referência da PB é apenas um recorte do currículo escolar, composto por competências e habilidades representadas por descritores. Os resultados são apresentados em uma escala que varia de 0 a 500 para identificar o nível de desempenho dos alunos, das escolas e dos municípios. O Inep disponibiliza os resultados pelo portal do MEC para toda sociedade, o que possibilita fazer comparações deles.

Com a experiência da PB, os estados e municípios também se interessaram por criar seu próprio sistema avaliativo. Desde então, parece que a escola deixou de ser um ambiente de formação para transformar-se em local de treinamento. Entende-se o aluno produzido em série, desconectado de si mesmo. Nessa ótica, o modelo gerencial é característico da indústria, mas adentra o espaço escolar. Nas palavras de Freitas (2014, p. 93): nota-se o seguimento de sistemas que buscam “[...] pela prioridade da eficácia e da eficiência no gerenciamento dos sistemas

educacionais e escolas segundo a racionalidade pragmática, economicista, positivista”.

A PB tem fundamentos que se baseiam na performance e na produtividade do indivíduo: categorias bem presentes no mundo do capital. Na linha de estruturação da PB, o Censo Escolar torna-se instrumento essencial para a realização da avaliação censitária. O Censo faz a coleta do desempenho demonstrado nas avaliações realizadas pelo Inep.

O Ideb, criado em 2007, ano que ocorreu a segunda edição da PB, combina resultados de dois indicadores: o fluxo escolar e o desempenho dos alunos na PB. De acordo com o MEC, o Ideb é importante por ser um condutor de política pública para a qualidade da educação. Tem como objetivo acompanhar o alcance das metas de qualidade do PDE, estabelecido para atingir índice nacional igual a 6,0 nos anos finais do ensino fundamental, até 2022, ano que se comemorará o bicentenário da Independência do Brasil. Essa meta atende a exigências internacionais de aproximar o patamar educacional brasileiro à média dos países da OCDE.

No parecer de Silva (2017), os propósitos pelos quais o Ideb foi criado não cumprem seus objetivos, pois os dados colhidos não são interpretados e nem suficientes para dar base às análises profundas, capazes de promover intervenções imediatas na escola e no direcionamento de políticas, por parte dos gestores públicos, de modo a favorecer a prática do diretor escolar e dos professores, no saneamento das causas da baixa qualidade da aprendizagem no contexto escolar.

Os indicadores desempenho e fluxo escolar são insuficientes para garantirem a qualidade no ensino, sendo necessário o aperfeiçoamento capaz de contextualizar demais aspectos interescolar e extraescolar:

A avaliação é hoje uma política pública utilizada como estratégia de poder. Em outras palavras, ela se afasta de seu significado primitivo de valor pedagógico e se transforma cada vez mais em instrumento da aliança entre instâncias dos governos nacionais e organismos multilaterais a serviço da causa neoliberal (DIAS SOBRINHO 2003, p. 15).

A avaliação deve acompanhar as transformações históricas, falta ainda fortalecer o papel das avaliações em larga escala, para ir além da simples sinalização do nível de qualidade da educação e contemplar uma real aprendizagem. Envolvendo todos os fatores presentes no contexto escolar. Vieira (2009, p. 106) partilha do pensamento de que

A qualidade de um sistema educacional resulta de um complexo conjunto de fatores em que estão presentes desde elementos mais objetivos como aspectos materiais relativos ao provimento de serviços (a exemplo de prédios, equipamentos e livros) a outros mais tangíveis (como a liderança da equipe dirigente, a motivação da comunidade escolar, etc.).

Para se ter qualidade referenciada pela prática social, os fatores destacados acima devem estar presentes no contexto escolar. As análises coletivas dos resultados e das implicações envolvem tais resultados, inclusive o desenvolvimento da consciência comprometida com a aprendizagem dos estudantes com profundas reflexões a respeito das fragilidades da avaliação externa. Dentre esses fatores, está o financiamento da educação básica, como central dos demais.

Conforme o Inep, os resultados dos testes cognitivos associados ao fluxo escolar revelam as condições em que ocorre a atividade pedagógica in loco. Nesse sentido, o Inep parece entender que só a PB é capaz de retratar as condições existentes no contexto escolar. Esse modelo reduz o homem da subjetividade humana, diante de um instrumento planificado e padronizado que parece ser um jogo de cartas marcadas. As motivações da PB não se relacionam com a necessidade de desenvolvimento dos estudantes para serem protagonistas de sua história, por suas incertezas e implicações, como serão destacadas no item a seguir, cujos desdobramentos estão exemplificados na metrópole goiana.

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