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Desdobramentos da Avaliação em Larga Escala em Goiás

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CAPÍTULO 2 PERSPECTIVAS PARA A AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NO

2.4 Desdobramentos da Avaliação em Larga Escala em Goiás

A experiência da PB realizada na esfera federal instigou os estados e os municípios a se interessarem por criar seus próprios sistemas avaliativos, como meio de padronizar as ações educacionais de sua responsabilidade aos objetivos propostos pela União, como foi o caso de Goiás. Nessa perspectiva, em 2011 o governo do estado, Marconi Perillo, por meio do secretário da educação, Thiago Peixoto (economista), apresentou a sociedade goiana o Sistema de Avaliação Educacional do Estado de Goiás (Saego), trazendo que “O Lema é monitorar para avançar”, (GOIÁS, 2017, p. 6).

O Saego é um programa de avaliação educacional em larga escala, realizado pela Seduce, em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora, MG (UFJF), por meio do Centro de políticas públicas e Avaliação da Educação (Caed)7.

Conforme enfatizado pela Seduce, “O Saego pretende observar o desempenho de estudantes por meio de testes padronizados, com objetivo de verificar o que eles sabem e são capazes de fazer”, (GOIÁS, 2017, p. 1). O sistema é composto por dois tipos de avaliação: as avaliações diagnósticas (realizadas bimestralmente) e uma avaliação externa anual.

A avaliação diagnóstica é elaborada pela Seduce e disponibilizada para as escolas, que aplicam, corrigem e devolvem o teste para o setor responsável - sistematizar os dados. Feito isto, a Secretaria disponibiliza os resultados para escola. O objetivo é fortalecer o processo de diagnóstico do ensino e do aprendizado pelo monitoramento sistemático das ações pedagógicas nas escolas. Conforme a Seduce, por meio dessa avaliação é possível identificar fatores que interferem na aprendizagem, possibilitando que os educadores façam uma autoavaliação e um redirecionamento da prática em prol da melhoria da educação de todos os alunos.

Na implantação do Saego, a Secretaria promoveu formação para professores, de Português e Matemática, e coordenadores pedagógicos em diversas regionais do estado, apresentando sugestões de intervenções a serem desenvolvidas em sala de aula. Cabem ao gestor escolar, aos professores e à coordenação pedagógica um planejamento sistemático das ações interventivas. A disponibilização dos resultados para as escolas vai acompanhada de um pacote de orientações a serem cumpridas. Dessa forma, a avaliação diagnóstica monitora os conteúdos trabalhados no decorrer do ano letivo, além das avaliações internas, realizadas pelo professor. Segundo o depoimento do secretário da educação, Thiago Peixoto, feito à Revista

do Sistema:

As avaliações diagnósticas são matéria-prima para o planejamento político- pedagógico das escolas. Os questionários socioeconômicos apontarão fatores importantes que interferem no ensino e na aprendizagem e que merecem uma análise criteriosa por parte da Secretaria da Educação. O Saego, com as Avaliações Diagnósticas, a Prova Goiás e outras variáveis, servirá de base para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação de Goiás (Idego), indicando o ponto de partida para avançarmos na direção da educação que queremos. Saego vem ainda contribuir para o êxito da

7 É pertinente esclarecer que esse texto foi escrito durante a gestão do governador Marconi Perillo e posteriormente no governo de seu vice, José Eliton de Figueiredo Júnior.

política de estímulo e reconhecimento por mérito - dos profissionais que estão nas escolas, dos estudantes que se esforçam e das unidades de ensino que se destacam -, impulsionando e fortalecendo o trabalho em toda a rede estadual. É assim que elevaremos os índices da educação do estado (PEIXOTO, 2011, p. 7).

O Saego avalia o desempenho dos estudantes do segundo, quinto e nono anos do ensino fundamental e da terceira série do ensino médio da rede estadual conveniada de Goiás. Os instrumentos são compostos por testes de Língua Portuguesa e Matemática mais o questionário socioeconômico para ser respondido por estudantes, professores e gestores escolares. A avaliação faz parte da implementação da reforma educacional, na rede pública goiana, denominado "Pacto pela Educação". De acordo com a Secretaria, os resultados dão suporte à elaboração de políticas públicas coerentes com a realidade percebida por meio da avaliação.

Pelo que se observa, a avaliação tem as mesmas características da PB. O programa é sustentado pela definição de metas e resultados, referenciado pelo que o governo entendia como a modernização da gestão pública da educação do estado com a finalidade de melhorar os indicadores educacionais e sociais, sobretudo, o Índice de Desenvolvimento Educacional de Goiás (Idego), assim como o Ideb. O secretário de educação da época, Thiago Peixoto, afirmou que

O Saego vem ainda contribuir para o êxito da política de estímulo e reconhecimento por mérito dos profissionais que estão nas escolas, dos estudantes que se esforçam e das unidades de ensino que se destacam, impulsionando e fortalecendo o trabalho em toda a rede estadual (PEIXOTO, 2011, p. 6).

A entrevista do secretário infere que o Saego contribui decisivamente para o desenvolvimento da política de meritocracia no contexto escolar. O desempenho é um indicador essencial para a premiação dos profissionais, dos estudantes e das escolas que se destacam. O posicionamento é característico da lógica neoliberal, conforme já discutido neste estudo. Quanto à matriz de referência do Saego, a secretaria afirma que

[...] teve como base as habilidades presentes nas matrizes do SAEB. Os resultados informam a qualidade e a equidade da oferta educacional, de acordo com o aferido pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), em que se avalia o desenvolvimento de habilidades e competências por meio de testes

padronizados de proficiência, e pela Teoria Clássica dos Testes (TCT), que aponta o percentual de acertos de itens no teste (PEIXOTO, 2011, p. 17).

A Secretaria de Educação entende que estará melhorando a qualidade do ensino em Goiás, uma vez que se encontra em sintonia com as ações do governo federal no que diz respeito às avaliações em larga escala/Prova Brasil, com uma vantagem a mais para a realização da avaliação diagnóstica. Conforme a Seduce, o conjunto das avaliações diagnósticas tem caráter investigativo, mesmo sendo externas. Elas permitem o acompanhamento direto ao aluno, favorecendo devolutivas imediatas frente aos resultados e norteiam o processo de ensino- aprendizagem, a partir das ações pedagógicas praticadas pelos professores, após os resultados obtidos por seus alunos.

A avaliação externa apresenta forte relação com o processo avaliativo interno das escolas, pois alunos e professores têm acesso aos resultados que ficam restritos ao ambiente escolar para devolutivas imediatas, mas com a responsabilidade de informar os resultados à Seduce para receber suporte e acompanhamento pedagógico. Esse modelo se aproxima da avaliação formativa na perspectiva de Perrenoud (1999), pois a avaliação diagnóstica possibilita atender os estudantes na sua individualidade. Propicia intervenção pedagógica e acompanhamento direto das dificuldades de aprendizagem e das adequações dos métodos de ensino.

Entretanto, as motivações da avaliação diagnóstica aplicada em Goiás são outras. O acúmulo de instrumentos avaliativos, além da avaliação escolar, parece mais um meio de treinar os alunos para a PB. Desse modo, a forma como é executada a avaliação diagnóstica do estado, mesmo carregada de boas intenções, não contribui com a devidamente para a formação integral dos estudantes. Passa a ideia de que fazer prova é mais importante do que o processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, é possível notar a presença marcante da concepção neoliberal nos procedimentos do Saego, na busca por alinhar suas ações às do governo federal.

Essa razão fundamenta as avaliações em larga escala, mostra a influência tendenciosa dos organismos internacionais por trás de todo esse processo. A avaliação diagnóstica é acoplada ao Saego como forma de intensificar o monitoramento da ação pedagógica no contexto escolar. Apesar de essa avaliação

ser considerada parcialmente como interna por possibilitar que o professor faça a correção dos testes e as devolutivas imediatas, ela acarreta um movimento intenso na escola, que descaracteriza a sua verdadeira função.

Assim como a PB e o Saego, a avaliação diagnóstica proposta pelo governo de Goiás reduz-se a trabalhar conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática. Desse modo, essa avaliação contribui para reforçar a ideia de que somente as duas disciplinas são importantes para a formação do estudante e induz o aluno a estudar somente para fazer prova, o que gera indisposição pela busca da formação ampla. Essa prática desencadeia certos desgastes - físico, emocional, relacional, entre outros - na comunidade escolar e, principalmente, no diretor escolar, que tem como atribuição gerir a ação educativa. Em seu papel, está a articulação do processo de ensino-aprendizagem. Diante desse cenário, o gestor/diretor escolar é essencial no contexto das avaliações externas.

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