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Despesas Públicas com Avaliações

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CAPÍTULO 2 PERSPECTIVAS PARA A AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA NO

2.6 Impactos do Financiamento na Política de Avaliação

2.6.5 Despesas Públicas com Avaliações

O Relatório/2017 mostra as despesas liquidadas pelo Instituto nesse ano, que alcançaram o valor de R$ 1.386.869.764,00 (um bilhão, trezentos e oitenta e seis milhões, oitocentos e sessenta e nove mil, setecentos e sessenta e quatro reais). As despesas totalizaram R$ 1.015.524.644,00 (um bilhão, quinze milhões, quinhentos e

vinte quatro mil, seiscentos e quarenta e quatro reais). O valor a ser pago em 2018 foi de R$ 371.345.120,00 (trezentos e setenta e um milhões, trezentos e quarenta e cinco mil, cento e vinte reais).

A tabela 1 apresenta a relação de seis contratados com os valores mais significativos e o saldo a executar, na data base do período de 31/12/2017, referentes às contratações realizadas para execução dos exames do Inep.

Tabela 1 - Contratações realizadas pelo Inep

Obrigações Contratuais por contratado (%) 31/12/2017 AV (%)

Contratado A - Fundação Cesgranrio

Contratado B- RR Donnelley Editora e Gráfica Ltda. Contratado C - Fundação Getúlio Vargas

Contratado D - Fuvest – Univ. Estadual Paulista Contratado E - Cebraspe

Contratado F - Universidade Federal de Juiz de Fora

Contratado G - Demais Contratos do Inep

R$ 203.924.245,83 R$ 91.858.536,62 R$ 71.050.943,81 R$ 61.509.054,49 R$ 48.765.230,41 R$ 48.316.447,99 R$ 176.097.305,51 29,07 13,09 10,13 8,77 6,95 6,89 25,10 Total R$ 701.521.764,66 100,00 Fonte: (INEP, 2017, p. 157).

Os valores apresentados pelo Relatório do Inep referem-se ao total da contratação por contrato em vigência. O que significa dizer que foram executados e pagos na totalidade no ano de 2017. Na tabela 2, é apresentado o montante das receitas e despesas realizadas no exercício de 2017, juntamente com o percentual gasto na realização dos exames e avaliações da educação básica.

Tabela 2 - Discriminação das receitas e despesas do Inep em 2017 Montante

arrecadado

Despesas realizadas

Gastos com exames e avaliações da educação básica % do total % da Prova Brasil R$1.494.939.624,00 R$1.494.939.624,00 R$ 1.032.409.643,06 74,44 18,14 Fonte: (BRASIL, 2017), organizada pela autora.

Com relação às despesas correntes, o maior volume gasto pelo Inep encontra-se nas despesas com a ação 20RM, que englobam os exames e avaliações da educação básica (Enem, Saeb, Pisa, Encceja e Celpe-bras). Esses eventos consumiram R$ 1.032.409.643,06, o que representa 74,44% do total. A PB concentra 18,14% da totalidade.

Com esses dados, pode-se afirmar que o montante gasto com as avaliações externas da educação básica é significativo. Além dessa constatação, verifica-se que grande parte dos serviços executados são terceirizados pela parceria público- privada, por meio de contratos com fundações de natureza privada, evidenciando uma tendência do Estado nos últimos anos. No Relatório de Gestão 2017, percebem-se as práticas com a presença forte da concepção neoliberal na condução dos seus processos.

Pretende-se com esse investimento melhorar a educação pela aplicação de testes em larga escala. Essa tem como parâmetro aferir a qualidade do ensino, a partir de dois índices o desempenho na prova e o fluxo. Entretanto, a prática tem-se revelado contrária a tal pretensão, uma vez que apenas a aplicação da política de avaliação não colocada a educação básica brasileira em um patamar satisfatório no que se refere à aprendizagem dos estudantes.

Nota-se que 18% do orçamento do Inep são para a PB. Investigadores interessados em melhorar a educação vêm sinalizando o baixo valor de investimentos por aluno para garantir um padrão mínimo de qualidade de ensino. Nesse sentido, Amaral (2012, p. 17) destaca que

Analisar a importância que um país dá ao setor educacional exige-se a conjugação de três indicadores: total de recursos aplicados em educação como percentual do PIB; riqueza do país, expressa pelo valor de seu PIB; e a quantidade de pessoas em idade educacional.

A cultura escolar carregada de interesses do capital encontra-se voltada para conservação e não para transformação e promoção da democracia. Ressalta-se que o enorme desafio do Brasil está em atingir no ano de 2020 um montante mais elevado de recursos aplicados em educação, chegando ao equivalente a 10% do PIB. Se comparado a outros países que investem mais em educação, o governo precisa tomar tais medidas para mudar as condições da qualidade:

As comparações realizadas entre diversos países nos permitem afirmar que o Brasil possui riqueza para promover um salto quantitativo e qualitativo em sua educação, chegando em 2020 numa situação de maior igualdade social e cultural de sua população e em melhores condições para participar de um mundo que, esperamos encontre equilíbrio entre a técnica, a humanidade e o planeta (AMARAL, 2012, p. 201-2).

O Brasil investe uma fatia relativamente grande tanto de seu produto interno bruto (PIB) quanto de seu gasto público total em educação, no entanto, o gasto por aluno ainda é muito inferior ao da maioria dos países membros e parceiros da OCDE, conforme o “Education at a Glance”: OCDE indicators 2018, divulgado pelo Inep. O gasto anual por estudante em instituições de ensino dá uma noção do investimento feito e do que precisa melhorar. O governo gasta cerca de 3.800 dólares por estudante dos ensinos fundamental e médio (incluindo a educação profissional subsequente) nas instituições públicas, o que representa menos que a metade da média OCDE.

Para a garantia dos direitos fundamentais da educação, observam-se dois pontos importantes a serem considerados, o primeiro é a necessidade de atendimento; o segundo, a dificuldade do poder público em enfrentar os desafios para obter a qualidade educacional com equidade. A política de privação dos recursos financeiros compromete o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Amaral (2012), não é possível falar em qualidade absoluta, e sim de qualidades, uma vez que qualidade depende do interesse dos envolvidos no processo educacional. Conforme Sousa e Lopes (2010, p. 59),

A qualidade que se espera alcançar não pode se restringir à constatação da qualidade que se tem. Precisa avançar. É preciso encarar que a qualidade que se tem na educação pública está profundamente ancorada nas condições de vida das pessoas e que a escola — que muitas vezes é a única oportunidade de contato com a cultura sistematizada — precisa criar novos canais de diálogo, de difusão e construção de conhecimento, contando para isso com condições objetivas de realização. Neste momento, acolhem-se, nas políticas de avaliação educacional, princípios de desigualdade e competição.

Nota-se que a qualidade do ensino está atrelada às condições de vida das pessoas que, muitas vezes, têm somente a escola como meio de formação. A avaliação de sistemas contribui para a disseminação do debate sobre a qualidade desejada, entre a realidade e o que se objetiva alcançar. Os sucessivos mecanismos que vêm delineando as políticas públicas ancoram-se no propósito de alavancar a

qualidade da educação, “[...] subsidiando os processos decisórios e as intervenções dos gestores e profissionais da educação atuantes nas diferentes instâncias dos sistemas e instituições educacionais” (SOUSA; LOPES, 2010, p. 54).

Como reação ao contexto de avaliação externa em larga escala posta para sociedade, Horta Neto (2013) provoca os profissionais da educação, gestores públicos e escolares a discernir as diferentes entre a avaliação de sistemas, a institucional e aquela da sala de aula. Observam-se os elementos constitutivos de análise para o resgate da prática pedagógica, indo além de índices e números. Nesse entendimento, o tópico a seguir aponta possibilidades de ações para superação da política de avaliação em larga escala desarticulada do contexto escolar e que fere o direito subjetivo do indivíduo a educação, previsto na CF/1988.

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