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Algumas implicações para o ensino da produção de textos

2.2 Da Produção textual

2.2.4 Algumas implicações para o ensino da produção de textos

As situações de ensino envolvendo o passo a passo para a produção de textos favorecem o desenvolvimento de habilidades metacognitivas – planejamento, monitoramento, revisão e avaliação10.

A inclusão dessas práticas envolvendo a leitura e a produção de escritos implica grande desafio, que é o de ter um planejamento sistemático e com intencionalidade didática.

A partir do planejamento, definimos o que queremos, prevemos situações, organizaremos atividades, dividiremos tarefas, obteremos recursos e avaliaremos o nosso trabalho (MELO e SILVA, 2006).

Alguns princípios básicos norteiam e fundamentam o planejamento de ensino de produção de textos (JOLIBERT, 1994; CURTO, MURILLO & TEIXIDÓ, 2000). Portanto, devemos considerar como premissas básicas: 1. Escrever com finalidades e destinatários claros, aproximando as situações de escrita na escola das que ocorrem fora dela. 2. Escrever para atender a finalidades, destinatários e situações diversificadas, desenvolvendo capacidades variadas, próprias dos diferentes contextos de interação social. 3. Desenvolver capacidades de reflexão sobre os textos escritos e sobre as ações que realizamos ao escrever.

Criar essas condições, assumindo na ação a inclusão desses princípios, sistematizando e planejando situações de escritas de qualidade, enfatizando que estas devem acontecer com frequência e por meio de interações pertinentes, é função inerente ao professor.

As interações sociais são fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem de produção de textos. No entanto, existem critérios para agrupar os alunos durante uma atividade de produção textual, pois não adianta estarem sentados ao lado do outro, o que não garante o trabalho coletivo. Os agrupamentos devem possibilitar a socialização dos conhecimentos dos alunos, as trocas de informações, o confronto de ideias, o levantamento de hipóteses, etc.

Um agrupamento de qualidade demanda seleção e escolha adequada das duplas ou grupos, estando de acordo com os níveis de cada um, no sentido de ampliar e oportunizar interações produtivas. Sabemos que a aprendizagem não se dá da mesma forma para todos os alunos, mas sabemos que eles percorrem caminhos diferentes e que têm ritmos específicos e individuais. Sendo assim, o professor deverá identificar as necessidades individuais dos alunos e atuar com todos ao mesmo tempo.

Propomos, então, corroborando com as ideias de Leal e Albuquerque (2005), que as atividades envolvendo produção de textos sejam organizadas em torno de situações didáticas em grandes grupos; situações didáticas em pequenos grupos; situações didáticas em duplas e situações didáticas de trabalho individual.

Quando o professor deseja desenvolver determinados objetivos em todos os alunos, embora tenha clareza que cada um está aprendendo “coisas” diferentes, o ideal seria realizar atividades envolvendo o grande grupo da sala.

Um exemplo bastante conhecido e indicado é a produção de textos coletivos. Tal atividade é bastante utilizada em séries iniciais, em que o professor atua como escriba da turma, ou seja, ele escreve o que os alunos dizem. O papel do professor não se restringe apenas à função de escriba, pois ele pode discutir sobre os conteúdos que irão compor o texto, pode auxiliar na geração, seleção e organização das ideias, analisando quais são relevantes e coerentes, qual a melhor maneira de expressá-las, atentar para a finalidade do texto e seus interlocutores, provocando a reflexão linguística e metalinguística sobre o que escrevem.

Logo, a produção coletiva de textos cria um espaço de observação dos alunos, tendo o professor como um modelo de produtor de textos, sendo necessário que este verbalize as decisões que toma à medida que escreve. Desse modo, fica claro que a produção coletiva de textos envolvendo a participação de todos da turma deveria se expandir a todas as séries, não sendo uma situação didática exclusiva e relevante apenas das séries iniciais do Ensino Fundamental.

Outra possibilidade de organização seria em pequenos grupos, nos quais as crianças realizam trocas de saberes, levantam hipóteses e fazem questionamentos entre si. Esses grupos podem trabalhar de forma unificada ou diversificada, podem utilizar a mesma atividade, na qual cada grupo terá uma função, ou podem realizar atividades diferenciadas, as quais propiciam o atendimento a cada tipo de hipótese que existe na heterogeneidade da sala.

Um exemplo de atividade de produção de texto para se trabalhar unificando os grupos seria a produção de um conto infantil, no qual cada grupo seria um dos personagens e o professor (ou um aluno) seria o narrador. À medida que o narrador fosse escrevendo a história, cada grupo iria organizar a fala do seu personagem e, assim, o texto seria construído com a participação de todos os grupos, sendo cada um com uma função diferente. Já em produção de textos nos quais os grupos trabalhariam de forma diferenciada, poderíamos utilizar contos diferentes para cada grupo, possibilitando a divisão das responsabilidades da escrita entre si.

Em pesquisa anterior sobre o ensino da produção de textos com crianças, percebemos que,

é preciso estar atento a todos os participantes dos grupos, pois algumas crianças acabam por não participar efetivamente do trabalho coletivo. Pensando nessas crianças mais tímidas, uma organização que favorece a interação dessas crianças seria em atividades de produção em duplas. Nelas, os alunos discutem as ideias intensamente, levantando dúvidas e hipóteses mais facilmente e o professor tem a chance de intervir e entender a lógica do aluno de forma mais detalhada (BRILHANTE e MELO, 2010, [paginação

irregular]).

A escrita da parlenda “Cadê o toucinho que estava aqui?” pode ser um ótimo exemplo para contornar essa situação. Como a parlenda tem perguntas e respostas, uma criança fará/escreverá as perguntas e a outra as respostas.

As produções escritas realizadas individualmente também têm sua relevância para o processo de aprendizagem da escrita de textos. Durante essas produções, os alunos pensam e organizam suas hipóteses, tomando consciência do que sabem e aprendendo a utilizar estratégias que os ajudam a resolver seus problemas linguísticos. Consequentemente, numa produção de textos individual, as crianças estão organizando e coordenando sua capacidade de gerar e selecionar os conteúdos, de textualizar e de registrar seu texto.

Em suma, todas essas modalidades organizativas de atividades envolvendo produções de textos são válidas quando se tem claramente objetivos didáticos a serem alcançados e quando o professor compreende seu papel essencial diante dessas situações, agindo de forma construtiva, problematizadora e esclarecedora.

Por fim, é possível repensar sobre o ensino-aprendizagem da produção textual de forma mais consciente e significativa. Sabendo que há diversos fatores que contribuem nesse processamento, como os aspectos textuais já mencionados, a situação de escrita (o contexto em que o sujeito-autor está inserido) e as etapas que devem ser cumpridas durante essa atividade cognitiva, metacognitiva, afetiva e social.