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Das relações entre Produção textual e Metacognição: Um encontro possível?

As contribuições da Psicologia Cognitiva e da Psicologia soviética, juntamente com as pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1985), mobilizaram novos modos de agir e pensar e revolucionaram os conceitos acerca da leitura e da escrita.

Soares (1996, p. 61) ressalta que,

no que se refere ao processo de alfabetização, a concepção psicogenética da aquisição do sistema de escrita e as contribuições das ciências linguísticas, particularmente a psicolinguística, ‘transformaram’ o conceito de sujeito aprendiz da escrita – não mais um sujeito que aprende a escrever por imitação, por repetição, por associação, copiando e reproduzindo letras, sílabas, palavras e frases – mas um sujeito que aprende atuando com e sobre a língua escrita, buscando compreender o sistema, levantando hipóteses e supostas regularidades.

A mudança conceitual sobre leitura e escrita refletiu nas práticas de alfabetização, (re)significando o ensino e aprendizagem da língua escrita, o que trouxe à tona a importância de ler e produzir textos de diversos gêneros.

Como vimos, a atividade de produzir um texto é uma tarefa complexa, produto de processos cognitivos, metacognitivos e afetivos. Segundo Peixoto et al. (2007), um texto é produzido momento a momento, numa interação entre processo e produto.

Diante disso, ressaltamos a necessidade de desenvolver a metacognição, capacidade de regular e de se tornar consciente de seus processos cognitivos (FLAVELL, 1979), para o exercício eficiente da atividade de produzir textos.

Segundo Martín e Marchesi (1995), o desenvolvimento da capacidade metacognitiva deve partir de ações intencionais por parte do professor, que deverá orientar os alunos por meio de situações interativas, fomentando o processo de internalização dessas estratégias por eles, para que conheçam e autorregulem suas aprendizagens, o que acontece mediante sucessivos processos de tomada de consciência.

Segundo Koch,

a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e, portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades; trata-se de uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de estratégias concretas de ação e a escolha de meios adequados à realização dos objetivos; isto é, trata-se de uma atividade intencional que o falante, de conformidade com as condições sob as quais o texto é produzido, empreende, tentando dar a entender seus propósitos ao destinatário através da manifestação verbal; é uma atividade interacional, visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na atividade de produção textual. (KOCH, 1989, p.22).

Com efeito, ao produzir textos, as crianças estão pensando sobre o seu escrito, usando seus conhecimentos prévios, estabelecendo objetivos, levantando hipóteses, identificando erros e buscando formas de compreensão, melhorando a coerência e coesão textual. Estão refletindo sobre os seus processos cognitivos, planejando suas ações, regulando, executando e avaliando seus conhecimentos. Portanto, utilizam sua capacidade metacognitiva.

Em pesquisa realizada por Delacours-Lins (1998 e 2003), sobre as relações entre clareza cognitiva e aprendizado da leitura, os resultados encontrados apontaram uma importância fundamental da clareza metacognitiva para a aprendizagem da leitura. As motivações das crianças demonstram agentes extrínsecos, em que aparece a ausência de motivos pessoais, a obrigação, o atendimento a expectativas sociais e escolares ou até mesmo motivação profissional. Para algumas crianças, a motivação intrínseca se revelou em aspectos afetivos, que evidenciou o prazer promovido pela leitura e o desejo de se comunicar.

Nesse sentido, vale salientar que tanto na leitura quanto na produção de textos as crianças precisam dessa clareza metacognitiva e de motivações intrínsecas, em que ela possa ter consciência do processo de aprendizagem para produzir textos.

Ao afirmar que é preciso conhecer o gênero textual a ser produzido, atentando para sua função e características, e tendo clareza da finalidade da escrita, lança-se um alerta para a necessidade de se desenvolver estratégias metacognitivas para então termos produtores de textos eficientes. Tendo clareza da tarefa solicitada, o escritor poderá ter um melhor desempenho, pois terá possibilidade de vislumbrar as estratégias que utilizará para produzir seu texto, atendendo a sua finalidade.

Como foi dito, o grande desafio atual é o de incluir reflexões sobre a língua escrita, articulando situações de leitura com situações de produção textual, abandonando o ensino descontextualizado, com ênfase na memória de regras gramaticais. Com isso, ressaltar a importância de ensinar estratégias de aprendizagem, sejam elas cognitivas ou metacognitivas e afetivas, é imprescindível ao ensino atual.

O processo de produção de textos requer conhecimentos específicos, dependendo de sua ação a ser realizada num dado momento. Durante o momento de preparação para a escrita, ao focar o quê, o para quê, o para quem e o como escrever, evidencia-se um conhecimento declarativo – capacidade de enunciar os diversos passos necessários que a compõem, ou ainda de ter consciência do que sabem.

Nos outros momentos que se sucedem, na elaboração de um rascunho, realizando o ato de escrever propriamente dito, a revisão do escrito, bem como sua avaliação e correção, utiliza-se um conhecimento procedimental – capacidade de implementar as estratégias

pensadas, e um conhecimento condicional – habilidade para saber quando, onde e porque utilizar os diferentes tipos de estratégias.

A estreita relação entre a produção de textos e a metacognição deve ser explorada, visto que desempenha uma importante função na qualidade do produto/texto escrito, bem como do processo de escrita. Segundo Flavell (1979), a metacognição desempenha um importante papel na aquisição da língua e na aprendizagem das quatro habilidades linguísticas (produção, oral e escrita, compreensão oral e escrita).

Para Doly (1999, p. 56), “a metacognição é um conceito pedagógico mais do que psicológico”. Portanto, desenvolver atividades metacognitivas, favorecendo a tomada de consciência, é oferecer aos alunos a possibilidade de se tornarem autônomos e protagonistas do seu processo de ensino-aprendizagem.

Martín e Marchesi (1995, p. 33) destacam que “a escolarização tem como principal objetivo que os alunos aprendam a aprender, que se dêem conta do que sabem, e que saibam como e onde obter a informação necessária”.

Nesse sentido, Silva e Sá (1997, p.25) demonstram que

[...] a metacognição abre novas perspectivas para o estudo das diferenças individuais do rendimento escolar, uma vez que destaca o papel pessoal na avaliação e no controle cognitivo. Indivíduos com idênticas capacidades intelectuais podem ter diferentes níveis de realização escolar, devido à forma como cada um atua sobre seus próprios processos de aprendizagem.

Considerando a produção textual como uma atividade cognitiva e metacognitiva que demanda um determinado conhecimento e autorregulação do aluno, enfatizamos que seu ensino deve ser pautado nas múltiplas necessidades comunicativas e deve estar pedagogicamente organizado em situações didáticas que atendam a esse fim.