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3 OPÇÕES METODOLÓGICAS

3.3 Os procedimentos para coleta e análise de dados

Para esta pesquisa, realizamos procedimentos variados, visando à máxima base de dados para coletar com maior precisão a multiplicidade dinâmica das dimensões do objeto de estudo a ser investigado.

Os dados foram coletados no período de novembro/2011 a fevereiro/2012, através de técnicas de investigações recorrentes no campo da educação e adequadas a uma pesquisa de Estudo de Caso Múltiplo.

3.3.1. A observação-participante

Esse método foi adotado em virtude de promover o “contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos” (MINAYO, 1994, p. 59). As observações-participantes ocorreram de acordo com a especificidade de cada sala de aula. Na turma A da Escola 1, tivemos sete sessões de observação, ou seja, sete situações didáticas que envolviam produções escritas na sala de aula. Na turma B da Escola 1, foram realizadas cinco sessões; e na turma C da Escola 2, observamos seis situações didáticas envolvendo a produção escrita pelas crianças. As sessões de observação tiveram uma duração média de duas horas, seja no 1º tempo (antes do recreio) ou no 2º tempo (após o recreio).

A diferenciação da quantidade de sessões de observação-participante ocorreu pelo fato da repetição das estratégias de ensino e, consequentemente, das estratégias utilizadas pelas crianças ao produzirem seus textos, sendo esse quantitativo suficiente para nossas análises.

Para o registro dos dados, utilizamos também o diário de campo como forma de expressar percepções, reflexões, questionamentos e informações observadas durante a rotina diária da turma.

A respeito desse instrumento, Minayo (1994, p. 63) argumenta que “é sobre ele que o pesquisador se debruça no intuito de construir detalhes que no seu somatório vão congregar os diferentes momentos da pesquisa”. Por isso, salientamos a necessidade do detalhamento das descrições das ações das crianças observadas durante as atividades de produzir, revisar e reescrever textos.

Nas primeiras sessões, tivemos a intenção de observar a postura das crianças da turma, com o intuito de perceber os possíveis sujeitos da pesquisa. Nesse momento, verificamos a atuação diante das atividades de produção textual, a fim de perceber características de escritores independentes nessas crianças, pois como já citado anteriormente, este é um critério (c) para a escolha dos sujeitos.

Em seguida, realizamos um diagnóstico com os possíveis sujeitos a fim de verificar o nível psicogenético de escrita em que se encontram e as estratégias utilizadas durante a escrita de um texto. Com isso, fizemos a escolha dos sujeitos participantes da pesquisa.

A partir da terceira sessão de observação em sala de aula, focalizamos a atenção nas crianças escolhidas para participar da pesquisa, na tentativa de apreender os processos metacognitivos que se desenvolvem ao participarem de atividades em que são solicitadas a escrever textos.

Além disso, durante esse período, observamos as práticas desenvolvidas pela professora regente visando à descrição do contexto pedagógico no qual as crianças (sujeitos da pesquisa) estão inseridas. Ressaltamos que não foi intenção analisar as concepções e práticas pedagógicas da referida professora. No entanto, consideramos necessário somente para uma caracterização da prática docente, situando o contexto no qual se desenvolvem os fenômenos a serem observados e analisados.

3.3.2. As entrevistas

A entrevista é um dos instrumentos apropriados a estudos qualitativos, visto que permite conhecer por intercâmbio da linguagem os discursos dos participantes e a maneira como interpretam aspectos do mundo (BOGDAN E BIKLEN, 1994). Com a entrevista, há um maior contato com os sujeitos envolvidos e a presença do entrevistador permite um maior esclarecimento de dúvidas e a garantia de um maior número de respostas que permitirão a análise qualitativa dos dados (MATOS e VIEIRA, 2002).

Neste estudo, realizamos dois tipos de entrevistas: a) A Entrevista Semiestruturada

Após o período de observação, realizamos entrevistas semiestruturadas com as crianças individualmente, em um local disponibilizado pela escola com conforto e privacidade e com a presença somente da pesquisadora e da própria criança. Para isso, utilizamos como estratégia desencadeadora desenhos feitos pelas próprias crianças e os relatos acerca destes. O uso dessa técnica, adaptada do procedimento de desenhos-estória, criado pelo psicanalista Walter Trinca em meados da década de 1970, em que consistia na realização de desenhos livres e contação de uma história por parte das crianças, ocorreu porque, segundo Delacours- Lins (2006), nem sempre a criança é capaz de expressar uma representação.

Portanto, recorremos ao desenho para obter mais detalhes de sua representação, considerando-o um instrumento disparador para várias perguntas acerca da tarefa de produzir textos e, consequentemente, como revelador de concepções que ela ainda não tem acesso ou que não sabe explicitar. Assim, o desenho foi utilizado aqui como estímulo para a expressão verbal da criança, visto que sua motivação para falar poderá revelar sua compreensão sobre o que desenhou.

Em nossa investigação, não interpretamos esses desenhos, pois tiveram a função de apoio para a entrevista, servindo de mote para as perguntas feitas pela pesquisadora e para provocar as falas das crianças. Solicitamos da criança um desenho de uma criança que está

escrevendo um texto (Desenho 1) e de uma turma (sala de aula) em que a professora pediu que escrevessem um texto (Desenho 2). Após a finalização dos desenhos, pedimos que dissessem o que estava acontecendo, isto é, que explicasse o que desenhou. Essas situações tiveram em média quarenta minutos de duração, sendo filmadas e seu áudio transcrito.

Além disso, realizamos entrevistas coletivas com as crianças da mesma turma, utilizando um roteiro semiestruturado (APÊNDICE I). Estas entrevistas também foram gravadas e transcritas na íntegra e tiveram uma duração média de uma hora.

Com efeito, buscaremos ouvir as crianças a fim de conhecer o seu ponto de vista (as suas concepções) sobre a atividade de produzir, revisar e reescrever textos, pois, segundo Sarmento e Pinto (1997), o olhar das crianças revela fenômenos sociais que o olhar dos adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente.

Muitos pesquisadores citados no livro organizado por Cruz (2008) enfatizam a importância de aliar vários procedimentos de pesquisa para ouvir as crianças, o que possibilita uma melhor compreensão das falas das crianças e seu reconhecimento como atores sociais, assim como do seu espaço social, buscando conhecer o seu ponto de vista, diferentemente do que os adultos seriam capazes de captar, analisar e interpretar. Por isso, esta pesquisa busca estabelecer relações entre diferentes procedimentos de coleta de dados para ter mais clareza sobre o objeto de estudo pretendido.

Salientamos que esses procedimentos nos ajudaram a investigar e a captar as narrativas das crianças a fim de apreender e conhecer suas ideias e sentimentos acerca de suas experiências escolares que envolvem a produção de textos escritos.

b) A Entrevista de Explicitação

Após o período de observação-participante, realizamos as entrevistas de explicitação, individuais ou em duplas, realizadas durante a produção de textos escritos solicitados pela pesquisadora à medida que houvesse necessidade de esclarecimentos dos procedimentos desempenhados pelas crianças durante a produção, revisão e reescrita de textos. Dessa forma, pretendíamos ter uma compreensão mais detalhada do dinamismo dos processos envolvidos nesta atividade, revelando também, as implicações desses procedimentos para a aprendizagem da escrita.

Neste momento, convidamos as crianças a se dirigirem ao local que fizemos as intervenções individuais e em duplas. As intervenções foram realizadas primeiramente de forma individual. Posteriormente (somente no dia seguinte), fizemos a revisão do texto escrito em duplas. Nas entrevistas de explicitação que aconteceram antes, durante e logo após a

finalização da produção, revisão e reescrita, fizemos questionamentos (APÊNDICE II e III) sobre a tarefa realizada, sobre seu desempenho e as estratégias utilizadas.

Essas situações de produção, revisão e reescrita feitas pelas próprias crianças foram filmadas para possibilitar uma análise mais minuciosa dos dados.

Solicitamos a escrita de quatro textos para cada criança, que tinham de realizar revisões de seu texto tanto individualmente quanto em dupla (com um colega da turma). Totalizamos, portanto, cento e oito sessões que incluíram produção, revisão e reescrita de textos. A duração dessas sessões variou bastante, pois dependeu do ritmo de cada um para realizar os procedimentos solicitados, ocorrendo em torno de quarenta minutos e até mesmo em uma hora e quarenta minutos.

No item seguinte, detalharemos com mais precisão como essas intervenções aconteceram.