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CAPÍTULO 3 – PRODUÇÃO TEXTUAL COMPLEXA E TRANSDISCIPLINAR A

3.3 Algumas observações necessárias sobre este capítulo

Essas foram as atividades desenvolvidas durante o curso de extensão Produção textual complexa e transdisciplinar a distância para graduandos. As dez unidades previstas acabaram sendo resumidas a seis, porque a previsão inicial de uma unidade por semana foi alterada logo no início dos trabalhos, de tal maneira que as atividades de algumas unidades foram estendidas para duas semanas ou mais. Para cada unidade foi elaborado, como material didático, uma espécie de capítulo, em que um determinado tópico era introduzido por uma reflexão teórica, seguida por exercícios, com exceção da unidade 6, para a qual foram elaborados dois desses textos didáticos, sendo que o segundo não apresentava uma parte teórica, pois os seus exercícios retomavam os temas anteriores. A unidade 6 também foi a mais longa de todas, durando quase que por todo um mês, e, assim, as 40 horas previstas para o curso foram amplamente superadas, não por inciativa minha, como professor, mas por desejo dos próprios alunos.

A não realização do curso como havia sido previsto, no entanto, não pode ser considerado com um problema a depor contra ele, pois essa possibilidade de mudança de rota estava igualmente prevista desde a sua concepção. Essa é a instabilidade do real (MORIN, 2000, 2001, 2003, 2009; MORIN, ALMEIDA, CARVALHO, 2013) referida pela complexidade e da qual eu estava bem ciente quando o curso foi gestado. A imprevisibilidade dos acontecimentos e dos próprios interesses dos alunos que participariam do curso era um pressuposto do seu planejamento, de tal maneira que, embora representasse uma concepção geral, o seu conteúdo e o tempo necessário para desenvolvê-lo esteve sempre em aberto.

As amostras dos textos produzidos, nas unidades descritas acima e que estão nos apêndices, são também exemplos do procedimento adotado para corrigi-los, já que mantive os meus comentários neles. Procurei o diálogo com os alunos, objetivando não advertir, mas sugerir possibilidades de solução, quando percebia algum problema e louvar as suas conquistas, usando uma linguagem informal, sem ser piegas, no entanto. As minhas observações foram bastante detalhadas, de tal maneira que, quando necessário, fazia emendas aos parágrafos, sugestões de alternativas e elogios. Não fiz propriamente uma correção dos textos, mas quis atuar como um orientador da sua produção, tendo o propósito de contemplar os alunos com alguns recursos com os quais pudessem contar, terminado o curso, e também orientar-lhes a buscar ajuda quando achassem necessário.

Neste curso, como já afirmei no início do capítulo, procurei ter uma atitude transdisciplinar de cuidado. O cuidar é acolher o outro, não para ser condescendente com ele, mas é ouvi-lo e dialogar, porque também queremos ser ouvidos. Eu, ao propor o curso que seria o objeto desta pesquisa, mais do que ninguém, queria ser ouvido: que tivessem paciência comigo. Se pudesse ter o encanto das sereias, certamente não me preocuparia em conquistar os alunos, já que um simples gesto meu os traria até mim, porém é bom se recordar de que o doce canto das sereias era enganador, simulando as maiores promessas, levava à morte os incautos. Era preciso, no entanto, mesmo tartamudeante, empenhar-me em ser porta-voz de uma mensagem que incitasse uma interlocução.

Como sou igual a Moisés, que tinha a língua pesada, também receava não ser ouvido por ninguém. Sem a pretensão de levar quem quer que seja à terra prometida, desejava, no entanto, como sujeito transdisciplinar que sou, compartilhar, com outros sujeitos transdisciplinares, uma experiência de produção textual à distância: ensinar e aprender complexa e transdisciplinarmente. Era preciso ser ouvido e ouvir, mesmo sabendo que a interação está sujeita a todo tipo de mal-entendidos, pois quem está disposto a dialogar deve cuidar de todas as suas consequências.

Como estava aberto ao diálogo que pode nos levar aonde não sabemos, o curso se deu numa perspectiva complexa e transdisciplinar de imprevisibilidade. Isso o levou a ter uma configuração muito diversa daquela que teria se o seu conteúdo fosse engessado, com atividades pensadas para acontecerem numa sequência previsível. Esse levar em conta a imprevisibilidade das situações de ensino-aprendizagem na elaboração das próprias atividades curriculares pode ser considerado uma irresponsabilidade imperdoável, um convite à desagregação do saber, ou a saber nenhum, se visto sob a perspectiva do currículo tradicional. No seu modelo disciplinar fechado, que é adotado quase universalmente, uma flexibilidade na

organização do conhecimento é uma coisa impensável, pois só pode ser tido como desorganização, mas num modelo educacional em que o currículo se revela mais uma história de um caminhar, a flexibilidade na organização e produção do conhecimento é a sua própria razão de ser.

Pode ser que o currículo tradicional pareça vantajoso, por organizar previamente e racionalmente o conhecimento para ser abordado nas aulas mas, ao mesmo tempo que é previsível, também tende a petrificar-se, inflexível à renovação. Estar aberto para as imprevisibilidades, nascidas da própria relação de ensino-aprendizagem, não é necessariamente uma temeridade, se for uma ação bem planejada, pode se transformar numa experiência criativa que dinamiza a aprendizagem.

Pensar o ensino-aprendizagem na perspectiva da complexidade e da transdisciplinaridade nos convida a uma aventura, que como tal, precisa de uma dose de planejamento em que se prevê a possibilidade do desconhecido, aliás até o deseja, porque o que seria de uma aventura em que todos os passos devessem ser pensados de antemão? Uma tal falsa aventura seria puro aborrecimento, por estar fechada para a experiência do novo e do surpreendente. Não deve ser à toa que professores e alunos têm vivido uma experiência educacional tão desestimulante e tediosa: no taylorismo que domina a educação, o prazer de aprender, que Aristóteles diz ser próprio da natureza humana, e de ensinar, desejado por todo professor genuíno, se esvai; o produto dessa mal enjambrada experiência todos sabemos ser um retumbante fracasso. Uma aventura complexa e transdisciplinar pelas sendas da educação? Por que não sonhar?!

A abordagem Hermenêutico-Fenomenológica é uma metodologia que busca compreender os fenômenos por meio dos dois procedimentos que herda da hermenêutica e da fenomenologia, a descrição e a interpretação. Neste capítulo, o fenômeno ensino- aprendizagem de produção textual no ensino a distância em uma perspectiva complexa e transdisciplinar foi exaustivamente descrito; no próximo, realizo o segundo processo metodológico da abordagem, a tematização, quando a minha tarefa de interpretar e compreender o fenômeno estudado se encerra sem, no entanto concluí-la, já que a interpretação não é algo do qual se possa dizer que se esgota pois, por ser complexa, não atinge a sua totalidade, a sua completude.

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