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3. Sintagmas nominais sem determinante no Português Europeu

3.2. Algumas observações sobre a ocorrência de SNs sem determinante no PE

Em línguas com artigos, o estudo de nomes simples deve ser comparado com o dos sintagmas nominais que têm determinantes, quantificadores e restritores.

Correia (1993:131), referindo-se à existência de um artigo 0 em Português e, tendo verificado a possibilidade de substituição dos marcadores de determinação o/um no singular ou no plural pelo artigo 0, propõe que o artigo 0 não pode ser substituído, quer pelo artigo definido o, no singular ou no plural, quer pelo artigo indefinido um, no singular ou no plural, salvo se o sintagma nominal sem determinante ocorrer numa posição pós-verbal.

60. * 0 homens já chegaram/ vi 0 homens.

Por isso mesmo, a maior parte das frases contendo sintagmas nominais sem determinante em posição de sujeito são agramaticais.

No entanto, Duarte et ai. (1999) fornecem exemplos de frases com nomes sem determinante a ocuparem a posição de sujeito. Figuram nessa posição tanto nomes

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não contáveis singulares como nomes plurais contáveis:

61. a) Peixe alimenta-nos mais.

b) Vinho branco tira nódoas de vinho tinto.

c) Elefantes invadiram ontem as margens do Zambeze. d) Argumentos como estes são tendentes para... e) Pessoas e animais cruzam a cidade sem embaraço.

36 Sobre verbos inacusativos, ver Mateus et ai. (1989:268).

37 Os nomes referidos neste contexo exigem certas condições para a sua ocorrência. De acordo com

Duarte et ai (1999:486), em posição de sujeito, os nomes singulares sem determinante ocorrem apenas associados com o tempo genérico (61. a-b); os nomes plurais sem determinantes, quandos associados aos tempos do passado (61. c) recebem leitura existencial e, quando associados a enunciados com o tempo gnómico (61. d-e), recebem leitura genérica.

A ausência de determinantes em sintagmas nominais na posição pós- verbal de sujeito é também possível no Português Europeu nos sintagmas nominais seleccionados por verbos, como passar, sair, vir, chegar, entre outros. Dada a natureza inacusativa destes verbos, os respectivos sintagmas nominais são sujeitos superficiais, mas projectados na posição de objecto estrutural:

62. a) Passaram carros velozmente. b) Saíram meninos da sala. c) Vieram homens armados. d) Chegaram amigos de confiança

Os nomes plurais contáveis carros, meninos, homens armados e amigos, das construções ilustradas em (62), parecem ser complementos dos predicadores passar,

sair, vir e chegar. Na verdade, são sintagmas nominais desempenhando

sintacticamente funções de sujeito em posição pós-verbal. Repare-se que, na posição pré-verbal, os exemplos correspondentes seriam agramaticais, como se assinala abaixo:

63. a) * carros passaram velozmente. b) * meninos saíram da sala. c) * homens vieram armados. d) * amigos da confiança chegaram.

Isto quer dizer que, em termos genéricos, a ausência de artigos em sintagmas nominais na posição de sujeito estrutural em Português Europeu tem um carácter excepcional. Os exemplos em (62) mostram que os sujeitos gramaticais, quando aparecem em posição pós-verbal, não coincidem com o tópico da predicação e, por isso mesmo, podem aparecer sem determinante contrastando com os sujeitos em posição pré-verbal, como em (63). Como Mateus et ai. (1989: 57) explicam, a agramaticalidade das construções em (63) deve-se ao facto de o valor referencial dos nomes comuns seleccionados ser construído através de operações de determinação que se aplicam ás suas formas não marcadas. A expressão linguística dessas

operações é, em geral, um dado especificador (artigo ou demonstrativo) e uma marca de número morfológico (singular/plural).

Entre as línguas com artigos, há várias possibilidades quanto à ausência de artigo, mas tipicamente, quando esta ocorre, é com nomes contáveis plurais ou não contáveis:

• como complementos de verbos transitivos, exemplos em (64):

64. a) Quero café. b) Comprei revistas.

• Como complementos de construções impessoais:

65. Vende-se café.

66. Foram lidos textos na conferência.

No seguimento de Longobardi (1994) e outros autores, Rigau (1999) admite também a opcionalidade do uso dos determinantes e dos quantificadores em ocasiões em que as construções nominais não actuam como argumentos de um predicado, como nos exemplos em (67) e (68):

• em sintagmas nominais em posição de vocativo, como em: 67. a) Carteiro, faça-me um favor!

b) Bem vindo, carteiro]

• em sintagmas nominais com função predicativa:

68. a) O Pedro é carteiro. b) O João é professor.

Lois (1996: 206) refere ainda a ocorrência de sintagmas nominais sem determinante cujo núcleo é um topónimo de países e de cidades, como em:

69. a) Chimoio é a cidade mais linda de Moçambique. b) Lisboa é uma cidade muito bonita.

c) Moçambique fica na África Austral.

No Português Europeu não há consenso sobre a organização interna dos sintagmas envolvendo os nomes próprios. Os nomes próprios que designam indivíduos pertencentes à memória histórico-cultural colectiva ocorrem sem especificadores e sem restntores, de acordo com Mateus et ai. (1989:55); quando o nome próprio ocorre com uma expressão restritora designa uma fase ou então é usado como um nome comum: Jonas Savimbi morreu na miséria/* Jonas Savimbi que era o

presidente do movimento Galo Negro nasceu em Angola / o Jonas Savimbi que foi encontrado morto era um homem na miséria.

Apenas os nomes próprios que não pertencem aos contextos descritos são, em geral, precedidos de artigo definido, este desprovido da sua função de operador de definição e singularização. Alguns topónimos, como os de (69), (* O Chimoio é a

cidade...; * a Lisboa é uma cidade...; * o Moçambique fica na África Austral), não

admitem o artigo definido. Mateus et ai (1989) sublinham a obrigatoriedade do artigo definido antes dos nomes geográficos, com a excepção dos nomes de cidades formados historicamente a partir de nomes comuns (Porto) e de nomes de alguns países. Assim diz-se a Europa, a Espanha, a África, o Porto e não *o Portugal, *o

a o

Moçambique.

3.3. SNs sem determinante no PE; leitura genérica/ leitura existencial e