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ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE CATEGORIAS EMERGENTES NO PROCESSO INVESTIGATIVO

APROXIMAÇÕES AO PROBLEMA: ALGUMAS REFLEXÕES

1. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA

1.1. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE CATEGORIAS EMERGENTES NO PROCESSO INVESTIGATIVO

A esse ponto retomamos a observação de Tello (2015) sobre o caráter descritivo dos estudos no campo da política educativa. No percurso da investigação, várias categorias foram se evidenciando como fundamentais para análise e compreensão do objeto. Um dos elementos que contribuíram para que avançássemos no exercício de reflexões crítico-analíticas foi o reconhecimento de que as transformações produzidas no mundo após a Segunda Guerra Mundial, em termos econômicos,

sociais, políticos e culturais, requerem uma reflexão que ultrapasse as categorias clássicas de nação e soberania.

Na relação com o objeto de pesquisa, o movimento desencadeado pela compreensão das políticas educativas de jovens e adultos nos levou à imersão no estudo das articulações e produções que, ao congregarem o contexto social mais amplo, ultrapassam as fronteiras nacionais e seguem imbricadas pelos diversos territórios que compõem a sociedade globalizada.

Sendo assim, nossa análise de políticas educativas, ancorada na abordagem analítica de Roger Dale, subscrita como Agenda Globalmente Estruturada para a Educação (AGEE), constitui a perspectiva epistemológica que fundamenta a investigação. Essa abordagem nos possibilita compreender não só os impactos da globalização, mas, também, como ela vem se relacionando com a educação e os desdobramentos produzidos nas políticas.

A globalização, enquanto “um conjunto de dispositivos político-econômicos para a organização da economia global, conduzido pela necessidade de manter o sistema capitalista, mais do que qualquer “Outro” conjunto de valores” (DALE, 2001, p.146), marca a mudança de paradigma, apontada por Ianni (1997), o que altera profundamente o papel do Estado tanto em nível nacional, como transnacional.

Assim, a globalização inaugurou novas formas de relação dos países na esfera mundial que ultrapassam os territórios e se estabelecem enquanto processos. Apesar disso, ainda subsiste a hierarquia, fortemente marcada, em que a história, a cultura a economia e a política são definidas a partir de um olhar do colonizador, num viés universal, pautado numa verdade absoluta que dita as regras para o mundo (IANNI, 1997).

Consoante com as ideias de Ianni, Dale (2010) nos adverte que ao analisarmos as políticas educativas, não podemos desconsiderar as mudanças que vêm ocorrendo em nível global e nos determos apenas numa análise local, pois o Estado nacional não subsiste com a mesma força e nem assume as mesmas funções de outrora. Uma teoria que desconsidera a conjuntura global não avança na compreensão de

que as relações consolidadas com a globalização transcendem os territórios nacionais e se configuram como transnacionais. É este o movimento que a que nos lançamos a fazer ao propormos reflexão que considere a relação global/nacional na indução das políticas.

Nessa complexidade em que estamos imersos, Robertson e Dale (2011) apresentam três elementos primordiais para reflexão que nos ajudam a compreender a dinâmica das políticas: mandato, capacidade e governança.

O Mandato é considerado um acordo mundial, por meio do qual se define e orienta a estruturação das políticas educacionais, tendo como parâmetro as metas e objetivos traçados em congressos em que os Organismos Internacionais (OI) agem como indutores da política por meio de uma agenda global para educação. Ou seja, os OI (Unesco, OCDE, Bird etc.), assumem a responsabilidade de garantir que os interesses econômicos da sociedade global se manifestem nas políticas educativas implementadas pelos Estados-nação. Já a Capacidade diz respeito às condições reais para que o mandato seja executado e tem como ênfase a eficiência, a efetividade e a responsabilidade dos sujeitos envolvidos no processo, enquanto que a Governança se apresenta como elemento que reconfigura as relações entre o Estado e a sociedade civil, pois apesar de o Estado assumir as ações, há, também, o envolvimento da sociedade civil na assunção das responsabilidades educacionais com a população.

Ou seja, esses três elementos se materializam nas agendas globais que orientam os países sobre o que fazer (mandato), como fazer (capacidade) e quem deve fazer (governança).

O novo mandato para a educação – o que é desejável que o sistema educacional deveria fazer – cada vez mais privilegia a competitividade econômica global, a aprendizagem pela vida toda, a educação para a economia embasada no conhecimento e na educação como a indústria de exportação. Os recursos (humanos e fiscais) para a educação enfatizam a eficiência, a efetividade, a responsabilização e a auditabilidade. Finalmente novas estruturas de governança (financiamento, regulação e assim por diante) reconfiguram as relações entre o estado e a sociedade civil, o público, o privado, os cidadãos e a comunidade (NEWMAN, 2001 apud DALE, 2011, p. 348).

Assim, as agendas globais e as orientações dos Organismos Internacionais (OI) assumem o mandato, a capacidade e a governança como mote principal dos seus documentos, produzindo orientações que tomam como prerrogativa as mudanças na economia mundial e as suas interferências na condução das políticas educativas. As pautas formuladas transnacionalmente afetam os sistemas educativos nacionais e a forma como os Estados interpretam e respondem a essa agenda estruturada para a educação. Dessa forma, as políticas educativas implementadas nos territórios fazem parte de um jogo de forças nacionais, regionais e transnacionais.

Nessa composição, a abordagem analítica da Agenda Globalmente Estruturada para a Educação (AGEE), formulada por Dale (2004) se apresenta como uma das possibilidades de evidenciar a relação entre a globalização e as políticas educativas de jovens e adultos no Brasil, bem como as orientações dos Organismos Internacionais para a definição dos contornos dessas políticas.

Mesmo considerando as interferências das diretrizes internacionais nas políticas, e a globalização que vem rompendo com as fronteiras entre os Estados, acreditamos na possibilidade de transformação e interferência dos sujeitos nos rumos da história. Com essa premissa, buscamos interlocução com Antonio Gramsci (1978; 2001) e sua concepção de Estado ampliado que, ao articular teoria e ação política, afirma que é “possível alterar os percursos hegemônicos e transformar as estruturas da sociedade, tendo em vista que o homem é um processo de seus atos” (GRAMSCI, 1978, p. 38).

Enquanto seres históricos, ao buscarmos produzir movimentos nos rumos da história, temos a possibilidade de compreender as políticas educativas na relação com o momento histórico, com os mecanismos que sustentam a estrutura social e os eventos que desencadeiam. Nesse sentido, não perdemos de vista que elas “são o resultado da dinâmica do jogo de forças, que se estabelecem no âmbito das relações de poder constituídas pelos grupos econômicos, políticos, classes sociais, e demais organizações da sociedade civil” (BONETI, 2012, p. 76).

Ao explicitarmos os fundamentos teórico-metodológicos, empenhamos esforços no sentido de escapar de uma abordagem meramente descritiva acerca do objeto, na

tentativa de avançar no âmbito da produção dos estudos nesse campo. Buscamos, com efeito, nos precaver em relação a essa abordagem que tem caracterizado os estudos da política educativa. A teorização que entrelaçamos até então, passa a constituir, nos próximos capítulos, objeto de atenção mais detida sobre as categorias teóricas evidenciadas no processo.

2. ESTADO, GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA EDUCATIVA: TRANSMUTAÇÕES