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3 DIVERSIDADE DE GÊNERO E SEXUAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

3.3 UMA EXPERIÊNCIA NO CURSO GDE

3.3.1 ALGUNS ASPECTOS INTERESSANTES DA EXPERIÊNCIA

Participar da modalidade da EaD requer algumas mudanças nas formas de se pensar e de se fazer educação. Implica na ruptura de alguns paradigmas da educação tradicional para que se possa percorrer novas possibilidades metodológicas que o ambiente virtual de aprendizagem proporciona. Nesse contexto, não só as concepções de tempo e espaço são ressignificadas, mas sobretudo, as relações entre professor/a, aluno/a, tutor/a; as formas de ensino e aprendizagem que ocorrem num processo de mediação pedagógica; bem como, as concepções de ensinar, de aprender e de construir conhecimentos. Assim, considero relevante relatar alguns aspectos interessantes a partir da minha experiência no GDE.

A) TUTORIA

Segundo os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância, os/as tutores/as, presenciais ou a distância, desempenham importante papel no processo educacional dos cursos superiores a distância, pois participam ativamente da prática pedagógica. “Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico” (BRASIL, 2013b, p. 21).

O trabalho desenvolvido pelos/as tutores/as, em parceria com os/as professores/as, contribui para a rede de aprendizagem colaborativa que vai sendo construída ao longo do curso, através da sua atuação no auxílio da realização de tarefas, no esclarecimento de dúvidas, nas interações nos fóruns e via mensagens instantâneas, bem como na utilização da plataforma e das TIC.

A partir da minha participação como tutora a distância, considero a intervenção do/a tutor/a um fator importante no processo ensino-aprendizagem e, também, fundamental para o êxito do curso, já que as interações com os/as cursistas colaboraram para a motivação dos/as mesmos na realização das tarefas, no contato para dar os feedbacks sobre as mesmas, no alerta sobre prazos e postagens e, dessa forma, na permanência dos/as alunos/as no curso. Podemos

perceber essa interação nas falas abaixo, que aconteceram via mensagem instantânea13:

Figura 2 – Interface da plataforma do curso GDE: exemplos de mensagens instantâneas

Fonte: disponível em http://www.uab.furg.br/mod/view.php?id=18050.

Além disso, pode-se perceber que, apesar de o/a tutor/a a distância ter, como principal atribuição manter a interação com os/as cursistas para esclarecer dúvidas e ajudar na realização de tarefas, o/a tutor/a a distância

tem também a responsabilidade de promover espaços de construção coletiva de conhecimentos, selecionar material de apoio e sustentação teórica aos conteúdos e, frequentemente, faz parte de suas atribuições participar dos processos avaliativos de ensino-aprendizagem, junto com os docentes (BRASIL, 2013b, p. 21).

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Ferramenta disponibilizada na Plataforma Moodle que permite o envio de mensagens diretas entre os usuários.

Vale ressaltar que é exigido do/a tutor/a, além de dinamismo, espírito crítico e capacidade de estimular a busca pelo conhecimento, domínio específico dos conteúdos do curso, capacitação em mídias da educação e capacitação em fundamentos da EaD e no modelo de tutoria (BRASIL, 2013b). Assim, o GESE, grupo responsável pelo desenvolvimento do GDE no município de Rio Grande, proporcionou essa capacitação aos/às tutores/as do curso através de reuniões semanais. Essas reuniões configuraram espaços de estudo e formação, onde eram discutidas as temáticas de cada módulo, que ferramenta do ambiente virtual seria utilizada para a realização da tarefa da semana e como seria avaliada tal tarefa.

A partir dessa formação, juntamente com os/as integrantes do GESE, fui me constituindo como tutora, pois

esse espaço funcionou como um momento para contar e ouvir histórias e experiências, já que esta formação dava-se juntamente com os/as tutores/as que atuavam em polos diferentes dos nossos. Nesse processo em que compartilhávamos nossas vivências, podíamos repensar algumas de nossas práticas, nossas respostas aos/às cursistas, a forma como corrigíamos uma tarefa ou como dávamos o feedback das atividades para os/as cursistas; enfim, esse momento possibilitou que pudéssemos pensar acerca da nossa constituição, naquele momento, como tutoras (RIZZA e COSTA, 2012, p. 30).

Assim, dentre as diversas atribuições do/a tutor/a, destaco a importância da sua participação não apenas como mediador/a do processo de formação dos sujeitos, mas como participante ativo/a dessa formação. Acredito que o desafio maior tenha sido não apenas manter os/as cursistas motivados/as a aprender, mas construir conhecimentos acerca das temáticas trabalhadas no curso e disseminar práticas pedagógicas na escola de enfrentamento às desigualdades raciais e de gênero e à homofobia.

B) FÓRUM

O fórum de discussões foi uma das atividades propostas pelo curso GDE que, sem dúvida, representou uma estratégia de “fazer falar” potente para que fossem problematizadas as temáticas abordadas no curso. Através dessa ferramenta, foi possível enriquecer os processos de aprendizagem de todos/as: cursistas, professores/as e tutores/as. Através da interação, puderam ser

compartilhados conhecimentos, crenças e valores, pontos de vista diferentes, experiências pessoais e profissionais, como também, relações afetivas foram sendo construídas entre os sujeitos.

Os fóruns, disponibilizados no curso GDE, possibilitaram a construção de uma rede colaborativa de aprendizagem, onde puderam ser discutidas temáticas que envolvem os modos de ser e de viver dos sujeitos na contemporaneidade. “De certo modo, pode-se dizer que esses temas – gênero, diversidade sexual, corpos, homofobia, relações étnico-raciais – e as questões relativas aos mesmos, encontram-se presentes em diversos campos e instâncias sociais entrelaçando-se ou confrontando-se” (RIBEIRO, 2012, p. 35-36).

Destaco, também, que além de funcionar como um canal de comunicação, no fórum puderam ser aprofundadas discussões propostas pelos textos teóricos e que foram sendo enriquecidas pelas postagens de outros textos e artefatos culturais, contribuindo, assim, para a construção de conhecimentos acerca das temáticas pelos/as participantes. Como podemos observar nas figuras abaixo:

Figura 3 - Interface da plataforma do curso GDE: fórum "Violência de gênero na escola"

Figura 4 - Interface da plataforma do curso GDE: fórum “Violência de gênero na escola”

Fonte: disponível em http://www.uab.furg.br/mod/forum/view.php?id=18055.

Dessa forma, acredito que as discussões estabelecidas nos fóruns, ao longo do curso, proporcionaram ricos momentos de interação e aprendizagem onde, através de referenciais teóricos e de outros materiais compartilhados pelos/as participantes, puderam ser problematizadas as temáticas discutidas no curso e “possibilitaram um (re)pensar sobre a forma com que temos tratado a diversidade nos diversos contextos sócio-culturais nos quais estamos inseridos/as e, de modo especial no espaço escolar” (RIBEIRO, 2012, p. 43-44).

Os fóruns também possibilitaram a construção de múltiplas conexões que permitiram aos/às profissionais da educação, tutores/as e professores/as, a cooperação e a colaboração à medida que propiciaram o compartilhamento de informações, o esclarecimento de dúvidas, a discussão, o relato de experiências, ou seja, a formação de uma comunidade virtual (Ibid, p.44).

Verificou-se, então, que essa ferramenta funcionou como um espaço de aprendizagem para problematizar a diversidade cultural na sala de aula, possibilitando outras formas de (re)pensar o currículo e as práticas pedagógicas.

A fim de sistematizar a participação e o aprendizado que foi sendo construído pelos/as cursistas, ao longo do GDE, foi proposto que realizassem um Projeto de Intervenção para ser aplicado nas escolas e/ou instituições em que atuavam, a partir de uma das temáticas desenvolvidas no curso. Os/as cursistas deveriam detectar algum conflito ou necessidade de intervenção em seu contexto de trabalho, em relação a alguma forma de preconceito ou discriminação. E, ao final do curso, os/as mesmos/as tinham, como tarefa final, que elaborar e postar um Relatório Final do Projeto de Intervenção aplicado.

Para os/as organizadores/as do curso, trabalhar com Projetos de Intervenção possibilitaria a articulação de ações efetivas nas escolas e em outras instituições, a partir das discussões realizadas, de forma que os/as cursistas pudessem disseminar outras formas de pensar a escola, com objetivo de provocar mudanças sociais.

Dentre as possibilidades e tipos de projetos possíveis de serem desenvolvidos no ambiente escolar, optamos, no contexto do curso de aperfeiçoamento Gênero e Diversidade na Escola - GDE, por trabalhar com projetos de intervenção, uma vez que esses buscam o enfrentamento de situações-problema – tais como a violência sexista, étnico-racial e homofóbica – que envolvem a comunidade escolar, indo ao encontro dos objetivos do curso (QUADRADO; BARROS, 2012, p.46).

Nos quatro municípios abrangidos por essa versão do GDE, foram desenvolvidos 42 projetos de intervenção. O público-alvo das intervenções foi bastante diversificado, atingindo desde a Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos, bem como funcionários/as de escola e a comunidade escolar. As temáticas escolhidas para o desenvolvimento das ações também foram bem variadas: sexualidade, gravidez na adolescência, homossexualidade, gênero, diversidade cultural, corpo, o negro na nossa cultura, inclusão, entre outros (Ibid).

Analisando a produção dos projetos, percebe-se que houve a possibilidade de os/as cursistas refletirem sobre a importância da discussão das questões da diversidade de gênero, sexual e étnico-racial no ambiente de trabalho, percebendo- as como questões presentes no cotidiano da escola e em outras instituições sociais e (re)pensassem ações pedagógicas que pudessem ser realizadas nesses ambientes.

Abaixo, trago dois excertos de projetos de intervenção que foram realizados em espaços diferentes - na Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto

do Município de São Lourenço do Sul e na E.M.E.F.Machado de Assis - mas que tiveram produtivas e múltiplas reflexões para todos/as: cursistas, professoras e tutoras.

Figura 5 - Excerto do Projeto de Intervenção intitulado “O elemento feminino nas relações de poder”

Figura 6 - Excerto do Projeto de Intervenção intitulado “O Negro em São Lourenço do Sul”

Fonte: Diário da pesquisadora: material do curso

Nesse sentido, desde a elaboração dos projetos de intervenção, já foi possível considerar a importância de sua aplicação na medida em que os/as cursistas, ao vivenciarem e elaborarem práticas pedagógicas de enfrentamento às discriminações sociais, puderam/podem (re)elaborar os seus entendimentos sobre

diversidade sexual, de gênero e étnico-racial e colaborar para mudanças significativas em seus contextos escolares.

A vivência durante todas as etapas do projeto – desde o momento em que pensaram nas situações-problema sobre as quais queriam intervir, até a elaboração e o desenvolvimento das propostas – possibilitou aos profissionais da educação repensar sobre seus entendimentos e experiências com relação às temáticas do projeto, ocasionando algumas rupturas e mudanças na forma como enxergavam a si mesmos dentro do contexto sobre o qual a intervenção ocorreu (QUADRADO; BARROS, 2012, p.49).

A partir daí, acredita-se que a prática de intervenção representa a possibilidade de (re)encontro dos sujeitos com a sua comunidade e da (re)invenção do seu cotidiano em prol das mudanças almejadas (QUADRADO; BARROS, 2012).

No próximo capítulo, trago a importância da Educação a Distância no contexto educacional atual, representando um espaço de formação continuada potente para a discussão das temáticas de gênero e diversidade no espaço escolar.

4 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS: