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Os direitos humanos são os direitos essenciais a todos os seres humanos, sem que haja discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade ou por qualquer outro motivo. Eles podem ser civis ou políticos, como o direito à vida, à igualdade perante à lei e à liberdade de expressão. Podem também ser econômicos, sociais e culturais, como o direito ao trabalho e à educação e coletivos, como o direito ao desenvolvimento. A garantia dos direitos universais é feita por lei, na forma de tratados e de leis internacionais, por exemplo (BRASIL, 2013).

Ao me deparar com esse texto do Portal Brasil acerca da Declaração Universal dos Direitos Humanos - aprovada no ano de 1948 em assembleia geral realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) – presencia-se a existência de um documento que representa a luta universal contra a opressão e a discriminação e que assegura, a todos e todas, igualdade de direitos e cidadania, penso em por que ser necessária a criação de políticas públicas de inclusão na educação no Brasil. Se todos e todas gozamos dos mesmos direitos por que, a todo tempo, é necessário destacar a garantia de direitos àqueles e àquelas nomeados/as como diferentes? Talvez porque a visibilidade da complexa diversidade cultural que marca o mundo contemporâneo esteja produzindo significados pulsantes e/ou contraditórios, ocasionando novas dinâmicas sociais e nos fazendo pensar sobre questões que nos desacomodam, tais como o racismo, as religiões, a diversidade sexual, entre outras.

Essas e muitas outras indagações nos levam a pensar na emergência das discussões - e não apenas no campo da Educação - sobre a diversidade cultural, não só como resultado das intensas mudanças demográficas e culturais da contemporaneidade, mas também, como um conceito a ser estudado e ampliado em estratégias políticas comprometidas com a igualdade entre os sujeitos, nos mais variados espaços sociais. Faz-se necessário discutir sobre diversidade – cultural, sexual, de gênero, de raça e etnia, de religião, de classe social, de idade, de necessidades especiais, entre outras – para se pensar numa educação mais plural e que contemple os diversos grupos sociais e culturais.

Nessa direção, os Estudos Culturais mostram-se como um campo de estudos politicamente potente porque está conectado com as novas formações

culturais e supranacionais, bem como com as novas configurações de classes sociais, entre outras constituições contemporâneas e que têm contribuído para nos apontar a arbitrariedade com que inúmeras demarcações históricas foram instituídas. Dessa forma, os Estudos Culturais buscam romper com uma visão elitista e naturalizada de cultura e percorrer alguns espaços por muito tempo intransponíveis bem como embebê-los de outras concepções e formas de expressão advindas de grupos considerados não-hegemônicos (COSTA, 2004).

Para Costa (2004), os deslocamentos na concepção de cultura, suscitados pelos Estudos Culturais, cujas construções teóricas e políticas manifestaram-se contra as concepções elitistas de cultura, proporcionaram debates sobre outras categorias sociais tais como raça, etnia e gênero que, ao longo do tempo, foram resultado de classificações arbitrárias fixadas e a partir das quais foram nomeadas como os outros da cultura.

Escosteguy (2006) salienta que, do ponto de vista político, os Estudos Culturais podem ser vistos como sinônimo de correção política representando a política cultural de vários movimentos sociais e, do ponto de vista teórico, como uma insatisfação com os limites impostos por algumas disciplinas, propondo, assim, um afrouxamento dos limites estabelecidos entre elas. Mas, embora os Estudos Culturais constituam um campo interdisciplinar é preciso entender que ele não é, contudo, um campo unificado; as relações entre as formas, instituições e práticas culturais com a sociedade bem como as mudanças sociais formam seu eixo de pesquisa. É preciso, no entanto, uma reformulação sobre o sentido de cultura. Aqui, cultura não é constituída apenas de obras artísticas ou literárias de excelência, mas compreende a variedade das experiências vividas pelos grupos sociais.

Dentre as questões importantes de análise dos Estudos Culturais, segundo Costa (2004), pode-se destacar: a desconstrução e o afastamento de concepções edificadas sobre os binarismos como formas de trabalhar no campo político com novos conceitos e métodos; a análise de textos culturais como formas de expor mecanismos de subordinação, controle e exclusão; a imensa disseminação e a sofisticação tecnológica de artefatos culturais como formas de moldar identidades; os estudos sobre as questões étnicas e raciais, sobre o feminismo e sobre a construção social da sexualidade; como algumas das questões da política cultural que ganharam visibilidade atualmente. Analisá-las como um texto cultural,

representaria uma das nossas formas de participar das lutas políticas por uma sociedade menos excludente.

A partir dos Estudos Culturais, na sua multiplicidade de possibilidades analíticas, é possível pensarmos na análise de questões em torno da produção das identidades, bem como na instauração de uma política cultural de identidades que, segundo Silva (2000b), pode ser entendida como um conjunto de atividades políticas centradas em torno da reivindicação do reconhecimento da identidade de grupos considerados subordinados em relação às identidades hegemônicas.

Silva (2000a) coloca a identidade e a diferença como o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva, advertindo que elas, embora consideradas naturais, são ativamente produzidas cultural e socialmente. Para autor, a partir do momento em que se tenta estabelecer uma fixação de identidades ou exercer uma pedagogia de respeito às diferenças, acaba-se por estabelecer uma norma arbitrária de eleição da identidade ideal e da exclusão da diferença.

A instauração dessa nova política cultural de identidades, como afirma Louro (2008), possibilitou que as chamadas minorias sexuais e étnicas passassem a reivindicar seus direitos, questionando teorias, criando novas linguagens e construindo novas práticas sociais. Sendo assim, uma série de lutas passou a ser protagonizada por diversos grupos sociais tradicionalmente subordinados que utilizaram a cultura como palco dos embates; tais grupos pretenderam e pretendem tornar visíveis outros modos de ser e de viver, empenhando-se em não apenas falar de si e por si, mas, fundamentalmente em se autorrepresentar (Ibid).

Ao abordarmos a diversidade cultural, precisamos pensá-la na sua estreita conexão com o currículo. Para Candau (2008), há uma concepção da escola como um espaço de cruzamento de culturas - fluido e complexo, atravessado por tensões e conflitos – por abarcar diversas influências culturais da ciência, do cenário social, da própria instituição escolar bem como das experiências individuais dos sujeitos desses espaços. No entanto, é preciso reconhecer que as relações culturais não são pacíficas, elas não são puras, antes mantêm entre si um processo de hibridização e não fixam os sujeitos em determinados padrões; e que esses processos são atravessados por questões de poder, por relações fortemente hierarquizadas que acabam posicionando os grupos a partir de uma visão homogeneizadora e estereotipada de nós mesmos, em que os outros como aqueles grupos considerados

minoritários e discriminados sendo, assim, construídas as diferenças sob uma visão etnocêntrica (Ibid).

Nesse embate cultural da contemporaneidade, Silva (2000a) considera necessário perceber os modos como são construídas e reconstruídas as posições da normalidade e da diferença; é preciso reconhecer quem é o sujeito normal e quem se diferencia desse sujeito bem como refletir sobre os possíveis significados que podem ser atribuídos à norma e à diferença. Para o autor, tendemos a afirmar nossa identidade como sendo a norma e o que se distancia dela como a diferença, mas precisamos considerar que a identidade e a diferença não são naturais e sim (re)produzidas, a todo instante, por meio da linguagem nas relações sociais (Ibid).

Assim, mostra-se emergente pensar, falar e discutir sobre as diversidades – e, neste texto, especificamente, de gênero e sexual – nas suas mais variadas formas, pois se vivêssemos num mundo homogêneo, não precisaríamos afirmar as nossas identidades o tempo todo, nem tampouco negá-las, nomeando a diferença.