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3 DIVERSIDADE DE GÊNERO E SEXUAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

3.2 O CURSO DE APERFEIÇOAMENTO GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA – GDE

3.2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O curso de aperfeiçoamento Gênero e Diversidade na Escola (GDE) é resultado de uma articulação inicial entre os diversos ministérios do Governo Brasileiro (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Secretaria Especial de Políticas de Promoção e Igualdade Racial e o Ministério da Educação), o British Council (órgão do Reino Unido atuante na área de Direitos Humanos, Educação e Cultura) e o Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ) e prevê contribuir para a formação continuada de profissionais da rede pública acerca de três questões articuladas: as relações de gênero, as relações étnico-raciais e a diversidade de orientação sexual (GDE, 2009). A metodologia, os conteúdos e o projeto político-pedagógico do curso foram construídos, de forma coletiva, pelos parceiros envolvidos.

Desde 2008, o GDE representou uma experiência inédita de formação de profissionais de educação a distância nas temáticas de gênero e foi oferecido por meio de edital da SECADI/MEC para todas as Instituições Públicas de Ensino Superior do país que quiseram oferecer o curso pelo Sistema da Universidade Aberta do Brasil – UAB11

. Assim, o GDE passou a integrar a Rede de Educação para a Diversidade no âmbito do Ministério da Educação que visa a implementação de um programa de oferta de cursos de formação para professores/as e profissionais da educação para a diversidade.

O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, juntamente com a Secretaria Especial de Políticas para as mulheres tiveram como objetivo, ao apresentarem o GDE, proporcionar a educadores e educadoras da rede pública do Ensino Básico uma oportunidade de lidar com temas específicos que

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Para as próximas edições, o curso Gênero e Diversidade na Escola passará a ser ofertado via catálogo disponibilizado às escolas pela SECADI/MEC.

versam a respeito da valorização da diversidade e dos direitos humanos, por acreditarem na necessidade da formação dos/as profissionais da educação nessas temáticas, a fim de que possam sentir-se preparados/as para lidar com as novas e complexas práticas culturais (BRASIL, 2013). Segundo o Portal do MEC (ibid), o curso foi orientado a partir de metas expressas nos documentos abaixo:

- Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, de 2003.

- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/1996, em específico seu artigo 26-A, que determina a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica.

- Lei nº 10.639/2003.

- Plano Nacional de Política para as Mulheres.

- Programa Brasil sem Homofobia, Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTTB e Promoção da Cidadania Homossexual, de março de 2004.

Dessa forma, a oferta do curso GDE representa uma política pública mais geral em educação, focada na formação de professores/as da Educação Básica. No entanto, o Ministério da Educação, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção e Igualdade Racial, parceiros neste projeto, atuam em parceria com estados, municípios e sociedade civil na construção de políticas públicas em educação que visem ao combate de qualquer forma de discriminação e ao racismo, buscando a valorização da diversidade étnico-racial e a promoção da equidade de gênero.

Para o MEC, não bastam normas que garantam os direitos às pessoas sem que haja uma educação para isso, uma formação em valores e conceitos; assim, faz-se necessário a criação de políticas públicas, no campo da educação formal e informal, de enfrentamento à discriminação e ao preconceito, garantindo não só uma melhoria no acesso e permanência de grupos historicamente discriminados, mas também, ações destinadas a educar a sociedade para o respeito à diversidade e para o combate à discriminação. “Educar para a diversidade não significa apenas reconhecer as diferenças, mas refletir sobre as relações e os direitos de todos/as” (BRASIL, 2013, p.2).

E, sendo a escola, um espaço sociocultural onde as diferenças se produzem, se cruzam e se relacionam, é indispensável “educar para a diversidade”, educar respeitando as diferenças. Daí a importância do curso GDE, na medida em

que prevê a formação de professores/as e demais profissionais da educação nas questões relativas às diversidades de gênero, sexuais, étnico-raciais e que pode contribuir, através dessa capacitação, para uma educação mais inclusiva.

No projeto Gênero e Diversidade na Escola busca-se, portanto, desenvolver uma postura crítica em relação aos processos de naturalização da diferença, embora reconheçamos que desigualdades sociais e políticas acabam sendo inscritas nos corpos: corpos de homens e mulheres, por exemplo, tornam-se diferentes por meio de processos de socialização. Obviamente, a questão do estatuto dessas diferenças é um debate aberto e muito delicado, e a “verdade” sobre isso não deve ser encerrada em uma cartilha ou doutrina de qualquer ordem. Ao contrário, a escola precisa estar sempre preparada para apresentar não uma verdade absoluta, mas sim uma reflexão que possibilite aos alunos e às alunas compreenderem as implicações éticas e políticas de diferentes posições sobre o tema e construírem sua própria opinião nesse debate. A idéia de que educação não é doutrinação talvez valha aqui mais do que em qualquer outro campo, pois estaremos lidando com valores sociais muito arraigados e fundamentais (CARRARA, 2009, p.14).

Além disso, o GDE, através da formação continuada de educadores/as nas temáticas acima mencionadas, busca, também, contribuir para a inclusão digital através de conteúdos que possibilitam a discussão sobre as culturas discriminatórias de gênero, étnico-raciais e de orientação sexual do país e do mundo, capacitando- os/as a compreender e a posicionar-se frente às transformações políticas, econômicas e socioculturais que requerem o reconhecimento e o respeito à diversidade sociocultural dos povos, estimulando-os/as a desenvolver um trabalho pedagógico junto a seus alunos e suas alunas, considerando o reconhecimento das diversidades culturais e de suas especificidades e o respeito aos grupos considerados minoritários e discriminados (BRASIL, 2013).

Hoje, vivemos em tempos e espaços que, embora já não pareçam novos, configuram diálogos constantes, rapidez na aquisição de informações e exigem posturas novas e/ou diferentes a cada momento, trazendo a emergência do acontecimento e das relações sociais. Presenciamos o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e as implicações culturais advindas dessa utilização; a virtualização dos saberes e as possibilidades de transformação dos mesmos; a formação de redes sociais e o reflexo da mutação global advinda desse processo; e uma nova postura frente às questões relativas à educação – e

seus processos de formação inicial e continuada - bem como à diversidade, à exclusão social, à cidadania e à desigualdade.

Dessa forma, no contexto brasileiro, a Educação a Distância tem-se apresentado como uma forma estratégica de democratizar e elevar o padrão de qualidade na formação de professores e professoras, além de oportunizar reflexões sobre novas formas de (re)significar a educação, de modo a atender às demandas sociais e culturais da contemporaneidade. O GDE, além de representar um espaço de formação continuada, pode constituir-se numa importante ferramenta na disseminação de práticas pedagógicas potentes de enfrentamento ao preconceito e à discriminação, na luta por uma educação de valorização da diversidade.