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Alguns Aspectos Referentes à Legislação dos Cursos de Formação de Profissionais de Educação Física

3 A Formação do Profissional de Educação Física

3.2 Alguns Aspectos Referentes à Legislação dos Cursos de Formação de Profissionais de Educação Física

113 “Os impactos da reforma educacional na Educação Física brasileira”, in Anais do X Congresso Brasileiro de

A formação do profissional de Educação Física no Brasil, segundo Costa (1971, p. 43), tem suas origens no âmbito militar, na primeira escola da Marinha, em 1926, e no âmbito do regime político autoritário do Estado Novo (1937-1945), quando são criadas as primeiras escolas de Educação Física civis, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Oliveira (1998)114 apresenta as primeiras influências na formação do profissional de Educação Física, considerando o período da Proclamação da República (1889) até a chamada “Era Vargas” (1930/1945) reconhecendo a influência dos militares como preponderante, ora privilegiando as proposições suecas, alemãs, francesas, ora as inglesas.

Estudos atuais, que buscam historicizar conteúdos da Educação Física, vêm desvelando esses nexos estabelecidos entre "a caverna e a escola", conforme revela Goellner (1992). Tais nexos legitimaram a Educação Física baseada em ideologias subjacentes ao Estado e às instituições de onde tal formação se origina. E, segundo Cantarino Filho (1982; 1989), asseguraram na estrutura organizacional do Estado e nas legislações vigentes, um projeto de sociedade, como por exemplo o idealizado pela ditadura do Estado Novo no Brasil. Isto imprime, segundo Faria Júnior (1987, p.15-33), uma direção à formação profissional coerente com as instituições de origem e suas ideologias, que viam na Educação Física uma "[...] poderosa auxiliar no fortalecimento do Estado e no aprimoramento da raça brasileira [...]", apresentando-se [...] "impregnada de um caráter para militar". Essa Educação Física respondeu, segundo Soares (1990), a concepções de ciência, cultura e técnica hegemônicas, na Europa de fins do século XVIII e início do século XIX, palco onde se dá a construção e consolidação de uma nova sociedade, a sociedade capitalista, onde os exercícios físicos passaram a ser entendidos como "receita" e "remédio", assegurados principalmente pelo pensamento médico higienista. Trata-se de uma Educação Física entendida como atividade prática que, no Brasil, nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcantemente influenciada pelos Métodos Ginásticos Europeus e pela Instituição Militar responsável pela formação dos profissionais da área, até aproximadamente 1939. Esta formação delineou, para a época, um perfil do profissional de Educação Física que o diferenciava dos demais profissionais do magistério. Tal diferenciação já se dava na formação acadêmica, onde se evidenciava a exigência menor para ingresso nos cursos de Educação Física, bem como durante o processo de formação que durava somente dois anos: exigia-se apenas o curso secundário fundamental.

Essa diferenciação acentuava-se, também, entre os próprios profissionais, caracaterizando-os, de acordo com suas condições de ingresso e formação, em técnicos, especializados, instrutores, monitores, professores formados em escolas militares, em cursos em nível de segundo grau, em Licenciatura curta e em programas de treinamento para leigos (CARTA DE BELO HORIZONTE 1984, p. 5).

Somente na década de 50, principalmente pela atuação do movimento estudantil, onde se destaca o Centro Acadêmico Ruy Barbosa, da Escola de Educação Física da USP, por força do Parecer n. 118/58 do Conselho Nacional de Educação (CNE), é que se exige a apresentação do certificado de conclusão do curso Clássico ou Científico (secundário completo).

No início da década de 60, com a aprovação da Lei 4.024/61, modifica-se o processo de formação de professores no Brasil. Instituem-se os currículos mínimos de validade nacional e a complementação fixada por estabelecimentos de ensino.

Em 1962, é aprovado pelo Conselho Federal de Educação, o Parecer n. 292/62, do Relator Conselheiro Valmir Chagas - relacionado com as matérias pedagógicas dos currículos mínimos das licenciaturas, que prevê as matérias pedagógicas Psicologia da Educação e da Adolescência, Aprendizagem, Didática, Elementos da Administração Escolar e a Prática de Ensino em forma de estágio supervisionado - e o Parecer n. 298/62 que fixa o currículo mínimo do curso superior de Educação Física - do qual constam além da matéria Pedagogia, as matérias pedagógicas, de acordo com o Parecer n. 292/62 .

Dos auspícios do Estado Novo (1937-1945) e do Estado Desenvolvimentista e Nacionalista, consolidado pelo Governo Kubitschek (1956-1961), passa a Educação em geral e especificamente a Educação Física a ser regida sob os auspícios autoritários do regime militar, instituído no Brasil a partir de março de 1964 - período este em que os acordos entre o Ministério da Educação e Cultura e a United States Agency for International Development - USAID - determinaram os rumos das reformas e inovações educacionais.

São a Resolução 69/69 e o Parecer 894/69 do Conselho Federal de Educação que passam a reger a formação acadêmica que previa o "currículo mínimo" com a fixação da carga horária de cada disciplina. Somente em 1969, sob as pressões do movimento estudantil é que é elaborado o Parecer 114 A respeito consultei OLIVEIRA, V. M. Formação profissional: Primeiras Influências. Rio de Janeiro, 1998 (mimeo no prelo Revista Brasileira de Ciências do Esporte.)

672/69, incluindo-se definitivamente as matérias pedagógicas comuns a todas as licenciaturas nos currículos das Escolas Superiores de Educação Física.

Portanto, conforme frisa Faria Júnior (1987, p. 23):

[...] com sete (7) anos de atraso em relação à legislação (Parecer n. 292/62 do CFE) e com trinta (30) anos, de fato, em relação às demais licenciaturas, matérias pedagógicas [...] foram efetivamente incluídas nos currículos de Educação Física.

Do final da década de 70 até 1987, agora sob os auspícios de intensa luta pela reconstituição das liberdades democráticas por parte de segmentos sociais organizados em partidos, sindicatos e movimentos populares, foi gestada através de seminários específicos realizados no Rio de Janeiro (1977), Florianópolis (1981) e Curitiba (1983), sob a coordenação do Ministério de Educação-Secretaria de Educação Física e Desportos - uma nova legislação que culminou com a Resolução 003/87 do Conselho Federal de Educação.

Esta Resolução, consubstanciada no Parecer 215/87 do relator Mauro Costa Rodrigues, trata do "perfil profissiográfico" do licenciado, do bacharel e do técnico desportivo e adota uma proposta de currículo mínimo baseada na definição de referenciais para caracterizar o perfil profissional. Opta, ainda, pela definição de áreas de abrangência e pela duração mínima do currículo. Opina sobre a parcela destinada à Formação Geral e ao Aprofundamento de Conhecimentos. Na Formação Geral, considera os aspectos humanísticos e técnicos, os quais reunirão as matérias a serem ministradas em quatro áreas do conhecimento: filosófica, do ser humano, da sociedade e técnica. O Aprofundamento de Conhecimentos deverá responder às opções dos alunos, à vocação e às disponibilidades institucionais, possibilitando a cada aluno a realização de pesquisas, estudos teóricos e/ou práticos, com maior qualidade e quantidade (1987, p. 14-16)

Carmo (1987) critica essa resolução partindo dos seguintes pressupostos:

a) A função social do conhecimento da Educação Física só pode ser entendida à luz de uma visão histórico-cultural de classe;

b) Não pode ser ignorado o intenso e profícuo debate em torno de questões epistemológicas e questões referentes ao redimensionamento da Educação Física dentro do atual quadro sócio-político-econômico;

c) A resolução 003/87 representa uma síntese do pensamento dos indivíduos que a gestaram e a elaboraram dentro de determinadas condições materiais;