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SUMÁRIO CAPÍTULO 1

1.3 Aspectos Metodológicos

Tendo como base a análise da legislação e a revisão da literatura, o estudo se caracteriza, quanto às técnicas, como pesquisa documental e bibliográfica (LAKATOS; MARCONI, 1994).

O método de trabalho utilizado se fundamenta na utilização de pesquisa bibliográfica e a análise documental através dos seguintes procedimentos:

a) levantamento do referencial bibliográfico sobre temas que tratam das reformas da educação e formação profissional, visando enfatizar aspectos críticos destas áreas de estudo;

b) levantamento bibliográfico da documentação oficial sobre políticas, planos e programas na área da Educação Física, com ênfase na área de formação de recursos humanos para o Ensino Superior.

Entre o material bibliográfico selecionado, procurou-se identificar a freqüência com que é citado o tema sobre a formação de profissionais e em que tipo de bibliografia está sendo mais veiculado.

A pesquisa documental e bibliográfica propicia o exame de um tema sob um novo enfoque ou abordagem, podendo chegar a conclusões inovadoras.

Ela:

abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicações orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão (LAKATOS; MARCONI, 1994, p.66).

Acrescentam-se a estes as conferências e debates registrados através de transcrições publicadas ou gravadas.

Os anexos 1 e 2 reúnem os documentos básicos sobre a temática investigada nesta pesquisa.

A pesquisa documental, caracterizada pela fonte de coleta de dados, “está restrita a documentos escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias” (LAKATOS; MARCONI, 1994, p. 57)

Nesta pesquisa, constituem a base de dados, caracterizados como fontes primárias contemporâneas, documentos escritos e oficiais, por se constituírem em fontes fidedignas que espelham atos da vida política, emanados dos poderes municipal, estadual e federal. Basicamente, utilizar-se-á as publicações parlamentares, formadas pelos registros textuais das diferentes atividades da Câmara e do Senado, expressos através de relatórios, leis, resoluções e pareceres, entre outros.

Lüdke; André (1986), com base nos estudos de Guba; Lincoln (1981), argumentam sobre as vantagens quanto ao uso de documentos na pesquisa, tais como: a estabilidade e a riqueza da fonte; o fato de surgirem em um determinado contexto e fornecem informações sobre o mesmo; o fato de terem baixo custo; de permitirem a obtenção de dados quando não é possível o acesso ao sujeito, ou quando a interação com o mesmo possa alterar o seu comportamento; e o fato ainda de indicarem problemas que devem ser mais bem explorados através de outros métodos, além de complementar as informações obtidas por outras técnicas de coleta

Para orientar teoricamente a análise, parte-se do pressuposto que a metodologia está diretamente relacionada ao modo como se olha para o contexto social, como se percebe os seus problemas e como se busca as respostas. Nesse sentido, as suposições, interesses e propósitos levam a diferentes caminhos e perspectivas para a realização de uma investigação. Recorre-se então, ao referencial marxista, procurando reconhecer a atualidade das categorias históricas para a crítica aos princípios da formação do profissional.

Quanto à concepção de ciência, busca-se uma aproximação com o materialismo histórico dialético que,

permite entender o objeto de estudo, em seu desenvolvimento complicado e contraditório, como um processo de avanço progressivo que vai ser do inferior ao superior. Obriga a examinar esse processo como regular e as leis regulares objetivas, como leis de movimento, de passagem de um estado a outro. Além disso, a dialética exige que cada fenômeno seja examinado em suas próprias

inter-relações, ou seja, se orienta para um enfoque concretamente histórico. Obriga a examinar, durante o processo de pesquisa, como surgiu o fenômeno, por quais etapas passou seu desenvolvimento, em que se converteu na atualidade e que germens do futuro ele contém. (FREITAS, 1988, p. 459-460)

Neste trabalho dar-se-á um caráter central à categoria da contradição no que se refere às análises do fenômeno educativo, especialmente aqueles relacionados à Educação Física.

A contradição reflete o movimento mais amplo e originário do real. Sua aplicação reside no fato de sua não aplicação na análise, dentro do movimento histórico das sociedades, falsear o real, representando-o como idêntico, permanente, a-histórico e mecânico.

É necessário distinguir entre a alteração material das condições econômicas de produção - que se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa - e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito, levando-o às suas últimas conseqüências. [...] É preciso explicar esta consciência pelas contradições da vida material pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção (MARX, 1983, p. 25).

Como ensina Kosik, a análise será aqui entendida como uma forma de conhecimento de uma dada realidade, podendo isto se dar através do material (objeto) em suas partes constitutivas, a percepção de suas inter-relações e os modos de organização, incluindo-se aí todos os detalhes históricos disponíveis e aplicáveis. Ou seja, focar-se-á o olhar considerando que “existe uma oculta verdade da coisa, distinta dos fenômenos que se manifestam imediatamente” (KOSIK, 1976, p. 13).

A totalidade será aqui entendida como uma forma de “concretização que procede do todo para as partes e das partes para o todo, dos fenômenos para a essência e da essência para os fenômenos, da totalidade para as contradições e das contradições para a totalidade” (KOSIK, 1969, p. 41).

A mediação proporciona a indivisibilidade de processos em que os contrários se relacionam de modo dialético e contraditório.

No caso da educação, essa categoria torna-se básica porque a educação, como organizadora e transmissora de idéias, medeia as ações executadas na prática social. Assim, a educação pode servir de mediação entre duas ações sociais em que a segunda supera, em qualidade, a primeira. Mas também pode representar como prática pedagógica, uma mediação entre duas idéias.... Esse duplo movimento permite entender como, sem essa categoria, a educação acaba

formando um universo à parte, existente independentemente da ação. Cury (1985, p. 28).

No que diz respeito à reprodução, durante a realização deste trabalho, na procura da apreensão das conexões e o movimento do conteúdo analisado, observa-se constantemente como os efeitos das políticas e planos desenvolvidos para o crescimento da economia brasileira dentro da óptica do capitalismo visavam sempre a reprodução do movimento do capital social que possibilitam a manutenção de suas relações básicas. Desse modo, a educação pode servir como mediadora para os processos de acumulação ao reproduzir as idéias e valores que, por sua vez, auxiliam no sentido da reprodução ampliada do capital.

A categoria hegemonia está diretamente relacionada à análise das formas ideológicas, através das quais a classe dominante busca assegurar a ordem estabelecida, das agências da sociedade civil que a veiculam e das relações sociais que a geram. Assim, as formas ideológicas são vistas em função do modo de produção capitalista e da sua relação com o modo de reprodução das relações sociais de produção Cury (1985).

De acordo com Cury (op. cit.) as falhas dos discursos pedagógicos nascem da falta de apreensão ou do escamoteamento da contradição. Portanto, a análise do fenômeno visa determinar os elementos constitutivos contraditórios e os movimentos, a dinâmica, desencadeados por essas contradições.

Para tratar de qualquer questão a respeito da formação do profissional de Educação Física, no seio do modo de produção capitalista, é imprescindível confrontar a base teórica com a realidade, reunir fatos da conjuntura que expressam o acirramento da luta de classes e o processo de destruição dos povos, atualmente acentuado. Luta de classes é uma categoria explicativa histórica que permite analisar e reconhecer, não somente uma confrontação exclusiva entre burguesia e proletariado, entre capital e trabalho, mas fundamentalmente as alianças de grupos sociais, segmentos, coletivos políticos que, de um lado, dominam e dirigem a vida econômica e social e, de outro, são subordinados, dirigidos e alienados social, econômica e intelectualmente.

Com a análise dos fatos atuais portanto, no seio das Instituições de Ensino Superior busca-se uma finalidade científica e política para orientar a ação na formação do profissional de Educação Física. Fatos aparentemente desconexos trazem em si profundas e íntimas relações, para daí abstrair elementos científicos, ou seja, categorias de pensamentos, éticos, referências de

valores pela luta em favor da emancipação humana e processuais, quer sejam estratégias de lutas, caminhos, procedimentos para as ações no âmbito educacional e especificamente na ação do currículo de formação de profissionais de Educação Física.

Nessa perspectiva, uma das dimensões a ser considerada é a do mundo do trabalho, ou seja, o movimento das forças produtivas no seio do modo de produção capitalista. Através da observação do mundo do trabalho, reconhece-se a atualidade, a permanência do movimento geral do capital e sua tendência de destruição das forças produtivas, tal como Marx o descreveu.

Desse modo, trabalhar com autores que possam dar conta de analisar o capitalismo e as questões de mercado: perfil profissional, resgate político da educação e o impacto das novas tecnologias sobre o mundo do trabalho. O propósito é apropriar de elementos teóricos que dêem conta de desvelar uma dada realidade, captá-la, descrevê-la, explicá-la e confrontá-la de forma que possam indicar as reformas pelas quais o capitalismo está passando e a lógica que as têm comandado.

Portanto, sem clareza em relação a crítica ao Capitalismo e a defesa do Projeto Histórico, que implica em uma visão de mundo, homem, sociedade e educação, na perspectiva da construção de uma sociedade mais justa, compromete-se qualquer intervenção junto ao processo de formação de profissionais de Educação Física no Brasil.

Existem claros indícios de que um sistema Educacional, fortemente orientado pela política neoliberal, tal como o que se expressa nas diretrizes do atual Governo, na Nova LDB, no Plano Nacional de Educação elaborado pelo MEC e seus parceiros, e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, não formará profissionais suficientemente esclarecidos no sentido de estabelecerem uma ruptura com a realidade a que estão submetidos. Muito pelo contrário, continuará forjando valores que interessam ao capital.

O presente estudo procurará demonstrar a natureza política do problema, bem como os seus desdobramentos no processo de organização e funcionamento do Estado, principalmente mediante os seus aparelhos ideológicos e repressivos no âmbito federal e suas implicações concretas no sentido da conservação do sistema econômico e político vigentes. Nosso olhar está direcionado para buscar os entendimentos possíveis sobre o modo de produção na sociedade capitalista. Argumentaremos que é a reestruturação produtiva atual que orienta, entre outros aspectos, a formação do profissional, neste caso o profissional de Educação Física.

A mudança do modelo produtivo faz mudar também o conceito de Estado-nação, à medida que são desterritorializadas as fronteiras geográficas, os regimes políticos, as culturas e as civilizações. Outros aspectos observados dizem respeito à internacionalização das diretrizes relativas à desestatização, desregulamentação, privatização, abertura de fronteiras, criação de zonas francas.

Sobre as permanentes mudanças que ocorrem no modelo produtivo, Marx; Engels (1998, p. 11-12) afirmam que:

A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, e por conseguinte todas as relações sociais. A conservação inalterada dos antigos modos de produção era a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. A transformação contínua da produção, o abalo incessante de todo o sistema social, a insegurança e o movimento permanentes distinguem a época burguesa de todas as demais. [...] A necessidade de mercados sempre crescentes para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre. Ela precisa estabelecer-se, explorar e criar vínculos em todos os lugares.[...] Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para grande pesar dos reacionários, ela retirou a base nacional da indústria. As indústrias nacionais tradicionais foram, e ainda são, a cada dia destruídas. São substituídas por novas indústrias, cuja introdução se tornou essencial para todas as nações civilizadas. Essas indústrias não utilizam mais matérias-primas locais, mas matérias-primas provenientes de regiões mais distantes, e seus produtos não se destinam apenas ao mercado nacional, mas também a todos os cantos da Terra. Ao invés das necessidades antigas, satisfeitas por produtos do próprio país, temos novas demandas supridas por produtos dos países mais distantes, de climas os mais diversos. No lugar da tradicional auto-suficiência e do isolamento das nações surge uma circulação universal, uma interdependência geral entre os países. E isso tanto na produção material quanto na intelectual. Os produtos intelectuais das nações passam a ser de domínio geral. A estreiteza e o isolamento nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais nasce uma literatura mundial.

É, portanto, com base no exame da reorganização da produção capitalista e os nexos existentes entre as políticas públicas e a formação do profissional de Educação Física que se conduzem as análises previstas para este trabalho. Ao buscar desvelar o cerne da questão e a lógica que a conduz, estar-se-á visualizando elementos basilares que irão nortear as condutas no processo de formação do profissional de Educação Física. Dito de outra forma, analisar-se-á a formação do profissional de Educação Física, olhando-a por um de seus aspectos determinantes, o atual modo de produção da sociedade capitalista, na manifestação do neoliberalismo como

modelo. Deixar de considerar esses elementos no processo de formação do profissional de Educação Física, é correr o risco de fazer uma análise superficial do problema.

1.4 O Neoliberalismo, Políticas Públicas e Educação: as bases