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3 BENS CULTURAIS SOB A PERSPECTIVA DA MENSURAÇÃO

3.2 Alguns aspectos sobre o segmento cultural no Brasil

Muito embora não se possa afirmar com exatidão quando a cultura começou a ser tratada no Brasil, em parte porque o termo carece de definição precisa, Souza Filho (2005, p. 55), aponta que um dos primeiros registros remete à carta enviada, em 1742, pelo Conde das Galveias ao então governador de Pernambuco, Luís Pereira Freire de Andrade, apelando “para que ele se abstivesse de transformar o Palácio das duas Torres, obra do Conde Maurício de Nassau, em quartel entregue ao uso violento e pouco cuidadoso dos soldados”. Esse documento, de apelo preservacionista a um bem de natureza cultural, assume contorno de instrumento de lei, ao se considerar os poderes delegados, pela coroa portuguesa, ao vice-rei D. André de Mel e Castro ou Conde das Galveias.

Contudo, somente no início do século XX, sob a influência dos intelectuais da geração da Semana de Arte Moderna de 1922 várias propostas, projetos e atos legislativos dispersos, voltados para a proteção do patrimônio cultural brasileiro, viriam a ser transformados em normativos federais (SOUZA FILHO, 2005; CALABRE, 2007). Um fato que representa esse marco foi a promulgação da Lei 378, de 13 de janeiro de 1937, que reestrutura o Ministério da Educação e Saúde Pública e cria Serviço do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional, “[...] com a finalidade de promover, em todo o Paiz e de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimonio histórico e artístico nacional” (BRASIL, 1937, Art. 46, sic.). Sobre essa primeira estrutura organizacional voltada para a cultura, dentro do então Ministério da Educação e Saúde, sob a liderança do Ministro Gustavo Capanema, Abreu (2010, p. 169, “grifo do autor”) afirma que: “Foi a primeira vez em que se começou a pensar em ‘cultura’ como um campo autônomo e singular.” Para Calabre (2007), no período compreendido entre 1930 a 1945 foram empreendidas um série de medidas, no que se pode chamar primeiras políticas governamentais que objetivavam prover mecanismos institucionais para a área da cultura.

Por não ser objetivo desse trabalho detalhar a totalidade do marco legal do setor cultural, mas tão somente abordar aqueles que contribuam para o aprofundamento dos conceitos aqui abordados, segue que o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) teve suas funções regulamentadas pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que estabelece as condições de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Já na qualidade de autarquia federal, vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), o órgão recebe, por meio da Media Provisória 752, de 6 de dezembro de 1994, a denominação de Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), mantendo suas competências e natureza jurídica.

Contudo, o marco legal representativo para o setor cultural deu-se, mediante aprovação da Emenda Constitucional 48/2005, que institucionalizou o Plano Nacional de Cultura, mediante acréscimo do parágrafo 3º ao artigo. 215 da Constituição Federal, visando promover desenvolvimento cultural do Brasil e à integração das atuações do poder público, firmando, dentre outras recomendações, a defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro e a democratização do acesso aos bens de cultura. (BRASIL, 1988, Art. 215, § 3º).

Já o artigo imediatamente posterior define que “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem.”. (BRASIL, 1988, Art. 216). Esse dispositivo constitucional amplia, em seus incisos e parágrafos posteriores, a definição de patrimônio cultural brasileiro estabelecida no caput do artigo. Sobre essas garantias, Calabre, (2009) diz que se trata da garantia constitucional do direito à cultura.

Já o Plano Nacional de Cultura (PNC), previsto no parágrafo 3º do artigo constitucional 215, foi instituído mediante Lei nº 12.343, de 02 de dezembro de 2010. Neste mesmo dispositivo legal, também, foi criado o Sistema Nacional Informações e Indicadores

Culturais (SNIIC). Esse dispositivo legal estabelece que:

O Ministério da Cultura exercerá a função de coordenação executiva do Plano Nacional de Cultura - PNC, conforme esta Lei, ficando responsável pela organização de suas instâncias, pelos termos de adesão, pela implantação do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais - SNIIC, pelo estabelecimento de metas, pelos regimentos e demais especificações necessárias à sua implantação. (BRASIL, 2010, Art. 3º, § 6º).

O Plano Nacional de Cultura (PNC) tem por finalidade o planejamento e a implementação de políticas públicas de longo prazo voltadas à proteção e promoção da diversidade cultural brasileira e estabelece que compete ao poder público “garantir a preservação do patrimônio cultural brasileiro, resguardando os bens de natureza material e imaterial, os documentos históricos, acervos e coleções, “[...] e as obras de arte, tomados individualmente ou em conjunto [...]” (BRASIL, 2010, Art. 3º, VI). Já o Sistema Nacional Informações e Indicadores Culturais (SNIIC) tem por objetivo auxiliar no processo de monitoramento e avaliação do PNC, coletando, sistematizando e interpretando dados, além de fornecer metodologias e estabelecer parâmetros à mensuração das atividades da área cultural. (BRASIL, 2010).

Contudo, uma questão significativa foi a criação do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Esse processo se deu por meio da Lei nº 11.906, de 20 de janeiro de 2009, que desmembrou do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a Diretoria de Museus e as Unidades Museológicas e criou o IBRAM, também com natureza jurídica autárquica vinculada ao MinC, mas com atribuições distintas. Enquanto ao IPHAN são atribuídas competências no sentido de promover ações destinadas a identificar, documentar, tombar, salvaguardar e fiscalizar o patrimônio histórico nacional, ao IBRAM, dentre suas diversas atribuições, compete “[...] promover e assegurar a implementação de políticas públicas para o setor museológico [...]” (BRASIL, 2009b, Art. 3º).

O mesmo dispositivo legal declara que as finalidades descritas na lei destinam-se às instituições museológicas e suas atividades e aos bens culturais musealizados. As definições e classificações de museus estão dispostas em documentos como no Estatuto do International Council of Museums (ICOM) e na Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que instituiu o Estatuto de Museus Estatuto.