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O que acontece nos leilões de arte da Zona Sul

Salões cheios, obras de arte valorizadas e status social: o mercado de leilões está em franca expansão na região.

MARCO GRILLO

Publicado:17/05/12 - 9h00

Atualizado:17/05/12 - 9h00

http://oglobo.globo.com/zona-sul/o-que-acontece-nos-leiloes-de-arte-da-zona-sul-4915961 Acesso em 30/10/2012

Leilão em Copacabana Pedro Teixeira

Ao expressar a inquietação típica da vida moderna em “O grito”, o pintor norueguês Edvard Munch criou uma das obras mais importantes da história das artes plásticas. Há duas semanas, a tela foi arrematada por US$ 119,9 milhões num leilão organizado em Nova York. Foi o maior valor já pago por um quadro, quebrando o recorde que pertencia a “Nu, folhas verdes e busto”, de Pablo Picasso, vendido por US$ 106,5 milhões em 2010. Mesmo com os valores ainda distantes daqueles alcançados nas vendas da Sotheby’s e da Christie’s, as maiores casas de leilão do mundo, o mercado na Zona Sul carioca também é agitado. Na semana passada, o óleo sobre tela “Cais de pescadores”, de Emiliano Di Cavalcanti, foi comprado por R$ 600 mil durante um leilão em Copacabana. O catálogo ainda incluía obras de Antônio Bandeira,

ANEXO I – Leilões de arte da Zona Sul do Rio de Janeiro

Ivan Serpa, Djanira e Cícero Dias. Entre dedos levantados, movimentos discretos com a cabeça e disputas silenciosas lance a lance, o aquecido mercado de leilões movimenta os salões da região.

Sutilezas na avaliação e na venda

O processo que envolve um leilão começa quando um colecionador — ou sua família — resolve se desfazer das obras. Espólio, problemas financeiros ou apenas vontade de promover mudanças na decoração da casa são os motivos mais comuns. Em seguida, as obras passam por uma rigorosa avaliação técnica. Nessa etapa são determinados os preços iniciais, que giram em torno de 80% dos valores de mercado, para tornar o evento atraente. Os

organizadores editam um catálogo e programam entre quatro e seis dias de exposição, dependendo do número de peças que serão leiloadas.

Os leilões são abertos ao público e a entrada é franca. Dependendo de quem estiver

organizando, pode ser necessário fazer um cadastro prévio, por site ou telefone. O presidente da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, Jones Bergamin, afirma que cada leilão tem a função de regular o mercado de arte.

— As referências de preços e avaliações são tomadas nas vendas feitas em leilões. Elas são o termômetro do mercado de artes plásticas — explica Bergamin.

De acordo com o artista plástico Marcelo Frazão, frequentador assíduo, uma das vantagens dos leilões da Zona Sul é a variedade de obras.

— Numa galeria, você vai ter uma retrospectiva. No leilão, existem peças variadas e você tem chance de comprar obras que não estão mais no mercado — destaca.

Mas há também quem frequente os salões pensando no retorno financeiro.

— Penso na questão da valorização. Vou muito pelo nome do artista e pela obra — revela o marchand Periandro Azevedo.

A estratégia, no entanto, pode ser arriscada. De acordo com Soraia Cals, dona do escritório de arte que leva seu nome, é preciso ter experiência na área para lucrar.

— Tem que conhecer muito o mercado para ganhar dinheiro nele — diz a marchand.

Durante o leilão em si, há quem prefira dizer o valor do lance em voz alta. Mas a maior parte dos gestos é suave e discreta. O dedo indicador levantado significa um acréscimo de mil reais

ANEXO I – Mercado de arte

cenário também os lances por telefone e, em alguns casos, pela internet. O vencedor ganha uma cartela com um número e a sensação de orgulho por mais uma obra de arte na coleção. A ele cabe a responsabilidade de pagar a comissão do leiloeiro, em torno de 5% do valor da peça vendida. E não há espaço para quebra de compromisso.

— Não existe isso de comprar e não pagar. Não acontece por aqui — garante o leiloeiro Walter Rezende.

Por uma questão de discrição, os organizadores dos leilões não falam sobre casos específicos de compras anunciadas e não concretizadas. Mas revelam que contam com assistência de advogados quando a situação exige. Se for uma compra pequena, a história é deixada de lado, mas o responsável pelo problema fica impedido de participar de futuras negociações. No entanto, se a dívida for de grandes proporções, a Justiça pode ser acionada.

O número de compradores cresceu nos últimos dez anos, impulsionado pelo crescimento econômico do país. Profissionais ligados ao mercado financeiro entraram com força em leilões, adquirindo principalmente arte contemporânea, vista como mais arrojada. Mas o público ainda é restrito e os dias de leilão funcionam também como um encontro de velhos conhecidos nos salões. Para quem está estreando, um conselho: é grande a chance de a atividade virar um hábito.

— Tudo que é comprado num leilão pode ser vendido em outro. E este mercado acaba viciando um pouco — diz Horácio Ernani, membro de uma tradicional família de leiloeiros cariocas.

Além do apreço pela arte, um outro aspecto faz parte dos lances: o status. Para Soraia Cals, a compra de uma obra de arte funciona como uma espécie de “coroação do processo

financeiro”.

— Dentro do ideal, primeiramente vêm as questões práticas, como a casa e o carro. As obras de arte são um troféu. E também são as últimas coisas que as pessoas vendem, porque isso mexe com a vaidade — analisa.

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