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3 BENS CULTURAIS SOB A PERSPECTIVA DA MENSURAÇÃO

3.4 Bens culturais musealizados sob os enfoques jurídicos, econômicos e

3.4.7 Objeto da pesquisa

Esta pesquisa intenta apresentar uma proposta de mensuração, pelo critério de valor justo, para as obras de Cícero Dias restritas às técnicas óleo sobre tela, aquarelas e litografias ou litogravuras. O estudo delimitado às obras de Cícero Dias elaboradas sobre estas três técnicas tem como objetivo favorecer a comparabilidade com o acervo do mesmo artista que se encontra sob o controle do Museu do Estado de Pernambuco (MEPE), com o propósito estimar o valor justo destas obras mediante aplicação do modelo de mensuração.

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Além das obras referenciadas, este tópico utilizou os materiais disponibilizados nos seguintes endereços eletrônicos: www.itaucultural.org.br; www.fundaj.gov.br; www.galeriaerrolflynn.com.br; www.mac.usp.br; www.brasilcultura.com.br; www.gravura.art.br; www.cultura.pe.gov.br; www.fundarpe.pe.gov.br.

3.4.7.1 Cícero Dias – o artista

Cícero Dias nasceu no dia 5 de março de 1907, no Engenho Jundiá, no município de Escada, em Pernambuco. Foi o sétimo, dos onze filhos de Pedro dos Santos Dias e Maria Gentil de Barros e, ainda, pelo lado materno, neto do Barão de Contendas. Aos 13 anos de idade, foi para o Rio de Janeiro, ficando interno no mosteiro de São Bento, onde teve sua formação sedimentada pela leitura precoce e intensiva. Nesse mesmo período, entre os anos de 1925 a 1927 Cícero conheceu, dentre outras, figuras importantes da época, o escritor José Lins do Rego, o poeta Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, o pintor, desenhista, ilustrador e caricaturista Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (conhecido como Di Cavalcanti) e o imortal da Academia Brasileira de Letras José Pereira da Graça Aranha, que podem ter exercido algumas influências sobre sua vida e suas obras. A primeira exposição de Cícero Dias ocorreu em 1928 e teve lugar em um hospício, porque, há época, nenhuma galeria de arte se interessava por arte moderna. O trabalho exposto foi seu painel intitulado “Eu vi o mundo... Ele começa no Recife”, que utilizou na sua composição tinta em pó e óleo de peixe sobre papel. (FONTES, 1993).

Cícero Dias era amigo de Gilberto Freyre e simpatizante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), motivo pelo qual foi perseguido em 1937, quando o então Presidente Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo, tendo, por várias vezes seu ateliê invadido por tropas policiais. Por essa razão e incentivado por Di Cavalcanti, viaja para Paris onde conhece, dentre outros, os desenhistas, gravuristas e escultores Henri Matisse e Pablo Picasso, com quem faz amizade. Picasso torna-se padrinho da única filha de Cícero Dias, Sylvia Maria Dias, fruto do casamento com a sua esposa Raymonde Dias, de origem francesa.

A história do autor é rica, e outras passagens da vida e obra do artista estão nos anexos A e B, mas cabe registrar que em 1942, durante a II Guerra Mundial, Cícero Dias foi preso pelos nazistas e enviado à cidade alemã de Baden-Baden, juntamente com um grupo do qual fazia parte o escritor João Guimarães Rosa, que exercia o cargo de Cônsul-adjunto do Brasil na Alemanha. Após ser libertado, junto com o grupo, em troca de espiões nazistas que estavam encarcerados no Brasil, Cícero Dias passa a viver em Lisboa, como Adido Cultural da Embaixada do Brasil, de onde sairia em 1945, atendendo ao pedido do amigo Pablo Picasso, para retornar à Paris, cidade onde viveria até sua morte em 2003, aos 95 anos de idade.

Além do episódio relatado, cabe o registro de dois outros fatos, por seus significados para o Estado de Pernambuco. O primeiro é a inauguração do primeiro mural abstrato da

América Latina. O mural, elaborado em 1948, foi pintado no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco. O segundo evento ocorreu em 2002, quando inspirado por seu trabalho “Eu vi o mundo... Ele começa no Recife”, Cícero Dias cria uma enorme rosa dos ventos que está plantada no piso da Praça Marco Zero, na cidade do Recife.

3.4.7.2 Fases artísticas de Cícero Dias55

Em sua primeira fase artística, Cícero Dias privilegiou aquarelas e óleos, e produziu os quadros como: Sonho de uma prostituta (1930-1932), Engenho Noruega (1933), Lavouras (1933), Porto (1933) e Ladeira de São Francisco (1933). Durante a segunda fase (1936-1960), onde prevaleceram a figuração e a abstração, destacaram-se as seguintes obras: Mulher na janela (1936), Mulher na praia (1944), Mulher sentada com espelho (1944), Composição sem título (1948), Exact (1958), Entropie (1959). Por fim, em sua terceira fase (1960-2000), onde a mulher era um símbolo constante, ele pintaria a Composição sem título, em 1986.

Contundo, em razão da diversidade de classificações encontradas, essa pesquisa adotou a categorização das fases artísticas de Cícero Dias que foi elaborada por Assis Filho (2006). O quadro 25 apresenta essa categorização e a respectiva numeração assumida por essa pesquisa, com a finalidade de identificar cada uma das fases.

Quadro 25 – Categorização das fases artísticas

Categorização Períodos Escala

Encantamento e sedução – Aquarelas décadas de 1920-1930 1 Crônicas e costumes – Pinturas. década de 1930 2 A partida para Paris – Série vegetal. década de 1940 3 Formas, cor e luz – Abstração. décadas de 1950-1960-1970 4

O Sol interior – Entropias. década de 1960 5

Memória e imaginação – Figuração lírica. décadas de 1950-1960 6 Lirismo e geometria – Nova figuração. décadas de 1970 a 1990 7 Fonte: Assis Filho (2006)

3.4.7.3 Técnicas utilizadas nas obras pesquisadas do artista

Dentre as diversas técnica de pintura e suas combinações, este trabalho está delimitado a pintura a óle sobre tela, aquarelas e litogravuras. Cada uma dessas técnicas apresenta característica que as diferenciam das demais e possui valores econômicos distintos.

A pintura a óleo é uma técnica artística que utiliza tintas a óleo aplicadas com

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O texto do primeiro parágrafo foi retirado do sítio eletrônico da Fundação Joaquim Nabuco, no endereço: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=563. Acesso em: 29/09/2012.

pincéis, espátulas, ou outros meios, sobre telas de tecido, superfícies de madeira ou outros materiais. No caso do óleo sobre tela, o suporte da obra é a tela, que pode ser feita de linho cru ou de outras fibras. Esse tipo de pintura se constitui em obras de maior valor em relação às aquarelas e litografias. Já a aquarela é uma técnica de pintura na qual os pigmentos se encontram suspensos ou dissolvidos em água. Os suportes utilizados na aguarela são muito variados, embora o mais comum seja o papel com elevada gramagem. São também utilizados como suporte o papiro, casca de árvore, plástico, couro, tecido, madeira e tela.

Outra técnica utilizada é a litografia ou litrogravura. Descoberta por Alois Senefelder, em 1796, quando estudava as possibilidades da pedra calcária para fazer impresões, a técnica parte do princípio químico que água e gordura se repelem. As imagens são desenhadas com material gorduroso sobre pedra calcária e com a aplicação de ácido sobre a mesma, a imagem é gravada. Assim como a gravura em metal, essa técnica também necessita de uma prensa para transferir para o papel a imagem gravada na pedra. No anexo C são encontrados exemplos de cada uma dessas técnicas que possuem características s e formas de apreciação diferenciadas em razão da qualidade, do material empregado, do suporte e, principalmente, pelo interesse do mercado de arte, que se reflete nos preços verificados para cada tipo de obra.

3.4.7.4 O mercado de arte no Brasil

Uma questão que exerceu influência sobre as abordagens inseridas nesse estudo foi quanto à forma como ocorre a apreciação econômica das obras de arte. No mercado de arte, coexistem três formas de precificação. Uma é o preço de ateliê ou de origem - aquele que o profissional de mercado paga ao artista pelo trabalho, para depois revendê-lo. Esse preço pode chegar até 50% do preço de tabela, que é valor estipulado pelo artista para colocação da obra para venda, ou seja, é o preço sugerido pelo artista. A terceira modalidade de precificação corresponde ao valor estipulado pelo mercado, como resultado das técnicas de avaliação descritas no quadro 6 e de um conjunto de valores negociados que se configuram na média de preços encontrados56.

Essa pesquisa usou como fonte de pesquisa os preços coletados em leilões de arte porque representam a apreciação econômica materializada por meio das precificações de mercado. Na perspectiva desse trabalho, coloca-se que quando o autor do trabalho morre, "a tabela desse autor morre com ele", passando a valer unicamente as regras de mercado que são

56 http://www.investarte.com/consultarte/scripts/acompanhando/50.asp;

regidas, inicialmente pelo binômio "qualidade/procura", cujos valores são materializados em leilões ou por galeria de arte.57 Essa lógica que rege o mercado de arte está resumida na reportagem aportada no anexo I.