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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA MENSURAÇÃO CONTÁBIL

2.3 Mensuração contábil em seus aspectos teóricos e operacionais

2.3.1 Mensuração contábil em seus aspectos teórico

2.3.1.7 Mensuração contábil pelo valor justo (fair value)

Segundo Lustosa (2010), a discussão sobre a alternativa de avaliação que utilizem medidas que procuram representar o justo de ativos e passivos na contabilidade intensificou- se após a crise financeira de 2008. As definições de valor justo são apresentadas em diversos documentos, dentre os quais os pronunciamentos do Financial Accounting Standards Board (FASB), em seu Statement of Financial Accounting Standards Nº 157 – Fair Value Measurements (SFAS 157), do International Accounting Standards Board (IASB), em seu International Financial Reporting Standards 13 – Fair Value Measurement (IFRS 13). No Brasil, a definição de valor justo resultou da interpretação do pronunciamento do IASB e encontra-se expressa na Resolução CFC 1.282, de 28 de maio de 2010, do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC n.º 750/93. Na dimensão da contabilidade aplicada ao setor público, a definição de valor justo e encontrada na parte dois do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP),

publicado pelo Ministério da Fazenda. O quadro 7, a seguir, apresenta cada uma dessas definições.

Quadro 7 – Definições de valor justo

Documentos Definição de valor justo (fair value)

FASB (SFAS 157, p. 2)

Valor justo é o preço que seria recebido para vender um ativo ou pago para transferir um passivo em uma transação ordenada entre participantes do mercado na data da mensuração17

IASB (IFRS 13, Technical Summary)

[...] define valor justo como o preço que seria recebido para vender um ativo ou pago para transferir um passivo em uma transação normal entre participantes do mercado na data da mensuração (ou seja, um preço de saída)18.

CFC (Resolução CFC nº 1.282/10, item d)

Define como o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimento.

BRASIL (MCASP, Parte II, pag., 37)

Valor pelo qual um ativo pode ser intercambiado ou um passivo pode ser liquidado entre partes interessadas que atuam em condições independentes e isentas ou conhecedoras do mercado. Fonte: FASB (2007), IASB (2012), CFC (2010), BRASIL (2012c).

Uma questão que se configura na definição de valor justo, presente na IFRS 13, do IASB, é que o pronunciamento deixa claro que a valoração se dá a preço de saída, aderindo ao posicionamento estabelecido no SFAS 157, que diz ser “[...] o objetivo de uma mensuração pelo valor justo é determinar o preço que seria recebido para vender o ativo ou pago para transferir um passivo na data da medição (um preço de saída).” (FASB, 2007, p. 3, grifo do autor19). A definição anterior, estabelecida pelo IASB em seu International Accounting Standards 32 – Financial instruments: Presentation (IAS 32) difere do pronunciamento atual, ao expressar que “Valor justo é o quantia pela qual um ativo poderia ser negociado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras do negócio e com interesse em realizá-lo, em uma transação em que não há favorecidos.” (IASB, p. 720).

Definido valor justo, a IFRS 13 exige que para a utilização dessa metodologia de mensuração a entidade deve observar as seguintes condições (IASB, 2012): (a) particularizar o ativo ou passivo que está sendo medido; (b) para os ativos não financeiros, determinar qual seu uso e se está combinado com outros ativos ou não; (c) estabelecer o mercado em que uma

17 Fair value is the price that would be received to sell an asset or paid to transfer a liability in an orderly transaction between market participants at the measurement date.

18 […] defines fair value as the price that would be received to sell an asset or paid to transfer a liability in an orderly transaction between market participants at the measurement date (ie an exit price).

19 […] the objective of a fair value measurement is to determine the price that would be received to sell the asset or paid to transfer the liability at the measurement date (an exit price).

20 Fair value is the amount for which an asset could be exchanged or a liability settled, between the parties involved and informed, conducting a transaction at arm's length.

transação ordenada teria lugar para o ativo ou passivo, e (d) qual técnica, ou técnicas, de avaliação é apropriada para o ativo a ser valorado.

Outra condição estabelecida a ser utilizada no processo de mensuração pelo justo valor é a hierarquia formulada para aumentar a consistência e a comparabilidade da medida. Essa hierarquia classifica três níveis de técnicas de valoração. Essa hierarquização de técnicas de mensuração a valor justo são encontradas na IFRS 13 e no SFAS 157, identificando, desse modo, uma convergência entre o IASB e FASB, com relação à abordagem que deve ser dada ao tema.

Contudo, com o intento de fundamentar a explanação sobre os níveis hierárquicos, serão apresentadas, resumidamente, as abordagens utilizadas para mensurar pelo valor justo. Essas abordagens consistem em avaliar por preços de mercado, por fluxos futuros de caixa e pelo custo. O quadro 8, expõe as características de cada abordagem.

Quadro 8 – Abordagens utilizadas para mensuração a valor justo

Abordagem do mercado

A abordagem do mercado usa preços e outras informações relevantes geradas por transações de mercado envolvendo ativos idênticos ou comparáveis ou passivos (incluindo um negócio)21.

Abordagem da renda

A abordagem de renda usa técnicas de avaliação para converter os valores futuros (por exemplo, fluxos de caixa ou lucros) para um único valor presente (descontado). A medição é baseada no valor indicado por expectativas de mercado atuais sobre os valores futuros.22

Abordagem do custo

A abordagem de custo é baseada na quantidade que atualmente seria necessário para substituir a capacidade de serviço de um ativo (muitas vezes referido como o custo atual de substituição). Da perspectiva de um participante do mercado (vendedor), o preço que seria recebido pelo ativo é determinado com base no custo assumido por outro participante do mercado (comprador) para adquirir ou construir um bem substituto de utilidade comparável, considerando a defasagem tecnológica.23

Fonte: FASB (2007, item 18)

Decorrentes de cada uma dessas abordagens são definidos pelo FASB, em seu SFAS 157, os três níveis hierárquicos que se destinam a dar consistência e comparabilidade às técnicas utilizadas na valoração pelo justo valor. Os níveis foram classificados pelo critério de prioridades que devem ser considerados para alimentar os dados que darão suporte as técnicas de mensuração. Assim, o primeiro nível deve ser preferível ao segundo, que se sobrepõe ao

21 The market approach uses prices and other relevant information generated by market transactions involving identical or comparable assets or liabilities (including a business).

22

The income approach uses valuation techniques to convert future amounts (for example, cash flows or

earnings) to a single present amount (discounted). The measurement is based on the value indicated by current market expectations about those future amounts.

23 The cost approach is based on the amount that currently would be required to replace the service capacity of an asset (often referred to as current replacement cost). From the perspective of a market participant (seller), the price that would be received for the asset is determined based on the cost to a market participant (buyer) to acquire or construct a substitute asset of comparable utility, adjusted for obsolescence.

terceiro. Essa abordagem é observada de forma clara, quando se recorre ao texto da norma, quando diz que “A hierarquia do valor justo dá a maior prioridade para preços cotados (não ajustados) em mercados em atividade no qual são negociados ativos e passivos idênticos (nível 1) e com o menor prioridade aos dados não observáveis (Nível 3).” (FASB, 2007, p. 2124). O quadro 9 apresenta essa hierarquização.

Quadro 9 – Níveis hierárquicos estabelecidos para mensuração a valor justo

Nív

el

1

Nesse nível, os preços são cotados, sem necessidade de ajustes, uma vez que os valores observados originam de mercados em que as negociações de ativos ou passivos ocorrem com frequência e em volume suficientes para que as informações de preço se configurem em base contínua. Um preço cotado em um mercado onde as negociações ocorrem com frequência e em volume fornece a evidência mais confiável do valor justo e deve ser usado para mensurar o justo valor, sempre que disponível e a entidade que utiliza tem a capacidade de acessar na data da mensuração.

Nív

el

2

Corresponde as outras entradas não contempladas ou que não atendam aos critérios estabelecidos para o nível 1. As seguintes situações são passíveis de serem classificadas ao nível 2: preços de ativos ou passivos similares em mercados nos quais há poucas transações para o ativo ou passivo, os preços não são atuais, ou as cotações de preços variem substancialmente, seja ao longo do tempo ou entre os formadores de mercado, ou ainda que a informação seja pouco divulgada para os grupos de interesse.

Nív

el

3

Esse nível deve ser usado nas condições de inexistência de mercado ativo, não havendo dados observáveis que possibilitem a mensuração de ativos e passivos. Nesse cenário, a norma recomenda que a mensuração a valor justo se dê mediante pressupostos próprios da entidade sobre as premissas que os participantes do mercado utilizariam para precificar o ativo ou passivo, ou seja, mediante uso de técnicas de avaliação. Mesmo nesse nível, a lógica de preço de saída prevalece, de modo que a entidade que mensura deve estabelecer suas próprias premissas sobre como os participantes de um hipotético mercado avaliariam o ativo ou passivo, considerando o modelo elaborado.

Fonte: FASB (2007).

Sobre o nível 2, Iudíbibus (2009b, p. 183), salienta que “[...] como os ativos e passivos são apenas semelhantes, a entidade pode efetuar alguns ajustes nos preços de cotação, desde que sejam objetivos.” Essa observação vai ao encontro da proposta desse estudo que, ao coletar preços de obras de arte em leilões, classificou essas entradas ao nível 2, de modo que foram realizados ajustes nos preços coletados. A classificação da coleta ao nível 2 se deu porque o mercado de arte não atende plenamente aos critérios necessários propostos pelo nível 1, uma vez que as negociações nos leilões de obras de arte não ocorrem com frequência e em volume que viesse a fornecer uma base contínua confiável que pudesse se usada sem ajuste.